Lembrando que acabo de lançar uma estória na revista Nebula Tales issue 3.
A estória chama-se Bighouse e a revista está a venda pela Amazon na internet.
Comprem bastante pois eu recebo por vendas.
A estória é baseada no casarão em que morei quando era pequeno e sobre como decidi me tornar um escritor.Para publicá-la contei com a ajuda de meu grande amigo Trev Hill,que corrigiu a mesma e a mostrou aos editores da revista.
Devo tudo a ele,obrigado Trev!
A estória chama-se Bighouse e a revista está a venda pela Amazon na internet.
Comprem bastante pois eu recebo por vendas.
A estória é baseada no casarão em que morei quando era pequeno e sobre como decidi me tornar um escritor.Para publicá-la contei com a ajuda de meu grande amigo Trev Hill,que corrigiu a mesma e a mostrou aos editores da revista.
Devo tudo a ele,obrigado Trev!
GRAMPO
DO MAL
JAMES
MALHEIROS
Uma
noite em 1988
É
de noite na casa e a família assiste á um filme de terror que passa
no televisor.A escuridão assombra á quem á vê,o filho do meio
ajusta a antena da TV,todos conversam e bebem refrigerante,o filho
mais novo se ajeita no sofá.A mãe come pipoca e parece animada nem
dando atenção para o filme.A filha está sentada no sofá com um
copo de coca-cola na mão e um cigarro na outra.O filho mais velho
conversa com certo torpor enquanto assiste ao filme de terror que
passa no televisor.No filme,uma estranha névoa encobre os arredores
de uma cidadezinha.Todos assistem televisão e há silêncio nas
casas vizinhas.
Pela
meia-noite todos foram dormir.O televisor foi desligado.Alguma coisa
no forro faz barulho tentando chamar a atenção de quem estiver
acordado.O filho mais novo dorme,só de calção no sofá da
sala.Borras de café escorrem velhas na vala,oriundas daquela
manhã,mas agora é noite e no relógio da parede já é quase
amanhã.Mas todos dormem após ter assistido o filme.E no forro
alguma coisa parece viver.É a criatura da casa dos Malheiros que
parece se mover,em meio á névoa da noite,como no filme,e agora a
casa está mergulhada na névoa que veio e encobriu a cidadezinha de
Blumenau.Como no filme que passou no televisor,como que envoltos
pelos poderes do Mal.
Agora
em volta da casa a neblina toma conta,todos dormem,agora não passa
mais nada no televisor.Ele está desligado.A criatura faz barulho no
forro e parece se movimentar.É de noite que ela vive para
camundongos caçar.É de noite na casa e a situação é praticamente
um mistério.
É
a família,o televisor desligado e a casa envolta pela névoa que
veio do cemitério.
O
mesmo cemitério onde jaz enterrado o professor Menescal,que se matou
á muito tempo atrás levado pelos poderes do Mal.Agora em sua tumba
ergue-se as teias de aranha que foram se formando com o sereno.As
flores agora podres se desfazem com o tempo.Tragédia para os
Malheiros perderam um de seus filhos mais fortes.Professor de
respeito,cidadão vencedor.Agora jaz morto,em sua sepultura o clima
de horror.
Assim
a noite passa,uma noite de sono profundo para os
Malheiros,adormecidos pelo poder da mente morta do professor
Menescal,que os nina noite adentro.A família dorme sob o poder de
sua mente,e nada mais passa na tela do televisor,que agora parece
diferente.Um televisor de uma outra época,um outro tempo.E a névoa
se vai levando o sono da família embora,fazendo-os acordar pela
manhã e quando vão ver a névoa se foi,causada pelos poderes do
professor Menescal,que os ninou macabramente aquela noite,como um
presente do diabo.Uma noite de festa com pipoca foi dada a cabo.
E
assim todos acordam e vão tomar café,e ir trabalhar e estudar,como
sempre.Mas todos vão lembrar quando o professor Menescal os visitou
em suas mentes,trazendo a névoa do cemitério para cercar a casa da
família,e agora a casa dos Malheiros parece não mais uma ilha,como
na noite que o professor Menescal ninou a família de sua tumba no
cemitério.
Uma
noite de medo,uma noite de mistério.
1992
UMA
OUTRA DIMENSÃO
Haw.
Vago
pela cidade como um cão, perscrutando os sebos e lojas nas quais vou
passando apenas por curiosidade, nesta cidade de terceiro mundo.
Pego
o ônibus num ponto qualquer da cidade apenas esperando para chegar
em casa e ir dormir. De meus dias de andarilho me lembro pouco, pois
troquei andar a pé pela cidade, por ir ate o ponto mais perto e
pegar o ônibus.Sigo no coletivo apenas observando a cidade que vai
passando como num passeio turistico, ainda tenho tempo, mas quero
chegar logo a cidade para assistir a sessão de cinema gratuita na
biblioteca, No centro, diferentes rostos, diferentes culturas esse
mundo fervilha em palavras e papo-furado.
Pessoas
andam de um lado para o outro, em férias ou a trabalho.Outros por
sua vez, vindos de outra cidade, se pôem a esperar o ônibus no
terminal, onde logo, o ônibus, que peguei
chegará
daqui a poucos minutos, me levando para casa.E eis que ele chega.
Salto
do ônibus matreiro, sorrindo.nesse mundo que, para mim é agora uma
caixa de surpresas.Uma névoa aterradora ,onde cães e pequenas
criaturas levitam, pairando no ar. É um tempo de mera ilusão, e
nada de espetacular jaz em minha mente, Apenas o distante ressoar dos
carros, ônibus e caminhôes trafegando pelas ruas do mundo, um mundo
devastado pela poluição industrial e pela crise econômica, após a
grande quebra da bolsa de Nova Iorque, á algumas noites atrás. Nas
firmas, os trabalhadores trabalham em silêncio, enquanto esperam por
sua oportunidade de subir na vida. Somos milhares de seres humanos,
cada
um com uma diferente bagagem cultural e diferentes tipos de
experiências mas todos com uma coisa em comum - a necessidade de
viver, num mundo tao frio e cheio de névoa. Agora mesmo, no Hawai,
por
exemplo,
pessoas vão e vem, pescadores motoristas de caçambas ou guias
turísticos prontos
para
começar mais um dia de trabalho, mais uma oportunidade de alcançar
uma coisa que todos nos desejamos. Vou até a banquinha do terminal e
compro um maço de cigarro.com o isqueiro público que jaz em cima do
balcão, amarrado com uma corrente, acendo um deles e me dirijo ate
um dos bancos do terminal, andando.Vejo moças, pivetes, cachorros,
velhos com suas roupas esquisitas e gente que não para de conversar.
A lista e imensa. O que será que não esconde cada um deles, cada
sermão rezado cada casa para onde vão ou de onde vieram pelos
quatro cantos do mundo em que vivemos. Observo a moça de cabelo
preto e liso, comprido, de tez meio morena, que adentra o banheiro
publico do terminal.
A
velha que se veste com vestido espalhafatoso e fala coisas de velha,
senil.A mulher de seus vinte e poucos anos que beija o rosto de um
homem velho, de chapéu que aparenta ser um cidadão integro, homem
de grandes virtudes se despedindo, para depois entrar no coletivo, o
cachorro que vem até mim e começa a abanar a cauda, me saudando com
alegria. Ele me lembra de um outro cachorro a algum tempo atrás, um
cão bonito tipo cofap que certa feita em uma esquina, do suburbio,
veio e começou a correr em meu redor como se querendo ser meu
amigo.onde estará ele senão em algum ponto afastado da cidade
dormindo, enquanto esse outro, me cumprimenta carinhosamente, para
depois se deitar a meus pés e sorrir com a língua pra fora, arfando
ofegante.
Ele
é só o inicio de tudo que podemos encontrar nesse mundo um mundo de
dor e caos aonde criaturas e coisas dos mais diferentes tipos
se
aglomeram pelos quatro cantos, alguns furiosos outros felizes ou
acomodados .sofredores, trabalhadores, ou nerds que infestam o mundo
pergntando a você se já leu algum livro de um tal sei lá o que de
Jon Updike, e que afirmam ter visto seu fantasma pela rua á noite,
em algum bairro do mundo, após sua derradeira morte.
Estranho.
Lembro
os dias de minha vida como um sonho muito brando e distante, em cenas
de coisas que infestam o céu e a terra , e que se esvaem na tarde e
que vão passando, como um filme mudo e em preto e branco de Charles
Chaplin, rodando em minha mente.
É
noite.
A
história de horror tem três vertentes, A primeira, a ficção, a
segunda, a realidade e a terceira, uma mistura dos dois.Sabe-se que o
terror na história da humanidade jaz perene.desde o começo dos
tempos, Ele vem a desencadear uma espécie de cultura própria a
cultura da fraqueza humana e o desabafo de coisas que nos incomodam
ou então aquilo que sendo curioso nos fascina.
Existem
histórias de terror de vários tipos como os de ficção e os de
uma
realidade floreada. Certo dia, quando fui ate a biblioteca do bairro,
ler, topei com uma pequena série de livros de ficção cientifica.
Os livros Perry Rhodan.. Já havia visto alguns deles em Blumenau
quando Jarbas os compravam todo santo mês.Sem qualquer curiosidade
eu os folheei pela primeira vez vendo o fascínio de uma série de
textos de horror e ficção científica, que haviam não só dado
certo e tido sucesso nacional, quanto também internacional. Como
outros boatos, e segundo disse Hilton, os textos eram escritos não
por Perry Rhodan mas, por diversos escritores.
A
princípio os deixei de lado mas, anos depois ontem mesmo, vim a
constatar que Perry Rhodan era a maior série de textos de ficção
científica e horror que jamais foram escritos.
(...)Como
podemos descrever um sonho? Um sonho é uma série de imagens e sons
que ocorrem durante o sono, que nos despertam não só nossas
imaginações como também nossos medos, daí vem os sonhos, ou os
pesadelos. A humanidade nessecita de algo que suscite em nós, aquela
agradável sensação de entretenimento que nos deixam tão acesos
após um bom programa ou texto impresso.Para isso existe a televisão,
as revistas em quadrinhos ou então, a música.Esse é o maior
mercado de cultura que jamais se viu na história de todos os tempos.
Já na caverna, o homem procurava registrar coisas e informações,
textos mensagens ou então exercitar sua imaginação e se divertir
com coisas como filmes seriados jornais ou então histórias em
quadrinhos.
(...)As
tiras de aventura por exemplo.Iniciada em 1929, estas nossas pequenas
peças de arte e texto, nos arremetem para a verificação de que
entre milhões de habitantes do planeta Terra, quase todos já leram,
um álbum de tiras de aventura do Tarzan, Mandrake ou Fantasma.
Publicadas em jornais, elas cruzaram as décadas sempre firmes com
artistas do quilate de Lee Falk, o mentor intelectual dessas últimas
anteriormente citadas, séries de tiras de aventura. São elas que
através dos tempos foram publicadas aos montes em jornais e revistas
e são elas que alimentaram, os sonhos de milhares de jovens e
adultos, durante quase um século.O ser humano precisa disso.; uma
coisa que os faça sonhar e se identificar com os mesmos assim como
através das décadas o mundo o fez, seja em textos de terror ou
aventura, que foram escritos e ilustrados por crânios do mundo
inteiro, os escritores e ilustradores da King Features Syndicate.que
trabalharam por décadas, para ajudar o ser humano, á sonhar, e
também, aplacar,seus mais profundos medos.(...)
Eu
acabava de chegar ao colégio, naquele frio dia de inverno na cidade
de Curitiba. Eram então tudo trevas e escuridão, que eu
compartilhava com criaturas da noite, como minha velha cadela,
Diana.As coisas aconteciam de forma macabra.Havia repetido três anos
na quinta série e tudo que eu mais queria agora era me recolher a
meu sofrimento.Minha carreira de estudante havia chegado ao fim,
Estava tudo acabado.com minha pasta de baixo do braço de uniforme do
colégio e meu cabelo liso e pentedo de inglês, adentrei a escola
naquele frio dia de sombras.. ' Ainda esta vindo?', inquiriu uma
estudante que estudava em minha sala, a ruiva, para ser mais
exato.'Exato' retruquei eu calmamente, mas sentindo uma desagradável
embolação no estômago. 'Eu estou morando agora na casa de fundos
de um abastado cavalheiro rico,logo começo a trabalhar em alguma
firma.' Ruiva olhou séria para sua companheira e deu de ombros.Me
despedi e entrei na escola para acertar minha desistência de estudar
no colégio. Era noite.
De
noite, escutava com um bloco de anotações na mão anotando tudo que
conseguia da transmissão da Espn international, que irradiava não
imagens mas informações que iam sendo transmitidas pelo canal que
logo em breve iria entrar no ar, mas que agora não passava de uma
tela cheia de chuviscos que pareciam ate mesmo ter vida.Na estante e
nas paredes do quarto, desenhos que iam, desde simples personagens de
revistas em quadrinhos ate carros complicados de serem
desenhados.Logo, larguei o bloco de anotações e me fui, até a
janela para ver a tenebrosa imagem de um tucano gigante olhando pela
janela do quarto.
Era
então um desertor. Havia largado a escola e agora tudo o que eu mais
queria era descansar de uma longa derrota - a quinta série da qual
eu nunca sai. Sentado no meu aposento onde dormia, escrevia coisas
que eu achava interessante numa máquina de escrever usada que havia
obtido a algum tempo atrás. ' É, .é bom estudar em casa.' exclamou
a mãe que adentrara o recinto, com uma vassoura pronta para varrer o
chão e o teto do quarto.' Era o que o teu pai mais fazia.' logo
sorri imerso em meus pensamentos para depois ir dormir.
Eram
dias de névoa então.Uma densa névoa parecia envolver a casa então.
Hilton e Jarbas trabalhavam, a mãe trabalhava numa cozinha
industrial ali perto, e me recordo de.nos dias de solidão gostosa,
passar pela frente da cozinha industrial imerso em pensamentos,
refletindo sobre como e dura a vida.com pena de minha mãe.
Era
o tempo do Cine Trash, que passava toda noite na Band, apresentado
pelo
Zé do Caixão, programa que assistia toda noite, e que me provocou
pesadelos durante um longo período de minha honorável
vida.
Aquela noite, me encontrava assistindo ao mesmo programa na companhia
de Hilton, que, deitado na poltrona, ria, de um filme que passava
sobre o colecionador de cabeças. Eu, sentado na outra poltrona, ria
junto, de um filme de terror que mais parecia uma comédia.uma
palhaçada.Na manhã seguinte, sentado a mesa na cozinha, folheava
uma revista da Cripta do Terror, regado a uma boa garrafa de
refrigerante.Jarbas lavava a louça e fazia a comida, para logo
depois, almoçar.As estórias que li naquela revista me marcaram
muito, especialmente a história 'Irmãos de Sangue' que fora
publicada na reedição da revista que assombrara a censura norte
americana em plenos anos 40.
Passava
os dias, martelando as teclas da máquina de escrever, redigindo
pequenos textos que a medida que iam sendo escritos, iam se
multiplicando.As estórias pairavam no ar, assim como os fantasmas
daqueles que já se foram e que agora, assombravam a
casa.Textos
que redigia e que eram baseadas num livro de luxo que contava
estórias verídicas de fantasmas e outras experiências
aterrorizantes, como a incrível estória de Alester Crowley, que
praticava sessões de magia negra e que ficara marcado como um
importante personagem de terror de nossos tempos.Lia página por
página da edição de luxo que trazia estórias de lendas sobre
fadas e gnomos que assolavam a Inglaterra medieval .experiências
paranormais, fantasmas e as noites macabras da época das carruagens,
que cruzavam as ruas de Londres no século passado.Certo dia, reuni
todos os textos e para depois de pô-los num envelope, fui, na
companhia de meu primo, que viera para passar a noite em casa, pegar
o primeiro ônibus para o São Brás, rumo a casa do mesmo, para
discutir as redações de horror e
matar
gatos, em rituais de magia negra.Naquela noite não consegui dormir,
imerso num pesadelo.
Um
dia depois, veio-me as mãos uma cópia bastante interessante de um
livro intitulado Parque dos Dinossauros de Michael Chrichton. logo
após almoçar, naquele dia de calor, com o exemplar na mão, fui até
a lavação e, sentado em cima da casinha da cadela Diana, li-o de
uma só vez ,e enquanto o lia,começou a chover.
Passava
noites em claro, imaginando estórias de demônios e fadas, monstros
e assombrações, mergulhado no clima soturno da casa enquanto,
deitado na cama em meu quarto, meneava meu cabelo, com a mão.
A
casa era uma espécie de tumba, um antro de livros e revistas de
terror que entupiam uma estante, onde guardava uma batelada de cópias
de peças de literatura, entre eles, um livro de capa amarela,
denominado 'Tripulação de Esqueletos' de Stephen King.
Eu
parecia viver, imerso numa espécie de transe hipnótico então.não
me lembro de muita coisa sobre nada, exceto o que acontecia dentro da
casa.O mundo então não significava nada para mim, não sendo nem o
mesmo, algo que eu gostasse de lembrar. Bom entretenimento, era tudo
o que mais me importava. Eu vivia então mergulhado em filmes de
terror, como ' It - a obra prima do medo' e ' Creepshow -
arrepio do medo.'
Naquela
noite, uma das grandes noites de vigilia, lia um gibi de estórias de
assombração, enquanto aguardava o véu da noite cair sobre a
cidade.
Não
obstante, minha mente se encontrava numa catarse.Catarse em que eu me
encontrava que me fazia escrever todo dia.Todo dia de névoa, pegava
um pacote de papel Chamequinho e o botava na pequena máquina de
escrever, pondo no papel, todo o mundo de alucinações nas quais eu
vivia, como se a vida fosse uma grande noite, imersa em monstros e
pesadelos, dos quais eu me alimentava.Escrevia sobre a vida, sobre o
mundo e sobre a névoa que tomava conta de minha vida.
Apenas
saía para trabalhar, no mercadinho perto da casa, onde receberia
60 reais para vigiar a caixa. que era amiga de minha mãe. Trabalhei
lá por algumas noites, mas.devido a uma tremenda burrada, fui
demitido, por faltar no trabalho. ' Como é que fica então,
senhora?'perguntei a caixa, que prontamente me despachou. ' Não não'
disse ela, ' Se precisarmos de seus serviços nos te chamaremos. ' Em
silêncio, sem saber o que dizer virei-me e fui pra casa, pra não
mais voltar.
Os
fantasmas da noite pareciam pairar na névoa naqueles dias, o
fantasma de algo que me acompanharia pelo resto da vida - a
esquizofrenia.mas isso era algo que eu ainda não sabia.
Escrevia
maços e maços de textos.Certa vez, após assistir a um filme
chamado 'Kids', prontamente escrevi um texto, que contava a
história de um grupo de jovens que passariam pela maior experiência
de terror de toda a história de suas vidas. Nele, Charles,após ir
até a casa de seus avós no Jardim Botânico,encontrava uma cabeça
dentro de um saco de
papel
pardo.O texto, de cerca de 48 páginas, se perdeu com o tempo.Após
eu rasgar o grosso calhamaço de folhas de papel sulfite
datilografado que anos depois, Consideraria inútil e sem futuro,
A
estória era uma estória maluca que terminava com a morte do
mesmo.nele havia menções sobre remédios e não drogas, que eu
tomaria para me sentir saudável e sequências como a ida de ôuibus
ate o Jardim Botânico e a explosão da casa dos avós de Charles
que, depois de um resgate acontecer, após a vó do personagem abrir
a válvula do botijão de gás da cozinha e explodir a casa de forma
fatal,
Como
Charles conseguiu escapar e morrer, depois de se suicidar com um tiro
na cabeça após descobrir que estava começando a ficar louco.
Após
acabar de escrever o texto, o larguei, deixando o esquecido na
estante, onde deixava os textos que iam sendo escritos, e que se
perderam com o tempo, quando eu me livrei dele, anos depois, para meu
total arrependimento.
Os
textos, baseados na vida real, pareciam criar vida.sempre que chegava
em casa após ir até o apartamento de minha irmã, sentava no sofá
á noite no escuro, na sala da casa de fundos.e sintonizava na Band,
onde assistiria a algum filme de horror que alimentariam boas noites
de sombras e alucinações.
Era
a época dos filmes malucos infestados de duendes gnomos e outros
tipos de miragens noturnas e fábulas que forravam as prateleiras das
videolocadoras e que passavam na televisão, pérolas do
entretenimento
na
época em que a ficção e o terror faziam parte de uma vertente agra
dável,
que fazia parte de nossas vidas. Padres que voavam e lutavam karate,
pequenas criaturas que soltavam uma gosma verde ao serem pisoteados,
palhaços espaciais e camas em hotéis em, trechos afstados da
cidade, que devoravam, a noite, quem nelas deitassem.
Na
pizzaria, a algumas quadras da casa, Hilton e Jarbas iam, para trazer
para casa, grandes pizzas de anxova e presunto que eram compradas no
'Engenheiros da pizza' que havia sido inaugurada a não muito tempo,
perto da casa.Havia livros, havia viagens e festas, que noite após
noite me visitavam, fantasmas que lentamente me embalavam no suave
sono do medo.Uma manhã, acordei e fui tomar cafe, para constatar que
Jarbas
havia comprado num sebo um exemplar de 'A profecia' que me entregou
em mãos, perguntando se eu queria ler.Após arrumar a mesa para o
café da manhã, me pus a decifrar a trama e o texto de terror que me
parecia fantástica.Logo após ler o primeiro capítulo, pouco
depois, me levantei e fui até o quarto, onde peguei uma folha de
papel duplo, voltei a cozinha e com uma caneta preta, copiei a
ilustração
da capa do livro, escrito pelo talentoso David Seltzer.
O
desenho, que deixei de lado, me assombrou, por anos.enquanto
desenhava, um par de olhos, me observavam, brotados da noite, pela
janela da cozinha.
Naquela
noite, a casa estava em silencio.Lá pela hora de Hilton chegar do
trabalho, ele adentrou a casa, com uma surpresa.dentro de uma sacola
de rafia, lá apareceu pela primeira vez na história da família, um
animal de estimação.'Olha só o que o Hilton trouxe ' exclamei ao
ver o conteúdo da sacola, uma cadelinha, parecida com o Banzé,e de
cola longa, sorria de lingua pra fora, abobada, onde depois de vê-la,
termos-na posto numa caixa.onde a partir de
então
passaria a viver, até que achássemos uma casinha de cachorro para
ela.Aquela noite fui dormir, surpreso, ao som de uma triste sinfonia
- a cadelinha que batizáramos de Diana, choramingando, com medo do
escuro.
Logo
na manhã seguinte acordei, alegre e com vontade de ver Diana.e lá
estava ela, saudável, após sua primeira noite conosco.Ela parecia
sorrir arfando, e balançando a cauda, como se pronta para mais um
dia de brincadeiras.Logo peguei intimidade e a peguei em meus braços
acariciando-a, contente, por ter um amigo.
Logo
após arranjar uma corrente, saí para passear pelo quintal com o
filhote de pastor alemão que acabáramos de obter.Ela arfava e
gania, sorria e abanava a colinha como uma criança que acaba de
nascer. Após brincar um pouco no quintal, debaixo de um sol quente
num dia de verão, voltei para casa, para logo em seguida a dar um
banho.
Os
dias se passavam e eu, como sempre lendo bons livros e assistindo a
qualquer coisa que me pudesse causar satisfação na TV. preto e
branco Philco que nos acompanhava desde Blumenau, e que queimou, um
dia, quando a luz acabou na casa, para, semanas depois a
substituirmo-na por um telão cinza que possuimos ate hoje.Estava por
coincidência, assistindo ao começo da TV por assinatura.a TV a
cabo.
Mas
algo estava acontecendo.algo que viria no futuro a me causar pavor.
Dias
depois, após ter vindo de uma viagem a Blumenau, cheguei em casa bem
na hora de Jarbas me avisar que estava começando a passar um bom
filme de terror. ' Está passando um filme bom, James , ' avisou
Jarbas. 'Que filme?' inquiri eu, após ir ate o quarto, por a mala de
viagem em cima da cama, apagando a luz e voltando ate a sala para
depois sentar para assistir ao filme na OM.'A hora do espanto'
respondeu Jarbas. ' já está começando? 'perguntei. 'já' disse
ele, com uma travessa de plástico com pipoca salgada.após ir até a
cozinha e pegar um pote cheio para mim, voltei a sala, para depois
sentar parta assistir aquele clássico filme de terror.
O
barulho das xícaras copos e pratos que usáramos para comer a mais
uma pizza como pregava a tradição da família naqueles sombrios
dias
de
passado e futuro.
A
última coisa que lembrava dos tempos de escola, dos últimos dias no
colégio
dos cavalos, era da vez em que um aluno viera ate a sala onde eu
cursava novamente a quinta serie, e dito que a senhora Denise estava
me chamando. ' A professora Denise disse que é para você ir até o
gabinete
dela, com o caderno com as redações que você escreveu, James
exclamou
ele.Eu prontamente tirei o caderno com os textos que eu escrevera e
me fui, escola afora, até o gabinete da professora Denise.
'Com
licença, dona Denise' disse entrando no gabinete.' Entre James.' ela
exclamou, me convidando em seguida para sentar. ' deixe-me ver o
caderno com as redações que você escreveu.'disse ela.Eu, em
resposta, entreguei o caderno que eu tinha em mãos á professora
Denise, uma professora com o cabelo ondulado doidão que ria todo
dia.
Daí
comecei a explicar e apresentar os textos.Enquanto ela lia e dava
risada, daqueles que seriam os primeiros textos que eu escrevera,
fora o fato de que não eram de horror, mas sim, textos humoristicos.
Comédia para ser mais exato.
'Seus
textos são excelentes, James.'exclamou ela enquanto lia os
textos.'eu tenho uma proposta para você.por que você não vai até
uma editora e submete essas redações?'Eu nem mesmo sonhava em fazer
uma coisa dessas, Mal sabendo o que ela pretendia, eu balançei a
cabeça afirmativamente, sem entender que o que a dona Denise estava
me convidando era não uma simples conversa mas um convite e uma
proposta a escrever os textos e vê-los publicados num livro ou em
revistas.Houve uma troca de idéias, entre uma professora e um
adolescente que mal sabia o que fazer com aquelas pérolas da ficção
que jamais foram publicadas.fazendo corpo mole, cheguei em casa
aquele dia e nunca mais vi a dona Denise.Joguei os textos na estante,
junto com os outros escritos perdendo-os para sempre.Certo dia, numa
devassa, a mãe arrumando o quarto, pegando todos os textos que
haviam no caderno e considerando que não fossem nada importante, os
pegou e os jogou fora.
Estava
tudo acabado.
Mas
havia algo de fantastico naqueles dias em que eu passava, sozinho,
imerso
em um agradável e demoníaco clima de horror e geada, lendo
revistas
e livros de horror e escutando música da boa.Eu parecia não
perceber, envolto a um clima de solidão, mas aqueles foram os
melhores anos da minha vida, onde passava os dias, em transe.
As
noites eram agradáveis., enquanto esperávamos pela janta, Hilton
tocava cds, dos bons, que davam a casa, todo um clima de encanto e
mistério, onde apreciávamos a escuridão de dentro da casa, ao som
de discoteca, num tempo tao bom que não esquecerei jamais.
Pesadelos
á noite, ruas por onde andei em minha vida e a vida cigana que
levávamos naquela época. Músicas vindas de um outro tempo. filmes
rodados em uma outra galáxia e o frio véu da noite.as noites de
horror em que tudo não parecia uma grande zona de desolação num
clima de eterno medo.
Mas
quis Deus que não fosse mais assim.
Os
dias se passaram e semanas depois, semanas de duro trabalho de Hilton
e Jarbas, quis os expectros da noite que Hilton caisse doente.aquela
noite deitado no sofá, com a cara palida e manchas amarelas no
rosto, ele repousou, enrolado em um cobertor, a espera de um milagre.
'Vai comprar um remédio pro teu irmão.'exclamou a mãe,
preocupada.Logo sai e fui ate a farmácia onde comprei um tablete de
superhist .de volta a casa , sobre uma fina nevoa, sem que o remédio
ajudasse, Hilton foi levado a um hospital onde passou a noite.
Na
manhã seguinte, a mãe chegou do hospital, com más noticias - ele
tinha tido um derrame.
Tudo
que pude ver naquele dia, foi Hilton, de olhos semicerrados se
recuperando de uma tragedia. 'James.' disse ele naquele entardecer. '
Me vê uma caneta e um papel. Trouxe o papel e a caneta, onde ele
redigiu ,um assustador texto macabro sobre sua doença.Li o
manuscrito mas decidi, alarmado jogá-lo fora por achá-lo muito
sinistro.
Logo
a noite veio dando lugar a mais um dia.Felizmente naquele mesmo
entardecer. Hilton estava curado.
Logo
voltou a trabalhar, e as coisas de novo voltaram ao normal.
Enquanto
isso continuava a escrever.com uma pequena máquina, redigia textos
sobre a vida o céu e a terra.textos de horror.
Mas,
pouco depois, quis Deus que coisas sinistras voltassem a ocorrer na
casa do bando.naquela noite, Hilton chegou em casa, apos saber que
eu
tinha batido em Diana...'Olha aqui ,você não pode fazer isso!
Porquê você bateu na Diana, seu droga?' exclamou ele em voz alta.
Desesperado,eu
me senti pequeno então. Estava alarmado.'Não pode vírgula .ela
aprontou.' exclamei eu com raiva.Logo começamos a discutir e Hilton
começou a chorar.tudo o que pude ver foi ele, pegando a cadela no
colo e se indo na noite. ' Espera.O que vai fazer?' exclamei eu
atônito indo atrás dele. Hilton chorava. ' Vai embora!Droga.'
gritava ele soltando a cadela que coreu inocente para bem longe. '
Não!' gritei eu, para logo em seguida sair correndo pela rua atrás
dela.Jarbas que vinha vindo pela rua teve presença de espírito e a
agarrou enquanto ela tentava fugir para bem longe.Chorando, Hilton
disse que ia dormir no apartamento de nossa irmã,e se foi na noite.
Na
manhã seguinte, ele chegou de tarde e pediu desculpas, num aperto de
mãos.Novamente as coisas haviam voltado ao normal.Logo Hilton estava
trabalhando de novo e parecia que a vida do bando após isso, ia de
vento em popa.
Passava
as noites em claro, sem que ninguém reclamasse disso.Tinha liberdade
para ficar acordado a qualquer momento e tinha uma vida livre para
fazer o que eu bem planejasse.de minha tumba, assistia toda
madrugada, a biblioteca de desenhos e logo pela manhã no Sbt, o
programa Sessão Desenho com a Vovó Mafalda.E assim os dias se
passavam, tranquilamente como num rio de águas muito frescas e
escuras, cheio de livros revistas e mistério.
Mas,
ainda não estava tudo explicado, e eu me vi aquele dia, perdido num
mundo ilusório.(...)Foi quando tudo aconteceu.E eis que la estávamos
eu, minha mãe e Hilton, na sala da casa.macabramente, não sabia o
que estava acontecendo não me lembrava nem mesmo o que eu estava
fazendo naquela trágica semana, sentado na poltrona, Hilton chorava
alto.
Nao
sei como ou o porque, ele chorava, enquanto eu reclamava com minha
mãe, por algo de que não me lembro. Mas foi então que a coisa se
deu. Por algo que fiz não sei se inocentemente brigando de certa
forma com a mãe, Hilton levantou-se com raiva entre lágrimas, para
depois de em pé, exclamar que não era para eu brigar com a mãe. Eu
retruquei imediatamente e em seguida levei um soco de Hilton. ' Para
quê fazer isso?' eu gritei. ' Não!Não precisa fazer isso!' bradou
a mãe, segurando Hilton, que ainda chorando me pediu desculpa num
abraço apertado.Logo depois a briga acabou e logo estávamos bem de
novo. O que havia acontecido para Hilton se zangar daquela maneira?
Ninguém
sabe.Isso e um mistério que vai ficar para sempre na tumba do bando
que lá morou por algum tempo.
Estávamos
chegando no fim da semana seguinte e estava novamente tudo
bem.Naquele
domingo
de manhã enquanto assistiamos a Creepshow - arrepio do medo,
semtados na poltrona da sala, Hilton já ria e brincava na companhia
de Jarbas que também conversava, enquanto assistíamos ao filme de
terror que passara de madrugada na Globo e que haviam deixado
gravando na noite. Era um dia de frio e a névoa ainda cobria a
cidade fazendo a capital parecer um agradável filme de suspense como
aquele em que um cavalheiro negocia um esboço para uma revista de
horror em meio a uma névoa em plena Nova Iorque.
Mas
- minha nossa senhora.quis nossos senhor, que, desta vez, tudo fosse
por água abaixo.Sombras cercavam as redondezas naquela madrugada de
domingo para segunda onde tudo estaria para acontecer Por alguma
razão, que não me recordo aqui, algo que porventura pudesse ter
acontecido no dia anterior e que me fez acordar furioso.
Num
acesso de raiva, me levantei e fui até a cozinha onde Jarbas e
Hilton, jogavam cartas. após me convidar para jogar, jogamos. Hilton
bateu. eu havia perdido.Eu estava furioso. Resmunguei algum
impropério contra Hilton, que, ironizou minha atitude.e aconteceu.
Me levantei, jogando todas as cartas de baralho que tinha em mão bem
na cara de Hilton que exclamou impropérios contra mim, em voz alta.
Ele saiu, exclamando que estava tudo acabado. Jarbas dizia algo a ver
com ' Poxa cara, você era tão legalzinho, porquê começou com isso
agora?' Eu peço perdão por, em resposta, ter escarrado contra
Jarbas pela janela como se quizesse sua morte. Ele chorando se foi,
dizendo que a comida estava pronta e que estava indo trabalhar. Logo
Hilton e Jarbas se foram na tarde.
Ao
invés de fazer alguma coisa, apenas voltei para o quarto e o
arrumei, como se arrumando o berço de um bebê.
O
dia se passou rápido e logo Jarbas estava de volta sem Hilton. '
Olha James eu tenho que te dizer uma coisa, o Hilton não vai mais
voltar. ' exclamou ele sério. ' Mas porquê? ' perguntei assustado.
' Voce bateu nele James.e isso não se faz..Vem, vamos assistir as
fitas que eu aluguei.'Logo, tremendo de medo, fui ate a sala onde
regado a um bom refrigerante e um pedaço de pizza que lembrava muito
os bons tempos do bando, numa débil tentativa de voltar a viver
felizes como antes, assistimos a fitas de Jornada nas Estrelas e
outros. Eu estava louco e após em silêncio exclamar que as fitas
eram inúteis, Jarbas, aos prantos, meio de forma contida exclamou. '
Puxa cara. por quê você faz isso?Você era tão legal.' .' As fitas
não vão resolver nada agora, droga!'
'Desculpa.
Eu só pensei que ia ser legal alugar um filme pra gente ver...' Em
seguida, arrependido pedi-lhe desculpas e continuamos a assistir a
Babylon Five que agora era tocado pelo nosso antigo videocassete.
Logo mais um dia se foi dando lugar a grande mãe noite.
Passaram-se
alguns dias ate que o bando voltasse a viver junto de novo.Enquanto
isso tudo que eu me lembro era viver com Jarbas, assistindo filmes
lendo e escrevendo textos e revistas em quadrinhos, e de uma estranha
névoa um ar de mistério no qual eu me via numa mesa improvisada, no
quarto, assistindo tv, e escrevendo histórias de horror.
E
eis que no dia seguinte, eu me levantei aos prantos, para por alguma
razão, desesperado, fosse ate a sala e empurrasse o guarda-roupas
numa débil tentativa de se
mudar,
sozinho, para uma casa nova. ' Desculpa, mãe, desculpa.' murmurava
chorando, naquele macabro dia de minha vida, ' Eu não queria ter
feito isso'.. .A tarde passou Jarbas chegou em casa para me
tranquilizar e em seguida ir dormir.
No
dia seguinte, após a súplica de Jarbas, Hilton e a mãe, chegaram
em casa, com pena e me convidando para me mudar com eles, para uma
casa nova. Algo que não era bem uma casa mas um luxuoso apartamento,
onde iriamos morar então.De presente e num pedido de desculpas, a
mãe me deu um caderno, sabendo que eu gostava mesmo de escrever
histórias de horror.
Na
tarde do dia seguinte, o caminhão da Senk mudanças veio, para levar
a mudança até o apartamento no Jardim Botânico., onde iriamos
morar dali pra frente. Com os textos de horror em mãos, no dia da
mudança, dei a máquina de escrever de presente para um polaco,
parecido com um dos atores do seriado 'Murder One', que, me agradeceu
pelo presente, num aperto de mãos.
Era
o fim de tudo.
FIM
2000
Foi
por volta do ano 2000 que nos mudamos para uma casa antiga,de
madeira,no bairro Agua Verde.
Lá
foi um marco decisivo na minha historia,pois marca o inicio de uma
doença que os medicos ate hoje não sabem o diagnostico,mas que foi
registrada por minha ordem pessoal como esquizofrenia.Entretanto essa
doença só existe nos registros medicos pois hoje em
dia,considero-na um fantasma que deve ser trancado a sete chaves em
minha vida.Logo que viemos morar naquela casa,nos instalamos e por
coincidencia eu havia acabado de completar o ensino fundamental,coisa
que jamais ficou comprovada,uma vez que faltou eu passar em
matemática coisa que deixei passar.Mas tudo bem,para fins de
registro possuo o fundamental.Mas o que interessa foi que quando
chegamos lá,poucos dias depois, fui acometido de uma terrível dor
de cabeça.
Eu
não sabia o que fazer e na névoa que se passava por minha cabeça
tive o terrivel equivoco de pedir a minha mae que fosse tratar a dor
de cabeça no medico.Esse me indicou um psicologo vejam só o
desplante,e mesmo assim,cegamente,fui.Fiz a consulta e dias depois
ocorreu o que eu poderia dizer de o maior desastre de minha vida.Ter
sido hospitalizado pela primeira vez,coisa que me trouxe
consequencias negativas.
Dias
depois,numa noite escura,tive um desentendimento com meu irmão
Sandro,que acarretou numa briga.A policia foi chamada e eles me
levaram a um hospital temendo que pudesse estar drogado ou algo
assim.
Mas
não era nada disso.
Aquilo
tudo não passou de um engano e peço desculpas a meu irmão por ter
cegamente o agredido.Pensava então como uma criança e devo admitir
que cometi um erro atroz.
Fiquei
internado num hospital por três longos meses.A volta para casa foi
seca,mas chorei muito enquanto isso me desculpando com meu irmão.As
lágrimas escorriam por minha face tamanho era o desespero que toda
aquela situação me causou.Passado o susto,voltei para casa,e
prontamente me pus a estudar uma maneira de ser util para minha
família e ao mesmo tempo me livrar daquele estado mental que me
encontrava,do qual vim a sair só anos depois em 2017,quando a imagem
de um escritor apareceria em um sonho para me dizer que devia ajeitar
a minha vida.
Mas
ai estava o problema,ate então não passava de um analfabeto
funcional,problema que só viria a reconhecer anos depois quando
comecei a escrever sobre minha vida.
Algum
tempo depois o segundo susto,apenas um dos que se sucederiam nos anos
seguintes.A briga com minha mãe.Peço desculpas se a afrontei,aquela
não era minha intenção.De novo,fui hospitalizado.
Uma
serie de internamentos em hospitais viriam a acontecer,e eu
continuaria desempregado,ate que em dezembro do ano de 2005,consegui
uma chance como ajudante de depósito na distribuidora farmaceutica
Panarello,uma firma de remedios,localizada a algumas milhas de onde
estavamos morando na época.
Era
minha chance de começar a investir em mim mesmo.Mas quis o destino
que nos mudassemos tres meses depois e assim,tive que desistir do
emprego.Nunca mais trabalhei registrado desde então,tendo apenas
trabalhado alguns dias em firmas de pequeno porte e como pedreiro em
obras existentes pelo decorrer do bairro Costeira para onde fomos
morar.Moramos em diversas casas até hoje,até a família se separar
e ir cada um para um lado.Sandro se casou e ficou morando por lá
mesmo,Mama e George Hilton foram morar comigo numa serie de outras
casas até hoje,e só Deus sabe em quantas mais ainda vamos morar no
decorrer da existencxia da família,já desde sua chegada a
Curitiba,assumidamente,nomade.
Desde
então tenho vivido,numa sucessão de casas uma atrás da outra,sem
trabalho,e frequentando bibliotecas onde tiro inspiração para meus
contos e desenhos.Outra fonte de inspiração é meu tablete,aparelho
que uso para sintonizar desenhos e coisas engraçadas,assim como para
escutar musica.
Atraves
dos anos escrevi diversos contos e desenhei muito.Fiz tiras,desenhos
e escrevi estórias,material que jamais foi publicado exceto agora
aqui nessa,que pódemos chamar de uma auto-biografia.
Há
muita coisa que ficou perdido na névoa,desde então.Lugares,datas,e
acontecimentos que simplesmente ficaram perdidos na neblina do
dia-a-dia de um desempregado e sua família,marginalizada pela
pobreza e pela doença.Mas sei que fomos sonhadores.
E
como fomos.Sempre se reunindo para escutar uma boa musica e conversar
sobre o futuro de uma família que viu seus sonhos afundarem na nevoa
de um país pobre e corrupto,os Malheiros,nos,sempre sonhamos com uma
vida farta em esperança e dinheiro apesar de sermos pobres e
envoltos numa mortalha de dor,seguimos em frente vendo nossos maiores
desejos se desvanescerem numa noite fria,numa casa velha,como
sempre,ao som de boa musica e uma xicara de café.
A
partir de então,moramos na praia,em Joinvile e até em Ponta
Grossa,para depois voltarmos para onde vieramos.a velha Curitiba.
Em
2011,resolvi voltar a ser cartunista e produzi algumas tiras.Muitas
delas se perderam mas a maioria está comigo e guardo-as num acervo
que mantenho até hoje.Acho que jamais vou deixar de desenhar,uma de
minhas paixões nessa vida.
2018
CAPÍTULO
UM
Era
um estabelecimento velho e empoeirado,mas vendiam bons
produtos,modernos..Entrei nele e comprei dois DVDs um dia desses.Como
eram apenas 2 $ e o velho dono do lugar não tinha troco para uma
nota de dez que apresentei,me deixou levar para pagar outro dia.Hoje
fui lá e paguei os
2
$ que fiquei devendo.Ele me olhou arregalado e sorrindo.A quanto
tempo não me via,e eu vim pagar o que devia ele gostou tanto que
apertou minha mão e me tratou como um velho cidadão da velha
Curitiba.Eu agradeci,sorri tambem e me fui,sem tempo de conversar.Mas
tive vontade.A quanto tempo não encontrava um velhinho tão
simpático e hospitaleiro como aquele homem.
Algo
naquela loja velha,que tinha placa de papelaria,me fez lembrar da
velha Blumenau mas não sei porque não confio muito nem mesmo nos
velhos de lá.Sabe-se lá o que devem viver aprontando.
Mas
foi bom,me senti como alguém que realmente pertence a um
lugar.Voltei para casa e retornei a meus afazeres.
Estava
ocupado,agora queria ser escritor,ajudar minha família,não
trabalhar numa firma mas escrever e fazer compras e lavar
louça,coisas assim,cuidar da minha vida.Fiz compras com minha mãe
hoje,fui na biblioteca do bairro para mexer no computador como sempre
faço.Sempre gosto de ficar acessando o Doutor Google e ficar vendo
blogues e sites sobre literatura e outras coisas como eletrotécnica
Medicina e tudo o que me interesse.Enviei duas cartas á editoras
ainda ontem,foi uma semana que começou cheia,fui fazer compras para
minha família e George até cogitou em me dar dinheiro para cuidar
das compras do mês.Estou mais ocupado do que nunca e trabalhando em
meu sonho de ver publicado um livro de minha autoria.Sempre fica o
sonho.
Esse
computador parece estar vivo.É claro que é impossível mas é como
se ele possuisse vida própria,não sei porque algo me diz que
preciso aprender algo a mais a respeito de informática ou não vou
conseguir entender nunca que quando um computador come uma estória é
porque foi mal formatado e não porque forças cosmicas fizeram-no
criar vida e me pregar uma peça.
Agora
está frio e ainda estou vendo o que vou fazer hoje.Creio que o
melhor á fazer é me enrolar no meio de um cobertor e ficar,até
chegar a noite e eu me levantar para cuidar da casa de novo como
sempre faço.Mamãe está melhor,até fez compras comigo hoje.George
é visível,melhorou por enquanto de sua doença coisa que já é o
bastante para quem vivia no andador e treinando para viver uma vida
um pouco mais ativa,como é saudável de se fazer.Eu martelo neste
computador e estou cansado,acho que vou descansar,conversar um pouco
com minha família pois isso é o melhor que posso fazer.Depois
dormir e acordar para o café as três horas.
Mamãe
resolve fazer bolinhos.Está inspirada.
-A
vida não sei porque todos reclamam,se ela é maravilhosa! - ela
diz,preparando a massa dos mesmos bolinhos como uma possessa,uma
boneca assassina mas que não é assassina não,apenas uma mulher
bondosa que pode ser terrível.Lá fora,no rancho dos Malheiros,mais
uma noite vem caindo,como o prenuncio de alguma praga
infernal,chegando a causar medo em Rudolf,na verdade Banzé,o
cachorro da minha irmã Andréa,da qual somos vizinhos,agora uma
Malheiros de novo,apos
ter
se separado de seu marido Valdir,com quem fora casada por anos.Ainda
me lembro de como tudo começou.Foi ótimo,eu estava estudando
então,mas com o tempo foi se transformando num erro.Ela em sua casa
já não aguentando o marido,e em minha vida também,com os Malheiros
eu da minha parte ficando cada vez mais relapso e perdido no tempo e
espaço.Mas tudo passou,passou-se um tempo de aprendizado e
finalmente me tornei um escritor como tanto gostava de brincar quando
era pequeno.Fazia alguns desenhos,me divertia.Mas foi com Stephen
King que minha febre se deu mesmo,foi lendo seus livros e pesquisando
sobre ele que tudo se deu.Agora escrevo,em tempo integral e agora
aqui me encontro em meu ofício,escrevendo,pensando em coisas para
colocar em minhas novelas de terror,coisa que já não mais temo como
temia antes.Creio que agora virei um homem me tornei um
homem-escritor coisa que faltava para mim,pessoa antes relapsa e
preguiçosa que perdeu muito de seu valioso tempo dormindo ou então
vagando a esmo,sem rumo.
-Agora
as coisas estão como antigamente – disse George hoje durante o
café num apice de entusiasmo enquanto falava para ele como a mulher
do farol,a biblioteca do bairro me tratava,sempre com intimidade e
respeito.Ele pareceu gostar e disse a frase com um gosto que jamais
vira em George.Estava realmente entusiasmado.Agora a música
sertaneja ecoava do rádio na cozinha e já não mais pareciamos
tomados por um profundo frio ou relapsos deitados no sofá ou na
cama,confusos,dormindo,não,agora estavamos vivendo a vida e cuidei
hoje para que fosse tudo perfeito,enxuguei a louça,ajudando mamãe
na cozinha,tomei conta de tudo,como todos gostam de ver eu fazendo.
-A
tia Lilie mandou um abração para todos vocês – disse
mamãe,contente após ter telefonado para a tia Noeli,sua irmã e
nossa tia,sempre presente nos principais momentos da família.Ela
deveria estar contente se visse eu tomando conta da casa como um
homem,imagino,a tia Lilie,a velha tia Lilie!
Afinal
agora os Malheiros estavam vivendo e não tinhamos medo de
morrer.Morrer afinal,trabalhando como já falei antes,porque é
normal morrer e todo mundo morre um dia afinal de contas.Agora mandei
uma carta para uma editora,e logo verei se estarei publicando GRAMPO
DO MAL em edição especial,edição oficial como eu sempre quis,e se
não conseguisse da primeira vez,continuaria tentando,agora lutaria
para ser realmente um escritor de novelas de terror,de contos,e quem
sabe até de como escrever livros de meu relacionamento com a
literatura,enfim,sobre o que viesse a calhar.Para publicar um livro
precisaria fechar um contrato e conhecia o doutor Google que possuia
uma vasta gama de possibilidades para que o livro fosse publicado e
estaria lutando para que fosse publicado.Agora uma estranha névoa
parecia pairar ao redor do rancho como se envoltos pelo espírito
Malheiros e eu quase sendo eleito como verdadeiro homem na
família,mas não trabalhando com algo como um serviço,mas
escrevendo como sempre sonhei.Tive alguns contatos no passado e agora
as coisas estavam caminhando para enfim eu me tornar o que sempre
sonhei,um verdadeiro escritor.
A
tarde chegou e se foi,como se jamais tivesse chegado.
Mas
foi uma tarde fantasmagórica,a música tocava no rádio na cozinha e
o silêncio subitamente tomou conta do rancho,como se algo de medidas
descabidas estivesse para se abater por sobre a região.Mas era algo
bom e não algo desagradável,que causasse dor ou desconforto,era um
clima que vinha e se mesclava ao frio,como algo no ar,uma energia,uma
coisa que ia além de toda a imaginação de um ser humano e se
espraiava por toda a cidade,em seus fundões perdidos,nas ruas
perdidas de subúrbio por onde andávamos quando Mama podia caminhar
com facilidade,com tranquilidade até,enquanto conversavamos sobre o
que gostariamos de fazer e o que queriamos conquistar.Um tempo em que
um Malheiros podia sonhar não com fortunas mas com felicidade,uma
felicidade que vinha e tomava conta como a onda do mar tomando conta
da areia da praia quando viamos na praia,a agua bater contra a
costa,de uma forma gostosa,como uma toada de um sertanejo que canta
sobre suas aventuras num Brasil rústico e viril,ermo e perdido no
tempo.
De
volta á 1988
A
arvore da danação se encontrava atrás da casa dos Malheiros,no
terreno superior.Era lá que ela crescia,que caiam as folhas e galhos
pelo chão,que brotavam as tangerinas e que subia o filho mais novo
da família,quase todo dia.Sempre que podia ele subia na árvore e
ficava,á ler seu gibi preferido,ou a comer tangerinas.Descascava a
tangerina e chupava cada gomo,como se degustando algum pequeno
manjar.Era assim que passava os dias,quando se encontrava no terreno
superior.
Hoje
não tinha nenhum gibi,apenas saiu de sua casa taciturno,e subiu o
barranco até o terreno superior para comer tangerinas.Trepou na
árvore e subiu até lá em cima,onde ficou sem se preocupar,á comer
tangerinas.E assim passou a manhã.
Lá
pelo meio-dia desceu e foi almoçar,para depois ir para a escola.Era
seu primeiro ano no colégio.
Mas
algo havia de estranho no terreno superior.E era a árvore que de
repente criou vida e estendeu uma de suas raízes até o camundongo
que passava,pegando-o,agarrando-o.O rato guinchou e desfaleceu,sendo
puxado até o buraco que havia em seu tronco,que na verdade não
passava de sua boca,horrenda medonha.que comeu o camundongo como se
comesse uma coxinha uma espécie de bolinho.O sangue esguichou longe
e a árvore deixou desfalecer a raiz que o pegara,como se nada
tivesse acontecido.
Ninguem
sabia mas era a árvore se alimentando,em um festim diabólico,onde
comia camundongos,galinhas e outros pequenos animais da região.
De
volta á 2018
Agora
podia ouvir o som de Andrea terminando de arrumar sua casa,logo
ali,na casa vizinha.
Agora
era um novo tempo,como se algo estivesse acontecendo e de vez em
quando pudéssemos alcançar aquela vida perfeita que tinhamos quando
eramos mais jovens e cheios de si para encarar o mundo e tomar conta
da casa e ir além.Agora era escritor,e apenas aguardando por aquela
pequena surpresa que todo escritor tem antes de se sentir
realizado,ver seu livro nas bancas,sendo vendido,como todo bom
escritor tem-o orgulho de ver seu livro nas bancas e sendo vendido
junto com os outros,competindo concorrendo como se esta vida não
passasse de um jogo,como disse Fitzgerald quando ainda estava vivo,e
publicando suas novelas e contos maravilhosos,escritor de
renome.Agora era eu – James S. Malheiros,grande escritor que
pretendia
ser
mundialmente famoso.Agora eu nem podia,esperando pela fama e dinheiro
que meu livro pudesse me proporcionar,mas esse momento nunca
vinha!Por mais que eu sonhasse noites a fio,nada parecia acontecer e
havia recebido apenas alguns nãos de editores que diziam que meus
contos e livros eram bons mas que não atendiam aquele quesito
especial que os bons livros tem que atender,que não se enquadravam
na linha editorial da empresa,ora que empresa,eu queria era ser
escritor!
Andrea
me lembrava muito uma boneca que era personagem principal de um velho
filme de terror chamado Annabelle.Annabelle era uma boneca que tomava
vida e assombrava a todos mas Andrea não era uma boneca era uma
mulher e jamais assombrara ninguém,professora de português
aplicado,ela agora procurava emprego e estava na batalha
conosco,frequentando a faculdade todo dia para se tornar uma
professora como fora nosso pai e torciamos para que isso
acontecesse.Andrea nada tinha de assombroso alem de ser uma grande
mulher para mim.Nunca me meti muito com ela e as vezes em que me meti
foram desastrosas,brigamos,xingamos,mas foi só isso,nada
demais,havia apenas sido um acidente.Eu jamais quis o mal para minha
irmã e sabia que eu devia me manter fora de sua vida se quisesse a
ver bem.Andrea tinha sua casa para cuidar E filhos.Isso bastava.
George
chamava seu cachorro Banzé de Rudolf e eu achava isso engraçado.
George
então nem se falava,meu irmão do meio,ele personificava a figura de
homem que sempre me acostumei a ter em mente e sempre procurei
segui-lo,sempre o ajudando e dando conselhos no que fazia,mas deixava
George em paz também.Faz o que quizeres,como disse Alester Crowley,e
assim eu agia com George,que agora parecia contente e as vezes tomado
de uma grande força de vontade,chegando a proferir grandes coisas
sempre que Mama fazia um bolinho especial ou um café para nós
tomarmos,como me convidar a fazer as compras do mês no Armazem da
família,quando fosse possível.
-James,se
eu te der um dinheiro,você é capaz de trazer a comida do mês no
mercado?
-Claro
– respondia,e ele ficava exaltado e orgulhoso,como sempre ficava
quando eu alcançava algum grande êxito em minha vida.Me lembro que
George era uma grande pessoa e para sempre vai ficar em minha memória
como um grande homem a quem todos tinham um grande orgulho e
respeito.E eu sabia que ele tinha de mim tambem.Eu adorava George.
Enquanto
via tudo isso acontecer tinha sonhos secretos de ter minha própria
casa,com portão parecido com aqueles que tem nos cemitérios,e o
terreno ia ser como um campo de cemitério também,como escritor de
novelas de ficção que era,obviamente que teria algo a ver com
cemitérios minha derradeira casa própria,que compraria com o
dinheiro de meus livros e os filmes que fariam baseados nos meus
livros.Sonhos que tinha medo de jamais realizar mas mesmo assim só
imaginar e ficar sonhando com isso tudo já era algo que alimentava
minha mente por um bom tempo,talvez para sempre,como era meu
sonho.Minha própria historia,aliás seria minha própria novela de
ficção.
Assim,enquanto
mais uma tarde ia caindo nas areias da ampulheta do tempo,eu seguia
escrevendo,batucando em meu computador velho nesse rack de madeira
que continha o mesmo,uma televisão um decodificador de televisão a
cabo e um exemplar de um tomo bastante conhecido do escritor
norte-americano de novelas de terror,Stephen King,meu ídolo.
Um
vento frio ululava entrando pela janela enquanto eu observava uma
foto minha de quando era um bebê.Escrevera um conto sobre esta
época,e ela se encontrava bastante presente em minhas memórias mais
queridas.Bem diferente dos dias em que passei parado relapso e
perdido,claro.Aqueles dias espero nunca mais passar em momento algum
de minha vida novamente.
Eram
dias estranhos,de não fazer nada em que eu não me recordo muito
talvez algo que faça parte de meus pesadelos mais medonhos,algo que
posso vir a estudar no futuro,quando for um escritor consagrado e me
sobrar tempo para isso.Ando tão ocupado com essa vida!
Tenho
saudades de Sandro Jarbas meu irmão mais velho.Ainda me lembro de
quando ele deixou a família para ir se casar.Esse foi fazer a
vida,foi trabalhar,não o culpo por isso.Só fico pensando na raiva
que ele possa estar sentindo agora por não ter realizado o seu sonho
de se tornar rico.Ainda me lembro quando nos juntavamos e ele ficava
falando sobre pessoas que fizeram fortuna escrevendo,e de como ele me
incentivou a começar a escrever e tentar publicar o que escrevia.Em
como ele se deliciava e a nós contando estórias de terror que ouvia
por aí,em livros em filmes ou na própria vida real,em como ele me
ensinou que Stephen King era um vencedor,e de como havia ganho
dinheiro com seus livros,livros que são vendidos até hoje e que são
tidos como clássicos da literatura.
Escrever
grandes novelas,ser rico,foi tudo o que ele me ensinou enquanto saia
comigo para ir para o centro ou comprar alguma coisa no
supermercado,enquanto eu me perdia,ou então quando costumavamos
frequentar a biblioteca publica do paraná,onde ele me mostrava os
sucessos do cinema pela revista Set,que ele adorava ler comigo na
mesma biblioteca.Hoje eu sei o que é sonhar com a fama,e tudo graças
a Sandro
que
me ensinou não só a escrever com minha mãe e minha família como
também a sonhar em não só escrever,mas escrever grandes novelas e
ser um vencedor.É a Sandro que devo tudo a minha carreira de
escritor se é que os ventos da sorte e da fortuna querem ou permitam
que eu venha a me tornar um,um escritor bem-sucedido,um escritor
consagrado.Agora cresci e trabalho o dia inteiro para isso para
crescer em minha carreira como escritor e poder escrever minhas
novelas de sucesso em paz como se nada pudesse ficar em meu
caminho,um caminho que me levaria as nuvens.
Em
meio ao sonho do dia,uma musiquinha ecoa pelos meus ouvidos,muito
parecida com a musiquinha do caminhão do gás,mas não é.Tenho
ouvido essa musiquinha muitas vezes até aqui,o que será?Alguma
premonição ou sinal de algo que está para acontecer?Só Deus sabe.
Como
mágica ela chega e ecoa pela casa,mexendo com meus ouvidos que a
ouvem como quem ouve a musiquinha de algum estranho e macabro filme
de terror.
O
cachorro late lá fora,cão danado.Agora pela janela adentra a
escuridão,de trevas que começam a chegar.É mais uma noite
chegando.
É
tempo de ir conversar com minha família.Ver como estão.
A
noite chegou lá em casa.É tempo de jantar o bom feijão com arroz
com farofa da Mama,de ir dar uma espiada no que George está fazendo
em seu computador no outro quarto.De escutar uma boa música antiga
no rádio,de se esquentar sob os cobertores até pegar no sono na
sala como sempre faço quando estou a fim de sonhar um grande sonho
de escritor mundialmente famoso.Ah,essa vida regada a um bom suco de
fruta é tão boa quanto qualquer filme de Hollywood,mesmo que ainda
sejamos pobres.Sinto muito por isso Georgie,sinto muito por um livro
meu não ter feito sucesso ainda,ou por ainda não ter feito muito
dinheiro como era nosso plano no passado.
Mas
agora isso já nem importa mais,para mim é apenas mais uma noite com
Mama e os Malheiros no velho rancho em Curitiba,como sempre não é
mesmo Mama?Como está se sentindo agora que seus filhos cresceram
todos?Você falou que essa vida pode ser maravilhosa Mama,agora não
me venha com besteiras e com essa estória de que está ficando
doente de novo Mama,porque esta eu não engulo.Foi tudo sempre tão
bom,porque haveria de ficar ruim agora?Logo agora Mama,agora que vem
a melhor parte?Agora que vou realizar meus sonhos de ser um escritor
mundialmente famoso?Não me faça uma desfeita dessas comigo
Mama,pois não vou aceitar com apreço.
Vamos,agora
a casa começa a ficar toda cheia de cobertores e o cheiro de comida
flutua no ar.
No
televisor passa um filme de terror antigo como antigamente.Agora tudo
são trevas na terra.
Pelo
menos nessa região em que pega a cidade de Curitiba e se dirige para
a cidadezinha de Blumenau onde á muito tempo atrás nós moramos.Se
lembra Georgie?Das enchentes e de Ponta Grossa?Do tempo dos militares
e da censura na televisão?Do tempo em que papai era vivo e lia Tom
Sawyer para nós,e vestia seu terno antes de se preparar para ir
trabalhar com suas coisas de tradutor e professor de inglês no
colégio?Do tempo em que ele se matou atrás da casa,numa noite como
essa em 1983?Mas agora isso não faz mais sentido lembrar uma vez que
tudo acabou,não é mesmo?Agora que você começou a trabalhar na
fábrica e assim trabalhou durante vinte anos?Para se aposentar após
aquele dia de medo,não Georgie,quando sua vida acabou?Quando foi
levado as pressas para São Pedro de Alcântara pois havia passado
seriamente mal após vir do serviço?Depois de trabalhar tanto que
passou mal e foi levado pela ambulância para aquele hospítal bem
longe daqui?Agora tudo aquilo são recordações e você luta por sua
vida não é mesmo Georgie?
E
você Sandro,como se sente agora que sua mão treme toda vez que vem
do serviço em sua casa?Agora que encontra sua mulher e filhos em
casa toda vez que vem do serviço?Tudo de bom para vocês,caras,pois
saibam que eu os amo.Assim como amo Andrea,aquela mulher que um dia
foi minha irmã depois de ela ter acabado sua vida de mulher casada e
se separado para ir morar em sua casa,bem do lado de nosso
rancho?Saibam que eu amo todos vocês,desde que não passava de um
moleque,brincando por aquela casa grande em Blumenau,aquele casarão
que já não existe mais,mas que eu aprendi a amar desde que pegamos
nossas trouxas e partimos para a cidade grande para fazer
história,para encarar essa vida de frente e dar tudo de si para
lutar contra a miséria.Se lembram quando passei mal?Quando bati no
Sandro e briguei com o George?Quando enfrentei a Andrea bobamente,nem
querer apenas para pedir desculpas logo em seguida?Pois é eu sofri
sérias injúrias e cometi erros lamentáveis mas aqui estou para
pedir desculpas e seguir em frente,dizer que os amo e que sinto falta
de vocês.Agora que Georgie luta por sua vida,agora que Sandro luta
para sobreviver,agora que Andrea luta para se manter viva,e
Mama,você,minha querida Mama,saiba que não estou nem aí se você
me estranhar como já estranhou eu vou continuar a amar você do
mesmo jeito de sempre,sua boba,como sempre a amei.Pois vocês são da
minha ninhada,da mesma ninhada,e nada no mundo vai poder mudar
isso,nem toda razão nem todo sentido,nada.Saibam que estou aqui e
podem contar comigo.Mas não há
mais
nada á ser dito,agora que estou aqui e pronto para me tornar um
escritor de fama,um escritor de renome mundial.
Me
lembro de cada dia,e das milhares de coisas que planejamos,coisas que
vinham aos montes e que planejavamos apenas por planejar,e isso é
bom,me lembro de quando nos divertiamos planejando sobre riquezas e
novelas de ficção,de velhas canções que ainda estão tocando no
rádio,na rádio Ouro Verde FM,aqui de Curitiba mesmo.Agora apenas
uma estação de rádio estúpida para mim.Eram coisas que podiam
parecer bobas mas tem um grande valor para mim.Agora que nada mais
importa,agora que estou lutando por minha carreira mas nada nem mais
importa,apenas luto sem sentir nada,exceto quando Mama sonha.Dai eu
sinto,dai eu sou capaz de passar horas sonhando com ela e com
vocês,Georgie,Sandro,Andrea,toda vez que falo com um de vocês.É
algo mágico que apenas a Vida pode dizer.
São
coisas que gosto de compartilhar com vocês aqui nesse rancho como se
fosse a ultima coisa que eu fosse fazer na história de minha vida e
cada momento é mágico.
É
tempo de se reunir e sonhar agora.
Uma
lufada de vento agita tudo.A casa toda,todos olham ao redor alertas.
Mas
não é nada.Só o vento lá fora,pregando peças em quem o dá
ouvidos.
Imagine
que em cada casa do mundo existe uma criatura no forro,controlando as
mentes daqueles que moram na casa.Pois bem,aconteceu comigo.Eu me
encontrava certo dia descansando em meu quarto quando aconteceu.Quem
disse que estava conseguindo descansar?Estava sozinho no quarto
sofrendo uma tensão incrivelmente forte e aquilo me fez sair e
explodir com minha família.Pois bem aconteceu de novo.Nova situação
burlesca,onde um homem já não pode responder por si e é tomado de
assalto pelas próprias emoções,o que jamais deve acontecer.Graças
a Deus que foi só uma bronca pois o que senti naquele forro foi algo
extremamente desagradável,e pode ser ainda pior se o que nos é
levado é alucinações.De vez em quando a coisa vinha e se alojava
bem em cima de onde eu estava,parecia que ela me perseguia,parecia
que ela sabia onde eu dormia.Então foram algumas fagulhas de
desespero e algum vômito na latrina,nada mais do que isso.Mas de que
adianta vomitar quando o que nos afeta está em nossa mente?Pois
bem,afirmo aqui que em cada casa do mundo existe uma criatura no
forro controlando as mentes dos que na casa moram,como nunca
controlaram antes e que elas costumam escolher suas vítimas.Cursos
de inglês mal-feitos podem ser os causadores destas crises,e estas
criaturas existem mesmo,mas eu para dizer a verdade nem mesmo me
dignei jamais a observar uma criatura dessas em seu habitat natural
pois jamais cheguei a acreditar que estas coisas realmente existiam
em nossas casas por isso sempre que a crise passava eu ia sossegando
e esquecia a estória para sempre.Mas sempre volta,quem sabe um dia
desses ela volte para controlar minha mente,mas então sabe de uma
coisa?Eu já estou preparado para esse tipo de coisa e já nem ligo
mais para coisas desse tipo.Procuro tomar um remédio e esperar
passar a crise de mal-estar em meu quarto mesmo,ou então,conversando
com minha família.E quem disse que consigo pronunciar uma palavra
direito durante esses acontecimentos?Travo a língua e fico pior que
alguém tentando falar chinês simplificado para um cachorro. Não
consigo falar nada mesmo.
Essa
estória de criatura eu criei á alguns anos baseado num filme de
terror que eu assisti mas acabou acontecendo mesmo.A lenda realmente
existia.Que Deus me ajude a esquecer tal coisa que é realmente digno
de um filme de terror.Mama se aconchegou em sua cadeira,como que se
conformando com alguma coisa.O calor do forno agora esquentava-nos
aos três e já não sentíamos vontade de ir dormir.O frio lá fora
era de congelar mas não davamos atenção á isso,só ao que
falávamos.
Stephen
King é o último escritor vivo com imaginação.É claro que ele
possui um bom dinheiro,mas não é de seu dinheiro que falo aqui,mas
de sua obra.Tem gosto.Não são como aquelas novelas redundantes onde
o leitor passa uma hora inteira lendo a mesma coisa,várias vezes.Ele
não,ele tem enredo,tem imaginação.E bastante fértil para meu
gosto.Escreve sobre carros vivos,garotas telepatas,palhaços
assassinos e cães demoníacos,o cara possui cabeça para escrever.E
imaginação.Como eu já disse bastante imaginação.Mas não é
sobre sua imaginação que vou falar aqui,mas sim,sobre o terror em
si e minha vida como escritor e antes disso.Sei que parece um pouco
dramático mas é tudo o que quero passar em minha obra,a vida e o
terror que há nela.
É
tarde e por alguma razão sentimos que é melhor ir dormir.
É
a criatura no forro.Por isso me deixe ir para o quarto,deitar na
cama,estou me sentindo um pouco mal e não quero acordar a vizinhança
com minhas estórias.Já houve estórias demais no passado e uma a
mais não vai ser agradavel esta noite.Por isso vamos dormir e
acabou,crianças.Por hoje chega.São essas malditas criaturas no
forro,são elas que vivem á causar esse tipo de coisa no mundo.
Mama
se conforma e se levanta,indo dormir em seu quarto.
George
se senta em sua poltrona do papai e assiste áo noticiário.
Eu
me vou,para a sala,pois estou me sentindo mal e quero dormir.
É
a maldita criatura no forro de novo.
Mas
não estou me sentindo tão mal e consigo dormir logo.
É
mais uma noite no rancho dos Malheiros.
Na
manhã seguinte…
Acordo
meio ressabiado,mas vou em frente.Me levanto arrumo minhas coisas e
vou tomar café um café ralo de pão feito ás pressas ainda ontem
como quando estamos experimentando algo ainda,e uma xícara de
café.Engulo tudo ás pressas e logo me arrumo para ir até o farol
mexer no computador.Mais uma consulta com o doutor Google vai me
fazer bem.Me despeço de George e Mama e me vou,Chegando lá,sento e
ligo o computador,acessando então o doutor Google.Stephen
King,lendas curitibanas de terror,nada de muito interessante.Vou
vendo tudo por cima sem dar muita importância ao que leio,apenas
para passar o tempo.Dá o tempo máximo de acessar o computador e eu
me vou de volta para casa.As ruas parecem sem graça então.Uma moto
quase avança em cima de mim,e finalmente chego em casa.Como me sinto
mal.Encontro George e Andrea conversando animadamente sobre uma
ferramenta dos tabletes de ambos,em que você pode se ver pela tela
do mesmo enquanto conversa como que por telefone.Mistérios da
informática moderna,fico a observar tudo até que mamãe resolve ir
fazer o almoço.Tomo um banho e ponho uma blusa a mais no meu
vestuário,me preparando para mais um dia de frio na cidade.Todos
parecem animados.Mamãe me manda ir comprar um pacote de arroz tipo
agulhinha que se encontra mais barato que o branco e me vou,rua afora
como um possesso.Chego no supermercado e entro,as pressas nem dando
atenção para ninguém,apenas vou até onde há o arroz e o
compro.Pago e me vou para casa.Em casa mamãe prepara a comida e
comemos.Andrea almoça conosco hoje.Entrementes vejo George solitário
tomar seus remédios na sala e fico com pena.Pobre coitado até me
deixou varrer o rancho no seu lugar agora a pouco.
Eu
vejo que George sofre com sua doença mas procuro deixá-lo em
paz.Ele já tem problemas demais quando acorda passando mal de manhã
cedo sentado em sua poltrona do papai.Pobre coitado,deve ter medo de
passar mal como passou quando estavamos na praia e ele estava
comendo.Então soltou a xícara de café e foi até o sofá com a mão
na cabeça gritando ,passando mal e eu corri para salvá-lo.Fico
pensando em como se sentiu até que o socorro veio,uma ambulância do
Samu que o socorreu e o medicou,dizendo para que ficasse em repouso e
que nada podiam fazer.Do fato deles nunca terem achado o diagnóstico
correto de sua doença apesar de chamá-la de sindrome de Stiff
Person,sindrome do homem rigido,mas sem certeza.Coitado,como sentia
pena daquele homem forte e inteligente que era nada mais do que meu
irmão,uma figura importante para mim e para a família.Mas não era
culpa de ninguém,nem mesmo de Deus nosso pai,pois as doenças são
problemas químicos e nada tem a ver com essa besteira de espírito
que eu já
estava
de saco cheio de acreditar,de ter que acreditar uma vez que rezar era
a única coisa que podiamos fazer para ajudá-lo.Ouvindo uma canção
muito bonita eu senti pena de George aquele homem com uma sindrome ou
seja o que fosse que o acometia.Esse era mais um que sofria as
mazelas da vida.
Mas
não havia tempo pára ficar se lamentando,agora precisavamos agir e
ele sabia disso,só Deus sabe o quanto eu quero ver as coisas dando
certo,George,tudo melhorar e quem sabe até você se curar pelo menos
até o fim de sua vida que esperava ainda demorasse para acontecer.
Não
adiantava nada ficar chorando pelos cantos o que importava agora era
tocar para frente.Ou estaria tudo acabado.Desculpe George se algum
dia fiz algo que o chateasse,não era minha intenção.
Mas
agora estava tudo feito e ele sabia que eu só queria ajudar.Aliás
sabia até bem demais,se até chegava a ironizar minha piedade quando
eu chorava quando eu perguntava sobre sua doença ele apenas
dizia,todo mundo morre um dia,não vamos pensar nisso,apenas deixe
fluir,deixe as coisas acontecerem.E assim será.E era assim que era
para ser.
Agora
era o começo de mais uma tarde no rancho dos Malheiros.
E
precisavamos de mais material para viver,seria preciso viver mais um
pouco,aliás,ainda tinhamos o que viver e era apenas o começo ainda
eu pensava,o começo de algo que vai durar para o resto de nossas
vidas.Ser escritor,não se lembra James?Ser um escritor mundialmente
famoso,ou pelo menos ser publicado aqui no Brasil,só isso já seria
o suficiente para mim,essa pessoa tão humilde mas tão sonhadora ao
mesmo tempo.Já nem pensava em mais nada,queria apenas alcançar meu
sonho,que era o de publicar um livro.Faltava pouco para chegar ao
resultado inicial,o começo,publicar o GRAMPO DO MAL,daqui a alguns
dias viria a resposta da carta que mandara para a editora,alias as
duas cartas que mandara para as duas editoras e agora trabalhava o
maximo possível para alcançar meus objetivos mas não queria nem
saber,raspar
um
pouco desse pote era tudo o que eu queria fazer e sentir o terror e
sentir outra noite chegando e começar tudo outra vez,era assim que
eu estava vivendo.E é assim que estou vivendo.Agora preciso ir
descansar.
E
eis que mais uma noite chega no rancho dos Malheiros.
Jantamos
bem,após passarmos a tarde inteira cogitando sobre coisas que andam
acontecendo no rancho,durmo o restante da tarde inteira,para depois
comer bem,e ir dormir.
E
é uma noite difusa.Que quase não vejo.
Na
manhã seguinte…
Apenas
acordo na manhã seguinte escutando a conversa animada de George com
Mama,que toma o
café-da-manhã,me
arrumo e saio para ir consultar o doutor Google,no farol.
Volto
para casa após ver algumas coisas com o doutor Google.O site de
ficção de Joe Hill,blogues sobre Stephen King,que tem aos montes,e
vejo que nosso amigo faz setenta e um anos esse ano ,parabens pelo
seu aniversário sr. King.Isso significa que ele nasceu em 1947.
Em
casa começo a pensar,mas o que realmente aconteceu aqui cem cento e
poucos anos atrás?Aqui mesmo nesta casa,se é que ela já existia
nesse tempo,ou pelo menos aqui nesta rua nesse terreno que já
existia naquele tempo.Quando os primeiros moradores se juntavam para
fazer farra enquanto não estavam começando a construir as casas
dessa rua ou então no matagal que isso aqui era,os animais que aqui
pastavam,que aqui viviam,os cachorros que aqui se alimentavam e
dormiam a noite,na noite fria de Curitiba nesse Sul cada vez mais
misterioso,mas que já perdeu muito de seu encanto,devido ao povo que
perdeu sua memória ou que agora são muito jovens para querer se
lembrar do passado ou pensar em alguma coisa que preste.Os moradores
que andam nas ruas,de quando são,de onde vem,será que já moravam
por estas ruas antes de ela ser desse jeito como é hoje?As estórias
dos primeiros colonos que vieram para cá e enfrentaram os primeiros
fantasmas,isso somente nossos cidadãos mais velhos podem nos contar.
Agora
Mama prepara um bom arroz agulhinha com carne moída,como era para
ser.Como estava escrito no grande livro dos Malheiros se é que ele
já existiu com suas datas de nascimentos e mortes,aniversários e
partidas,vindas e voltas tudo o que aconteceu com a família no
passado um passado longinquo que agora vai longe em nossas
memórias,fortalecidas pelo trabalho do dia-a-dia.
Pela
luta diária de permanecer vivos num Sul cada vez mais
misterioso,numa Curitiba que graças a Deus não perde suas lendas e
sua memória,seus trejeitos e sua solidão,e é quando os moradores
seja os de uma mesma família ou não se juntam para conversar é que
o espírito da família e o da cidade se aglomeram juntos fazendo
aflorar um sentimento de mistério que vai longe que faz-nos pensar
em lendas e estórias que fazem parte do folclore familiar e o da
cidade como que perdidos nos jornais e no rádio que antigamente era
o único meio de diversão desses moradores e dessas famílias que o
ouviam parados numa varanda ou reunidos numa cozinha enquanto o pão
assava e ficava pronto para ser comido pelos membros da família que
saudosos contavam suas estórias do que viram e do que foi visto aqui
a muito tempo atrás,como que distribuindo seu calor humano e bebendo
um bom café extra forte feito ainda ao modo antigo,no bule,como
antigamente.
Agora
estamos á muito tempo atrás,na nossa casa de Blumenau.Ainda sou uma
criança e me vejo ainda no começo de minha vida,e então,um pouco
depois com seis anos,correndo pelo casarão,e então com dez indo
para Curitiba,no velho ônibus de viagem com minha família.E então
com dezesseis estudando no fluxo na rua da cidadania do Fazendinha em
Curitiba,e então com vinte e poucos trabalhando na distribuidora,e
então com vinte e oito escrevendo GRAMPO DO MAL,e então agora com
trinta e seis tentando viver essa vida com minha família,algo que me
parece fácil como roubar o doce de uma criança para mim,é claro,já
sou um homem e pronto para muita coisa,inclusive ser um escritor
famoso.Vejo toda minha vida passando pela minha frente e percebo,o
quanto perdi,o quanto passei parado perdido e relapso,frequentando
bibliotecas e não fazendo nada,isso fez mal para mim,eu me perdi á
partir de um ponto e não consegui alcançar meus objetivos como
desejava.Mas isso passa,logo estou pronto para outra,e tecendo minha
teia de mistérios assim como uma aranha tece sua teia no vão de uma
casa velha.Eu não queria desistir,eu não queria ver tudo acabar
assim,como se não tivesse sido nada,mas parece que é assim
mesmo,nossos sonhos tem fim assim como começam e tudo é perigoso de
se manter pois pode assim como começou,acabar de uma hora para
outra.Eu entendo isso agora e espero poder pelo menos realizar meu
sonho que é o de publicar um livro sem precisar depositar dinheiro
no banco como queriam aqueles sem-vergonhas.Quero poder publicar o
livro e ve-lo nas bancas mesmo depois de minha morte mas isso parece
difícil creio que vou ter que aproveitar minha chance
ou
não vou conseguir nada.Vai ser melhor ser rápido e fazer tudo de
uma vez só,pois as coisas acabam assim como começaram nessa vida.
Assim
que almoço,descanso um pouco e logo em seguida saio para ir dar uma
volta lá pelo posto.
O
passeio é emocionante,me recordo de uma vez,á muito tempo atrás
quando fui no posto não aqui,mas no Boqueirão,de manhã cedo com
meu irmão George,e fomos falando besteira o trajeto inteiro.Não me
recordo que rua pegavamos para ir no posto naquela época,quando
moravamos lá na rua Padre Dehon,É como se a rua não existisse em
minha memória,só me recordo que chegavamos no posto e entravamos
para sermos atendidos de madrugada quando meu dente estava doendo.
Aquele
é um tempo morto em minha memória onde tudo é perfeito e
vago,difuso e atemorizante.
Tudo
parecia acontecer na hora certa,no momento exato e nada ficava
perdido ou se deixava algo para depois.Bem diferente de hoje em dia
quando o tempo parece se arrastar numa expectativa ardente de que
algo vai acontecer e que algo vai acabar se dando de uma forma ou de
outra.
Chego
em casa,descanso mais um pouco e saio de novo,desta vez para ir pegar
um livro no farol,para logo em seguida voltar e retomar minhas
atividades.
Na
beira de uma valeta que cortava a região parecia haver morcegos numa
área que se espraiava pela mesma e por toda as cercanias da rua
Padre Dehon,onde havia um trevo e um bar,assim como uma rua que dava
para a praça Menonitas.Eu morava no lado de cá,numa casa de madeira
onde aconteceu muita coisa inclusive o ano em que comecei minha
fracassada carreira escolar depois do primário,que tive que remendar
com o fluxo na rua da cidadania do Fazendinha anos depois.Nada de bom
ficou dessa época exceto muita diversão e festa que fizemos quando
nos mudamos para a casa de fundos do seu Nito,que ficava na rua
Oliveira Viana,tempo que jamais vou esquecer.
Voltamos
a morar lá anos depois,mas foi lá que passei mal como nunca com
minhas crises de alucinações e outras coisas que me aconteciam no
ano de 2017,um péssimo ano para mim e para minha família.Mas
esqueçamos esse tempo e lembremos os bons tempos,que não voltam
nunca.
Agora
os cães ladram na vizinhança.O que vai acontecer daqui por
diante?Só Deus sabe,talvez bons momentos,talvez algo assim.Não
sei,só sei que somos capazes de muito mais,é só querermos,os
velhos Malheiros são capazes de muita coisa é só algo bem lá no
fundo entrar em ação que a coisa engrena,isso você pode ter
certeza.
E
assim mais uma tarde se vai,apenas lembrando de tempos passados
quando nos divertíamos pela rua,andando por ruas onde o tempo se
foi.
E
mais uma noite vem.
É
uma noite voraz,de frio cortante,onde cada estrela no céu parece
denunciar um dia a mais na vida dos seres humanos aqui embaixo
enquanto nosso pai nos guarda lá de cima.Mas onde fica lá em
cima?Fácil,fica em lugar nenhum onde nossos corações não podem
atingir onde tudo tem fim num espaço sideral tão distante que
emudeceria a alma mais sagaz e falastrona,calando para sempre a boca
daqueles que falam que o céu é o limite,e que já não nos
conversamos ou nos conhecemos como costumavamos fazer
antigamente,quando isso aqui ainda era jovem e quando não nos
matavamos por dinheiro sem enxergar nada diante de nossos rostos
senão a ganância por valores materiais que cega aos olhares mais
irrequietos e cala a voz mais ativa,como que voltando num tempo onde
tudo podia acontecer sem que nos dessemos conta,apenas por
acontecer,coisas boas que se davam e nós nem nos davamos conta de
perguntar quem é que fez aquilo,quem é que causou aquele bem enorme
que uma surpresa agradável não é capaz de nos causar.
Agora
já não quero ver essa gente,quero apenas dormir pois nela não
confio.Não conto a ninguém mas durmo sob efeito de remédios
agora.Agora já não sinto mais aquela alegria em viver e tudo que
penso é no momento seguinte para que esse passe logo,por nada!Pois
poderiamos gastar esse momento com coisas tão melhores que
agradariam aos melhores paladares e adocicaria as piores bocas,as
bocas da maledicencia,da covardia e do pouco caso que fazem hoje em
dia da vida humana.Agora durmo sob o efeito de remédios pois já não
consigo dormir por mim mesmo,como fazia antigamente.Agora tudo é
difícil.
Os
remédios a que me refiro são um branco e dois azuizinhos,de manhã
e de noite para amenizar a falta de vergonha e curar a ganância.
Aquele
sofá era minha mania,de segunda a sexta.Deitava nele,de tarde e
dormia até de noite,para então jantar uma lauta refeição,que
comia regada a suco e muita fome.Ele havia sido comprado á muito
tempo assim como vários sofás que já tivéramos.Primeiro foi um
creme,jogo de sofá que embelezava a sala do casarão de
Blumenau,depois foi um preto que tivemos por um bom tempo,depois nos
sentávamos na bicama e depois no fim da história aquele sofá
marrom,que era minha perdição.Tivera muitas crises de alucinações
nele e o resto do jogo,na verdade uma poltrona, jogamos fora por
estar incomodando.Um homem bêbado a levou e a
deixou
na frente de sua casa onde pegava chuva mas agora nem a queriamos
mais,queriamos só o que havia restado,o sofá.
Aquele
sofá era já de um bom tempo e eu o usava agora,agora que queria ser
escritor.
Agora
o usava de novo,para dormir de tarde.
Aquela
musiquinha ecoou novamente pelo rancho.Era aquela mesma musiquinha
que parecia ser do gás,mas que não era,era uma musiquinha que vinha
de algum lugar,mas que eu não sabia de onde.
A
musica ecoou por alguns segundos e se foi,deixando no ar apenas o
barulho da televisão ligada na sala,e um clima de mistério no
ar.Daonde vinha aquela música?Seria algo demoníaco,obra de algum
engraçadinho nas redondezas?Não sabia dizer,apenas a escutei e ela
se foi,misteriosamente.
Agora
tudo estava mais ou menos em seu lugar no quarto,tudo se encontrava
mais ou menos como a bagunça que deixei e que se transformou durante
vários dias no rack onde escrevia.O computador,a televisão,o
decodificador,e o livro do Stephen King que deixava guardado
exatamente lá para dar sorte.E me inspirar toda vez que algo me
dissesse que deveria ligar o computador e escrever alguma
coisa.Estava de barriga cheia e pronto para ir dormir,mas algo me
levava para a frente do computador só para martelar mais algumas
palavras antes de ir dormir.Me lembro que batucava cerca de um
capítulo inteiro por vez que me sentava para escrever,se é que um
capítulo valesse alguma coisa,agora já estava escrevendo uma
pequena novela e os bons ventos do infortúnio me diziam que devia
continuar.Logo teria uma novela de trezentas páginas prontas para
serem publicadas,por alguma editora que se dispuzesse a publicar
minha obra,que crescia a cada dia.
O
copo com as canetas pretas que usava para escrever manuscritos estava
lá,e junto uma escova de dentes azul que quase não usava pois usava
prótese e achava complicado demais ter que tirar a prótese para
escovar os dentes toda vez que tivesse que fazer isso.Por isso apenas
escrevia,apenas sentava e escrevia.Agora GRAMPO DO MAL havia ficado
para trás,e eu podia escrever o que eu quisesse,da maneira como
quisesse quando quisesse,sem que ninguém pudesse me interromper.Pois
bem,lá eu estava com a faca e o queijo na mão,mas eu pensava o que
escrever?Fácil,escrever uma pequena novela de terror seria algo
bom,com diversas partes inclusas que era na verdade o que eu estava
fazendo,agora parecia obcecado em escrever seja lá o que isso me
significasse nem que para isso eu tivesse que remontar ou reformatar
o computador diversas vezes.Mas o computador agora já parecia ter
criado vida e eu já nem sabia se estava lidando com algo real ou com
algo imaginário.Já nem sabia se o que estava pensando era real ou
imaginário,apenas escrevia sem parar como um possesso e aquilo não
queria simplesmente mais parar.Chegava ao ápice de deitar num lugar
já dizendo para mim mesmo que deitaria lá apenas por algum
tempo,pois depois iria para a frente do computador para
escrever,coisa com que parei por já estar começando a parecer
paranóia.As vezes consigo acabar com complexos ou manias,as vezes
consigo e sou capaz de acabar com paranóias.É só parar e
esquecer,e assim eu seguia,parando e esquecendo sem parar apenas para
esquecer o péssimo redator que era sempre cometendo erros e
escrevendo de maneira medíocre para um escritor que queria e
desejava ficar famoso.Como estava prestes a ficar.Já havia recebido
até mesmo outra carta de uma outra editora dizendo que o livro seria
publicado,e desta vez eles afirmavam que iriam bancar a edição do
mesmo,o que já era uma ótima coisa.Agora era só escrever.
Ariel
Palácios matraqueava algo em seu sotaque espanhol na televisão
tendo ao fundo uma grande biblioteca particular coisa que eu gostava
de ver.Gostava de ver o jornal pois assistir o jornal e ver o Ariel
Palácios me fazia bem.Eu sabia que o sonho ao qual Sandro havia me
dito existia e Palácios fazia parte desse sonho,o sonho de ser
grande em alguma coisa e Palácios era grande no que fazia.Era um
grande e eximio apresentador de televisão e parecia aqueles
apresentadores de televisão do tempo de meu pai,quando tudo era
clássico e atemorizante,caricatural até.Mas era algo que agradava e
não como hoje em dia que tudo perdeu a graça,menos Palácios que
manda sua mensagem muito bem no que faz,falando ao mundo como num
filme de Stephen King,aqueles bem caricaturais onde tudo é como numa
determinada época e comediantes falam em antigos televisores algo
que vi certa vez em algum lugar e que aqui pode soar loucura mas era
o que era.Era assim que a América e o Brasil também via o mundo
pela tela da televisão.Como num comentário em sotaque espanhol do
Ariel Palácios.Paulo Francis havia sido assim em seu Manhattan
Connection,onde papagueava coisas em seu sotaque caricatural que
somente ele sabia fazer.Eu cheguei a acompanhar Francis em sua coluna
dominical na Gazeta do Povo,onde costumava recortar os obituários de
jornal,Francis acabou redigindo sua última coluna dominical lá,na
Gazeta,onde escreveu suas últimas palavras que foram publicadas num
domingo,um dos últimos em que compramos jornal na história da
família que o comprava todo domingo para passar o dia comendo
pastelão tomando refrigerante e lendo o jornal na sala da casa do
seu Nito,fria e cortante mania que tinhamos antes de abolir para
sempre os maços de folha de papel jornal e passarmos a não fazer
mais nada curiosamente nos domingos,senão assistir televisão,uma
televisão por assinatura que se tornou chata e reprisante,diferente
e sem graça.Ler o jornal era melhor.Com certeza.Acho
que
se botassem o Ariel Palacios num programa dominical teriamos de volta
aquele prazer em ver alguma coisa no domingo,pois Palácios poderia
ter uma coluna até mesmo no jornal aos domingos,se é que já não
tem!Ariel Palácios é sem dúvida nenhuma em pontos de audiência e
em ganhos de popularidade o novo Paulo Francis e merecia ter seu
próprio programa na televisão e coluna dominical no jornal assim
como Francis teve no Manhatan Connection e na Gazeta do
Povo,respectivamente.
Ouço
o caminhão do lixeiro passando na rua.São os lixeiros de novo
levando o senhor lixo embora.Um deles assobia para o motorista do
caminhão que toca embora.Vai senhor lixo,e não volta nunca mais!
Acho
que o tempo perdeu seu rumo no mundo atualmente.É como se tudo não
tivesse mais seu tempo e nada tivesse mais sua época.Agora é tudo
misturado e não temos mais identidade.É como se tudo tivesse
perdido a graça já faz tempo e tivessemos entrado num vácuo de
informação e tecnologia que transcende as barreiras do
enjoativo.Parece que depois do ano 2000 não houve mais nada e tudo
tivesse se perdido.Agora pessoas sonham com o passado com saudade das
velhas coisas,com saudade da velha vida.É assim que Mama fala quando
se refere aos dias de hoje.É assim que ela sempre diz,que tudo
acabou que não se tem mais graça em nada.Pois bem,veremos.
Os
dias tem se passado e eu permaneço aqui escrevendo.Acho que poderia
escrever por décadas.
Agora
com a greve dos caminhoneiros o país já começa a sentir uma leve
diferença na vida de seus habitantes.Começa a faltar combustível
nos postos de gasolina e comida nos supermercados.Com os caminhões
que transportam esses produtos parados,não há abastecimento nas
cidades.Se os caminhoneiros não pararem com a greve o presidente vai
mandar os militares para tomar conta das ruas.Os caminhoneiros dizem
que não tem medo e podemos entrar em confronto a qualquer momento.
Uma crise iminente se deflagra pelo país como uma surpresa uma vez
que não se esperava uma coisa dessas.Esperamos aqui do rancho,uma
resposta como se esperassemos pelo fim de uma guerra uma guerra que
não pode nem começar ou estará tudo acabado.Mas aguardamos uma
decisão dos camninhoneiros e tudo estará resolvido.
Por
aqui Mama resolve tudo como pode.Cozinhando as pressas por não haver
comida a ser comprada mas a coisa não é tão grave assim,os
caminhoneiros não podem estar tão enlouquecidos a ponto de pararem
não só de trabalhar como de enfrentar o governo e os militares,a
polícia,todo mundo.Realmente a comida começou a faltar aqui em
casa,no rancho,temos o dinheiro que vem só daqui á um tempo.Vamos
ver como se resolve essa questão ou o país estará parado por um
bom tempo e não teremos mais nada para comer por um bom tempo.O que
vai ser de nós?A intervenção é necessária uma vez que dependemos
do abastecimento de alimentos dos caminhoneiros e não só disso como
do resto.Vamos ver o que vai acontecer,mas acredito que tudo vai dar
certo e tudo vai voltar ao normal logo.Publicado decreto de situação
de emergência em São Paulo.Até amanhã as forças federais,os
militares estarão nas ruas para acabar com a greve e retomar o
abastecimento de comida e o resto.Cargas de combustível são
escoltadas,a situação é crítica.
Só
me recordo desses escritos por tê-los escrito num espaço de tempo
muito grande e que me causou grande sensação.Agora estou
melhor,tecendo esses escritos,e principalmente,estou de
volta,negociando agora a publicação de GRAMPO DO MAL,com duas
editoras,a editora Viseu e a Chiado Books,com as quais conversei mas
não cheguei a nenhum acordo,no conto digo que vou ser um grande
escritor mas minha vida está apenas passando e minha carreira
depende do GRAMPO DO MAL,se é que chegarei a terminar um outro livro
estarei fazendo nos próximos dias e nas próximas semanas já terei
mais material pronto.Mas agora já me decidi pelas pequenas redações
e agora já cheguei á um estilo que me interessa,uma espécie de
fraseado,uma série de textos que serão curtos como contos mas
apenas contados.Nada mais de querer fazer composições muito
extensas,pois não quero nada de extenso e tudo longo demais me causa
dejavu.
A
chuva da tarde vem caindo enquanto me degladio com estes floreios de
minha mente tudo o que tenho para escrever e para me tornar ou vir
um dia a ser o mestre da escrita,algo que poderei chamar de escritor
famoso,ou algo do gênero.Aliás se quiser me tornar um escritor
famoso terei que fazer mais do que isso terei que apostar tudo em
minha carreira e por tudo em cheque,apostando numa literatura curta e
capaz de manter a mente do leitor ocupada enquanto ele a lê,como um
livro de poemas que nunca acaba e que é lido em dias frios como esse
no escuro da sala,com os parentes,frases curtas contos curtos tecidos
a partir de um intelecto correto e capaz,e isso é difícil,a maioria
é tudo maluquice,mas mesmo essa novela maluca ao estilo de Hilda
Hilst vale alguma coisa para os críticos que a tem como uma grande
escritora tendo sido traduzida até para o alemão.E leia um livro
dela,meu Deus,romance barato e louco,cheio de pornografia e trechos
alucinógenos.Mas não me baseei em Hilst para escrever meus contos e
frases,mas sim em Stephen King e William Steward Burroughs,que
escrevem muito melhor que ela.Junto ponham Francis Scott Fitzgerald,e
muito Jorge Amado com seus contos de fada brasileiros,estórias que
poderiam ser comparadas a um Jack London,se me permitem a
colocação,uma vez que London tem aquela fama que flutua entre o
explorador de
cabanas
atemporal,que escrevia como possesso e publicava seus contos em
revistas da época,que são numerosos,e o que aqui gosto de chamar de
escritor famoso,coisa que quero me tornar.E assim sigo tecendo esses
pequenos contos estas pequenas frases esses pequenos floreios que um
dia serão lidos por pessoas que os gostarão de ler numa tarde fria
como esta,enquanto se esquentam em suas casas em invernos de deixar
qualquer aventureiro e bom caçador de vampiros de cabelo em
pé…Entrementes sim,sigo tentando me tornar um escritor famoso aqui
nesse território rural situado no Sul frio e sem futuro,apenas um
passado que nos bate a porta todo dia em que temos de fazer a comida
e viver,como viviam os antigos moradores dessa cidade e desta
terra,onde contavam-se estórias de terror,ria-se e se curtia uma boa
tarde no rancho,tecendo-se uma vida que simplesmente não volta mais.
“Jaguejemaguejemaguejaguejemaguejaguejemaguejague
...faz o teclado do computador enquanto vou martelando-o.É assim que
passo as tardes,escrevendo.Quizera eu escrever algo bom,mas aquele
cometa que caiu no campo á alguns dias simplesmente não me deixa
escrever bem.Talvez tenha sido ele que me fez ir até a casa
dezessete.A velha casa dezessete na outra rua.Jamais quero ir lá de
novo.Dizem que aquela casa é a culpada pela minha dor de cabeça.E
aquelas crises que me dão de vez em quando.Oxente,quizera eu saber o
que faço aqui plantado,escrevendo.
Escritor
que sou não posso parar.Agora teço uma colcha de retalhos em minha
volta,com os contos que vou contando.Conto contos jamais contados.Mas
quem me contará conto tão cantado,como os que canto pelo
jardim,onde caminho em uma outra casa,uma casa em minha
imaginação.Talvez a casa que tenho como a casa que sempre quis
ter.É uma casa linda de portão de ferro,onde tudo é como eu quero.
Caminho
dentro de cabanas em minha mente.E dentro destas tardes turvas,tiro
inspiração para meus floreios.
Com
minha mala,vou seguindo,caminhando pela triste alameda da vida,onde
não há volta,onde não há partida.É nela que sigo sempre a
lembrar,das tardes de riso,contente á florear.
A
criatura jaz morta no forro da casa e é depositada fora da casa
quando da sua demolição.
Agora
já não mais a assombra a casa dos Malheiros,sua morada o casarão.
Os
empaladores seguem rumo á Blumenau.Passam por valas e campos antes
de chegarem ao seu destino final.Seguem rumo a cidadezinha onde vão
atacar.Os moradores nem desconfiam,o que está para os acontecer.São
os mestres do Mal,prontos para ceifar,a vida daqueles que na sua
frente entrar.
Agora
os moradores entram para suas casas,os que restam morrerão os que
ficarem fora de suas moradas.Morrerão empalados,pelos espíritos das
trevas,e assim que a noite chega,toma conta a névoa,que sempre toma
conta,quando algo de estranho está para acontecer.A névoa vinda do
cemitério,aviso aqueles que vão morrer.
Entrementes,o
esqueleto escritor lavra os escritos malditos que o deixarão
famoso,por seu livro do Mal,sua obra máxima,a bíblia do Demônio.
Chove
chuva fria,imersa no Mal.Chove para bem longe,os frutos do milharal.
E
agora,o homem velho descansa no casebre de madeira como se envolto
na névoa da Noite.”
Há
muito tempo,na cidade de Blumenau se ouvira falar no professor
Menescal.Ninguém acreditava que ele fosse mesmo prosperar em sua
prolífica e muito deveras próspera carreira de professor até ele
se suicidar atrás da casa na Penha.
Muito
se sabe a respeito de tal figura,que era exímio tradutor e que
possuia poderes telepáticos,mas na verdade ninguém podia desvendar
o mistério que envolveu sua morte no ano de 1983.
Diz
a lenda que anões zumbis o obrigaram a se matar atras da casa com
uma corda.Que fizeram ele pendurar a corda no saibro e se jogar para
a morte certa.Mas pouco se sabe os reais motivos que o levaram a se
matar naquela fatídica noite de 1983.
Mas
para proteger sua identidade vamos esquecer sua morte e nos ater ao
que ele deixou para a posteridade.
Quatro
filhos que herdaram em muito sua mente.Sandro Jarbas,fâ de Stephen
King,trabalhador,Andrea Jackeline,professora de português
aplicado,George Hilton cortador de tecidos e eu James
Stewart,escritor.
Na
verdade sua formula se misturou deixando para cada filho um pouco de
sua inteligência e ideais,
mas
vamos observar aqui na verdade o que realmente aconteceu.Ele havia se
suicidado por motivos misteriosos que já não mais interessavam,mas
eis que algo estava para acontecer uma certa noite no cemitério em
que ele fora enterrado no distrito do Garcia em Blumenau,apos seu
corpo ter sido trazido morto da Penha na noite do suicídio,num
caminhão.Muitos anos haviam se passado até que algo veio por se
suceder.Era o professor Menescal que agora voltaria a vida naquela
noite.
Era
uma noite como essa,daquelas que até os vampiros de Blumenau
ousariam se desentocar de seus caixões e ir dar uma voltinha pelo
centro da cidade quando os empaladores sairiam de suas casas para
procurar por almas para empalar,por corpos que poderiam ser trazidos
a vida se mortos e empalados por aqueles que um
dia
foram morar naquela cidadezinha que um dia se chamou Blumenau.A
vegetação ao redor sussurrava uma canção de horror enquanto a
tumba via sua laje lentamente começar a se mover para o lado,pouco a
pouco,foi se dando algo que estaria para acontecer a muitos anos mas
que demorara demais para acontecer.De dentro de sua tumba num
cemitério situado em algum lugar da cidadezinha agora falava o corpo
já pútrido do professor Menescal, mas ele não podia falar mas sim
se comunicar atraves de uma estranha telepatia que tomaria por terra
a mente daqueles que agora se encontravam em suas casas ou se
dirigindo para elas.Entrementes em Curitiba,no rancho dos Malheiros a
briga havia se dado.Uma breve discussão que logo acabou mas que fez
melhorar em muito a angustia em meu peito.Eu estava de saco
cheio,eles não respeitavam mais os escritores e aquela agora da
pequena lista de editoras que eu havia me comunicado para publicar o
livro se rebelar contra mim?Era demais.Brigamos.Mas logo passou e
resolvi que era mais um recomeço,mais um tempo para recomeçar a
escrever e para me tornar um escritor famoso.A greve dos
caminhoneiros já se arrastava por um bom tempo e achava que as
coisas não poderiam ser piores,mas sentia que isso tudo tinha um
reflexo muito positivo para minha carreira.Uma vez escrita,a carta
que me levaria a vender o GRAMPO DO MAL,para alguma editora iria me
levar as estrelas.Mas desta vez atacaria por correio para a editora
dos livros do Stephen King,para uma editora que enfim aceitasse meus
originais,para qualquer editora.Precisava fazer alguma coisa e ficar
parado aqui não seria a melhor coisa a se fazer.Mas teria que ter os
pés no chão,mandar pelo correio seria justo,descansar seria mais
justo ainda.Agora era um escritor mas ainda passava mal de vez em
quando e o frio que caira sobre a cidade me deixava ainda mais
sonhador do que nunca.Uma leve preguiça quase me fizera deixar de
escrever e ir dormir,mas fiz um esforço.Mas agora estava para se
dar.Talvez devido a algo que acontecera na família,quem sabe até
devido á briga,á discussão que se dera no rancho dos
Malheiros,fizera voltar a vida o professor Menescal,que agora se
levantava de sua tumba,vestido com seu terno e roupas sociais e se
foi cemitério afora,rumo a rua Gustavo Mayer,onde subiria a mesma
andando e voltaria para assombrar
aquele
local,exatamente,o casarão dos Malheiros,onde sua mulher e seus
quatro filhos haviam ido morar após sua morte a muito tempo
atrás.Pelas ruas carros buzinavam e pessoas iam e vinham na pacata
cidadezinha,enquanto o professor Menescal tomou o rumo da rua Rui
Barbosa e se foi,rua acima rumo ao casarão onde passaria a
noite.Pensamentos difusos se mesclavam em sua mente enquanto ele se
preparava para descansar o corpo pútrido,no sofá da sala do
casarão,infestado de camundongos,os anos que haviam se passado,o
tempo em que ele havia ficado permanecido enterrado naquela tumba
fétida e fria,cheia de teias de aranha e carne morta,e aquela uma
única nota de cruzeiro em seu bolso herança que havia sido deixada
na noite de sua morte,quando sua mulher pegou os filhos e embarcou
naquele caminhão com seus filhos e o seu corpo,o corpo do marido,o
corpo morto do professor Menescal na parte de trás do veículo
pronta para recomeçar na pacata cidadezinha de Blumenau,no casarão
de madeira situado na rua Gustavo Mayer,onde morariam por alguns anos
até se recuperarem do choque de ter perdido um de seus membros mais
importantes,o derradeiro professor Menescal.
Naquela
noite retomei GRAMPO DO MAL como um possesso,tentando dar continuação
á minha obra que lançaria um dia,nem que tivesse que enviá-lo por
telegrama para uma editora.
E
mais ou menos pelo fim daquela noite,o professor Menescal finalmente
chegou ao casarão,após uma grande caminhada fantasmagórica e
parecia que ele não avançava normalmente pela rua mas sim,como num
sonho,onde pula-se medidas de tempo,e ele parecia avançar mais
rápido que o costumeiro de uma pessoa viva,pois ele estava morto e
era apenas um ser espiritualizado agora.
E
eis que ele chegou á casa,e entrou.Subiu a escadinha que havia
lá,entrou na varanda e abriu a porta da frente da casa,que agora se
encontrava aberta.E caminhou sala adentro,observando não
uma
residência recente mas exatamente a residência dos Malheiros nos
anos oitenta,e ele observou a sala,exatamente como ela era e
emocionou-se.E uma luz muito grande subiu aos céus de Blumenau
quando o professor Menescal se encontrava finalmente na sala do
casarão dos Malheiros,casa que ele poderia ter morado se não
tivesse morrido enforcado naquela noite fatídica á muito tempo
atrás.Casa que fora ocupada por sua família apenas.
Mas
não havia mais casa nenhuma e sim uma outra casa,que fora construida
sobre aquela,depois quando tudo se dera,e a família partira para a
cidade grande,para recomeçar.Mas ao mesmo tempo havia,no coração
do professor Menescal ela existia ainda e se em seu coração ela
existia então ela estaria la na noite em que ele ressuscitou e lá
estava ele no casarão,parado,na sala de estar da casa,como ela foi
nos anos oitenta,em 1984 quando lá se instalaram os Malheiros,sua
família.
Mas
algo estava se passando comigo e tudo parecia de cabeça para
baixo,agora eu tinha recomeçado e não podia parar os E-mails
chegavam em série e eu tinha que respondê-los,não
muitos,pouquissimos mas o
suficiente
para me deixar louco.As coisas aconteciam muito rápido e já tinha
estragado um dia passando mal e me atrapalhado todo com um livro de
Stephen King,onde
algo
me dizia que não poderia confiar muito nele,aliás em nada e que
teria que seguir a estória da família e do meu pai,de minha mãe e
de meus irmãos,Sandro agora pulsava em minha mente e suas idéias
agora pululavam em minha mente.Problemas,um atrás do outro,eu apenas
não queria saber deles,mas parecia que eles vinham aos montes assim
como minha carreira,parecia que vinha tudo junto e acho que é assim
a vida.Vem tudo junto.Ao mesmo tempo em que enfrentava ataques de uma
febre estranha que me deixava mole e sem animo ou ação para
nada,tinha que levar minha vida para frente.Comprar comida,arrumar a
casa e sabia que não podia apenas deitar dormir e deixar tudo para
meus familiares,eu tinha que fazer alguma coisa,por isso eu tinha que
tocar tudo em frente ou tudo teria fim.E eu não queria isso.Por isso
continuava.
Os
dias passavam rápido demais para saber de alguma coisa.Nada parecia
fazer muito sentido.
Mas
eu sabia que devia ser escritor,agora já estava de volta me
comunicando com editoras para saber quem aceitava meus
contos,conversando,através do correio eletrônico de George,sempre
procurando recomeçar,aliás,sempre recomeçando.Já era tarde e o
professor Menescal já havia ressuscitado!Eu tinha que fazer alguma
coisa,por mais louco que pudesse parecer.E assim eu seguia nessa vida
incerta,apenas vivendo sabendo que seria escritor mas teria de lutar
por isso.E eu ia lutar!E era isso que eu estava pronto para fazer!
Cozinhei,lavei,sequei,e
fiz de tudo para sentir o que realmente era ser um escritor.Fazer as
coisas da vida,participar dos afazeres domésticos já era um
começo,quem sabe para partir para algo maior depois,mas descobri que
apenas os afazeres domésticos já consomem boa parte de nosso tempo.
Agora
estava vivendo a vida,cozinhando,lavando e secando,a manhã passou
como num passe de mágica e logo estavamos nos preparando para
almoçar.E almoçamos,enquanto a escuridão tomava conta dos
aposentos da casa,na verdade o que eu chamava de rancho dos
Malheiros,a residência na qual estavamos morando por aquela época,um
tempo bastante consciente para mim e nem um pouco difuso.Gosto de me
guiar por palavras e sou capaz de levar uma conversa por horas a
fio,dias inteiros conversas inteiras,com todas as palavras em cada
lugar,em sua ordem perfeita e isso eu gostava de fazer,gostava
tanto,que já estava fazendo,mediando a conversação da
casa,meditando e discutindo sobre filosofias e palavras compĺicadas
com George que concordava comigo e me ajudava nas conversações e
como mediá-las bem e corretamente.George me ajudava a descobrir os
segredos da vida e nas conversações como um verdadeiro escritor que
escreve contos e redige textos e estórias sempre procurando salpicar
as mesmas com muitas palavras e expressões que possam ter algum
valor e algum significado nas próprias conversações.Eu seguia
pensando em coisas sobre mim mesmo enquanto George ia mais longe e
chegava a falar em coisas a respeito até mesmo daqueles que nos
cercam,mas descobri que ir muito longe não é bom,é sempre melhor
ter algo fechado só para si mesmo e obedecer a própria lei de
dicção de palavras e criação de um único vocabulário algo que
os outros entendam e ao mesmo tempo tenham a ver com você.Foi então
que fui aprendendo a falar e a escrever,e colocar nas estórias um
vocabulário que não ficasse muito estranho ou absurdo,e que
ajudasse na conversação dos personagens.Enfim,estava aceso e pronto
para levar meu plano adiante,o plano de me tornar um grande
escritor.Jamais gostei de bilingues e creio que a medida que você
cresce na criação de um vocabulário você se torna dono de um
conjunto de palavras mas nem tudo o que você sabe é
suficiente.Ainda tinha crises e passava mal por exemplo sobre como
responder aos outros.Aquilo me derrubou.Aquilo me fez passar mal e
pos uma pedra em meu caminho me estragando um dia inteiro.Durante um
dia inteiro fiquei confuso e doente em casa,e nada fiz.Graças a Deus
que eu tinha a presença de meus dois familiares e eles lavaram a
casa e prepararam a comida para mim.Quando acordei no dia
seguinte,estava recuperado mas o dia anterior havia sido péssimo,e
eu o perdi por completo.Foi como um lapso no tempo e me acordei hoje
sem saber como continuar a fazer algumas coisas,mas logo
recomecei.Descobri que recomeçar todo dia é certo.Mas sempre
mantendo aqueles horários de sempre.Para um escritor trancado em
casa,pode parecer difícil mas para quem sempre vai trabalhar e fazer
algo importante é moleza.Mas não confio muito nas ruas e me voltei
um pouco mais para meu lar,minha residência.Ela se tornou algo
especial para mim e agora descanso.Agora á pouco estava contente e
parecia que um sol ia despontar no horizonte mas foi só um
engano.Agora vamos ver o que acontece.
Agora
a noite tinha se passado,uma noite profunda,com uma surpresa antes
disso.Peguei Mama e George chorando alto no quarto.A principio levei
um susto mas logo resolvi não me importar muito com o ocorrido uma
vez que ambos se encontravam estressados com os acontecimentos
diários e agora só queriam descansar,logo depois pega-los
chorando,comemos pão e fomos dormir.Não sei quanto tempo se passou
até que veio esta quinta-feira,e me acordei,pronto para recomeçar.
Me
encontro aqui nesta manhã fria escutando a chuva cair lá fora.Como
o tempo passa!
Fico
aqui pensando o que será de nós se tudo tiver fim,mas será que
tudo terá fim?É como se fosse uma estória infinita mas um dia tudo
isso há de acabar.Pois que trabalhemos para passar o tempo e ter
algum retorno nesta vida.Eu aqui escrevendo para me tornar um
escritor famoso mamãe lavando louça e limpando a casa para manter
tudo certo e no lugar,mas as vezes temos tempo para nos
divertirmos.As vezes faz sentido.E ela sabe que isso é
necessário,como posso ver quando ela para e pensa na vida as vezes
tentando achar sentido nessa vida.Agora nos encontramos pensando em
cair fora daqui.Em sair desse lugar e ir para um outro.Não faz muito
sentido,mas é o mais certo á ser feito.Agora posso sentir a
influência dos poderes mentais do professor Menescal,do casarão em
Blumenau,mesmo que esse tenha sido destruido a muitos anos mas seu
fantasma ainda vive,o fantasma da casa,daquela construção que foi a
nossa casa a tanto tempo atras.Agora posso sentir os pensamentos do
professor Menescal,irradiando sua magia de um outro tempo,como que
tentando mediar uma vida que já não tem mais razão,a nossa.Que
vida mais divertida e ao mesmo tempo morta,para nós os Malheiros,ao
menos alguns deles,mas nós,a família do professor Menescal,agora
morto e descansando no casarão para onde fora depois de ressucitar e
rumar para a rua Gustavo Mayer,para descansar seus ossos naquela
construção singular,desaparecida a tanto tempo atrás,mas que
sobrevive na mente e no coração daqueles que um dia lá
viveram.Posso sentir a presença de seus pensamentos ainda vivos em
meu coração.E sei que aprender as palavras é importante,é mais
importante do que tudo isso mas isso é importante também,é nossa
vida.Misturar as duas coisas tem sido o ponto primordial de minha
vida nos ultimos dias,aprender e viver,ambas as coisas.
Aprender
as palavras e viver o sonho da família,e sempre recomeçar,isso é o
mais importante.
Agora
fazia sentido para mim.Já havia mandado um conto para uma revista e
iria tentar publicá-lo.Mas aí é que estava o mistério,eu era um
escritor de contos e não um novelista.Vender um conto por vez era o
que eu necessitava e era o que eu estava pronto para fazer com a
revista para a qual eu mandara o conto.Agora esperava mais uma vez
uma resposta.Como sempre.E a resposta seria mais uma vez algo
decisivo em minha vida.Será que eles gostariam do conto?Será que
eles decidiriam publicá-lo na revista?Era o que eu esperava
saber.Agora,o professor Menescal estava influenciando a família,eu
esperava por meu início de carreira como escritor e mamãe e George
esperavam por se arrumarem nessa vida,se é que isso era possível.Eu
torcia por eles,e esperava que eles se ajeitassem,mas eu tinha medo
de perder mamãe ou George de uma hora para outra e isso seria
péssimo para a família,e para mim como parte dela.Agora esperávamos
por um milagre.
Faltava
algo para eu me ajeitar como escritor,já havia conseguido atingir
tudo o que queria,estava satisfeito,mas algo ainda estava por vir.E
era a carta da revista.Ela ainda não havia chegado e era só o que
faltava para encerrar esta crônica.Se eu tivesse a resposta da
revista eu teria o fim desta narrativa e a resolução de minha
carreira como escritor.Agora era capaz de levar estórias até o
fim,de mediar diálogos com eficácia e continuava estudando.Era o
que eu precisava como escritor e como pessoa.Agora já estavamos na
manhã de sexta e eu ainda não havia recebido a resposta.
Na
televisão passava o filme para o cinema do Scooby doo,sem a música
e os efeitos necessários para se fazer um bom filme,mas ainda assim
era um bom filme para se assistir,no rancho,eu havia saído de
qualquer jeito para ir buscar o remédio meu e o do George,pois era o
dia marcado e estávamos precisando.Tomei um bom banho hoje.As coisas
iam tudo bem.Mamãe e George já não pareciam tão mal como nos dias
anteriores e eu parecia me especializar na arte de desvendar
mistérios e mediar conversas com palavras e tudo.Agora era só levar
em frente,agora as coisas pareciam ter sentido,tudo estava indo bem
em minha vida mas só iam dar mais certo ainda se viesse a resposta
da revista,e era isso que eu esperava.Ficava o mistério,será que a
influência do professor Menescal seria de se consolidar positiva ou
não?Por enquanto ia tudo bem,e só faltava a minha parte,a resposta
da revista,o resto estava caminhando para um bom resultado,George
estava se cuidando tarde após tarde como sempre fez,e mamãe parecia
estar convencida de que iria vencer aquele estranho mal que a
acometera a algum tempo.Quanto a minha carreira de escritor,não
havia dúvida,estórias por vir,sequencias agradaveis a serem
escritas,desvendar teoremas complicados e transformá-los em redação
simples,aprender as palavras,uma vez que as palavras descrevem
tudo,escrever para mim parecia ter se tornado uma diversão que eu
simplesmente tinha que tocar em frente.Quanto á me tornar
famoso,bem,isso dependia do respaldo da revista e se ela aceitasse
publicar meu conto.Se desse certo,se tudo corresse bem,então viriam
outros contos,e talvez eles aceitassem me pagar em dinheiro e
simplesmente não em fama,com a publicação dos mesmos.
Agora
a influência psiquica do professor Menescal parecia estar se
mostrando completa e veriamos o que viria pela frente.Talvez algo tão
fantástico quanto qualquer outra coisa nesse mundo,talvez uma onda
de voltas no tempo,bons momentos,inspiração,enfim,tudo o que eu
esperava dessa vida ao invés desse tempo apressado que vinha se
mostrando cada vez mais rápido e que eu deixava escapar por entre os
dedos toda vez que parava para escrever sobre ele.
E
o professor Menescal,pensa que ele não foi afetado pelos vampiros da
noite?Claro que foi.E as crianças do colégio,todas elas conhecem os
loucos!Aqueles loucos que andam pelas ruas sem porquê e gostam de
ficar sem fazer nada o dia inteiro.Não fazem pois são doentes.E as
crianças do colégio,acham que elas são inocentes?Elas não são
não.Elas sabem muito bem onde moram esses mesmos loucos e controlam
eles para que ataquem os outros.São as crianças que conhecem os
loucos,as mais perigosas de todas.Acham que elas tem inocência no
olhar?Eu posso dizer muito bem o que elas tem no olhar,pois o que
elas tem naqueles olhos não passa de sangue!E elas gostam de jogar
os loucos contra os outros,e os loucos atacam as pessoas e vão parar
naqueles manicômios por causa disso.Eu briguei com meu irmão,eles
acharam que eu estava louco.E me mandaram para esses manicômios
apenas para eu descobrir o que são os loucos e aqueles retardados
pois também há pessoas retardadas com os loucos e eles vivem juntos
e muitos tem raiva de viverem presos pois não trabalham ou estudam
como as pessoas normais.Eu escrevo,por isso sou mal-visto.Eles me
acham uma espécie de vagabundo quem sabe até um louco mas não se
trata disso.Sou um escritor,e entre minhas muitas capacidades sou
capaz de mediar uma conversa inteira e recitar as palavras que são
necessárias para que a reza seja feita.Para que a mágica aconteça,e
ainda estou treinando para isso,por isso deveria ser chamado de
aprendiz de escritor.Eu escrevo na casa abandonada,no rancho dos
Malheiros onde só vivem eu meu irmão George e minha mãe Bernadete
Malheiros,uma Schiphorst.Viemos todos de Blumenau e somos perseguidos
por sermos nômades,quacres e escritores,como meu pai foi quando
vivo.Agora trilho esse caminho,o caminho de escritor,sempre em busca
das palavras corretas para uma melhor compreensão da vida humana e
em busca do sonho,que jaz na casa abandonada,na casa de madeira,uma
casa imaginária que não existe mais como a casa de Blumenau que
fora demolida e que já não existe também.De noite,quando a névoa
toma conta das ruas é possível ver a casa abandonada de madeira,e é
possível ver uma luz acesa num dos quartos,como que alguém
escrevendo,algo que lateja em minha mente como uma fantasia,a
fantasia dos escritores de ficção,a minha fantasia,que vivo toda
vez que a escuridão toma conta do rancho e mamãe parece ver
fantasmas pela casa e ao redor dela.Muitos morreram vendo
fantasmas,mamãe não.Eu também não.Eu permaneço vivo e
sonhando.Se fosse ver tudo o que já passei com minhas fantasias de
ficção,acho que pouca gente acreditaria.Já passei mal em quartos
escuros,suando no chão,sob apenas um colchão,sonhando com os
fantasmas da noite,os espíritos da madrugada,uma madrugada quente e
molhada de suor frio e arrepiante. É uma vida atemorizante essa de
escritor,mas ainda procuro pelo arrepio perfeito o lado bom da
estória,onde se sonham com casas abandonadas de madeira e dentro
dela há tomos do Mal,contendo crônicas de arrepiar.Onde se dança a
dança da morte,dança macabra que funciona como pano de fundo para
preciosos momentos onde tudo pode ser material para se tecer uma
estória,um conto,uma crônica.
Mas
não gosto de levar isso muito á sério e só exercito minha
capacidade de sonhar para viver esta fantasia,a fantasia de qualquer
escritor,viver em casas de madeira onde a imaginação se mescla com
as palavras e culmina numa vida de sonhos e mistérios.
Aqui
não é a casa de madeira,aqui é o rancho.A casa de madeira só
existe em meus sonhos mais profundos e surgiu depois que aconteceu a
ressurreição do professor.É noite lá fora e agora permaneço aqui
imaginando se o professor irá continuar a influenciar nossa vida com
seus poderes psíquicos,e se daqui para frente conseguirei tocar em
frente minha carreira de escritor.A resposta da revista,se vier irá
definir minha carreira como escritor de sucesso para sempre.Faz frio
lá fora.
Bem,é
hora de descansar a cabeça no travesseiro e esperar que esse tempo
passe o mais devagar possível,ao contrário da pressa que tenho
visto e descubramos o que vai acontecer daqui para a frente aqui no
rancho.Entrementes continuamos aqui,vivendo essa mesma vida de
sempre,apenas aguardando por alguma coisa que nos faça mudar e
repensar o rumo de nossas existências a fim de nos virarmos para uma
melhor direção e passarmos a viver uma vida melhor.
Entrementes
estávamos aqui,com a ressurreição do professor…
O
frio da noite e o fato de eu me encontrar escrevendo no quarto da
bagunça,onde ninguém dorme,começava á despertar a vaga impressão
de que eu estava começando á desconfiar que estava passando a
começar á ser observado.
Você
já teve essa impressão?Para mim isso começou á acontecer uma
noite,enquanto eu escrevia no quarto da bagunça em minha casa.Os
termômetros marcavam graus negativos e tudo levava a crer que seria
um inverno daqueles.Uma estranha névoa começava a se formar ao
redor da casa e parecia que Curitiba seria pega de surpresa pelo
inverno mais avassalador de todos os tempos.Foi aí que tudo teve
início.
Eu
era um escritor agora.Havia escrito alguns contos e enviado um deles
para uma revista de literatura.Só não imaginava o que iria
acontecer dali por diante.
Sei
que gosto de sair pela cidade.Posso dizer que sou um sortudo.Tenho a
sorte de ter uma mãe e irmãos que me dão uma vez por mês,dinheiro
para ir até o centro me divertir pela cidade.Caminhar pelas ruelas
antigas de Curitiba,e chegar onde mais gosto de ir,meu destino
principal,a biblioteca pública.Lá,encontro toda a obra de Stephen
King,agora eles estão com um bom acervo,e posso espiar um pouco da
literatura mundial num só lugar,e de graça.Principalmente a obra de
King,que para mim é o símbolo da literatura mundial,ao menos.Compro
um pacote de café no mercado e volto para casa,com o troco,vou
passear.
Entro
no ônibus desconfiado mas é bobeira,sou meio solitário mas gosto
de fazer amigos,de uma conversa,converso com uma mulher no ponto de
ônibus e me vou.Calculo agora tudo.O que ouço,o que falo,penso á
respeito das coisas.Não sou mais aquele pequeno desvairado que eu
era.Agora sou um pensador,sempre imaginando que poderia haver um rio
passando debaixo da rua onde andamos, ou que algo está acontecendo
em um prédio qualquer,a dimensão das coisas da rua,dos carros,as
marcas dos automóveis,o sentido das ruas tudo agora tem um valor
intelectual para mim.Posso dizer que minha viagem até o centro é
bem densa em pensamentos.Imagino de que material é feito o coletivo
e fico calculando o que as pessoas falam ao meu redor,encontro gente
inteligente que gosta de falar em significados,e palavras,e falam
coisas que entendo.Compreendo a cidade e seus habitantes como ela
é.Bem diferente da enxurrada de pensamentos neuróticos e malucos
que vem quando entra em ação meu subconsciente.Meu subconsciente é
terrível.
Mas
fica a tenebrosa impressão de que estou sendo observado e isso me
acompanha até o centro.Vejo a rua,o banco,a polícia e coisas assim
não fazem o menor sentido para mim,uma vez que não lido com
dinheiro ou valores,apenas consumo-os.Quem ganha é minha família,eu
só gasto.Gostaria de mudar isso ganhando algum dinheiro com os
contos.Publicando em revistas e depois quem sabe em livros.Mas por
enquanto não,por enquanto só lido com valores financeiros que não
são meus,e são ao mesmo tempo,uma vez que sou parte dessa mesma
família.Ah,quem sabe tudo mudasse.Mas vamos lá.Desembarco e sigo
rumo a biblioteca,pela cidade.E finalmente chego lá.Entro no prédio
da mesma e me dirijo para o setor de literatura,onde pergunto sobre
livros de Stephen King.O moço me diz que já vai me atender,e mexe
com alguns livros,fala alguma coisa com outra pessoa e volta a falar
comigo.Depois me leva até um trecho do acervo de livros e me mostra
algo valioso- toda a obra de Stephen King,á minha inteira
disposição.O acervo é enorme,são prateleiras e prateleiras com
livros finos e grossos,tomos do gênio do terror.Ele me deixa á
vontade e se vai,eu fico,deliciado com o tesouro que tenho em
mãos.Vejo alguns mas o que me interessa é Dança macabra,seu livro
técnico,digamos assim.O pego e vou até a sala de leitura me
deliciar com o tomo.Vejo uma japonesa de tamanho ideal,jaqueta
jeans,calça e sapato entrar no acervo da biblioteca,fico á
vontade,leio algumas linhas do livro.Entendo o livro,principalmente o
trecho em que Stephen King abre uma cerveja e se delicia com ela,e
com outras num engradado em casa enquanto decide escrever o livro que
estou lendo,ele conta como decidiu escrever o livro.Bebendo.Sinto
vontade de beber,mas só suco,em casa.Sinto vontade de fazer
coisas,de chamar a japonesa para conversar e dizer que sou
escritor,perguntar seu e-mail,seu nome,dar meu e-mail,para ela se
comunicar comigo,mas isso não é possível.Todos sabem que não sou
escritor.Para ser um escritor deveria estar publicando e não
estou,só estou escrevendo e negociando por enquanto.Fico
frustrado,continuo á ler.Leio pelo menos a primeira parte do livro e
o deixo de lado.Me levanto e me vou,indo embora daquele lugar
sufocante.Tudo é sufocante para mim agora que ainda não sou
escritor.Mas não quero pensar nisso e me vou rua afora,rumo ao ponto
do Vila Rex,ônibus que pegarei para voltar para casa.A volta foi
curta mas serviu.Foi exata para mim.Serviu para me cansar,me dar sono
e foi o suficiente por hoje.Agora me encontro aqui escrevendo
isso,como se estivesse lutando uma luta patética sem rumo,mas eu sei
que não é.Tenho experiência,já trabalhei e agora quero escrever
para ganhar a vida.Mas está difícil.Publicar um livro não é
possível por isso vou ter que começar por baixo mesmo,se quero ter
uma carreira.
Chego
no ponto e encontro uma garota,com quem converso.”Quando vim para
esta cidade aos dez anos não imaginava que tudo ficaria assim.As
coisas eram diferentes naquela época.”Eu exclamo,e me bato um
pouco para falar mas ela não nota.”É mesmo.”Diz ela,meio
amuada.”Você mora no Xaxim?”pergunto á ela,que é onde
moro.”Não,eu só estou aqui esperando minha mãe.”Ela
responde,já indo embora.”Tchau.”Eu me despeço dela e ela se
vai.Fico sozinho no ponto imaginando que diabos fiz para merecer
aquilo.O ônibus chega e embarco.Um cobrador irônico me recebe,e eu
passo sem falar nada,depois de ouvir algo que não entendo muito
bem,filho da puta.
Esqueço
o mesmo e sigo para casa.O ônibus segue as pressas,um motorista
relapso dirige o mesmo motorista esse que fala de um modo que não
entendo.Desembarco na rua do Videira e desço para casa.Chegando
lá,George come um pão de padeiro e me pergunta se quero
almoçar.Respondo meio desanimado que sim e ele me prepara um prato
de comida.Bebo suco num copo grande como se estivesse num festim de
cerveja,num
pub.Como e vou deitar um pouco.Descanso,penso um pouco sobre o que
aconteceu naquele dia,e me levanto para ir até o farol na intenção
de consultar o doutor Google.Estou exausto e não é uma boa idéia
ir,mas vou.A rua perto do campo me parece terrúvel,e chego ao
farol,onde entro.Resta ainda um pouquinho de tempo,me diz a
responsável,que vê minha ficha e me sento,para acessar o
computador.
Fico
sabendo de um escritor,Hedjan C.S.,que escreveu um livreto de bolso
de apenas 28 páginas.Quando a qualidade é boa não se importa a
quantidade.Decerto pagou para publicar o mesmo,coisa que me vi
obrigado pelos editores quando tentei publicar GRAMPO DO MAL.reunião
de meus primeiros contos.Vejo algo por cima de Twin Peaks,e logo
desligo o computador.Logo me vou.Nada de fabuloso hoje,mas ficou a
idéia da bebedeira.Talvez pedir para o George comprar sorvete ou
fazer suco ou então,fazer mesmo,bastante de alguma coisa e
comer,como os paezinhos que tittia trouxe,mais de trinta,numa sacola
de panificadora.Deveria ter trazido numa sacola de ráfia que á tão
famosa,como aquelas que nós arranjavamos para trazer bastante de uma
coisa só em Blumenau.Volto para casa,e tomo um banho gostoso e
revigorante.
Agora
aqui estou,escrevendo isso,como um animal lúdico,apenas pensando.
É
mesmo como se tivesse alguém me observando,alguem que sabe tudo o
que faço.Mas para que esse alguém faria isso?Dúvidas sobre esse
alguém não vir a ser alguém mas algo.
Mas
esqueço,tenho uma família para participar e ficar pensando em
bobagens não vai me levar á lugar nenhum.O tempo passou,as coisas
mudaram e tudo já não é mais o mesmo.Ainda bem.
Só
assim entendo esse fluxo de idéias que corrompe minha mente me
fazendo pensar cada vez mais e mais sobre as coisas do universo e
suas cercanias.Sobre a vida,a minha vida a nossa vida.Mesmo que para
cada um seja diferente.Como a vida de Stephen King.
Simplesmente
estar sendo observado.
Já
teve essa impressão?Agora enquanto escrevo aqui,tenho a impressão
que a criatura no forro também faz parte disso.Talvez um
complô.Talvez alguém tentando me enlouquecer mas como?Como fariam
isso se nem tenho contato com ninguém estranho por aqui.Ter a
impressão de que há
alguém
controlando sua vida é algo que já me aconteceu,mas eu jamais
contei á ninguém.Não é algo que devo contar quando vou ao médico
ou então eles vão achar que eu não estou bem da cuca.
Uuuh.Que
estranho,não é mesmo?Mas eu acho que a resposta para esta pergunta
seja exatamente esta,medo dos outros,exagero dos outros,fixação dos
outros.Achar que as pessoas na televisão reagem ao que você
faz,como se eles pudessem vê-lo na frente da televisão enquanto
você assiste,é algo que seu psicólogo não ia querer ouvir ou
acharia que você está ficando biruta,mas ora,quantos hoje em dia já
não estão birutas?Encontrar outros birutas deveria ser algo comum
para quem assiste televisão.A própria televisão já é birutice.O
que eles sabem?O que pode haver num estúdio?Algum monstro enorme com
presas e gordura animal?Atores vampiros insanos prontos para fazerem
o que lhes é imposto pelo diretor?Isso se eles não sabem mesmo o
que se passa em sua casa.Já pensou?Ah,mas isso,isso você jamais vai
ver eu fazendo pode ter certeza disso.Eu nem gosto de assistir
televisão…
Eu
sou aquele que observa.
E
sou observado.Pode ter certeza disso.Quem sabe já era antes disso
tudo.
Eu
me encontrava passando pelo maior dilema da história da minha
vida.Estava atravessando uma temporada de estadia na casa nova e ao
mesmo tempo havia ficado doente.A dor de cabeça era constante e eu
enfrentava minhas crises de tremedeira sempre deitado no colchão no
chão do quarto do lado de uma imensa caixa onde guardavamos
roupas.Fazia frio.Era o apice do frio na casa da dona Clarice naquele
ano de 2017.A maldita casa da dona Clarice,onde eu ainda estava meio
sonolento e relapso em relação á minha carreira de escritor.Quer
dizer eram tempos difíceis mas me recordo bem daqueles primeiros
dias na casa,quando as coisas ainda não tinham caminhado para algo
ainda pior.George estava contente,mas mal sabia o que ia começar a
ocorrer naquela casa,talvez uma das piores residências nas quais já
moramos na história da família,senão a pior.
O
corvo da noite grasnava quando faziamos café de noite,ainda num dos
primeiros dias.Eu gostava de lavar e enxugar louça mas coisa que
deixei de fazer ante as terríveis experiências que fariam minha
vida se transformar.Acordei então,passei a me virar sozinho,dessa
vez para sempre.Passei a prestar mais atenção nas coisas e á usar
de lógica em minha vida.Mas tudo aconteceu da pior maneira
possível,como se o diabo estivesse passado pela terra em vida.
Os
primeiros dias,a única coisa que me recordo daquela casa de
aluguel,situada numa ruela mal-povoada da vila Hauer,no
Boqueirão,perto de onde moramos no passado.
Me
lembro que gostava de ficar em casa,mas logo pegaria a mania de sair
para dar uma caminhada,e passei por aquela época pela pior crise da
história da minha vida,com falta de ar,tontura,alucinações,confusão
mental
e uma estranha sensação,que costumava chegar de dia,um dia que se
arrastava sem graça e metálico.Tudo aconteceu de repente.
Havia
um balcão,o nosso balcão,onde punhamos comida e onde comiamos nos
primeiros dias na casa,me recordo de George contente,como se
aproveitando férias numa casa de campo,ou vivendo numa daquelas
casas em que vivemos quando somos jovens.Creio que tudo se devia ao
fato de eu não me meter,coisa que passaria a fazer a partir de um
tempo dali para frente.Mas era preciso,uma vez que precisava
viver,mas ainda hoje tenho minhas dúvidas se não deveria continuar
fechado em minha concha,num agradável convescote com a família,com
minha carreira de escritor e bem longe daqueles ataques do
subconsciente que passariam a me deixar bem mal.Em um pensamento
maluco sinto saudade daquela época antes de eu ter a estranha
sensação de que chegara para estragar tudo.
Mas
aquilo,aquilo era necessário,aprender as palavras.Aquilo não
deixava dúvida de que eu precisava ter passado por algum
aprendizado,mas não assim,daquela maneira.
Mas
George se sentia bem e era isso o que importava,até tudo começar a
acontecer,mas fica aqui o registro de antes,quando chegamos naquela
casa,os primeiros dias.
A
cozinha se encontrava cheia de coisas então.Mamãe arrumava tudo com
George que sorria e cantarolava sua antiga musiquinha que ele mesmo
tinha inventado.”Porco-aranha,porco-aranha,mais porco que aranha.”E
assim seguimos aquele dia de frio,arrumando a cozinha,colocando a
louça no lugar,enquanto nos viamos num ambiente completamente
diferente do que seria depois.Tomávamos café as três horas,e as
coisas nem mesmo pareciam acontecer fora da casa,num sonho
maravilhoso que logo ia acabar.Eu nem tinha noção das coisas
ainda,minha noção de realidade ainda não era medida com palavras
mas sim com um instinto que parecia totalmente errado mas me guiara
até ali com uma eficácia extraordinária,e me sinto triste e com
vontade de chorar de pensar que aquela vida eu não vou ter nunca
mais,apesar de ser totalmente completamente errada.Assim como eu
vivia sem noção tudo parecia um sonho infantil e minha família
cuidava de mim.Sempre gostei de George,mas parece que aquele trecho
de minha vida e um pouco antes,quando vieramos da casa do seu Eloy,
foi como um sonho.Eu jamais gostara tanto de George quanto gostara
aquela época.Creio que foi algo lúdico para mim,e acho que sei como
fazer a mágica mas tenho medo de tentar de ver tudo perder sua razão
de novo,mas dá vontade de tentar no futuro.
Era
como se ainda lá tivessemos no ar a mágica da família,um clima
gostoso que envolvia-nos e fazia com que tudo parecesse gostoso e
febril,com sabor.
E
eis que aconteceu.
De
noite,quando fui pegar a colher para mexer o açúcar na xícara do
café que tomava,enquanto todos estavam na sala,iluminada pela luz
natalina de algum tempo perdido em nossas memórias,eis que me
deparei com minhas mãos,duas patas de macaco escuras com garras como
num efeito especial bizarro de algum show de horror,um show de
circo.A príncipio levei um susto mas nada falei,apenas mexi a colher
na xícara de café e me dirigi calmamente até a sala,mas não
estava nada calmo,estava em pânico com o que vira.
A
imagem ficou em minha memória até hoje e confesso que permaneceu
registrado em minha memória por um bom tempo,chegando até a me
deixar com raiva,como é que enxergava duas mãos de macaco escuras
no lugar de minhas mãos,aquilo não podia ser.Mas passou,e ainda
hoje tenho medo em pensar como é que pude observar tal coisa em mim
mesmo.
Bem,tomamos
o café,assistimos um filme de terror que ia passar naquele dia e
fomos dormir.Voltamos á rotina de sempre,mas eu apenas não podia
esconder,estava aturdido.
Tudo
aconteceu muito depressa lá,quando chegamos a passar por dias
agradáveis,até nos depararmos com um inquilino da casa de trás da
dona Clarice,que nos causou pesadelos.Mas vamos esquecer esta parte
da história pois já é passado,e vamos nos ater ao caso das mãos.
Eu
simplesmente não imaginava passar á ver minhas próprias mãos de
uma forma diferente e aquilo marcou minha vida de forma
negativa.Passei á me sentir mal com aquilo e confesso que fiquei até
um pouco confuso em saber que o Mal pode nos atingir em nosso próprio
corpo.Que imagem era aquela?O que ela significava?Por que eu havia
sido atingido por tal pesadelo.Até hoje não tenho explicação
correta,apenas uma vaga explicação que formulei mas que não tem
significado nenhum e que descartei logo na épóca,mas confesso que
fiquei até chateado. George parecia nada sentir,ou se sentia não
falava para ninguém,mas a presença do sobrenatural em minha vida me
obrigou a repensar meus valores e á usar de palavras para expĺicar
aquilo que não sei explicar instintivamente.
Hoje
procuro por palavras,mas confesso que a mudança de pensamento foi
até mesmo traumática,mas necessária.Minha doença havia chegado á
um ponto crítico em minha vida e simplesmente sabia que devia fazer
alguma coisa,mesmo que o que tenha feito possa parecer uma decisão
desesperada de minha parte,mas foi tudo o que pude fazer,passar a me
esforçãr mais para aprender as coisas da vida.Mas isso passou á me
deixar
deprimido e sem vontade de viver,sem aquele gosto pela vida que tinha
em meus tempos de infância e juventude.Acho que exagerei,mas tenho
uma idéia para tirar umas férias de meu policiamento.As vezes
deixar passar,um pouco de sonho não faz mal á ninguém afinal a
imaginação é necessária para a criação de idéias em nossa
mente e criar um pouco pode ser proveitoso.Vou tentar.Quem sabe
passar uns dias afastado da crença de que devemos cuidar com tudo e
deixar essa vida me levar um pouco para ver até onde eu chego.Quem
sabe esquecer episódios como os das mãos,em que minha mente chegou
ao disparate de criar uma imagem fictícia apenas devido ao valor das
palavras,e isso é errado.Não podemos criar monstruosidades devido á
língua ou ao vocabulário.Coisa que já desgraçou a vida e a mente
de George durante algum tempo,na casa da dona Clarice,quando ele
enlouqueceu certo dia e chegou a chorar após falar coisas estranhas
no quintal da velha,que assistia á tudo pasmada.Mas dona Clarice
também errou,por buscar mais o dinheiro que as pessoas,e fazer isso
é uma coisa que não se faz com ninguém.Erro que ela cometeu em
vida e pagará caro por ter cometido.E se as forças do Mal não vem
buscar a velha?Imagine?
Entrementes
ficamos aqui com as mãos…
Em
meus pesadelos mais profundos,estou dentro de um navio.Faço parte da
famigerada tripulação que trouxe os Malheiros numa viagem de
Portugal para o Brasil.Nem sei se isso realmente aconteceu,mas toda
vez que passo mal,me deito no sofá da sala e posso escutar a máquina
de lavar roupa enxaguando e chacoalhando a roupa molhada com água de
um lado para outro,e é como se estivessemos em plena viagem
colonizadora,quando os primeiros de minha família aqui
aportaram,para colonizar o Brasil,os primeiros Malheiros.Um arrepio
percorre minha espinha,imaginando como eram ou como venham á ser
meus parentes que não conheço,e nem faço questão de
conhecer.Conta a lenda que eram bravos os Malheiros,irônicos e
cruéis,pois nem quero saber deles.Mas enquanto a máquina parece
chacoalhar de um lado para outro a roupa dentro dela,sinto uma coisa
tão agradável que seria capaz de pegar no sono e adormecer.
Mas
não é esse o sentimento principal aqui.
Sabe
quando algo está acontecendo e tudo ao redor se enche de mágica e
sentimento?É sempre que algo está acontecendo que nos enchemos de
alegria e nos sentimos envoltos por uma mágica que nos faz sonhar e
deslizar pela alameda da vida como se essa existência não fosse
nada mais do que uma grande festa.Quisera eu que fosse sempre
assim,quisera eu que a venda dos contos desse certo e pudéssemos
comemorar minha carreira literária,e então seria tudo festa e
estariamos envoltos de novo por aquela mágica coisa que me faria me
sentir deveras bem por um bom tempo.
É
sempre assim quando algo está acontecendo.
Estive
pensando nessa sensação hoje quando me acordei e vim escrever.Viver
tudo aquilo de novo,será que era possível?Quem saberia dizer não é
mesmo?Só mesmo prevendo o futuro e duvido que alguém aqui em casa
era capaz de fazer tal coisa.Éramos apenas sonhadores.
A
ressurreição do professor havia se dado na casa fictícia de
Blumenau,casa que já não existia,senão numa outra dimensão,a dos
sonhos,mas agora sentiamos sua influência.Por muitas vezes sentia
uma distante tristeza e pensava nele,fazendo brincadeiras comigo,só
para passar o tempo,algo leve e soube então que ele era uma boa
pessoa.Estava morto,mas seu espírito estava lá e influenciando na
vida da família.A casa se enchia de um clima de nostalgia quando
isso acontecia,quando ele aparecia e nos contava aquelas estórias de
antigamente,de quando ele estava vivo,ao mesmo tempo que pensava em
minha carreira de escritor,e então pensei,será que ele não poderia
ajudar?Mas não,não seria possível algo tão incerto quanto sua
presença,não poderia ajudar em nada com minha carreira de
escritor.Minha carreira de escritor somente eu seria responsável por
tocar para frente por fazer acontecer.Me recordei da mágica na
biblioteca,enquanto lia o livro de Stephen King,da japonesa,e de como
senti vontade de fazer amigos de curtir a vida mesmo,mas não,isso
não seria possível.Agora a casa de Blumenau não passava de um
barracão abandonado e coberto por mato ao redor em minha mente,e ela
existia somente aí,em minha mente.E era lá que estava alojado o
professor Menescal,deitado no sofá,preparando comida na cozinha,tudo
num mundo de sonhos tudo num mundo fictício,e ele sairia para fazer
compras e moraria sozinho na casa,e sacaria dinheiro no banco,o
dinheiro de sua aposentadoria,mas será?Ou será que ele não passava
de um fantasma sem precisar comer ou dormir,apenas o seu fantasma,mas
não era o corpo vivo do professor que estava lá,mas seu
cadaver,putrido.
Mas
algo logo estaria por acontecer.
Entrementes
na casa de Blumenau,na casa fictícia de Blumenau que só existe em
meus sonhos,o professor Menescal começava a voltar a seu estado
original,iniciava um processo de volta a vida,e seu cadaver agora
começava a se reestabelecer.Ele pouco a pouco,processo que durou
alguns dias,voltou a ser do jeito que era em vida,quando vivo e
retornou com sua figura original,pronto para talvez assombrar quem
quer que fosse se ele quisesse.Como eu dissera,como o tempo passava!E
agora já estavamos prontos para encarar nosso destino,o destino de
uma família que não fugia á luta,que estava aí para o que desse e
viesse.Algo que faria o
rumo
dos acontecimentos mudar.Mas será que o suficiente?Eu não conseguia
acreditar que algo aconteceria para melhorar nossa vida tanto assim,á
não ser que algo acontecesse mesmo,algo consistente.E esse algo
estava precisando,ou então todo o trabalho que despenderamos teria
sido em vão.Eu não sabia o que era mas deveria acontecer logo e
para o bem,ou estariamos perdidos.
Amanhã
vou tomar um banho bem gostoso,arrumar meus e-mails,e me preparar
para receber a tia Ilze.Ela vem almoçar conosco quinta-feira. Hoje
preciso sair para ir comprar bananas no mercado,para fazer banana
frita de tarde.Já vou vendo o que vou fazer no futuro para ficar
preparado e ter tudo pronto .É tempo de receber visitas e quero que
esteja tudo pronto para que tudo saia bem.Passar a participar mais
para que todos tenham uma boa impressão de mim na família,coisa que
prezo muito e tenho o maior respeito.Agora de manhã fui fazer uma
consulta com o doutor Google no farol mas não vi muita coisa
boa.Apenas uma matéria com Stephen King,mas que não continha nada
de novo,apenas o básico,aquilo de sempre.Frustrado para compensar
peguei dois livros emprestados,apenas para dizer que saí hoje.
Voltei
para casa,chateado.Andrea chegou para uma visita rápida,já se
foi,as bananas fritas vão ser a atração principal dessa tarde
mesmo.Pretendo comprar o quanto der,bastante,para alegrar a tarde,com
um belo café ás três horas.Agora vou ter que sair e ir até o
supermercado para comprar as bananas,nada de mais.Seja o que Deus
quiser.
Me
encontro na escuridão,é um dia escuro hoje.Só espero que corra
tudo bem até a tia Ilze vir aqui em casa.Enquanto isso,banana frita!
Mas
algo de medidas descabidas logo aconteceu,algo que iria fazer adiar a
banana frita na família aquele dia.Logo começou a chover forte.Uma
chuva que chegou a causar algum estrago aqui perto em algum município
aqui perto de Curitiba com certeza,e não seria possível chegar as
três horas e comprar a banana para fritar ao mesmo
tempo.Deixamos.Logo seria três horas,hora do café e teriamos que
comer pão com margarina mesmo.Mas creio que mamãe daria um
jeito,fritaria bolinhos ou algo do gênero,ou talvez não,talvez
comessemos somente o pão com margarina e beberiamos somente o café
mesmo.Algo que viesse a calhar.Mas sei que não dei muita importância
o fato apenas lamentando a banana frita frustrada daquele dia.Não
sei,ainda não era três horas e tudo o que sabia era que tomariamos
aquele café,uma vez que já era uma tradição beber café as três
da tarde todo dia,aqui em casa.Me lembro de tardes passadas quando
passavamos contando estórias um pro outro,e falando sobre coisas
diversas como o que gostavamos,filmes de terror e casos de fantasmas
que pareciam infestar a casa e que deixaram seu rastro no passado dos
dias da família nas diversas casas em que haviamos morado,nômades
que eramos.
A
chuva parou e fui comprar as bananas,voltei e as entreguei á mamãe
que logo se pos a fritá-las.
Logo
veio o café e comemos o pão com as bananas fritas,mas mamãe se
encontrava sob um animo terrível e eu não quis falar muito com
ela.Agora ela se encontra dormindo no sofá da sala,e eu resolvi que
iria me deitar e ficar matutando um pouco na cama.
Chove
lá fora.É uma tarde chuvosa onde os carros passam na rua levantando
um aguaceiro fenomenal.No casarão,o professor jaz,pensando sobre o
que vai fazer em seguida para influenciar a
família.Ressucitado,fantasmagórico e tétrico.Talvez ficará lá
para sempre,tentando armar uma de suas falcatruas para emocionar
mamãe que viveu com ele,mas duvido muito.Talvez volte a ser
esquecido por uma turma de mente relapsa e sem noção de nada á não
ser de viver uma vida nula e sem sentido.Eu aqui da minha parte
lutando para ser um escritor de sucesso.Se algo der certo desta
maneira,espero que possa aproveitar mas duvido muito,o que creio que
vá acontecer é cada um se entocar e se fechar,sem sinal nenhum para
que suas mentes voltem a funcionar direito.
Enquanto
isso a vida segue,estragada,para nunca mais voltar…
Mas
quem diria que um dia existiria o casarão.Lar da família do
professor Menescal Malheiros filho,que para lá foi morar depois de
sua morte,em 1983.
Casa
de madeira,á mercẽ da chuva e do vento,da névoa que o envolvia a
noite,e das madrugadas gélidas de inverno.Das tardes quentes de
verão quem não se lembra?Quando o menino da família lá corria em
brincadeiras mil,de quando a família nele morou,andando por seu
assoalho,abrindo e fechando suas portas,da criatura que vivia em seu
forro controlando a vida da família,dos moveis que nele foram
postos,o casarão foi parte da história blumenauense por um bom
tempo até ser abandonado em 1992,e ficar alguns anos a mercẽ dos
ratos,encoberto por mato,até ser demolido algum tempo depois.Em
seguida,fez falta,para seus moradores agora lá em Curitiba,cativados
pela vida na cidade grande e hoje perdidos com suas mentes a
deriva,sem saber o que fazer,não podendo voltar a viver uma vida que
não volta mais.Perdido num trecho da rua Gustavo Mayer,ele hoje mora
na lembrança dos que nele viveram principalmente este que o descreve
com palavras tão apaixonadas,lembrando um tempo que não volta
mais,uma época gostosa que jamais vai ser vivida de novo.Uma
sensação de vazio e sem palavras que descrevam a saudade do que
passou dos dias em
que
lá vivi,de cada dia cada brincadeira que lá brinquei,só sua
lembrança já causa uma sensação tão gostosa que não tenho
palavras para descrevê-la.Só mesmo conversando sobre ele,o
casarão,aquela velha casa onde morei,com seu sofá creme e sua
televisão antiga,a mesinha,as camas dos rapazes,Sandro e George e o
pequeno James,eu,a tanto tempo atrás,minha mãe,o pão com doce e
café com leite que tomava de manhã cedo,a cozinha onde ficava o
poço no assoalho,o banheiro fora de casa,o rancho e o galinheiro,a
sala grande com seus livros misteriosos,as viagens que faziamos,tudo
hoje parece uma lembrança triste de algo que não volta mais,de algo
que se perdeu para sempre na vida da família,o sonho de conseguir
dinheiro,de escrever um livro,que meus irmãos alimentavam quando
nele,enfim o casarão.
Hoje
apenas fictício e existente apenas na mente dos filhos do
professor,abriga o fantasma do mesmo numa outra dimensão,a dimensão
dos sonhos onde as pessoas entram para sonhar e tentar ao menos se
sentirem menos desagradáveis do que são nesse mundo,um mundo de dor
e sofrimento de uma luta que a família já não está mais
aguentando.
Hoje
acordamos do sonho e vivemos uma vida sem graça e
desgostosa,esperando que algo mude e que tudo tome seu rumo outra
vez,como se algo estivesse para acontecer,mas esse algo nunca
acontece.Se eu pudesse publicar algo e iniciar minha carreira de
escritor talvez tudo mudasse,talvez esse clima de marasmo acabasse e
o sonho voltasse a reinar nas mentes dos filhos do professor Menescal
e de sua esposa.Enfim,eu esperava ansiosamente pelo início de minha
carreira.
Mas
esse dia chegaria eu tinha certeza,entrementes tinha que seguir
sonhando ,lutando para que algum dia alguém reconhecesse meu
estilo,e me desse uma chance no mundo da ficção.
Minha
vida é tão complicada quanto a curva de Hawking,quanto um cálculo
de Albert Einstein,e começo á pensar sériamente se isso já não
está começando á passar dos limites.E ainda querem que eu
trabalhe!Nossa,vejam só.Tudo isso é algo tão confuso que creio que
deva mudar de vida rapidamente,pois tenho medo de continuar á viver
essa vida.Talvez mudar,sempre se renovar.Talvez seja exatamente o que
eu deva fazer,me encontrar sempre recomeçando.
Ainda
assim pretendo escrever,por para fora toda essa teia de pensamentos
confusos que enchem minha mente,me abrir com Deus e esperar uma
resposta.Mas tudo isso é tão estranho que creio que deva estudar o
que deva fazer e colocar em prática meu plano de uma vez por
todas,sair de uma vez por todas dessa estranha dimensão de
sonhos,essa outra dimensão.Talvez falte conversar com minha
família,e pensar num jeito de sair dessa rotina assustadora e
resolver de uma vez por todas meus problemas. Eu só sei que tudo
isso me assusta.E a única coisa que posso fazer para resolver isso
tudo é botando para fora,tudo o que me assusta e meus maiores
medos.Talvez eu deva fazer isso todo dia,pois sei que tudo o que
temos aqui é uma belissima estória de horror.Mas sei de uma coisa
que devo começar a fazer logo ou tudo estará perdido e essa coisa é
ajudar minha família,mas sei que para ajudar minha família
precisarei primeiramente ajudar á mim mesmo.Talvez faça sentido.
Agora
é noite.
Mais
uma noite na vida de James S. Malheiros…
Me
viro no sofá,estou me sentindo bem.
É
noite,hora dos vampiros do sangue de monstros ,momento em que
sentamos para escrever estas estórias como se o vento fosse nosso
amigo mas guardasse um certo rancor por também termos nossa
vida.Simplesmente viver é o que busco.Se quer fazer o mesmo,venha
comigo e sinta na pele essa emoção.Não tenha medo,deixe-se levar
por seus poderes e adentre esse universo carnal como que imbuido por
algum amuleto da sorte que o faça se sentir leve e pesado ao mesmo
tempo,num clima que só ela pode nos mostrar.
Evelin
é que era mulher de verdade,gordinha de vestido,cabelos negros
encaracolados,olhinhos puxados,satisfazia minhas vontades.Com sua
bucetinha peluda,era um espetáculo,quando chegava na biblioteca e ia
até a seção de livros do Stephen King,caminhando com aquele jeito
de gata,observando.
O
clima era sufocante.O ambiente,pesado,contrastava com o excelente
repertório de livros que tinhamos a nossa disposição,com
precisão,lia um deles,estático,estourando de puro extase como se a
tarde fosse uma criança.Eu vou atrás,de calça jeans e camisa
social,o cabelo esvoaçante,a barba feita o rosto liso,o sapato com o
calcanhar de couro,e sumo na fileira de livros que ela entrou.Mas
paro,estupefato,ao ver que Evelin sumiu,no meio das prateleiras.
Situação
descabida,acontecimento recente mas antigo ao mesmo tempo,uma estória
que um dia alguém escreveu,um clássico da literatura
underground,vejo que essa vida esbarra na metade podre da maçã
quando descubro que meu sonho desapareceu e que nada mais resta.É
como se algo estivesse acontecendo.Mas ela está lá,e a vejo,me
chamando.
Não,o
sonho não acabou,vou e a sigo até chegar nela,que me chama com o
dedo.
E
eis que acontece,eu passo através dela sem a tocar,esbarrando num
canto da parede da biblioteca.
Mas
aí é que está,vou ou não vou,entro ou não entro,saio ou não
saio,mas parece que é reciproco,ela também não me toca,se sentindo
frustrada e diz que não gostou.Queria me sentir,me tocar,ter prazer
comigo.E eis que descubro,Evelin somos apenas fantasmas.
É
sempre bom recomeçar.Ter sempre aquele sinal para reacordarmos e
seguirmos em frente ou a coisa pode ficar preta.Me sentia confuso
então,e sem noção,e isso fez-me desaparecer da face da terra de
vergonha de ter sido um adolescente relapso e perdido.
Mas
agora era tarde demais,e só queria curtir.Ela para olha para mim com
aquele olhar,pega um livro na mão e o abre fazendo de conta que o
lê.Está de saco cheio inclusive.
Vivi
como um zumbi até os 33 anos quando começaram as crises de
tremedeira,e isso me deixava de cabelo em pé.Só queria me
reanimar,sair daquele estresse que tinha em minha vida,e ir para o
centro tinha me feito bem.O festim na biblioteca estava apenas
começando.
Continuei
lendo o livro,mas desta vez após ir para a sala de leitura e me
sentar num banco.
Evelin
sumiu em pleno ar,após virar fumaça,peguei um livro do Stephen King
e fui ler na sala de leitura.Mas sabia que ela estava lá,que seu
fantasma estava lá,e que só eu podia vê-lo.
Ela
foi tudo o que tive durante um tempo.O musgo do matinho do canto da
estrada dizia que nós haviamos nascido um para o outro e que eu iria
me casar com ela,ia ter um filho com ela,namoramos agora sim,na
escola e ela costumava conversar muito comigo.Fazia
planos,descabidos,falava sobre sua mãe e de como ela queria me
conhecer.Quase a conheci de perto uma vez no terminal do
Costeira,quando morava lá com minha família.
Eu
a queria e sabia que ela também me queria.Eu queria beijar seu
narizinho,mas tudo teve fim um dia quando ela apareceu do lado de um
negão e falando que não gostava mais de mim.
Para
você ver como as coisas ficaram loucas.
Cuidado
para não se perder,isso pode trazer maus espíritos mas desabafar
depois é necessário.Quando tudo mais já não importa,tudo o que
importa é ficar escrevendo estas bobagens e sentimentalidades sem
que o tempo passe ou que você o veja passando.Na verdade é melhor
desabafar e por para fora seus sentimentos mais profundos e intimos
do que ficar segurando e alimentando esse monstro que existe em sua
mente e que está prestes a pegá-lo.Porque ele está apenas lá em
sua mente e não no ar como muitos dizem.Não acredito em espíritos
mas em mentes e se existe transmissão de pensamento ou se alguém é
capaz de comandar o outro através de pensamento daí sim eu ficaria
assustado pois sua mente é um computador a ser programado apenas
isso,não existe essa coisa de espírito e me nego a acreditar nessas
bobagens.
O
que existe é o bom underground e isso ninguém pode negar.
Mas
o que me acomete que me faz sentir esse estranho mal-estar?Talvez o
sentido oculto das coisas ou o medo puro de aprender coisas que o
façam mal,ou de que há uma ordem para tudo e que essa ordem esteja
contra você.Já cheguei á passar por isso tudo e posso dizer é
desagradável.
Mas
mais desagradável é o ataque do nosso subconsciente que quando
surge surge para ferrar.
Eu
não quero sentir isso,eu quero namorar uma japonesa de jaqueta jeans
,eu queria namorar a Evelin,antes dela dizer que não gostava mais de
mim.Agora que não gosta,quero namorar a japonesa de jaqueta
jeans.Mas ela também se foi e agora não quero namorar mais
ninguém,depois de tantas namoradas que já tive.Cansou e nem tudo é
namorar.Coisas importantes também.
Mas
muitas vezes as coisas podem ficar assustadoras e tudo o que você
quer fazer é brincar.
Aonde
eu estava com a cabeça meu Deus que eu queria vir aqui?Eu preferia e
deveria estar em minha cama agora,enrolado num cobertor bem
quente,tentando dormir enquanto a noite vem chegando e nos envolve
com seu manto sagrado e nos acolhe para que digamos sim ao
underground e desabafemos com quem quer que seja seus medos mais
profundos e seus segredos mais intimos,que devem estar guardados lá
já á algum tempo para você parar e me olhar com esta cara.Esta
cara deslavada e me dizer,ok eu sei o que você está passando eu
entendo você.
George
é assim.Ele sempre é quem me escuta quando estou mal e muitas vezes
chorei em sua presença,falando de coisas que me assustavam.Sei que
homem não chora,mas esses sonhos são de amargar eu posso afirmar
com toda a certeza de minha alma.Os sonhos dos quais me refiro aqui
são talvez a pior coisa que um ser humano pode passar em matéria de
sofrimento em sua vida ou na vida de qualquer um que possa parar e
dizer o que é sofrer nessa vida.É péssimo,é um martírio no qual
você se afunda e não consegue sair dele,nem com a ajuda de um bom
psicologo pois aquilo fica incrustado em você,e nem toda a sacanagem
do mundo pode ou é capaz de faze-lo parar dar risada e se divertir
um pouco pois é péssimo,é extremamente extenuante.
Por
isso digo,cuide-se pois o sofrimento está aí e prestes a
encarcerá-lo,carcome-lo vivo enquanto você puder dizer que é
alguém nessa vida,pois á partir de um tempo tudo fica tão ruim que
você se vẽ encurralado e acaba desistindo de muita coisa em sua
vida.Eu desisti por ter medo mesmo.Parei de trabalhar por achar que
era mais facil ficar com minha família do que arrumar um emprego.Mas
então vieram as tremedeiras e tudo piorou.Agora acumulo um problema
que vai além do imaginado e só anseio por desabafar e curtir um
pouco do que pode vir a ser esse tal de underground.
Escrever
tornou-se minha valvula de escape.Agora escrevo para desabafar.
Agora
chove lá fora.Agora é melhor ir dormir.
Acordo
para sair para fazer compras com George.Estamos precisando de algumas
coisas e temos algum dinheiro.A rua parece fria como a Sibéria,o
chão desagradável,o cachorro deixa-nos um presentinho,um montinho
de fezes que observo enojado.
Mas
agora era tempo de pensar,de matutar sobre o que ocorrera até aqui
para o bem de minha carreira como escritor.Para começar,para que sai
tanto?Por que não permaneci em casa dormindo ao invés de ficar
saindo e saindo e apenas piorando minha situação mental,com tantos
acontecimentos?
Tudo
isso são coisas que fizeram parte de minha vida nos ultimos tempos e
que mexeram com minha mente.Parecia que minha vida havia entrado num
turbilhão e que eu não ia mais conseguir sair dele tão cedo.Afinal
para que isso tudo?Será que eu tinha tanta culpa assim que deveria
me ocupar apenas com pesadelos?Ou será que minha vida havia se
transformado num filme de terror?Acho que isso seria mais
plausível,mais fácil de se explicar.Mas afinal,eu merecia aquilo?
Não,ninguém
merece.Mas se fossemos ver tudo de ruim que já aconteceu até
aqui,teceriamos uma teia enorme.É um mundo cão,é uma vida cruel e
vocês sabem disso.Por isso é melhor se acostumar e por para fora
seus piores pesadelos.Eu punha,escrevendo.E resolvia,como pudera ver
na noite anterior quando conversara com George sobre minha carreira
de escritor.Mas faltava desnovelar os acontecimentos melhor e chegar
ao amago dos fatos.
Em
minha mente,faziam aquilo para me prejudicar,mas quem?Ficava a
pergunta.Não havia ninguém na casa além de mim e minha família,ou
seria alguma obra de macumba?Talvez.
Mas
tudo o que importava era que aquilo tinha passado e eu tinha
simplesmente que tirar aquilo da cabeça.chega,vou passar a descansar
mais,ficar matutando mais nas coisas e ensinar minha família a arte
da conversação,se bem que até eu estou aprendendo isso ainda.As
vezes acho que sou um estupido que não consigo falar nas coisas que
me interessam mas isso não é bom.Isso é algo que só vem a piorar
minha situação e isso é algo que não queremos.
Mas
o que importava era que agora estava conseguindo parar e observar
minha vida de novo.E isso era bom.Como antes como nos velhos
tempos,mas era perigoso pois eu sentia uma sensação desagradável
em pensar no assunto e não queria nem saber.Ia continuar matutando
até chegar á uma solução.Minha doença não tinha cura,isso eu
teria que me acostumar e lutar para continuar vivendo,
mesmo
com sua presença,isso não tinha dúvidas,conseguir dinheiro ia ser
difícil,uma vez que seria arduo vender contos para alguma
revista.Eles não estavam respondendo nem o primeiro.Talvez se eu
mandasse mais e-mails,mas isso era algo que eu tinha que resolver não
podia deixar minha carreira de escritor passar em branco.Isso eu já
estava resolvendo,primeiramente essas eram as questões que me
afetavam no momento.O resto era o resto.O resto era algo que eu teria
de resolver com o tempo.Mas havia mais perguntas que me
assolavam,como viver a vida?Como resolver os problemas?E essas eram
perguntas um pouco mais difíceis de responder do que estas.Só o que
sabia era que nascera em 1982,e que agora estava na idade de resolver
seus problemas,mesmo que em família.Não,os contos seriam vendidos
eu sabia que algum dia seriam vendidos!E seriam logo!
Quanto
á minha vida havia pouco a se fazer,senão ficar deitado aqui
sonhando em ser um escritor.
Não
tinha dinheiro para sair todo dia,ir na biblioteca ler Stephen
King,quem sabe namorar em algum canto,ir em alguma lanchonete fazer
um lanche bem gostoso.Não havia possibilidade de se fazer isso todo
dia,por isso devia aproveitar as raras oportunidades em que podia
sair mas dormir num canto ou ficar matutando também era
agradável.Mas não era tudo.
No
farol não havia nada de importante,senão livros chatos e pessoas
acessando os computadores,por isso eu podia esquecer.Jamais ia entrar
uma Evelin no farol e consultar o doutor Google.Jamais.
Ainda
por cima meu medo de errar era contundente e me assolava á todo
momento,Eu devia acabar com aquilo e era escrevendo.Agora eu seria um
escritor.Eu devia agir como tal,me sentir como tal,e não ficar com
medo e assustado como um frangote maricas,eu devia me mexer!
Mas
ficar dormindo e matutando era a opção mais agradável á se
escolher naquele momento.E foi a que eu escolhi.
Não
acredito no demônio assim como em qualquer espécie de espírito.São
mentiras que são postas em nossas mente para explicar coisas fúteis
como o mal e outras inutilidades.O mal está na cabeça do ser humano
assim como o demônio e outros espíritos.Assistimos um filme de
terror e em certo trecho de nossas vidas ele vem a aparecer.Pois eu
não acredito nestas coisas e digo mais,são fruto de nossa
imaginação,delirios e subconsciente.Só acredito na mente e em suas
delirantes possibilidades.É muito fácil ser pego por nosso
subconsciente,ele está de vez em quando senão sempre presente
apenas esperando para nos atacar com seus delirios e coisas sem
utilidade senão para nos causar mal e sofrimento.O corpo é neutro e
não segura nenhum espírito,apenas se move e vive,existindo em nosso
todo.Não acredito que um espírito possa vir e dominá-lo causando
alguma coisa ou algum mal.Repito,o mal vem de nossas mentes e está
nelas.Não existem espíritos.Apenas o ar puro onde eles dizem
estarem,mas eles não existem e nenhuma nuvem pode trazer espíritos
ou pensamentos,eu repito,eles estão em nossas mentes e são criados
por um desvio,um erro em alguma parte de nosso pensamento.As vezes
por doenças,onde nossa mente fantasia coisas para explicar o mal que
sofremos ou que estamos passando.
Por
exemplo,sempre que tenho alucinações,elas se transformam em
estórias que divagam e vão longe explicando coisas que simplesmente
não existem.Talvez minha imaginação tomando conta da
situação,coisa que só vem a trazer mais delírio.Sempre que a
crise da doença passa,as estórias acabam,mas aí é tarde,já fomos
longe demais.Acredito no subconsciente,e no fato de nossa mente
fantasiar sobre nossas doenças para contar estórias para ilustrar
de forma que não deveria ser penosa mas é,de uma forma assustadora
uma crise que está se dando com nosso organismo.Mas é apenas nosso
organismo e as estórias vem de nossa imaginação,que as vezes pode
ser fertil demais e gerar coisas desagradáveis.
As
minhas crises da doença quando se dão,se dão de forma que ilustram
com estórias uma dor que está se dando em meu cérebro mas minha
mente não pode compreender.Por isso cria estórias.E uma das
estórias são as nuvens ruins,uma lenda de que maus pensamentos vem
com nuvens espirituais que vem de um lado para outro na Terra e isso
é errôneo.Não existem tais nuvens e eu já sei disso,mas durante
minhas estórias já foi tão real que pensei que iria
enlouquecer.Simplesmente porque é a palavra e a palavra descreve
tudo,assim sendo a própria palavra é inexoravel para minha mente e
tudo o que faz sentido naquele instante é a estória que está sendo
contada.Pois são apenas estórias criadas por nossa imaginação,como
os contos que escrevo,alguns baseados em fatos reais,alguns não,mas
ainda assim apenas estórias,criadas para divertir-nos.Pois essas
estórias não divertem mas fazem sofrer enquanto estão sendo
contadas são as chamadas estórias de terror.Que são de terror,que
causam terror e assustam.
A
noite é meu principal passatempo,mas não acredito em fantasmas.
E
fico assim,pensando na noite,absorvendo-a,tendo essas fantasias que
vão alem de minha compreensão,Evelin,meu antigo amor,guria que
gostei durante certo tempo,eu a imagino em meus braços,dormindo
enquanto pensamos no que vamos fazer amanhã,no que vamos fazer para
comer hoje á noite,esta noite mortal de vampiros que não me
afetam,mas que gosto de escrever a respeito.
E
assim vou levando a vida,degustando a noite como se ela fosse uma
garrafa de vinho,curtindo fantasias como se essa vida fosse nada mais
do que uma brincadeira.
Penso
na noite e em como ela me anima,me inspira a escrever estas palavras
que vão surgindo em minha mente e eu vou simplesmente registrando
nestes anais do inferno,nesses escritos inocentes,que vão sendo
escritos de maneira direta e precisa,como se a noite não fosse nada
mais do que algo a ser aproveitado,um sanduiche,uma torta de
frango,um copo de suco,de café expresso quente com leite.
Eles
plantaram o milharal ali na esquina,eles estão querendo transformar
isso aqui numa Blumenau,mesmo que de a impressão de que eles saibam
do que estou pensando mas ao mesmo tempo não,mas não,é demais
devem estar tentando fazer algo com a região,criar um clima,como se
querendo transformar a rua numa rua Gustavo Mayer,numa loucura onde a
casa do Dai,onde havia o milharal é a base para um trecho dessa
mesma rua,como se querendo fazer uma espécie de maquete para que nós
os bonecos vivamos melhor ou de acordo com o que se vivia em
Blumenau.Nossa,estou delirando,mas é tudo o que posso dizer do que
penso a respeito dessa rua,uma rua suja,vazia e podre,pútrida,a rua
Dois vizinhos,onde ninguém conversa,só vive uma vida que só faz
sentido para cada um mas que nada significa no seu conjunto,talvez a
vida que eu queira mas não é nada disso que eu quero,eu queria
viver como em Blumenau onde era tudo perto uma coisa da outra e tudo
fazia mais sentido se é que eu sabia o que fazia sentido
então,apenas uma criança.
É
como se numa fantasia de minha mente eu soubesse o que pensam esses
homens que plantaram o milharal e posso ver eles indo embora,em minha
mente,espero que vão mesmo,já estão se tornando
desagradáveis.Agora me sinto desagradável,mal como se algo
estivesse me deixando cansado e sufocado
com
os acontecimentos,sempre algo para comprar ou dinheiro para gastar ou
receber.Cartão débito,dinheiro vivo,que não sei daonde surge,estou
farto disso.Talvez seja demais mas gostaria de saber daonde o
dinheiro surge,eu sei claro do dinheiro da aposentadoria de George e
da mãe,mas isso já está começandop a ficar desagradável.É
melhor esquecer e viver em família,sem saber de onde vem o dinheiro
pois eu poderia nem querer saber.É isso o que estou passando aqui
nessa casa,em minha vida e isso tudo não passa de uma história de
ficção mas de verdade e romanceada ao mesmo tempo.Uma estória
maluca que um dia alguém contou como que sufocado,se sentindo mal.As
vezes acho que essa vida de escritor não vai dar pé e esqueço
tudo,me abandono em pensamentos de underground sonho em publicar uma
revista de literatura e vender por conta própria coisas do
genero,mas não é bom,mas posso dizer que minha carreira não tem
futuro.Talvez não seja apenas mais um fracassado perdido na
cidade,escrevendo esta ficção barata,como um possesso,martelando
essa máquina de escrever que é essa parafernalha ,como que
aguardando por alguma fama,hah,não vou ter nenhuma.Deveria desistir
e ir ajudar minha mãe,fazer algo útil e é isso o que faço,isso o
que sempre fiz,até aqui.Já estou farto de ser um escritor que se
saiu por doente num jornaleco de bosta,droga tambem.Que matéria
estranha aquela.Esperava nunca ter saido em matéria nenhuma,só fui
humilhado,George falou em ganhar verdinhas quando a matéria saiu,mas
até agora não vi a cor do dinheiro.Ser escritor é difícil quando
não se tem editora e isso eu posso garantir,droga,também.Talvez se
eu parasse de me cansar á toa e fosse descansar,dormir um pouco,está
frio e eu não quero fazer mais nada.
Enfim,Evelin
ficou em minha mente,e a lembro num devaneio sobre meu passeio na
biblioteca e escrevo sobre o que passei depois de vir da mesma.Talvez
tudo tenha se dado depois que a conheci,minha única namorada,que
encontrei num colégio maldito.Agora chega,pois estou farto de
escrever sobre namoradas e estas coisas que não estou nem um pouco á
fim de escrever.
Eu
gosto de mim mesmo.Gosto de minha sobrancelha,de como meu rosto é
comprido,de minhas diferentes imagens no espelho,gosto inclusive do
modo como minha maxila é levemente torta para a frente,tudo isso
junto me faz uma criatura da qual gosto e não faço distinção
nenhuma.Mas parece que estou virando uma máquina.Minha vida já não
tem graça,não saio mais como saia antigamente,e meus amigos se
foram.Juliano,ao menos,meu único grande amigo do passado.Ele se foi
assim como tudo que é bom em minha vida,agora batuco essa máquina
de escrever que faz um barulho samongo e idiota quando a digito,e
costumo passar os dias dormindo no quarto onde costumava passar mal
no passado.Esse passado passou,um passado de fantasmas que me leva a
crer que já estive no inferno e voltei.São essas crises
existenciais que me levam a escrever,aguardando o momento em que
minha vida possa vir a tomar um rumo melhor.
Mas
é essa frustração que me acomete,e que não me deixa
dormir,fazendo me sofrer o dia inteiro e fazendo com que o único
momento agradável de minha vida sejam as noites que passo
dormindo,ou as vezes acordado,na cama,pensando em coisas agradáveis
ou sonhando com a melhor parte de minha vida,que deve existir,é
impossível,ela não pode estar tão escondida assim dentro de mim
que seja impossível de encontrá-la.Tem que haver um modo de atingir
essa parte escondida e oculta dentro de minha mente dentro de meu ser
que me faça me sentir bem pelo menos um pouco,pelo menos por um
momento de minha vida extasiante e desagradável.
Hoje
me senti bem comendo pão com maionese,mas a maionese não era da
marca Hellmans e o pão não era aquele pão de fatia macia e larga
que mamãe costumava fazer no passado.As vezes me pergunto por que
as pessoas sofrem tanto tentando procurar insistentemente por aquele
sentido em suas vidas que simplesmente não há a necessidade de
existir,digo,o sentido há,mas não há é a necessidade de tantas
palavras e já estou tão aflito e mal que estou começando a sentir
a existencia de um ridículo complô contra mim,complô esse que acho
eu e tenho quase certeza nunca existiu.
Não
é complô nenhum sou eu mesmo que estou mal e colocando a culpa nos
outros.
Os
outros?Eu não estou nem aí para os outros senão para minha
família.Quero dizer tenho um total respeito pelo ser humano mas não
acredito que haja ninguém por ai com personalidade tão pura ou
marcante que possa ter como amigo e considerar como pessoa.São todos
dejavu.Para mim são tudo o que são e o que me causam.Mas fico por
aqui mesmo nesta noite de terror,esperando que o clima mude enquanto
vejo mais um dia se esvair na ampulheta do tempo.
Quem
sabe chova á noite e amanhã ninguém se acorde com vontade de
encontrar ninguém que não seja conhecido,quem sabe tudo recomece
melhor um dia para nós,e saiamos desse pantano de indiferença e
mediocridade em que nos encontramos submersos,como palhaços
assassinos que fazem grandes filmes de terror e meninos que ganhem
máquinas de escrever e comecem na arte de decifrar e criar palavras
como eu comecei.Quem sabe carros ganhem vida,cães sejam possuídos e
criaturas sobrevivam dentro de forros controlando as mentes daqueles
que moram nas casas.Quem sabe tudo se misture e dê um grande
espetáculo onde a farra é o que conta,e o terror faça sucesso ao
inves de toda essa frustração…
Agora
nada é como eu quero,agora a casa não é de madeira,agora
pensamentos vagam por minha mente e me traem como se soltos por minha
imaginação,se é que ainda tenho uma.Agora me sinto mal e penando
num mundo de indiferença que chega as raias do inimaginável.
Talvez
se eu fizesse alguma loucura ,para o bem.Se desse uma
viajada,enchesse a cara de alguma coisa que me fizesse me sentir
realmente de bem com a vida,se mudasse de alguma forma.Mas parece que
estão todos desconfiados e a desconfiança é tão grande que
resolvi largar todo mundo e viajar num mundo só meu.O mundo da
família,o mundo do meu povo.
Talvez
se…
Não
sei o que fazer.Parece que agora abri uma cova que apenas o Mal em
pessoa pode fechar,e eles estão me chamando,para desistir,para
voltar a ser aquele James de antes,perdido em divagações mas será
que é só isso?Será que é para isso que nasci?Para viver perdido e
relapso?Para desistir de tudo?
Mas
desistir de que,James?Essa é a grande pergunta.
Talvez
seja só impressão,talvez seja apenas um pesadelo no qual me
afundei,apenas por querer saber da verdade,talvez seja apenas…
Frustração.
VISITA
A CASA DA VÓ MARIA
Blumenau
1989
Mama
George e eu iamos subindo a rua da casa da vó Maria.Era a casa em
que morava a tia Ilze junto.A cada passo ia ficando para tras a
lembrança de uma época distante que se foi,o tempo da
discoteca,quando as coisas não tinham chegado ao que chegaram
atualmente neste mundo desagradável e hostil.A cada passo ficavam
para trás os anos oitenta,e a promessa de um mundo melhor para
todos,de festa e carnaval,do cruzeiro e dos filmes de terror que eu
tanto gostava de assistir lá em casa a noite,com a família,na sala
do casarão,onde moramos na rua Gustavo Mayer.A cada passo,ficava
para trás a história da família que ia sendo esquecida com o
passar dos anos assim como tudo chegou a um fim derradeiro quando
George ficou doente de vez e se aposentou,Sandro foi embora morar
sozinho,e a família acabou,mas não podia,a família simplesmente
não podia chegar a um fim dessa maneira,e não chegaria,a cada passo
não não,não quero nem lembrar o que aconteceu depois,quando eu me
alienei e cai numa existencia relapsa mas eu não tinha culpa,eu nem
mesmo sabia o que viria pela frente,eu nem desconfiava que um dia
iria me perder no tempo e espaço e cometer tais estupidezas,quando
briguei com meus irmãos.A cada passo que davamos meu coração se
partia como que sabendo do fim derradeiro mas esse não podia ser o
fim,apenas não podia ser o fim.A cada passo que davamos subiamos
mais em direção a casa da vó Maria,onde comeriamos e beberiamos e
conversariamos com ela mesma,Maria Schiphorst,a mãe de minha mãe.
E
lá estava ela esperando na porta.
-Oi,Neca,oi
George,vamos tragam o James,eu acabei de fazer pão!
Logo,Mama
adentrou a entrada de concreto da casa da vó Maria nos anos
oitenta,uma construção humilde mas acolhedora,que ela mantinha
sozinha,com o dinheiro do falecido marido o vô Leonardo.Dali a pouco
comeriam pão com café e logo tudo estaria bem.A vó contaria as
últimas novidades que vira na televisão e no mercado Muller onde
havia ido fazer compra.Aquele era um mercado que ela gostava de ir
fazer compras pois achava acolhedor e bom e o preço dos produtos era
razoavel,ao inves do Nelson Krueger,mais para cima na rua Rui
Barbosa.
Como
era muito novo,não queria conversar com ninguém e estava mais
interessado em explorar os barrancos da vizinhança por isso fiquei
do lado de fora jogando pedras do morro abaixo,ao invés de entrar na
casa da vó Maria e conversar,as vezes me arrependo de não ter
entrado e conversado mas era assim que era.As vezes sinto falta de
participar da família mais,uma vez que sempre quis ir alem e fazer
minhas coisas mas hoje sinto falta dos outros e isso é evidente no
jeito copmo ajo,sempre a procura de alguém para conversar,quando
posso.
-O
George ainda está trabalhando na Jota? - perguntou vovó,pegando o
bule de café ainda quente.
-Sim,ele
vai receber agora final do mês. - respondeu mamãe.
-É,mas
eu estava pensando em sair da Jota,vó.Ganha muito pouco.E eu estava
pensando em ir morar com a mãe em Curitiba.
-É,essa
é uma idéia que também já me passou pela cabeça. - disse vovó.
- Que vocês podiam muito bem se mudar lá da Gustavo Mayer.
-É
nos estamos com essa idéia na cabeça,é só o Jamie terminar de
estudar na quarta s[érie,que a gente se arranca para Curitiba.
Agora
vovó pegava o pão e colocava sobre a mesa,embrulhado num pano
colorido que ela guardava e que havia comprado há muito tempo,ainda
lá no morro dso Hadlich.Vovó guardava muitas coisas do passado
inclusive roupas do tempo em que o vô Leonardo se suicidou na casa
da rua Rui Barbosa.Fora um tempo difícil,com a morte do vô Leonardo
tudo mudara para a vó Maria.Ela arrumara tudo e deixara de ser
aquela velhinha calma para ser mais bondosa e triste.Mas mesmo assim
continuava simpática e acolhedora com o coração grande e bondoso
como sempre.
Agora
pegava a grande faca de cortar e pão e fatiava o pão para servir
para as visitas sua filha Bernadete e seu neto George Hilton
Malheiros.Os anos oitenta estavam no seu fim,era o ano de 1989,e tudo
ia indo como sempre para os Malheiros,os filhos trabalhavam,a mãe
trabalhava o filho mais novo estudava,e é com lágrimas nos olhos
hoje que me recordo daquele tempo,mão sei bem se a data procede mas
foram tempos gloriosos para a família,quando a geração de filhos
começava a ser criada.Quando começavam a trabalhar e a terem suas
vidas como pessoas como gente.
Foi
quando George e Sandro começaram a trabalhar quando eu comecei a
estudar,aqueles foram realmente tempos gloriosos para a família,não
só como pessoas mas tambem como indivíduos.
Na
televisão,enquanto escrevo estas linhas começa a tocar a canção
“Fernando” do grupo norte-americano ABBA.E eu me emociono
lembrando a conversa com a vó Maria e suas maravilhas culinárias e
da casa.E a música vai tocando e se arrastando quebrando meu
coração,e o fazendo em pedaços,e me lembro daqueles dias de sol
como uma coisa brilhante na história de minha vida.
Talvez
o melhor do que aconteceu em toda a minha vida.Aquele tempo,aqueles
anos,para todos.
-E
tu vê que é o apice da vida da Tata,em Curitiba.Assim como lá é
bom de conseguir emprego pros teus filhos.Lá tem mais chance de
subir na vida.
-É
eu já tinha visto isso.Quem sabe se tudo der certo um dia a gente se
muda pra lá. - respondeu minha mãe,sorrindo enquanto pegava a
colher do açúcar para adoçar o café.
--E
como vai o Serafim? - inquire a vó Maria.
Lá
fora,os pássaros passam em revoada.Um ônibus passa na rua deserta
lá embaixo na rua Rui Barbosa,rumo ao centro.
-Vai
bem,está trabalhando,como sempre. - diz mamãe,cortando o pão,uma
fatia para ela e uma para George...ela serve.George só olhava,com a
xícara de café a sua frente,sem falar nada.
-A
vó não se incomoda,está bem vó? - exclama George,sério,mas
descontraído ao mesmo tempo.
O
clima seco do dia agora ia dando lugar á tarde que também ia se
indo,como numa parte perdida do dia,onde nada tem muita importância.
A
conversa se vai tarde afora.
-E
a Naide,ainda está lá em Indaial? - mamãe pergunta sorvendo um
gole de café.
Depois
morde um pedaço do pão e o mastiga,comendo-o.
-Essa
vai morar para sempre naquele fim de mundo.Não tem jeito. - diz vovó
Maria,comendo olhando para mamãe.George pega na xícara e sorve um
gole de café preto doce.Depois se levanta e vai até a janela,ver
onde estou,se fui longe.Não come pão,só bebe café.
-Não
vai se sentar,George? - pergunta mamãe.George responde que não e
observa a rua lá fora pela janela,a mão na cortina.
Eu
brinco no barranco tentando escalá-lo,a única coisa que tive em
mente de fazer,naquela tarde de calor na cidade de Blumenau.Na
verdade era tudo o que eu queria fazer,não queria conversar e sinto
muito por ter feito isso naquela época de ter sido tão relapso mas
estava vivendo um sonho então e nem reparei no que estava
fazendo.Hoje em dia uma embolação no estômago me acomete,só de
pensar em tudo o que estou perdendo aqui,sem conversar com minha
família,mas preciso escrever esse conto,e terminá-lo,ou minha
carreira de escritor vai pelo buraco.
Pesadelos
na noite,coisas que nem quero contar aqui,mas sei que havia algo de
errado depois daquela conversa e durante ela,eu sabia que havia um
fim para aquilo tudo e não seria um final feliz.Vovó Maria parecia
passar algo que me deixava preocupado mesmo tendo só sete anos,e
sendo apenas um garoto mas começava a pairar no ar o boato de que a
vó Maria estava começando a desenvolver cancer,infelizmente.Estava
posto no ar o rumor de algo triste que fazia menção ao fim de um
sonho para a família,não só para os Schiphorst que perderam seu
Leonardo para o suicídio,depois de também ter passado por um
doloroso cancer,mas agora tambem a vó Maria começava a espraiar ao
redor que possuia a mesma doença do marido,que agora descansava a
sete palmos de profundidade.Ninguém falou nada aquele
dia,conversamos e fomos para casa,mas sabia que havia algo no ar.
E
a noticia veio anos depois seguida de um doloroso tratamento que
despedaçou a vida de vó Maria.
Mas
ninguém tem culpa,mesmo assim sinto muito por isso.
E
os anos se passaram.
E
eu corri pela casa de madeira da família como nunca correra.A
estante esteve cheia de gibis e livros que lia todo dia,num ritmo
frenético e louco onde tudo o que eu queria fazer era me divertir.
Eu
vivi um sonho.Meus irmãos ocupavam a casa,trabalhando e consumindo
coisas como cartuchos de videogame e gibis,livros e revistas Seleções
do readers digest que liamso aos montes.
O
tio Gilberto nos visitou um dia me ensinando a marchar na companhia
da vó Dula e do vô Menescal,e o Constantino nos fez uma visita
interessante,caçador de diamantes ele era nosso amigo e nos visitou
muitas vezes as vezes comendo conosco.A tia Zenaide chegou a morar na
rua Gustavo Mayer e mesmo conosco por algum tempo,como foi
estranho.Eram bem porquinhos seus filhos.
O
cruzeiro foi a moeda corrente e os preços iam lá em cima,era uma
economia maluca e de preços fora do controle,que beirava os milhões
de cruzeiros por mês.
Jamais
vou esquecer aquele dia em que mamãe conversou longamente com vó
Maria no dia em que fomos visitá-la em sua casa na rua Rui
Barbosa,na casa da tia Ilze,que morava na parte de cima de sua
residência.As estórias que foram compartilhadas naquele dia,o fato
de George estar apreensivo com vó Maria,talvez num presságio sobre
o que viria a acontecer dali para frente talvez pressentindo mesmo
sua doença que agora começava a tomar corpo naquela casa em que ela
morou praticamente de favor mesmo que tivesse o direito de viver com
dignidade uma vez que era a mãe de tia Ilze que pelo que parece não
a respeitou em seus ultimos dias de vida,negando inclusive que ela
morasse lá,fato que acarretou em sua morte por desgosto na casa da
rua Colatina,onde viveu por algum tempo.Essa é a estória de uma das
últimas vezes que a vimos tendo ela vindo nos visitar uma vez em
Curitiba na casa da rua Padre Dehon,onde fez queijo e cozinhou
gostosos pratos num festim de sentimentos que não vou esquecer
jamais.
Mas
fica o mistério,o que levou Vó Maria a adoecer e contrair aquela
doença e ter que passar por toda aquela dolorosa experiencia com seu
tratamento tortuoso e seu sofrimento psíquico por causa da
doença.Quem sabe algum monstro,que vivesse em uma das casas em que
ela estivesse,quem sabe algum espírito que a fez contrair cancer,não
se sabe mas só o que se sabe é o que consta,a Vó Maria.A velha Vó
Maria,que para sempre foi e para sempre vai ser uma figura importante
na vida de uma família que teve a Deus de seu lado e a ajuda de
anjos em sua jornada,por uma decada de oitenta turbulenta e
tortuosa.com muito trabalho e sofrimento,dor e penumbra em cada uma
das casas em que viveram os integrantes de sua família,uma família
que vai para sempre ser lembrada por seus integrantes até hoje,boas
pessoas e cheias de si,orgulhosas de serem cavalheiros dignos e
gentis,uma família feliz.
Adeus
Vo Maria,que Deus a tenha.
Não
obstante maçantes recordações de aulas passadas em colégios que
estudei,minha vida profissional,nada disso tem servido para
deslanchar minha mente na criação de alguma grande redação ou
algo que o valha.Minha vida tem sido chata e aborrecedora desde que
vim morar aqui e antes.Já me recordo das terríveis crises de
chateação que passava em casa na companhia de meu irmão e minha
mãe,na casa anterior em que estivemos,a vida aqui nesse Sul tem sido
pior do que um espaguete italiano,uma novela mexicana ou coisa
parecida.Acordar lavar louça,ir fazer alguma compra,almoçar dormir
e tomar o café da tarde,então dormir mais um pouco,jantar e ir
dormir.Creio que falta-nos livros,falta-nos experiências.Sair de
ônibus é uma,mas mamãe não pode por o pé num deles e George é
doente demais para passear por aí,então só saio para passear
quando resta dinheiro e vou até a biblioteca no centro ler a obra de
Stephen King,coisa que já teve salvo a patria por algum tempo,mas
não muito.Só resta dinheiro de vez em quando e quando resta é
contado,não dá para fazer nem um lanche.Eu queria encher a cara de
algum líquido bebível e gostoso.Eu queria comer bem,poder sair
quando quiser,ir aonde quiser.Dentro de um horário claro.Pelo menos
de dia,e uma vez por dia, apenas isso.Apenas para poder curtir um
pouco essa vida,poder aproveitar um pouco.Mas meus braços doem e
algo dentro de mim diz que vai dar tudo errado e que há coisas
erradas no ar.Alguma coisa está errada,algo está fora do certo,do
normal e eu sinto isso.Mas não sei o que é.Eu queria poder ver
alguma coisa e está difícil,beber alguma coisa e está
difícil,passear pela cidade e está difícil.Está tudo difícil,e
eu não gosto disso.Algo me chateia e me deixa mal, estupefato.Agora
me vejo mendigando a publicação de um conto numa revista de
propaganda de escritores de graça,e que só sai na Internet.Sem
edição impressa.Bem,espero que corra tudo bem,mas não é bem o que
eu esperava para minha carreira de escritor.Eu esperava mais,alguma
grande edição,alguma grande jogada,mas não aqui
estamos,estagnados.Creio que vou voltar para a copiadora Nicarágua
que pega escritores independentes,pelo menos lá eu publico alguma
coisa,se é que aquilo ainda existe.Droga,mas retornar a estaca
zero?Não,James,tente outra coisa,por favor,senão sua carreira vai
para o brejo...Fazer os roteiros,não deu,não funcionou,eles
devolveram com uma negativa,você tem material,tente de novo.Produza
mais material siga produzindo,nem que seja sobre sua vida,como numa
grande
crônica,com ficção,vai dar certo.Tudo o que não posso fazer é
deixar o sonho morrer,deixar a peteca cair.Faça uma nova tentativa.
Mas
tudo parece perdido,desde que a Internet acabou por causa dos vírus
que a abocanhavam,desde que nossa vida teve fim.Mas George estava tão
animado a alguns dias,mamãe também,tudo parecia estar correndo
bem,até acabar nisso,hoje dormimos mais do que vivemos e nada é o
mesmo de antigamente,eu precisava mudar,mudei,agora aqui estou mas
parece que eles não acreditam mais em mim,disseram que estava tudo
bem,que estavam animados agora não mais estão.Droga!Será que tudo
tem que terminar assim?Bom acho que é o fim mesmo e vou continuar a
dormir como sempre o dia todo,para acordar de noite e dormir ainda
mais.
É
acho que é o fim.
Vejamos
o que vai acontecer nos próximos dias mas creio que nada vai
acontecer de extraordinário para mudar minha vida como esperava que
acontecesse.Nada mais nos resta senão apodrecer aqui,nesta casa
agourenta que só tem nos trazido rumores de males e outras
coisas.Vamos ver,se algo acontecer eu estarei aqui para escrever
nestas linhas,senão,nem quero mais saber talvez pare de tentar ser
escritor e desista para sempre,mas isso é algo difícil de
acontecer,creio que nasci para isso e vou levar tudo até o
fim,vejamos o que nos reserva estes outros dias…
Mas
creio que minha carreira de escritor esteja tão perdida quanto um
cego num tiroteio,como dizia meu amigo no passado,mas agora isso é
passado,e ele não está mais aqui para me ajudar,agora sou apenas eu
e esta máquina de escrever,esta parafernalha velha este computador
que creio vai ter seus dias contados se as coisas não mudarem daqui
á algum tempo.Mas não,creio que não,creio que continuarei o
possuindo e o usando,mas minha carreira,minha carreira está por um
fio e creio que vou dar um jeito nela,mas é impossível,não posso
fazer nada,estou encurralado,trancado á sete chaves nessa casa e
nessa cidade,e creio que nada vai poder acontecer para me ajudar
nessa Curitiba de maravilhas que um dia se disse a capital
ecológica,mas que hoje mais parece um beco sem saida e controlada
por traficantes e outros tipos de mal-feitores,que assolaram-na e a
tornaram um lixo.
Mas
vamos ver se minha vida muda,se algo acontece.
Ninguém
nos ajuda,ninguém…
Mas
não desisto,vejo as trinta páginas de um novo romance que estou
escrevendo e me animo o bastante para remeter os originais de GRAMPO
DO MAL para uma outra editora,através do computador.Eu sei que não
há muita coisa boa no material que escrevo aqui,mas já serve para
continuar a escrever.Mas falta mais e isso é o que penso nessa nova
empreitada para começar a escrever novamente,com novas idéias,não
só para o texto como para a vida real também,e assim recomeço a
escrever de forma voraz como que recomeçando mais uma vez,ainda no
início de um texto que pretendo escrever,uma coletânea de
sequências autobiográficas de terror que vou chamar de UMA OUTRA
DIMENSÃO,cujo título é baseado num conto que consta em GRAMPO DO
MAL ,como um entre os contos que escrevi naquela época,velhos
tempos,tempos de terror..Mas agora é que devia estar bom,agora é
que tenho noção das coisas,apesar de passar mal uma vez ou
outra,mas quem não passa mal de vez em quando?
Um
vento gélido sopra lá fora fazendo chacoalhar a cortina da janela
do quarto.
George
me pergunta se vou querer comer macarrão.
É
tempo de recomeçar.
É
mais uma sexta-feira lá em casa e eu volto á escrever.Mas eu venho
aqui a declarar.Essa casa não é bem o que eu imaginava como casa
para se morar.Esse vem aqui a ser o rancho dos Malheiros e tudo mas
só na ficção.Porque na verdade é só mais uma casa em que estamos
morando por enquanto,enquanto minha carreira não deslancha e eu
consigo arranjar dinheiro para comprar uma casa só nossa.Mas sei que
isso é difícil.O mercado editorial brasileiro é complicado,e
cruel,e não vejo possibilidade de arranjar uma editora que me banque
para produzirmos uma verdadeira obra-prima,para que minha conta
bancária saia do vermelho,nem tão rápido,nem que demore.Para isso
creio que deveria escrever mais,e ter mais material para mostrar,por
isso declaro a obra em que estamos,como uma continuação de minha
carreira,uma crônica gigante,baseado em fatos reais,auto-biográfica
e romanceada.
Vou
escrevendo os planos para esta obra enquanto sinto o frio enregelar
minhas mãos,e um arrepio de medo percorrer minha espinha.Ouço o
cachorro uivar para a lua lá fora. É tempo de mistério na cidade
de Curitiba.Cidade maldita,levada pelo crime e pela insegurança,pela
sujeira e pelas favelas,no passado tida como a cidade ecológica.É
tempo de reconstruir tudo de voltar a crescer de voltar a pensar como
se pensava nos bons tempos.Mas não creio que o povo vai tomar
jeito.O que creio é que estamos caminhando para um fim trágico,onde
tudo será sujeira e desolação,restos e destroços daquilo que um
dia foi a civilização.Mas agora deixe para lá,o que podemos
fazer?Tudo o que podemos fazer é assistir á chegada de uma nova era
um
tempo
de desgraça e destruição,onde teremos que nos segurar nas ruinas
daquilo que um dia foi o lar da raça humana.
Eu
assisto tudo daqui,da minha casa,na companhia de minha família,que
agora luta para viver seus últimos dias nessa terra onde lutaram por
anos e chegaram á pouca coisa,uma aposentadoria parca mas honrada e
uma vida tola,desgostosa,sofrida,onde mamãe e George não podem
quase andar,e lutam para passar bem seus últimos dias de vida,George
com uma doença e mamãe tolhida pelo sofrimento,que a busca todo dia
como que caçando-a,numa vida sem graça e sem cor.Eu,tentando
escrever e publicar o que escrevo num mundo bárbaro e em crise.Mas
ainda tenho fé em conseguir vender meus escritos e me tornar um
grande escritor.Estou novo ainda,trinta e seis anos e sei que posso
passar por cima de meus problemas e escrever,coisa que adoro fazer,e
publicar meus escritos e vencer na vida.Sonho em ter uma casa e uma
conta no banco,e receber dinheiro todo mês pela venda de meus
livros,mas para isso terei que lutar para encontrar a editora que me
aceite e que aceite meus escritos,e então vencerei.
Mas
deixemos de lado estas embromações e partamos para o
principal,minha carreira de escritor.
Será
que conseguirei publicar o livro com essa editora?Aguardo agora sua
resposta,talvez o ponto crucial para minha carreira,talvez não.Será
que devo confiar nela?Que nome estranho,o seu.Mas deixemos de lado
isso,talvez seja apenas uma marca de fantasia e seja ela a editora de
meu livro finalmente.
Também
se não conseguir sem ressentimentos,procuro outra mas no momento é
a única que estou pondo fé para publicar GRAMPO DO MAL,meu primeiro
livro.
‘Entrementes
em sua tumba,o vampiro deixa seus afazeres e se deita em seu
caixão,se ajeitando e se cobrindo com a capa e então fechando o
caixão para acordar apenas na manhã seguinte.’
Mas
isso em outra casa,porque aqui tudo vai bem,e me sinto bem
novamente.Pronto para me cobrir com os cobertores que me tampo á
noite e dormir no sofá mesmo,como um mero mortal.
Agora
é de noite,uma outra noite em que escrevo aqui estas palavras,uma
noite fria,de inverno,onde mordisco uma fatia de pão com doce de
banana após degustar meu lauto jantar um prato de macarrão com
queijo ralado e batata palha,tradição da família nesses dias de
frio.George parece satisfeito agora de noite e come,mamãe eu não
sei,está na sala e parece pronta para ir dormir.
Mas
estou com medo e vou dormir.É melhor,não quero começar a delirar
com os fantasmas da noite.
Na
manhã seguinte...
Acordo
saio para ir dar minha caminhada matinal e volto,para ficar ora
escutando música,ora delirando com um pensamento indistinto que
varia por coisas diversas que não consigo me lembrar aqui.Um
vendedor bate a nossa porta para vender salames e queijos e ficamos
com um salame enorme,que comeremos daqui a algum tempo.George e mamãe
parecem animados e conversam fervorosamente na cozinha.Penso em
lugares aqui perto nas redondezas e nada mais.
A
criatura jaz no forro da casa fictícia em minha mente,a casa em que
moramos em Blumenau,
as
ripas do forro parecem empoeiradas por ela se encontrar abandonada,e
parecemos viajar no tempo a alguns anos atrás quando isso era
verdade,quando ela realmente se encontrava abandonada.Agora a
demoliram e em cima construiram uma outra casa.Mas agora a vejo como
se fosse hoje,sua expressão de terror,sua imponência,sua aparência
antiga,como se estivesse abandonada a mais tempo do que realmente se
encontrava,parecia uma casa de trinta quarenta anos atrás,quando os
que nela moraram ainda nem tinham nascido,
A
criatura se move em seu ninho como que se preparando para se
movimentar para sair e caçar camundongos como sempre costumava
fazer.
Mas
não permanece ali parada,como que num pensar insano, animalesco,
onde ela vive como um animal selvagem apenas controlando a mente dos
que nela viveram,onde quer que estejam agora.
O
sol da tarde agora brilha,como que brilhando uma vez só na história
daquela cidade,como se o tempo fosse parar a qualquer minuto,como se
tudo fosse chegar ao seu fim derradeiro.
Mas
não chega,o tempo é infinito mas temos que vivê-lo,dormir,acordar
e fazer alguma coisa.
Mas,se
presos no passado parece algo gostoso que nunca acaba,mas é melhor
tomar cuidado com isso pois já fiquei mal com isso,já passei dos
limites e isso não é bom.
É
preciso acordar as vezes e fazer alguma coisa,aliás acordar sempre e
agir,se mexer,dar sinal de vida,afinal estamos vivos e isso é o que
importa.
Essa
é a mensagem que passa a criatura,se acordar sempre recomeçar,para
que tudo se renove,comece novamente,para voltar a acontecer,como
vamos dormir e acordamos todo dia,mas temos que fazer isso
sempre,sempre dormir e acordar,para que se dê o ciclo,o sistema da
vida,
Dentro
dela não há ninguém,ela está vazia,como sempre,as cortinas
compridas cobrindo um vazio que jaz á muito tempo em minha mente,num
ciclo de imaginação que deve se repetir para que o pensamento
aconteça e esse ciclo me faz acordar e pensar novamente nas coisas
ao redor,na casa em que me encontro agora,no rack,nessa parafernalha
na qual escrevo essa crônica,na foto de quando eu era bebê,no livro
de Stephen King numa das prateleiras do mesmo rack,nas minhas
coisas,os meus documentos, cartas que recebi, textos que imprimi,a
revista do Conan já sem capa,o fone de ouvidos conectado ao
computador que uso para quando quero ouvir música no mesmo.
Vejo
a janela e a cortina,esse quarto que é meu,mas que nem faz
diferença,as coisas que existem dentro desta casa,uma casa que nem
parece existir para mim,pois não faz sentido,não significa nada
para mim,pouca coisa,apenas que é a casa em que estou morando no
momento,quem sabe nos mudemos,mas essa não é a vida que quero
levar,mas devo dar valor á ela,pois é a única que tenho.
Quem
sabe se esquecesse tudo,se pudesse voar para bem longe daqui numa
outra dimensão e fazer só as coisas que eu quero,mas eu não
posso,pois estou aqui e aqui é minha casa,esta é minha vida.
Mas
não é tão ruim assim,estou tentando.E no fundo,bem lá no fundo eu
gosto daqui,eu aprecio meu passado e as coisas que tenho a casa em
que vivo.Mas não é bem nesta casa que eu queria estar morando
agora.
Talvez
eu quisesse estar morando na casa fictícia,a casa que imagino em
minha mente.Exatamente com os livros que eu queria,com o passado que
eu queria,com o aparelho de som que eu queria,e não esse rádio
simplório que ganhei de presente do George a algum tempo
atrás,afinal não podemos ficar sem escutar música.Talvez eu
quisesse voltar no tempo e morar na casa fictícia,a casa em que já
moramos,talvez eu nem mesmo quisesse ter saído de lá,talvez eu não
tenha gostado de me mudar,mas precisavamos pois faltava emprego em
Blumenau e Curitiba era a única opção de moradia para nós.Talvez
fosse aqui que quizessemos viver,mas não assim,pelo menos numa casa
melhor,mas não temos dinheiro para isso,então moramos aqui
mesmo,como estariamos morando na casa de Blumenau,talvez lá
estivesse da mesma forma como está aqui hoje em dia,talvez
estivessemos levando a mesma vida de sempre,esta vida,uma vida que é
pouco para mim.
Mas
me acostumo com ficar escutando música…
Talvez
seja tudo o que possa passar o dia fazendo nessa minha pobre vida de
escritor...
E
eu me pego perdido numa quinta-feira,quase ao cair da noite,apenas
esperando pelo meu prato de comida que virá a ser minha janta.O frio
da noite me deixa perplexo,visto pouca roupa,preciso me levantar ir
até o armário e pegar roupa mais quente.George e eu compramos
alguns edredons para nós e hoje passaremos uma noite aquecida do
distante frio de Curitiba.São noites de névoa que vem e vão mas o
importante é que as tarefas ficam,cozinhar,lavar roupas,fazer
compras,coisas para lembrar-nos que estamos vivos.mesmo que o monstro
do armário nos assombre á noite,como assombrou a garotinha quando
esta falou que tinham loucos correndo ao redor da casa.Coisas de sua
mente,é engraçado como crianças desta idade já saibam dizer a
palavra louco,mas é assim mesmo,talvez o que aprenderam com suas
mães que lhes contam estórias de homens fortes que enfrentam as
coisas da vida sem medo.Mas é o mesmo que as crianças do colégio
que conhecem os loucos,mas vamos esquecer estas passagens de terror e
se ater as belezas da vida.As flores do terreno perto do sobrado
parecem florescer com mais intensidade nesta época do ano,quando a
vida parece fluir por entre nossos dedos como a seiva de uma arvore
flui pelo tronco de uma macieira no inverno de Curitiba.Agora as ruas
parecem cobertas por um pózinho brilhante que as deixam mais
emocionantes.Pegar o ônibus parece mais emocionante do que ficar em
casa dormindo e a vida parece mais normal quando se vive a vida.Agora
uma brisa fria parece soprar pela janela adentro como que anunciando
a chegada de uma outra estação,cheia de sonhos que nos chegam pelo
ar e adentram nossas mentes como que atingindo o âmago de nossas
almas.Quando o vento frio chega soprando em nossa janela,tudo é
névoa,uma névoa que chega vinda do cemitério,e agora os fantasmas
parecem ir embora,sem ter aquele charme de causar arrepios nas
pessoas em suas casas em noites como essa,quando tudo parece se
esvair no limiar de uma nova era,talvez o começo de algo que nos
fará felizes,deixando para trás um tempo de terror e mortalidade
que tanto nos assombrou nos dias anteriores.É tempo de chacoalhar o
pó de nossa cortina,e fechar nossa janela para o frio que vem
chegando,enquanto nos aconchegamos no conforto de nossas casas,após
mais um dia de movimento e vida.Me encontro desempregado mas creio
que vou começar á estudar em julho,no colégio noturno do
EJA,ensino para jovens e adultos.Creio que seja uma pessima idéia
mas ficar em casa o resto do ano não vai ser uma boa pedida e creio
que não vou ter dinheiro sobrando para continuar indo procurar
emprego no Sine.Por isso creio que vou estudar um pouco.Talvez faça
bem,mesmo que me encontre tão mal-humorado que podia invocar com um
estudante e brigar com ele se pudesse as vezes.Talvez estude,talvez
trabalhe,talvez faça alguma coisa.O que importa é que preciso
sonhar com alguma coisa ter algum divertimento ou vou estourar.Não
quero mais ficar em casa,mesmo que passe mal as vezes eu não
ligo.Devo
retomar
minha vida ou vou parar e me tornar relapso outra vez e isso é algo
que não desejo para mim mesmo.Curtir alguma coisa mesmo,algum tipo
de música,não sei,algo do gênero,talvez imprimir e vender alguns
contos,talvez dormir de tarde no colchão em casa.Fazer algo do
tipo.É tempo de inventar história ou as coisas vão voltar á ficar
maçantes para mim.É tempo de aprontar.É tempo de pensar sériamente
sobre minha carreira de escritor,que aqui só tem valor para minha
mãe e meu irmão George.Talvez devesse pensar mais no que
escrever,talvez escrever alguma coisa diferente,que agrade as
pessoas,e não terror,talvez poesia,coisa que ficaria tão melhor do
que qualquer outra coisa aqui no caso.Seria algo para me ocupar e
poderia render belos poemas.
Degusto
minha janta com uma fome fenomenal e acabo de comer,levando o prato
para a cozinha,onde ponho para lavar.Posso sentir a magia no ar,é
tempo de mudar,de escrever alguma outra coisa,e minha mente já
começa a se sentir bem de novo,mas escrever é sempre um desafio,e
há uma coisa que quero dizer aqui sobre minha carreira.Só escrevo
para me sentir bem,estava escrevendo pois o clima era de luta e
vida,perseverança e tarefas á serem desempenhadas,agora é só
continuar,apenas seguir em frente.E é isso mesmo que vou fazer.Só
tenho medo que algo aconteça mas acho que sei exatamente como evitar
isso.Fazendo tudo certo e evitando aquela sociedade monstruosa
talvez.Porque aquilo,é demais para se suportar.
Aquilo
é insustentável.
Talvez
estudar á noite seja algo agradável de se fazer.Vou tentar.Enquanto
isso permaneço aqui tentando lidar com esses fantasmas que meu pai
me deixou,problemas para resolver,enigmas.
Não
tenho nada mais em minha mente e isso é agradável.Só isso já me
deixa mais tranquilo,quanto á minha saúde.Agora é só experimentar
e seguir em frente.Vamos ver.
Três
horas da manhã,de uma quarta-feira.Me acordo sob o raiar da
madrugada,indignado,jogando o cobertor para fora da cama de raiva e
me levanto para vir escrever.Me sinto como uma mulher!Maldição!Mesmo
depois de ter passado por uma crise da doença ainda ontem,ora
veja,se não é pouca a luta de um homem para se manter são e
escritor.Porque sou escritor!E sou homem!E me vem com esta?Já não
bastasse essa,ainda sou obrigado a ouvir a voz dos loucos na rua a
proferir impropérios contra minha pessoa!Quem pensam que sou?Mas me
sinto melhor.É isso mesmo,me sinto como uma melhor coisa.Quem sabe
meu pai se estivesse vivo,não estaria escrevendo e publicando
livros,ao invés de ouvir os impropérios desses loucos.Eu não sou
assim,afinal de contas.
Mas
me sinto uma melhor coisa,e escrevendo.
Agora,lendo
James Joyce,talvez o escritor que vá guiar meus passos por um bom
tempo.Talvez devesse escrever sobre a cidade,sobre os anos
2018,2019,2020.Sobre os homens e mulheres de meu tempo,desta
cidade,desse bairro,sobre as coisas que realmente existam,como algo
histórico e não teatral como meus primeiros contos,narrativas
auto-biográficas estilizadas em forma de ficção.Talvez devesse
partir para a fofoca mesmo.Talvez.
Mas
só sei que ainda posso me lembrar do dia de ontem até as três
horas,quando me senti como um homem,bem vestido,trabalhando em meus
escritos.Cheguei a fazer compras no mercado para minha mãe!Cheguei a
ir no farol consultar o doutor Google,para ver quando meu conto será
publicado.Pois bem,será na edição 10 ou 11 da revista
Literalivre,na Internet.Ai então terei meu registro como escritor
oficial,e poderei quem sabe receber cartas de editores querendo que
eu escreva para eles.Quem sabe consiga um contrato para escrever um
livro.Mas sei que o principal é isso,se sentir uma melhor coisa,é
disso que necessito.
Mas
não só isso,preciso me sentir como um homem e como um escritor,já
estou falando mais,o que já é um bom sinal.Não daquela forma louca
de antes mas melhor.De uma forma melhor e acredito que nunca estive
tão maduro como estou hoje,depois de tantas crises da doença.
É
tudo psicológico,e se dá só de vez em quando,quando passo mal
mesmo.
Espero
que tudo passe e eu resolva de vez esse problema comigo mesmo,que já
me vem atormentando á um bom tempo.Quanto ao resto do mundo,quero é
que se exploda,moro aqui nessa pequena casinha e não quero nem saber
o que acontece lá fora.Lá fora só me trouxe problemas e
incomodação,por isso devo esquecer e descansar.Quanto ao resto,eu
me viro,tenho minha família e á impossível que as coisas desandem
logo agora.
Mamãe
me disse que meu destino está nesses contos e no livro que pretendo
publicar,e que meu futuro será o de publicar contos e um
livro,trabalhar só nisso.Talvez esteja certa.Se tudo der
certo,publico os contos,publico mais e no futuro publico um
livro.Talvez ganhe algum dinheiro com isso,vou estar
trabalhando.Entrementes permaneço aqui lutando contra meus
fantasmas.
É
como se tudo na minha memória tivesse sido apagado.Tudo que não é
criativo,tudo o que não é obra minha foi apagado e agora só resta
esse medo inodoro de pensar sem sentido de criar frases e estórias
sem
sentido.Por
isso apelo para a realidade,em crônicas que vou escrevendo sem
parar.Tudo o que acontece em minha vida agora estou colocando em
redações para a posteridade.É como se toda aquela loucura tivesse
sido sanada e agora eu só vivesse a realidade.Isso é bom,uma vez
que viver de imaginação é algo perigoso e letal se em exagero.Mas
eu também devo usar de minha imaginação pois ela em conjunto com o
nexo cria as idéias.
Me
sinto estressado.Essa publicação na revista não sai.Mas tenho que
esperar.Agora que a primeira colheita de contos está concluida e
estou começando uma segunda,parece que minha carreira como escritor
finalmente vai para a frente.Agora na casa de madeira da rua Gustavo
Mayer,a casa que só existe em minha memória,em minha ficção,tudo
permanece em silêncio.As cortinas chacoalham,farfalhando ao sabor do
vento,enquanto o calor da tarde se vai esvaindo na ampulheta do
tempo.Agora vejo Sandro Jarbas lá,de costas e ele se vira para
mim,para sorrir um sorriso saborosamente carinhoso,como se não me
visse á muito tempo,como se apenas esperando para me ver depois de
um tempo de dor e sofrimento.Então ele se vira sorri e conversa
comigo.
-Oi,James.
- diz ele,amavelmente. - como é que vai carinha?
E
eu me viro e sorrio também,aliviado.
-Oh,é
você,Sandro.A quanto tempo.
E
tudo parece flutuar ao redor,é como se estivessemos numa tarde de
calor á muito tempo atrás,é como se ele tivesse tempo para falar
comigo.
-Você
está agora sonhando. - me diz uma voz vinda de meu subconsciente,que
prefiro não dar muita atenção,é sempre desagradável dar bola
para esse nosso pequeno balde de sujeira,essa lixeira humana.
-Como
vai a mãe? - eu pergunto.
-Vai
bem.Ela perguntou pelo seu conto,James,você realmente está
publicando contos agora?
-Estou.Mandei
pelo computador para a editora,eles agora vão publicar…
-Que
bom,James.Vejo que está fazendo progresso em sua carreira de
escritor.
-Sim.
Respondo,mas nem dou muita atenção no que falo. - só vamos ficar
aqui mais um pouco,está bem?Só quero ficar aqui mais um pouco com
você.
-Tudo
bem. - ele diz e me abraça para depois contemplarmos a estante com
os livros e revistas que tinhamos no passado.Está lá,Tripulação
de esqueletos,exemplares de Conan o barbaro,a primeira edição de
luxo do morcego vermelho,está tudo lá na estante enquanto a
observamos.Como que observando o passado.Mas é tudo tão
assustador,pois só há o silêncio na casa e nós dois lá,na
sala,as paredes de madeira,o assoalho seco,a mesinha o antigo
televisor que tinhamos,o jogo de estofado,e a velha estante que
tinhamos quando moramos lá nos anos oitenta para os noventa.Só o
sentimento de permanecer lá,vestindo camisa social ,agora um
escritor,parado do lado de meu irmão mais velho,já me causa uma
sensação de refrescancia e prazer indescritíveis.Me sinto tão
aquecido lá,em sua presença,que esqueço se aquilo é apenas um
sonho ou pura ficção.
Em
meus sonhos mais profundos,estou andando de camisa social e calça
jeans e sapatos por uma casa escura,pequena só minha,o ambiente
mergulhado numa vasta penumbra,onde não consigo visualizar muita
coisa e o momento parece se estender por um longo tempo,como se
viajando num tempo que não tem fim.Finalmente a minha casa,mesmo que
pequenina,mas só minha onde meus familiares possam morar comigo para
sempre sem mais problema nenhum com alugueis ou qualquer outro
problema financeiro.É a minha casa.Então o sonho muda para um
jardim,cheio de tralhas como inclusive uma roda de bicileta
antiga,alguns vasos de plantas,um pé de tangerina e barro muito
barro pelo chão.O terreno,cercado de mato parece também muito
silencioso,e solitário,não há nada ou ninguém lá,nenhum vizinho
do outro lado da cerca,só o terreno,num dia de escuridão,parece até
que é noite,e o sonho todo se passa num ambiente muito mergulhado em
trevas,e eu pareço estar lá,e ando devagar pelo terreno,observando
as plantas,e as tralhas que jazem espalhadas pelo lugar.Um
terreno.Então entro para dentro e adentro uma sala de uma casa de
madeira,com um animal empalhado,parece ser um urso,uma estante com
alguns livros de James Joyce e passamos para uma sala com um sofá,um
balcão e um televisor desligado.O televisor quase nunca é ligado no
sonho,mais ficamos conversando e mexendo no computador,há um
telefone,sob o balcão e vou até a cozinha,onde meu irmão George
conversa com minha mãe.Parecem animados em sua conversa e eu
chego.Mmãe e George parecem animados em me ver e perguntam sobre
meus contos e meus livros de como está indo minha carreira literária
e eu respondo que estou indo bem,parece que tudo agora depende de mim
mesmo,de minha carreira literária,não é mesmo?Agora esse é meu
futuro diz mamãe,publicar contos em revistas e quem sabe algum
livro.Talvez ganhe dinheiro talvez tenha fama,mas só sei de uma
coisa essa é minha carreira como escritor.
Então
acordo do sonho e estou aqui sentado escrevendo essas linhas como se
nada nesse mundo importasse mais do que minha carreira como
escritor.Se eu conseguir publicar meu conto na revista Literalivre
terei propaganda e as editoras vão começar á me chamar,talvez faça
entrevistas talvez seja pego como novo escritor,um novo nome na
literatura brasileira,quem sabe até mundial.E me pego sonhando outra
vez,salpicando minha mente de cores e detalhes que vão se perdendo
ao sabor do vento como se algo que se perde nos meandros do
subconsciente esse meus subconsciente que já me levou á pesadelos
devido á minhas vezes em que passei mal,nem os médicos sabem o que
eu tenho,para eles é esquizofrenia,mas acredito que não seja
isso,acredito que seja apenas uma falha na quimica de meu cérebro,mas
o que importa agora que vou ser um escritor iniciante?E então me
lembro de George,amigo velho,bom camarada,e sinto pena dele.Pois
saiba que jamais vou me esquecer de você George Hilton,o seu nome
estará para sempre lembrado nos anais da família,da nossa
família,como um gideão um colosso que ganhou muito dinheiro e
trabalhou demais mesmo para sustentar essa trupe de
saltimbancos.Posso ouvir sua voz lá na cozinha conversando com mamãe
dessa vez aqui na vida real não em sonhos,que sonho as vezes sem nem
me dar conta.E sei que ele está ali e eu posso vê-lo,ouvir sua
voz,oh é ótimo ainda ter um dos últimos da família comigo!E eu
como mastigo a comida,em uma brincadeira que mantenho comigo para
relembrar os dias de brincadeira do George.George sempre tão
brincalhão,e posso ouvir aquela velha canção do Chris Isaak
tocando no rádio,”that wicked game you play,make me feel this
way,that wicked thing you do,let me dream about you” e a canção
vai tocando e posso imaginar-me viajando para Blumenau,para voltar lá
e fazer tudo de novo,mas não dá,não vai dar para refazer aquilo
nunca mais,então o que devo fazer é tentar recomeçar daqui
mesmo,escrevendo.Para começar comprar um som ambiente,tocar algumas
canções nesse som ambiente e deixar a música fluir como que num
sonho sem fim.Tenho o sonho de comprar um som ambiente já a algum
tempo e George confirmou esse sonho dizendo que também quer comprar
um.Então,já que está de bom tamanho para ambas as partes,que
compremos o som ambiente.Ter algum dinheiro para comprar algumas
coisas,quem sabe bem lá no futuro ter nossa casa própria,esse é
meu sonho.
Agora
enquanto escrevo essas mal-traçadas ,penso sobre minha carreira e
sonho sentado aqui nessa cadeira de madeira.
Quem
sabe me levante a vá cortar uma fatia de pão para comer.
Gosto
de pensar que faço parte de uma raça especial,mesmo que sejamos
todos apenas de uma só raça,a humana,mas prefiro pensar que eu faça
parte de uma raça especial de escritores,como foi meu pai,professor
e tradutor que um dia sonhou em publicar o Safa-onça,um livro só
com gírias em inglês.Uma raça que pode pertencer todo aquele que
escreveu grandes coisas e redigiu grandes escritos.
Agora
estamos aqui,sozinhos nesse mundo e vejo uma geração perdida entre
estórias do passado e uma época que se foi.Agora que durmo num sofá
batido e velho toda noite com duas pessoas que um dia foram tudo para
mim,minha mãe e meu irmão George Hilton.Agora Sandro Jarbas se foi
se casando e deixando para trás uma geração que não está perdida
eu quero deixar bem claro isso aqui,estive pensando,recuperando
algumas memórias e esta geração não está perdida,está apenas
eclipsada por algumas fases ruins que aconteceram mas só por
enquanto.Pois escrevendo vou abrir caminho e deixar tudo escrito como
tudo aconteceu e alguns sonhos que tenho que quero deixar aqui
registrados.Pode crer que não foi tudo em vão,Sandro.Pode crer que
tudo valeu a pena.E estou aqui para dizer,eu me lembro de cada
momento até do mais recente,ao mais antigo,de tudo.Como tudo
aconteceu,e posso dizer,valeu a pena,rapazes.A música tocou mas
parece que o sonho está acabando.Mas estou aqui para lutar para
fazer o sonho acontecer de novo e vai ser escrevendo.Pode crer que
vai.
A
FOTO
Começou
assim,um dia mamãe pendurou a foto na parede da sala e lá a deixou
para que ficasse.
Logo
coisas começaram a acontecer.Eu sabia que era apenas uma foto mas o
que eu podia fazer?
A
foto de quando eu era pequeno,um bebẽ,ainda de fraldas,sentado numa
coberta na grama da casa da Penha quando eu ainda tinha alguns
meses.A primeira noite,sonhei com mamãe e com uma música muito
bonita,então,me acordei e estava fazendo um frio de lascar.Talvez
estivesse nevando em muitas cidades catarinenses,mamãe me disse de
manhã na hora do café.Mas a foto tinha apenas valor sentimental
logicamente.Mas fazia uma grande diferença, claro.
Logo
tomei café e sai para ir consultar o doutor Google no farol,como
sempre.
Passei
algum tempo vendo algumas coisas até que me cansei desliguei o
computador e me fui,rua afora,para casa.Eu queria ir para casa.Estava
com vontade de ir para casa.Era lá que eu devia estar.
De
lá,fui comprar um pacote de batata palha e um de sabão em pó,no
mercado.
Fui
até o mercado mais longe mas lá os preços estavam muito caros,por
isso desisti e fui no mercado mais perto.Lá sim comprei o que
precisava e voltei para casa.Mas na rua eu sentia algo estranho.Era
como se o inverno tivesse chegado e a foto tivesse algo a ver com
aquilo tudo.Besteira,que uma foto pendurada na parede da sala de
minha casa iria fazer tanta diferença assim inclusive mudar o clima
mas mudou.Talvez eu tenha alguma ligação muito forte com Deus
talvez seja isso.Bom,se for,é bom,pois acredito apenas em Deus e em
nada mais.Aliás acredito na estória de Jesus Cristo e na
Bíblia,única coisa em que creio nesse mundo,além da realidade.Em
nosso Senhor e seus anjos,nada mais.Por isso acredito que foi ele que
mudou o clima talvez voltando ao clima que fazia quando tirei a foto
que agora jazia pendurada na parede da sala.
Ontem
cheguei á conclusão de que preciso parar esse fluxo de pensamento
que me ataca quando passo mal,preciso parar numa coisa e ficar até
que a crise passe,mas também não quero ninguém se metendo.É
apenas assim,a história brasileira vendo um de seus filhos passar
por parte de sua história em sua casa e não admito que seja
diferente.Quero paz e sossego nessas horas,mas até nos momentos em
que passo mal,a foto me ajudou.Ver minha imagem bebẽ me fez dormir
ontem,me meter embaixo das cobertas e dormir como um anjinho.
Logo
tudo vai passar e vou ser um escritor de renome.E vou sempre
recomeçar seja onde for,seja aqui seja no lugar em que estiver,tudo
vai ter um recomeço.Não sou de sair muito,por isso não tenho
carro,nenhum dos meus irmãos tem,por isso não me sinto muito bem
quando vou muito longe,Resolvi que prefiro ficar aqui no meu lugar
com minha família do que sair e ir longe e me misturar muito.Quero
me misturar mas aqui perto,só se tiver alguém aqui para eu me
misturar então eu vou desejar me misturar,mas senão não.
Saí
para uma volta muito estranha com minha irmã domingo passado.Tiramos
fotos e foi bom,mas a um certo ponto da volta eu estava exausto.Eu
não gosto de me cansar e nem andar de carro pois eu me sinto como um
extraterrestre andando nesses automóveis por aí.Prefiro fazer como
meus irmãos e pegar o ônibus como todo mundo.
Será
que não foi a foto?Talvez mexendo com a cabeça de minha irmã,a
fazendo crer que devia por alguma razão ir dar uma volta comigo?Foi
tão estranho que não quero repetir a experiência nunca mais.Credo.
Eles
falam em imaginação mas não sei.É preciso parar esse fluxo de
pensamento que flui em nossas mentes antes que nos mate a todos.É
melhor ter sentimento,família,moral,daí sim.Algo bom que vem da
vida e não essas bobagens de imaginação.
O
exagero e a perda do controle nesses casos podem nos levar a loucura
e isso ninguém quer,por isso clamo aqui que os escritores parem de
usar suas imaginações e criem mais algo a ver com família e
valores morais que inventem alguma coisa e não partam para aquela
loucura que todos estão cansados.Vamos,estamos aí agora com Marina
and the diamonds,cantando uma letra que tem a ver com valores morais
e com o simbolo de uma geração,que seria no caso ela mesma,assim
como tivemos Amy Winehouse no passado que morreu e arrancou lágrimas
de seu próprio pai quando perguntado sobre sua história e o que
Winehouse significava para a música.Bem agora estamos com Marina
Diamandis e suas letras revolucionárias.Vejamos nas letras,o que
podemos ter.
Mas
sem drogas,e sem loucura.É tudo o que peço.
Será
que a foto vai ajudar?Quem sabe.Ela estará pendurada lá na sala,e
lembrará para sempre os anos oitenta,com seu frio de congelar e sua
construção tecnotrônica de músicas e de toda uma nova geração.Foi
então que George Hilton começou a trabalhar,foi então que vimos
Sandro Jarbas mostrar toda sua bossa trabalhando,vamos ver o que faço
escrevendo e cuidando de minha vida.
Agora
a foto está lá e me arrepia o que ela possa estar fazendo com as
mentes daqueles que cercam a casa e seus arredores.Além,até quem
sabe.
Agora
enquanto assisto televisão no quarto penso nessas loucuras e me
arrepio,pensando em quanta bobagem está fluindo pela televisão
mundial.Meu Deus,é bom parar com isso.Não é agradável e esse
fluxo pode ser amaldiçoante.
Enquanto
penso no assunto,vejo uma leve brisa entrar pela janela aberta do
quarto.
Mas
a tarde vem chegando e me ocupo com outros pensamentos.
Há
um rio passando talvez aqui sobre nós,ao menos é o que imagino
enquanto piso forte no chão tentando ver se me mantenho no chão com
certeza,ou se não saio flutuando pelo quarto como uma criatura
sádica que só pensa com a imaginação e não com a razão.
Mas
acredito que o único rio que aqui passa é o rio da mente,que é
perigoso e pode afogar um homem.
É
bom que apenas se gotejem pensamentos sempre.Nunca mais do que isso.O
fluxo de pensamentos é ruim,repito aqui.
Devemos
estar sempre alertas e dormir por grandes espaços de tempo para que
a razão não se perca de nossas mentes.Aliás,devemos ter razão e
sempre estudar.Estudar as coisas ao redor e estar sempre atento a
tudo que nos cerca.Para ter uma vida boa é bom estar vivo e não só
dormir,como dormir também é bom,mas estar acordados para gozar da
vida assim como cuidar dela.Dormir é relativo,uma vez que dormir faz
com que nossas mentes se renovem e entrem nos eixos para que possamos
viver a vida de forma melhor.Mas a foto,a foto era algo ótimo.Ela
trazia o frio de Blumenau o sabor de um tempo que simplesmente não
volta mais.O sabor dos anos oitenta,que é quando tirei a foto e não
passava de um bebê então.
O
fantasma do professor Menescal também parecia estar presente pela
casa.Assim como quando estavamos em Blumenau e ele nos guiou e nos
fez trabalhar e viver bons momentos durante anos.
Mas
eu me perdi e tive que reformular todo meu pensamento em 2017,quando
o cometa caiu no campo na Vila Hauer e ocorreu a renovação de minha
mente.
Lee
Falk apareceu para mim para me alertar sobre o valor das palavras e o
significado delas em nossas vidas.Ele me abriu a cabeça mas eu
estava mal e tive que mudar todo meu modo de pensar.Comecei a
trabalhar como escritor,e a cuidar de minha vida,mas as coisas
pareciam tão preguiçosas que eu achava que era melhor deixar de ser
tão ranzinza e dar uma folga aos meus compatriotas que enlouqueceram
naquele tempo de renovação.Mas era preciso e já passou.Agora está
tudo bem e tudo explicado.O problema era eu que estava um pouco
passado e com a mente relapsa perdido em divagações,mas logo me
acordei e pus tudo em ordem.
E
agora enquanto a noite vem chegando nos vemos sendo engolidos por uma
espécie de vagalhão de frio congelante que vem chegando e nos pega
de jeito,fazendo nos nos enrolar em nossas cobertas e nos
esquentarmos do frio congelante que toma conta desse Sul febril,agora
no caminho mais ou menos entre Blumenau e Curitiba,o ônibus de
viagem vai seguindo,como que hipnotizante,levando alguns passageiros
para a cidadezinha.Dá vontade de viajar mas não dá,mamãe quase
não pode andar e George está mal de sua doença por tempo
indeterminado.Se aposentou e agora estamos aqui vivendo,lutando para
nos mantermos em pé.Mas ainda andamos,andamos e lutamos num Sul cada
vez mais hipnotizanbte mas que já foi melhor para uma família que
jamais se esquece.Dos anos oitenta e noventa,da vida,de suas vitórias
emocionais e de seu amor a vida.
Amanhece
e é outro dia.Me levanto e vou consultar o doutor Google no
farol.Mas lá encontro uma velha estranha que me pergunta coisas
estranhas.Ela parece outra pessoa,não mais aquela senhora com quem
conversei a respeito de meu pai.Cuidado,você não pode ficar falando
sobre sua família por aí,diz minha mãe.Mas eu quero conversar e só
caio em armadilhas.Agora por exemplo encontro uma velha estranha para
conversar coisas estranhas.Ela me pergunta se meu cachorro tem
problemas mentais,é tudo o que eles sabem conversar hoje em dia.Como
as coisas ficaram feias atualmente.Hoje os assuntos mais feios e
desagradáveis são tema de conversa.É claro que meu cachorro não
tem nenhum problema e eu tenho uma doença e não um problema.Eu
odeio esses idiotas que ficam se metendo e não entendem nada do
assunto que puxam,e ficam falando porcaria sobre coisas que não
entendem.Meu cachorro,meus irmãos,ninguém aqui tem isso!
Mas
tudo bem,volto para casa,e estou num lugar agradável.Minha
casa,onde,na sala,jaz a foto pendurada na parede.
É
bom esquecer tudo e não dar atenção á mais nada.Procurar encobrir
as coisas que os outros possam não entender e não ficar anunciando
por aí coisas que possam me prejudicar.Esqueça.
Acabo
esquecendo a velha estranha do farol e me recordo de minha família
em casa.
Como
gosto deles,eles são tudo de melhor que eu já vi nesse
mundo.Pessoas de boa índole,respeitosos,meu pai
professor,tradutor,minha mãe excelente dona de casa meus irmãos
trabalhadores,nada comparado á essa corja lá de fora,as pessoas da
rua estas eu nem dou atenção.
Poucas
delas valem a pena.
Não
gosto das pessoas da rua e sei que o sentimento é recíproco,que
elas tambem não gostam de mim,por isso nem mesmo faço questão de
querer saber o que elas pensam e pensar que elas já quiseram falar
vejam só.Coitadas,pensam que são quem?
Bem,mas
lição aprendida,nunca baixar a bola por aí sempre ser superior aos
outros,esses coitados que nada tem na cabeça além de porcaria.E eu
não me importo,sei que não vou ter nada deles e nem quero.Não me
interessam e podem ficar em seus lugares quietos que eu não estou
interessado em conhece-los.
Mas
a foto permanece em seu lugar lá,pendurada na parede.E é a noite
assistindo televisão que eu me descubro.Eu sou um personagem no dia
curitibano,eu sou aquele bebê na foto pendurada na parede da sala.Eu
sou o gato, e com minhas garras arranho o papel dos livros que vou
devorando,sempre á procura de inspiração para meus contos,como que
viajando pelo mundo das palavras,que é vasto,e assim sigo e á noite
festejo
na sala de minha casa,enquanto como minha janta,com meus
compatriotas,com a família,e vejo mamãe brincar comigo feliz.
As
palavras vão chovendo no pântano de nossa casa e eu me vejo no
limiar de minha vida festejando.E agora o que falamos é cortante e
faz sentido,me sinto melhor,bem melhor,bem longe daqueles monstros
loucos que me assolavam no passado.Agora me vejo encaminhado em minha
vida e rumando para o amanhã,onde terei dinheiro e com meus sonhos
poderei ter sucesso.E então quem sabe poder ver o que fiz e
comemorar com minha família.Eu gosto de sopa,principalmente a de
letrinhas pois me divirto com as letras e com elas componho palavras
que vão fluindo na noite com precisão.Mas sonho também,não tenho
culpa,e é até bom,me faz sentir bem,por isso sigo escrevendo estas
palavras para que o mundo veja o que penso,para que o mundo veja quem
é o gato,essa figura imensa que assola o mundo dos sonhos mas que
gosta da realidade e vagueia por um mundo onde cuida de sua própria
vida e vive uma sequência de vidas que são só suas.As minhas
vidas,que são diversas mas juntas são só uma,as diferentes facetas
de minha vida que são várias mas duiluem-se numa apenas,levando a
crer que minha vida apesar de complexa seja apenas uma,um único e
longo caminho que sigo todo santo dia,como se jamais fosse ter fim,no
frio do Sul do país.
Mas
eu preciso de mais,de sonhar de fazer fluir a música da vida até
que as sinfonias fluam de forma explendida mas com seu fluxo
controlado,gotejando palavras para que tudo saia certo e bem.Dormindo
para descansar de uma vida cansativa que nos leva ao nada apenas para
nos vermos engolidos por nosso próprio exagero que eu digo não vale
a pena.Não gosto de me sentir cansado por isso relaxo e escuto a
programas de televisão com música muita música.Quero ver o que
está rolando pela música internacional e eis que me vejo engolido
pelas rimas.Mas falta mais.Muito mais.Por isso continuo,até ter o
que quero,e paro para festejar.Por hoje chega,e vou dormir.
Eu
sou o gato e quero curtir a vida como nunca curti antes.Mas quero
chegar e descansar também e não apenas curtir.Poder relaxar e ouvir
algumas palavras antes que anoiteça.
Só
assim estarei satisfeito.
Mas
estar satisfeito é viver e dormir com minha família e isso é o que
faço aqui no pântano de nossa casa onde esqueço os problemas
cotidianos e me escondo de um mundo frio e desagradável.
Mas
as palavras vem e são poucas e é nessas palavras que me refiro.São
essas palavras esses momentos,essas conclusões a que chegamos juntos
é que me fazem bem e me alimentam.É assim que quero viver.E por não
ter mais ninguém fico com minha família,festejando com nossas
bobagens nossas fantasias até que a morte chegue,um dia e nos leve
dessa para uma melhor,mas até esse dia,ainda demora.Esse dia ainda
demora para chegar.
Mas
é esse significado que me alimenta e eu sigo em frente com
eles,essas criaturas que um dia foram minha mãe e meu irmão,George
Hilton,essa grande figura de nosso tempo.
Eles
são tudo que tenho,tudo que desejo aqui.
É
isso,creio que não existe comparação.Sou como uma Brastemp.
Comigo
não tem igual e aqui estou para escrever.Os pingos de uma chuva que
vem começando caem no jardim.
E
a foto continua pendurada na parede da sala.
PRESENTE
DOS DEUSES
Estava
eu consultando o doutor Google,certo dia,fazia um dia de sol lá
fora,fora do farol,quero dizer.Os livros jaziam nas estantes,os
papéis na mesa da mulher que cuidava do farol,os computadopres
inclusive o no qual eu mexia,as janelas as costinas balançando ao
sabor do vento,enfim tudo parecia estar se passando da maneira mais
ou menos mais normal possível dentro das possibilidades do que possa
vir ser chamado de algo normal,quando aconteceu.
Pela
porta do farol,fechada,encostada pronta para que alguém viesse e a
abrisse pronto para usar algum computador ou pegar algum livro,entrou
uma senhora já de idade e sua filha,aquela coisinha que viria a ser
naquele dia,o motivo de toda minha loucura.Pelo menos boa parte do
que viria a ser ela.Pela porta do farol adentrou a flor mais linda
desse mundo acompanhada de sua mãe uma senhora de cabelos
castanhos,vestindo roupa daquelas que as crentes evangélicas usam
quando vão fazer alguma visita nas casas dos moradores da cidade.
Ela
era uma menina,ainda uma adolescente mas já linda,de longos cabelos
castanhos,e uma expressão de prazer indescritível estampada em seu
rostinho pueril.Era como se despertasse flores e fosse dormir rosas
em sua casa não sei onde ficava.
Vestia
um vestido cuja cor não me recordo agora,mas sei que parecia
belíssima com seus sapatinhos bem calçados.Ambas me viram mas nada
falaram,apenas continuaram sua visita ao farol talvez na busca de
algum livro ou CD para pegar emprestado ou então ainda no intuito de
fazer a ficha da menina ou da senhora para pegar algum livro ou
CD,que estivessem com vontade de pegar emprestados.Ouça o que venho
a dizer aqui.Venho a documentar esse acontecimento que foi a entrada
da menina flor no farol do saber do Xaxim,quando esse mundo se
resplandesceu de cor e graça,de luz e explandescer quando aquela
coisinha fofa pôs os pezinhos adolescentes naquele estabelecimento
aonde me encontrava,mexendo no computador consultando o doutor
Google.
Quando
vi a pela primeira vez nada parecia haver de diferente com o
ambiente,mas foi como que de repente,tudo se encheu de graça e
cor,para mim,o Gato,acostumado a devorar os livros do farol e estudar
em casa e mentalmente tudo o que houvesse ao meu redor.Junto com
George que devorara livros desde os dez anos de idade,eu me
encontrava lançando a finesse e o bom senso,a necessidade de estudo
e conhecimento,informação e saber aos píncaros do que se pode
chamar de possível no farol e em família,onde todos me conheciam
como aquele que desejava publicar estórias de ficção em alguma
revista do pais.Minha tia já me perguntara como eu estava indo com
meus contos e avisei que estava pondo em pratica meu conhecimento
como escritor e era isso que iria fazer.
E
eu sabia que aquela menina estava querendo também,eu podia sentir em
cada movimento dela que ela,que segundo disse sua mãe estudava no
colégio militar,estava lá no intuito de amadurecer como pessoa e
aprender alguma coisa sobre livros e o conhecimento do mundo.Eu que
sabia algumas coisas sobre interação magnética,valor senoidal,algo
sobre geografia,eu tinha os livros lá em casa comigo,fiquei abismado
com a beleza de tal figurinha bonita,de tal flor bela,que apenas
queria aprender sobre as coisas da vida,e com uma incrível vontade
de conversar com ela e ensiná-la sobre coisas como a rua em que
moramos e o mundo que nos cerca.
E
lá estava ela,com toda sua bossa,e notei que algo acontecia
comigo,logo todo meu conhecimento foi dando lugar a uma admiração
incalculável,mas não sensual,mas algo vindo do coração,como se a
paixão de um mundo cruel e cheio de seus instigáveis mistérios de
repente se abatesse contra mim,como num sobressalto e senti-me
abatido por uma força sem igual,incomum que me deixou fora de mim e
absorto de meus estudos que executava no computador.Parei de mexer no
computador que não ligava,e observei tal figurinha bela,o vestido de
não me lembro que cor,os sapatinhos bonitos e ela começou a olhar
ao redor e voltou suas vistas para mim como que analisando-me como
que desejando que tudo de bom acontecesse para mim de tão boazinha
que parecia ser aquela menina.E parecia que havia algo a mais nela,eu
a reconhecia,talvez parecida comigo mesmo ou algo parecida com minha
mãe,mas não sei algo familiar que me deixopu extasiado e fora de
mim por alguns minutos,por algum tempo fiquei fora do
ar,observando-a.
Senti
seus movimentos enquanto ela se aproximava analisando o farol em seus
detalhes mais distintos.E olhava para mim,eu juro que achei que ia
sair correndo daquela cadeira em que estava sentado mexendo no
computador e me jogaria em seus braços a abraçando também,se isso
fosse necessariamente possível e se isso fosse nada mais do que uma
boa idéia também,mas ora,quem estava se importando com coisas
loucas agora?Eu queria estudar tudo ao meu redor inclusive ela.
Agora
enquanto escrevo essa pequena narrativa,até mesmo me lembro de que
preciso tomar meus remédios da manhã,de tanto que ela me faz pensar
e faz minha mente entrar em ação.
Que
aliás esqueci,agora vou até a cozinha e tomo meus remédios que
necessito aliás.
E
então voltamos ao nosso tarquínio,ela,de como ela me fez sentir
bem,quando a vi no farol e me encontrava mexendo no
computador,consultando o doutor Google.
Mas
o computador não ligava,como disse antes,e aquilo me deixou irritado
por um momento,mas fiquei lá absorto,olhando para a menina de
vestido,a menina que estudava no colégio militar,que chamou minha
atenção quando me virei e a vi depois dela entrar no mesmo farol.
Olhei
para suas pernas e a imaginei nua,comigo e aquilo me fez ficar louco
de satisfação.
Mas
nada disse para ela,nem mesmo cheguei a conversar com ela,apenas a
encarei de frente enquanto ela analisava o interior do farol,como que
curiosa para saber as novidades ou o que estava perdendo de tal
local,de tal estabelecimento de cultura,que agora ela adentrava para
fazer algo como uma ficha segundo ia dizendo sua mãe,para a mulher
velha do farol,a mulher estranha que conversara coisas sobre meu
cachorro ter problemas mentais,algo bem perturbador assim,falou
inclusive se meu irmão era doente mental se não me engano algo
assim,que irmão doente mental?Se é que não tive nenhum mentecapto
na família é na nossa apenas chacoalhada por alguns acontecimentos
como a morte de meu pai e minha doença mas nada parecidso como
alguma crise de demência ou algo assim,tenho a doença,mas escrevo e
estudo todos os dias e não vou parar de escrever ou de estudar nunca
nem daqui até o dia de minha morte,vou morrer analisando as
coisas
ao redor e estudando-as assim como fez meu pai e assim como fez meus
irmãos sempre prendados doentes tambem,mas trabalhadores e espertos
como nunca se houve membro de alguma família melhor.George por
exemplo,um crânio apenas precisando se aprofundar mais nas coisas
mas um gênio,que admiro aqui abertamente.
Mas
como ia dizendo,a menina,também inteligente também queria aprender
e estava a procura talvez de alguém que se juntasse a ela para
estudar as coisas ao redor e talvez viver como uma família,quem sabe
a procura de um namorado,e sabia que se não fosse esperto como uma
raposa e não aproveitasse cada chance que tinha,um homem qualquer
chegaria e a levaria para longe de mim,eu sabia muito bem disso,e
esses tipos de homens eram o que mais haviam por aí.Sei por
experiencia própria como quando me apaixonei por Evelin e a levaram
embora de mim,um negro,da região ainda por cima.Eles são ladrões
esses homens e temos que estar preparados nós os escritores,para
qualquer cilada que essa vida pode proporcionar-nos.Eu estava ciente
mas nada fiz sem poder fazer nada,se sentindo calado hipnotizado sem
saber o que falar,quem sabe apresentar os livros mais importantes
para ela,mas não fiz,apenas a deixando,com medo de que algo pior
viesse a acontecer.E lá estava ela,apenas com sua mãe,na companhia
de sua progenitora,esperando para pegar a ficha completa,quatro
livros e sair dali para nunca mais voltar.
Eu
simplesmente a adorei,em cada detalhe,em cada centímetro de sua
pele,seu corpo bonito seus pés,tudo,eu a amei,como jamais havia
amado nenhuma garota antes na história de minha vida.
E
ela ficou ali a olhar para mim e para os livros,como que ansiando
para que eu conversasse com ela a respeito de alguma coisa,talvez não
fosse vê-la nunca mais mas sabia também que nada podia fazer uma
vez que se encontrava hipnotizado com sua presença,e também por um
outro motivo,o computador não estava ligando.
A
faxineira que vinha chegando por detrás de uma das prateleiras me
serviu de ajuda.A chamei e falei que o computador não estava
ligando.A senhora que cuidava do farol avisou que já ia me ajudar
que era apenas terminar de fazer a ficha da menina,que ela iria me
ajudar.Fiquei ali esperando,mas a faxineira veio e apertou o botão
da CPU do computador o ligando,dizendo depois que era apenas um dos
usuários anteriores que haviam desligado a CPU do computador e que
eu já podia usar o mesmo.
Foi
então que a menina se pôs a escolher um livro,entre os milhares que
haviam nas prateleiras do farol,e eu me pús obviamente a consultar o
doutor Google,a mexer no computador.
Não
me recordo o que vi com o doutor Google,aquele dia,mas me recordo de
observar a menina dos meus sonhos achar um livro ou dois que gostaria
de ler se virar e ir até a mesa da senhora estranha com sua mãe
para registrar o emprestimo.Assim que tudo estava feito pegou e se
foi,com a mãe embora do farol dizendo algumas coisas de que queria
muito saber de mais coisas que poderia fazer para aperfeiçoar seus
conhecimentos.
E
eu fiquei ali,chupando o dedo,consultando o doutor Google,sem saber
se me levantava e ia para casa e esquecia aquilo tudo.Bem,foi o que
fiz,depois passei mal,me senti extremamente mal devido a minha doença
e só sei que estou aqui agora escrevendo esse conto e que acordei
esta manhã bem,mas tão chateado e aborrecido por tudo que mal sei o
que dizer á respeito.
E
a menina se foi,rua afora com a mãe.Sabe-se lá onde mora,só sei
que estuda no colégio militar.
Aquele
era realmente o meu presente dos deuses e saí de lá,me sentindo um
campeão apenas por ter visto tal menina.Hoje,quando fui dar uma
volta,estava me sentindo mal com aqueles que querem me destruir mas
não dei bola e me senti bem,por saber que agora sou um escritor e
quase publicando um conto atrás do outro,e não apenas
isso,trabalhando e estudando as coisas ao meu redor como nunca,e me
senti mal por sentir aquele frio estranho que eu não gosto de sentir
dentro de mim,talvez culpa de alguma homeostase que ocorra em meu
corpo ou então pelo mero frio de Curitiba.Mas senti o arrepio da
vitória ao me imaginar atrás de uma mesa mexendo com um computador
e computando os meus trabalhos,como estou agora.Andei mais um pouco e
mais a frente encontrei duas mulheres.E elas se abraçavam e se
confraternizavam,contentes com alguma coisa.Com o que elas estavam
contentes eu não sei,só sei que me cumprimentaram felizes me
chamando de filho e muito mais.Voltei para casa,curioso com o
cumprimento das mulheres.Será que tinha algo á ver exclusivamente
comigo ou era apenas um momento de comunhão entre duas mulheres
contentes com a vida e felizes com alguma coisa?Não se sabe,mas sei
que voltei para casa contente com o cumpriumento das duas mulheres
que chegaram a me chamar de filho,coisa rara ao meu ver nessa região
tão cheia de maconheiros.Agora enquanto escrevo,me lembro de um
jovem amigo,um drogado mas tudo bem,nem tudo é perfeito,ele me disse
que é para nós sempre estarmos estudando alguma coisa ou fazendo
alguma coisa,até trabalhando,quem sabe.E ele estava certo,é isso
que eu devia fazer e agora eu era escritor.
Agora
sentia que estava fazendo alguma coisa e isso era bom.
Mal
podia esperar para anunciar em família o lançamento de meu conto na
revista eletrônica,iria colocar no meu site do facebook e se os
encontrasse pessoalmente seria uma festa,iriamos conversar durante um
bom tempo sobre uma carreira que está apenas começando.
Mamãe
não consegue sair,eu sei,isso é ruim,mas meu sonho era ir dar uma
volta de ônibus com a velha na casa de algum parente ou até viajar
com a velha se fosse possível,de tão contente que eu estava.Agora
eu estava vivo e tinha o que comemorar.O mero fato de estarmos vivos
e minha carreira como escritor. Aquela garota era meu presente dos
deuses mas mais do que isso,o presente maior era estar bem e
trabalhando em algum plano que no futuro pudesse me trazer o
fechamento de algum contrato ou até,dinheiro!O tão sonhado
dinheiro!
As
coisas estavam só começando a acontecer e era bom demais,eu ia
ficar famoso com o conto na revista e logo as editoras iam começar a
chamar.E se uma editora me chamasse?E se me contratasse?Seria o céu
para mim e minha família,que sempre tiveram como sonho ter um
escritor na mesma.
Bem,mas
a menina se foi,e para nunca mais voltar.Quem sabe a veja de novo
numa dessas idas minhas ao farol para estudar no computador,fico
pensando o que faria se a visse de novo,se conversaria com ela ou se
a seduziria de alguma forma,mas é difícil.
Entrementes
continuo aqui escrevendo e enviando essas crônicas, esses contos
para a revista e para muitas outras onde já tenho planos de
publicar,começando com a revista Trasgo,uma revista de ficção que
publica contos de autores desconhecidos.Quem sabe tenha uma chance.
Por
enquanto continuo vivendo nessa casa e escrevendo para revistas e
esperando que meu reconhecimento como escritor venha ao mesmo tempo
que vá produzindo.Essas obras,eu garanto,vão ficar na história da
literatura como classicos que o mundo já conheceu,e minha carreira
quem sabe cresça,e atinja níveis jamais vistos para um escritor
como eu,quem sabe não.Mas o que importa é estar trabalhando e
estudando como estou,e festejando com minha família mesmo que minha
mãe me corte sempre que eu esteja sonhando alto.Mas ela me ajuda
também,como por exemplo quando falou se eu não queria vender uma
das estórias para a televisão,para ganhara algum dinheiro com a
adaptação.Quem sabe com alguma coisa,quem sabe ganhe algum dinheiro
mas só uma coisa é certa,minha carreira de escritor e estudar as
coisas e me manter são são como um verdadeiro presente dos deuses
para mim.Me sinto nas nuvens.
COMEÇANDO
A SEMANA
Atenção
Curitiba,começando mais uma semana com força total,começando o dia
com uma decepção,não foi publicado meu conto na revista.Ora,e eu
aqui esperando que desse tudo certo,confiando naqueles caras da
revista que obviamente não estão nem aí para minha carreira de
escritor que vejo aqui como praticamente paralisada.Não há
possibilidades senão pagar a publicação do livro por alguma
editora de aluguel mas isso só depois de eu começar a estudar e a
trabalhar caso eu encontre algum emprego.Ser escritor é praticamente
impossível num país em constante recessão como o Brasil,onde não
temos investimento.e não tenho nem emprego como escritor para
publicar algum conto ou mesmo um livro.Portanto,permaneço
aqui,parado,mas em ação,fazendo compras, tomando café da tarde
como sempre, vivendo minha vida como se nada tivesse acontecido.Vou
seguir em frente agora com muito mais família,muito mais memória,e
muito mais vontade de vencer nessa vida.
Mas
sinto uma sensação tão estranha sentado aqui nessa máquina
empoeirada,com as mãos meladas de café,o rack empoeirado,e tudo
exatamente do mesmo jeito que deixei á algum tempo atrás,como gosto
de deixar as coisas que uso.Parece que tudo continua como sempre
exceto o nojo pelas coisas que vejo na televisão como a
entrevistadora com a saia arregaçada até a coxa,completamente
contra o respeito e a moral do povo brasileiro,segundo comenta minha
mãe,sentada a meu lado também cansada de sair correndo limpando
tudo e fazendo tudo para manter tudo limpo e arrumado.
Acredito
que ela desejasse uma folga dessa vida estressante,mas não podemos
deixar as coisas sairem do controle,mas sabe de uma coisa?Um pouco é
exagero,e sei que podemos muito bem curtir um pouco desta vida sem
nos preocuparmos com problemas do cotidiano.Eu,meu Deus passei por
cada uma mas agora estou melhor,a doença me fez acordar e ver o que
realmente significa esta vida para mim.Agora cada coisa que escrevo
faz todo um sentido para mim e significa muito mais do que qualquer
terapia ou ida a psicólogos que no meu ver não me ajudou em
nada.Escrever é um modo de me expressar e ao mesmo tempo de
desabafar meus medos mais profundos.Mas também de registrar vitórias
e bons momentos.
O
estudo e o desenvolvimento do intelecto são coisas extremamente
importantes para a pessoa e para mim mais especificamente,mas rir das
desgraças da vida tem sido um prazer para mim ultimamente.Por que eu
sei
que
há muita gente querendo meu mal por aí,e eu não ligo nem um
pouco.Agora parece que a foto está finalmente fazendo alguma coisa
comigo que vale a pena.
Agora
me sinto mais feliz e realizado e mais descansado,bem diferente da
pessoa sufocada que me sentia á algum tempo atrás,mas acho que isso
foi apenas uma fase,mas também não quero embarcar em loucuras.Sem
loucuras.Só a boa literatura que aprendi a gostar,mas os melhores
escritos os que mais gosto de ler são os meus próprios.Gostava de
Stephen King mas resolvi dar uma descansada de tantas criaturas do
Mal e no demônio e outras coisas que não existem,pois o demônio
não existe e o único mal está na cabeça das pessoas.Só resta
agora as vezes aquela figura da negra que não quer me deixar em
paz.As vezes fica demais e eu tenho que ir dar uma
volta.Espairecer,ler um livro alguma coisa assim,mas isso é o mínimo
que poderia me incomodar comparado aos tremendos choques que tive com
o passar dos tempos,coisa de enlouquecer gente sã.Mas isso passou e
agora só me resta lutar contra uma química corporal falha e que me
faz passar por pesadelos as vezes.Mas estou bem melhor,estou
limpo,não bebo,não uso drogas nem nunca fiz estas duas coisas,e
tudo parece estar melhorando.Ao menos eles não podem me chamar de
drogado ou bêbado que sai por aí feito um safado aprontando,e sei
muito bem que não sou mais nenhuma criança,porcaria,sei muito bem
disso.Rio daqueles pensamentos negativos.Eles não vão estar em pé
por muito tempo.Eu vou derrubá-los e rir na cara deles,eu vou depois
me virar e simplesmente ir embora,pois não nasci para
perder,porcaria enquanto estou aqui sei que estão rindo da minha
cara em algum lugar,droga.
Eu
preciso lutar e ser forte,e sair dessas ondas de desconforto que me
afligem até estar livre livre de toda essa porcaria.Pois só assim
me sentirei bem.E,além do mais,é tudo tão bom que nem me importo
se passo mal as vezes,o que quero é curtir e trabalhar pela
família,ninguém aqui nunca prometeu um jardim de rosas para
ninguém,e sabemos que a vida é dura,então vamos esquecer as
mazelas da vida cotidiana e vamos nos divertir e escutar boa música
pois essa vida é curta demais para paramos e ficarmos brigando,mais
do que já ficamos de mal um com o outro,vamos aprender a ter aquele
toque especial,de saber rir das desgraças da vida.Mais do que
palavras,a vida está aí para ser vivida.As palavras descrevem tudo
mas só servem para nos dar aquele clima de segurança de que todos
precisamos.O resto vem com a vida.A foto me fez sentir isso e vai me
fazer sentir mais pois é a foto que simboliza os anos oitenta,e
quando eramos felizes.
Agora
enquanto escrevo,posso sentir a presença do professor Menescal,meu
pai, que ressucitou e agora vive na casa de um mundo de ficção que
adoro,e que sempre estará presente em meus escritos.
Eu
só me recordo uma cena,bem assustadora,o anoitecer na dona
Clarice,quando uma história de doença chegou ao seu apice para
estourar e tomar rumo,um rumo que está só começando,mas que
assustou bastante quem o viu,uma família confusa se reestabelecendo
para voltar com tudo com cena e tudo o mais desta vez
reestabelecida,e cheia de significado.Hoje parece engraçada mas
assustou e foi bastante desagradável então.Só peço desculpas á
mamãe e George que presenciaram minha metamorfose de uma espécie de
vampiro mental perdido e louco num escritor,tentando voltar a si em
sua própria existência.
A
foto me ensinou que temos a chance de errar parar e recomeçar,de uma
maneira melhor que possa exaurir toda a doença de nossas vidas,de
nossas mentes,doença social que corrói e aprisiona a vida de muita
gente.Mas sei que sofri enquanto acontecia.Nunca chorava mas derramei
lágrimas quando vi que estava doente,desta vez para aprender a
última lição que poderia aprender como pessoa doente,a de que não
posso continuar sem pensar em nada como estava.Estava
demais,precisava de uma preparação intelectual,pensar,aprender
sobre as coisas ao redor.E me curei,hoje sou uma pessoa bem
melhor,mais confiante e ciente de tudo que me cerca.Mas enquanto
acontecia,minha nossa,foi fenomenal.Mas passou.E hoje luto para
melhorar a cada dia.
Agora
a vida está aí e pronta para ser desnovelada.Agora é só viver.
Nos
encontramos no final da década de 2010,que foi assustadora para
mim,e prontos para adentrar uma nova era uma era de ordem e
progresso,vida e saúde.Paz e esperança.
Mas
nada é tão assustador quanto meu passado,vampiresco e
louco,totalmente sem significado ou sentido uma massa disforme que
tenho vergonha e medo em mostrar por ter sido exatamente como eu não
queria.Agora é recomeçar do zero,como se esta vida não passasse de
um conto de terror psicológico,um suspense cheio de mágoas e
desalinhos,algo funesto.
Mas
chega de coisas funestas e vamos ao que interessa.
A
minha vida.
A
MATILHA.
Me
encontro aqui sentado,escarrapachado nesta cadeira,escrevendo.
Nosso
paradeiro por enquanto é Bairro Xaxim na Cidade de Curitiba,numa
casa grande fria e mal-acabada.Estamos com tudo aqui,nossas coisas
temos telefone e tudo o mais.Passo as tardes escrevendo e
desenhando,quando não estou escutando música.Mas logo não
estaremos mais aqui.George e Mama disseram que vamos nos mudar ainda
esse ano.Venho passando mal de vez em quando,mas estou
melhorando,pelo menos agora sei que somos nós,e não a casa ou
qualquer outra dessas besteiras.Querer uma casa própria vem cada vez
mais me parecendo uma tolice.Ter dinheiro e fama como escritor me
parece melhor.Vou começar á vender livros agora em agosto.Vou
começar á estudar ainda final desse mês,só para passar o
tempo.Ter o que fazer,mas nada me tira da cabeça de que deva começar
é vender meus livros.Os exemplares dos livros que escrevo são meu
sonho e ser escritor tem me dado mais prazer que qualquer outra coisa
nesse mundo.Dane-se as grandes editoras,vou passar a publicar por
copiadoras mesmo,e vender os exemplares de meus livros.Estou agora
com o GRAMPO DO MAL,e espero poder tirar as cópias o mais rápido
possível.Agora o sabor dessa vida não passa de uma tarde tentando
vender os livros por aí,muitos exemplares por comprador,e um gole de
suco barato desses comprados em super-mercados de subúrbio de quinta
categoria.Saí com mamãe hoje e ela nos disse na janta que está
melhorando de novo,e com planos de voltar a caminhar de novo com mais
vivacidade do que estava caminhando antes,quando estava doente.
Agora
arrumo meu quarto,para mais uma foto para a posteridade amanhã quem
sabe,enquanto penso a respeito da vida de meu irmão Sandro,que
parece que está desempregado de novo enquanto a esposa se encontra
internada com depressão num lugar aqui pelas cercanias de
Curitiba.Pobre mulher.Penso em como está indo meu irmão diante
disso tudo,enquanto o espero amanhã para talvez uma visita,já que
as coisas chegaram nesse ponto.Mas acho que ele não vem.Até mesmo
seu filho está doente se não me engano com epilepsia,descobriram a
doença no rapaz á algum tempo.
A
doença tomou conta da família quase inteira quando não foram
desavenças matrimoniais que interromperam casamentos e hoje todos
estão sozinhos exceto Sandro que está quase prestes a perder a
chance de ter uma vida normal com a esposa deprimida.Só não sei até
quando dura George Hilton,com aquela doença que o impossibilitou de
trabalhar para sempre.As vezes parece que uma lágrima vai rolar por
minha face e sinto vontade de subir aos céus para pegar uma estrela
e trazer para George,se estrelas fossem tão pequenas assim.Ou um
pedaço de nuvem,e presenteá-lo,mesmo sabendo que de um dia para
outro ele pode não estar entre nós.Já o vi passando mal uma vez na
praia,e posso dizer que não é nem um pouco agradável.É,a doença
pode ser desagradável,mas devemos cuidar,agora levar a melhor vida
possível com ele,coitado,agora que não resta mais esperança de ele
melhorar.Que esses últimos dias sejam o melhor possível.
Eu
do meu lado lutando contra uma doença que me faz passar mal de vez
em quando,mas tentando lutar com todo afinco por uma vida que é
minha.Ainda tenho sonhos de fazer muita coisa nessa vida ,apesar de
tudo.apesar da doença,um fantasma que procuro encobrir a todo custo.
Quanto
á desilusões eu sei que elas acontecem,mas não sejamos tão
emotivos assim para largar mão da vida e desistir de tudo,temos
muita coisa á ser feita ainda.E não é nenhuma putinha das ruas de
Curitiba que vai me derrubar não.Ainda pretendo fazer muita coisa.
Agora
é noite,uma noite estranha,difusa,que beira as raias da loucura e
sabe que eu não gosto de loucura.Gosto de manter tudo organizado e
apenas descansar,mesmo que os outros em sociedade pareçam amar os
loucos que andam por estas bandas,não sei por quê.Talvez tenha algo
á ver,mas não uso drogas,não bebo,e não vou começar á fazer
isso nunca.Estou limpo e se morrer vai ser de algo muito forte e vai
ser obra de Deus e de uma química muito da vagabunda que me
acompanha,por isso respeito á Deus,e seus anjos e não quero criar
confusão com eles,unica espécie de criatura ou coisa invísivel na
qual acredito.
Mas
vamos esquecer de doença e nos ater á vida.
Vida
que é boa,mas que necessita ser cuidada,ser estudada,ser
trabalhada.Vida que escorre por seus dedos quando dormimos um bom
sono á noite,nos agarrando no travesseiro,vida que se encontra num
quarto de casa á tarde,quando deitamos e assistimos ao
televisor,vendo o canal de música,que nos presenteia com a nova
mulher da música Marina Diamandis,e suas letras leves e sua levada
agradável,vida que se reflete quando escrevo sobre ela mesma,a minha
vida,vida que é só minha,vida que se reflete quando bebo um bom
café com George Hilton e Mama,que me contam seus planos para o
futuro,que para eles são muitos,vida que vem do passado quando
lembramos os bons momentos que passamos juntos,vida que passa nos
momentos de amor entre nós e o mundo,um mundo que pode ser belo e
encantador como quando passeio por jardins perfumados com minha mãe
e nos divertimos na tarde sossegada,vida que eu jamais quero ver
acabar enquanto eu puder viver,uma vida bela e cheia de esperança
que quero ver florescer á cada dia á cada noite,vida que se reflete
na manhã fria de inverno quando essa vida cigana parece estar apenas
começando,vida que se vê nos olhos de meus irmãos quando eles
brincam dizendo coisas em conversas de
família,vida
nos momentos especiais da família quando a dança da vida se faz
presente em rituais que foram criados por nós mesmos,enfim vida.
Agora
em agosto quero ver se começo a vender os exemplares de GRAMPO DO
MAL que ainda vou fazer na copiadora.Quero fazer um bom
dinheiro.Cobrar um bom preço por exemplar.Pretendo fazer um maço
gordo de dinheiro,nas tardes em que vou sair vendendo a primeira
fornada de livros.
Enfim,quero
aproveitar.Viemos cruzando o Sul do Brasil e pretendemos continuar
até nossa morte, quando a história dos filhos de Mama e do
professor Menescal,Sandro Jarbas,Andrea Jackeline,George Hilton e
James Stewart Malheiros,chegar ao fim e morrermos,chegando ao fim
derradeiro.Mas até lá teremos muita história para contar!
Essa
é a história da matilha,desde que recomecei para por em ordem minha
cabeça perdidona que se encontrava relapsa e parada.Agora tudo faz
sentido.E essa vida é tão ou mais perigosa que as armas usadas por
Bonnie e Clyde enquanto eles cruzavam os Estados Unidos roubando a
América,é tão ou mais perigosa do que a mente perversa e genial de
Jesse James,enquanto esse cruzava o Velho Oeste assaltando bancos até
ser pego em sua casa num lugarejo americano.As pessoas são malvadas
e matam e roubam,plantam a desordem e incriminam uma as outras para
ver o horror na cara de pessoas inocentes,essa vida é tão perigosa
quanto Ma Baker,e posso dizer,passar por essas aventuras não é nada
agradável para quem as passa,mas é um prato cheio para a
imprensa,sempre ávida por sensacionalismo barato.Mas esqueçamos a
imprensa agora e curtamos a família.É tão gostoso se lembrar dos
momentos bons com George Hilton e Sandro Jarbas,com Mama,e Andrea
Jackeline,e posso ver ainda ali no chão,é Minie,nossa velha
cadelinha.Me lembro de Minie sempre correndo de um lado para
outro,contente,esperando por um carinho ou um aconchego em sua
caminha.Vou lembrar de Minie até o fim de meus dias.Antes fôra
Diana,sempre brincando.Mas isso tudo passou e agora é tempo de
pensar,de construir alguma coisa,alguma coisa com sentido,com
significado,que tenha uma mistura de palavras e sentimento,escrever
como jamais se escreveu antes,ultrapassar os limites da mente humana
e ir além,e isso é algo óbvio,uma vez que a palavra descreve á
tudo.
Pode
parecer assustador,mas é em noites como essa que penso em meu nome.
É
o nome de um ator morto,mas isso já chegou á me enlouquecer muito
durante um tempo.Possuir o nome de alguém que já morreu.É
estranho,até sutilmente macabro.Mas nunca deixei isso me
afetar,sempre luto para escrever melhor á cada dia.Escrever para mim
é um treinamento,para meu próprio ser.É um modo de colocar
significado em minha vida e encher de sentido uma vida serena e
chacoalhada pela dor de possuir uma doença que os médicos chamam de
esquizofrenia mas que nem eles chegaram á descobrir o que era.É uma
doença misteriosa que me faz passar mal de vez em quando,e me faz
escrever essas coisas tão cheias de sentido e sentimento,nexo e
significado.
Mas
a matilha,o bando,é esse,aqui estamos para o que der e vier mas
sejam carinhosos com essas velhas almas e façam algo para amaciar o
coração dessas criaturas que um dia se chamaram os Malheiros e
foram um dia filhos do Professor Menescal,morto á muito tempo atrás
atrás da casa na Penha,de forma macabra.Não,esse ainda não é o
fim,como pensei que fosse quando fiquei doente e ainda posso vir a
ver a família prosperar e ocorrer uma reviravolta nessa
história,menos para George Hilton e Mama,que se encontram
convalescendo já nos dias de hoje e só querem viver seus últimos
dias em paz.Mas ainda não morremos,vamos George,vamos Mama,vamos que
vocês conseguem!
Mas
somos nós e tudo o que podemos fazer é comemorar uma vida que já
passou e foi linda as vezes e teve seu lado ruim,mas ora,tudo tem seu
lado ruiim,não é mesmo,sempre há a metade podre da maçã!Somos
nós e aqui estamos para viver essa vida e tirarmos muitas fotos para
ficarmos para a posteridade.Como o fizeram muitos dos grandes nomes
da Antiguidade,seja no faroeste seja em qualquer parte da história
da humanidade.
Tiro
uma foto.Guardo,mas isso não faz passar minha dor.Há algo de
errado.
Deus,só
não deixe eu enlouquecer como aconteceu no passado quando eu apenas
desisti de tudo e me deixei levar por nada em si,por minha completa
ignorância.Mas não isso não tem mais nem mesmo chances de
acontecer.Mas continuo ouvindo meu subconsciente sujo,porco,mexendo
comigo como que me provocando.Apenas faça algo para que isso
passe,James,apenas faça algo.
Não
compreendo George,não sei como já não enlouqueceu,nessa casa
grande e suja,fria e mal-acabada.Ele continua como um fantasma ainda
insistindo em dizer que nada pode fazer,por estar doente.Meu
Deus,aonde vamos chegar?Depois não quer ficar desesperado por estar
perdendo a credibilidade no facebook como sempre faz,coitado.Já
sei,vamos propor uma brincadeira em família,esta noite vamos
desligar só um pouco a televisão e vamos conversar.Quem sabe faça
passar esse clima de artificialidade e reavive o espírito
familiar.Por que é necessário,não é mesmo?Nossa,onde está a
família agora?Parece que sumiu.
Só
faça algo para passar a dor,James,antes que fique demais.Ficar
parado,não é bom.
Só
espero que essa noite seja a ultima vez que isso venha a me
acontecer,porque não aguento mais ter medo da loucura,é algo que já
assolou nossa casa e não quero mais ela aqui dentro.
Agora
lá fora é tudo escuridão,droga.E eu não gosto do que está
acontecendo.Eu já vi muitos sucumbirem desta forma e não quero ser
mais um mas minha família não me ajuda.O que eles pensam?Que viver
como velhos senis é algo correto?Credo.
Só
espero que tudo dê certo.
Temos
uma discussão mas tudo passa.Tomo dois comprimidos de Seakalm e vou
dormir.
A
outra semana começa com uma grande foto no facebook,de mim fazendo
careta.
Não
estou nem aí.
Passo
mal de novo,desta vez a noite.Nada me tira da cabeça que isso é
algo neurológico,uma vez que quando isso acontece,é sempre um tempo
depois da última ocorrência,mas os médicos simplesmente disseram
que não há nada de errado com meu cérebro,de que ele é 100%
saudável e são.O problema é algo que eles desconhecem,por isso
resolveram colocar como esquizofrenia mesmo,mesmo que o diagnóstico
seja algo errôneo,eu sei disso.
Mas
resolvo esquecer por um tempo o caso e vou dormir,dormir tem sido
minha salvação nesses últimos tempos.Quando se dorme,o cérebro
renova os pensamentos e torna-os saudáveis.
Justo
agora,depois de já ter passado algum tempo,quando me preparo para
acessar o site da Distribuidora,na tentativa de recomeçar a
trabalhar,após ter esquecido o que tinha feito naqueles dias,Rodrigo
,da editora Viseu me envia um e-mail,como previsto,me convidando á
voltar á considerar o livro.É o sinal para recomeçar á trabalhar
nas redações.O trabalho de sempre.Quem sabe agora seja o tempo de
ganhar algum dinheiro,de me divertir um pouco.Para sair dessa,só
mesmo uma bela janta na escola,algumas palavras novas e Bum!Tudo
volta a acontecer.Regina me convida á lidar com literatura de novo e
tenho a escola para curtir um clima de festa,me mostrar,e pensar no
que vou estar escrevendo nesse mẽs que vem.Mẽs que vem encarrera
costumava falar mamãe,mas não se incomode não,mãe,que dinheiro
aqui não põe mesa.Estamos aqui mais para se divertir.Dinheiro é
muito relativo nesse meio,se eles cobram para publicar um
livro,depois convidam á discutir a negociação do mesmo,o negócio
é partir para a festa e a curtição.Na recessão em que se encontra
o país,o negócio é se divertir mesmo,então vale tudo,sonho e
festa estão valendo.Mamãe se esmera para fazer tortas e pizzas para
comemorar nossas existências e George faz de tudo para criar um
clima de festa.É isso aí,desde Almir Correa no Shopping Estação,até
pizza em casa e farra na escola,o negócio ah o negócio é curtir a
vida como nunca,agora nesse 2018 que vem chegando e se vai para
terminar e começar mais um ano,sempre com consciência e festa,mesmo
que as vezes a coisa esquente,tudo vai bem e é só seguir em frente.
Agora
vejamos o que nos reserva Rodrigo nesse começo de semana.
A
semana chega,passa,e eu imerso em meus afazeres domésticos,em minha
vida.Rodrigo Regina chega ao fim e me aconselha a virar empresário.Me
torno o mais novo empresário da área de livros brasileira.Vou
lançar o GRAMPO DO MAL,numa página de crowdfunding.Estudo á
noite,me aprimoro cada vez mais em meus estudos,e inicio os ganhos
para meu livro.Mas vou ter que batalhar.Trabalhar pesado para isso e
seguir em frente.
Na
rua vejo as criancinhas coitadinhas vivendo de sonhos.Na minha rua
uma moça de seus dezesseis anos se alarma com meu estado.A mulher do
lado dela explica que talvez eu esteja trabalhando e realmente
estou,em casa.O que ela queria,uma pia cheia de louça para
lavar,acabou a agua e devo me sentir como se fosse um modelo de
roupas.Mamãe faz um bolo,que daqui á pouco estará pronto.Enquanto
isso as mulheres da igreja quando chegam já me recebem e vão
conversando comigo.Estou pronto para tudo.Tenho muito o que
dizer,muito o que fazer,mas me vou,pois estou ocupado.E as
criancinhas,o que penso delas não é mesmo?Diabinhos que estão aqui
e ali,perambulando por esse mundo.
Me
tornei grande amigo de Irene,a professora de Ciências.Ela conversa
comigo sobre variados temas e tem me ajudado em muito em minha
vida.Irene é psicóloga além de professora e sabe como funciona a
mente humana como ninguém.Ela tem me explicado coisas como a busca
pela felicidade e as brigas no cotidiano.Diz que brigar é inútil e
que a felicidade não existe,ela é uma espécie de filme que roda em
nossas mentes.E ela está certa.E eu possuo uma espécie de filme e
sentimento semelhante á esse em minha mente,que nem sempre está
presente.As vezes fico triste e desesperançoso quanto a esta
vida,mas nada me impede de pensar.E penso e escapo desta teia que
tenta me capturar.Mas depois que vi o que aconteceu nos últimos dias
descobri que o segredo da vida está na própria vida,em ter que
fazer as coisas acontecerem.Eu
não
suporto ficar parado,apenas durmo para descansar e renovar a
mente,mas não suporto ficar parado.Por isso estudo e estudar tem me
feito tão bem que já nem penso em parar mais.Quero continuar e
ainda mais quero trabalhar,nem que como empresário com o livro.É
isso que vai manter minha vida realizada e é essa a minha cura para
meu mal.Quero morrer trabalhando e estudando.
Mas
a página de crowdfunding não é confiável,e eu me canso de tanto
estudar.
Entro
em um tempo de tristeza em minha vida.
Fico
com saudades de quando comecei tudo isso,com mamãe e George
Hilton.Era tão bom.
Me
recordo de minha namorada e choro,triste.Me lembro de minha vida com
a família e me sinto mais triste ainda,minha vida é com a
família,são eles que eu quero são eles que eu desejo do fundo do
meu coração.Sinto tantas saudades.Creio que só mamãe e George
podem resolver essa questão em minha vida.São eles que eu quero,são
eles que eu procuro toda manhã e acho que se tivesse ido morar
sozinho agora estaria tão deprimido quanto estou triste agora.Parece
que tudo acabou e só os tenho.Parece que não há mais ninguém
nesse mundo senão minha família.Talvez querer ter ficado com a
família tenha me feito mal mas só Deus sabe como eu os amo.O drama
de George,a vida de mamãe,tudo isso me corta o coração,e quero
ajudá-los sempre.É acho que é isso aí,vou querer ser escritor
para sempre.Escrever sobre as pequenas e as grandes coisas da vida
tem me feito bem e quero continuar.Hoje acordei meio-dia,tive um
sonho estranho mas tudo bem.Mas agora enquanto escrevo estas linhas
sei que minha vida é livre de horários para estudar e feita apenas
para trabalhar em casa,cuidar da minha vida.Mas ainda estou
triste.Creio que é a escola,que está me deixando estressado,e um
pouco frustrado também,ter que estudar da quinta á oitava série de
novo,algo que nunca me incomodou no trabalho,quando trabalhei,creio
que isso é um tanto demais para mim.Acho que vou parar,e voltar ao
que estava antes porque estava melhor.Apenas viver como
escritor,mesmo que não-remunerado por enquanto,ou para sempre.Não
sei,dar um jeito.Mas acho que se continuasse na escola seria melhor
para recomendar meus textos,o livro.Talvez vender na escola mesmo.Mas
eu acho difícil,aquela corja de drogados não iria entender minha
literatura,isso eu tenho quase certeza.Bem,já faltei ontem,creio que
não vou mais estudar mesmo.
Agora
é retornar a passar aquelas longas tardes com mamãe e George
Hilton,tardes que vão ser lembradas para sempre por mim.Esquecer
aquele tempo sombrio quando eu saia sem rumo pelas ruas e não tinha
ordem em minha vida.Aquilo passou e agora sei o que devo fazer para
ser um cidadão correto,falar direito,escrever melhor,organizar as
minhas coisas como nunca,agora sei que sou alguém e que faço
diferença nesse mundo.Nesse país.
Agora
sou James Malheiros,escritor.
Mas
resolvo continuar a estudar.Me arrumo,e vou até a escola ter mais
uma aula.
E
hoje é sábado.Um sábado de sol,mas a casa é fria como uma câmara
frigorífica e nem parece que faz sol lá fora.
Me
sinto cansado,perplexo.E com medo.E se mamãe ou George Hilton
morrem?O que será de mim?Ter que ir morar com Andrea ou com Sandro
não me parece uma idéia agradável.Agora sou estudante,mas e
depois?Eu posso conseguir um emprego e reconstruir a minha vida,com
alguma ajuda.Estou de olho numa garota na escola,uma polaca,que já
veio até mim mas eu nem notei,na hora do lanche.Creio que ela gosta
de mim,óbvio,eu,um homem de 36 anos no meio de um bando de
adolescentes pimpolhos que só querem ficar arranjando brigas e
andando de carro drogados em festas perturbadoras por aí.Não sei
seu nome mas isso eu vou consertar na próxima aula.Creio que é isso
que eu necessite,uma garota para me juntar,ela já tem uma certa
idade,quem sabe ir morar juntos,nos casarmos talvez.Mas é muito cedo
para contar vantagem,por enquanto tudo o que posso fazer é planejar
um modo de capturá-la para mim e construir um ninho de amor.Mas
ainda não.
Por
enquanto prefiro ficar aqui sonhando com coisas do passado e com
minha família.
Mas
sinto que é tempo de seguir em frente e a vontade de sucumbir e me
entregar é forte.Viviane parece que jamais vai sair daquela de só
nos cumprimentarmos,por isso já a esqueci.Eu a vi hoje,na rua,ela
passou sorrindo como sempre e me cumprimentou,mas tambem é apenas
isso,jamais a toquei.jamais a beijei nem apertei suas mãos.Creio que
Viviane vai ser algo que vai ficar para trás em minha vida,e jamais
vou a abraçar.Mas tudo bem,não faz mal,eu aceito.Mas na
escola,não,na escola quero namorar a polaca,nem que me custe o olho
da cara.Da próxima vez que a vê-la vou ter uma conversa muito séria
com ela.Mas fica como um plano.Por enquanto tudo o que tenho a fazer
é ficar em casa,passear um pouco,estudar,e cuidar da minha carreira
de escritor,escrevendo alguns pequenos textos e sonhando em quem sabe
ganhar algum
dinheiro
algum dia,com os mesmos.Mas é difícil,tudo o que tenho em minha
carreira agora é a promessa de publicar CAMINHÃO FANTASMA na
revista Trasgo até o fim do ano,e me encontro participando de um
concurso na revista Deadmans Tome,no qual posso ganhar quase
nada,talvez nada,mas minha história UMA NOITE EM 1988 pode vir a ser
publicada.É a história que abre esse livro,mas posso publicá-la em
revistas se quiser.Na verdade nem sei se vou chegar a publicar esse
texto,mas vamos ver.É tudo tão incerto,tão volátil que parece que
nem existo como escritor.Mas continuo com minhas coisas pelo menos
dando um sentido á minha vida.Como fazia Serafim,em Blumenau,com
seus livros e seu gravador onde ele gravava sua voz toda noite quando
estava em casa e nos fins-de-semana.
Serafim
morreu mas vai deixar saudade,aquele velho simpático que um dia foi
meu padrasto.Aquela história, o meu passado,tudo acabou de forma
drástica.Sandro foi embora para casar-se,sumiu,desapareceu de nossas
vidas,quase nem liga,quase nem nos visita,agora eu acho que sou só
eu mesmo,cada um na sua,mas eu sei que ainda podemos fazer.Choro de
saudade daquelas tardes de infância,onde tudo o que tinha a fazer
era seguir minha família e brincar com meu amigo Juliano.
Mas
aquilo passou e agora sou um homem,mas vou demorar até me acostumar
com a idéia de não ter mais aquilo para mim.As pessoas que
realmente valiam a pena,minha família,meu amigo,num mundo tão ou
mais frio do que algum daqueles países da Europa onde foram escritos
aqueles velhos contos,mas eu sei que minha vida não é nenhum conto
burlesco,minha vida é séria,e devo cultivá-la.Cuidar
dela,melhorá-la a cada dia,descansar e acordar para começar tudo de
novo.Nunca se esquecer de que devo me manter vivo,pois a morte é
algo muito doloroso para se conversar á respeito.É melhor
esquecê-la e cuidar de sua vida,como nunca se cuidou antes.Ou então
a chama morrerá,e tudo vai ter sido em vão. Agora tudo o que quero
é cuidar de minha vida,amá-la como nunca amei nada nesse mundo.Dar
um bom-dia caloroso para minha família,e conversar com ela sobre os
bons tempos,as boas coisas,antes que se vá tudo pelos ares.Antes que
tudo acabe,e então não restará tempo para se lamentar,mas para
recomeçar e se preparar para viver uma outra vida,repleta de sonhos
e boas expectativas.
Essa
imensa crônica conta como recomecei a viver e iniciei meus trabalhos
como escritor.Você sabe,ser escritor é conhecer pessoas fazer
amigos,ir a festas,estudar muito todos os mais variados tipos de
assuntos e é muito interessante porque conta um pouco da história
da família.
Mas
nem sempre foi assim,passei muitos anos entregue a uma rotina de sair
sem rumo pelas ruas,me perder em horários esquecer de tudo.Quase nem
comia direito devido á uma depressão que jamais foi tratada,pois
não queria.Mas tambem estava aprendendo.Comecei a trabalhar,vi que
precisava fazer alguma coisa,fui demitido e agora estou aqui
estudando no periodo noturno numa escola aqui perto,atrás do
parque,exatamente onde fica o Farol do Saber aqui da vila São
Pedro,bairro Xaxim,cidade de Curitiba,estado do Paraná.Sabe,não
gosto de morar nessa casa fria,gostaria de ter dinheiro poder
trabalhar,mas por enquanto preciso arrumar algumas coisas em minha
vida como por exemplo meus estudos,achei melhor começar a estudar
para organizar melhor minha mente e ter o que fazer durante um certo
tempo do dia.De noite aqui no caso.George está resignado com seu
estado de saude,e eu não o culpo por isso,espero que ainda viva para
ver grandes coisas conosco,eu o amo e espero apenas o melhor para
ele.Minha mãe sofre por não conseguir sair de casa,uma vez que suas
pernas foram afetadas por alguma doença,que tambem assim como a
minha nem os médicos sabem expĺicar a causa.Além do que esteve mal
tambem dos olhos ultimamente o que generaliza um estado de saude
perigoso para mamãe.Por isso ela não pode sair e ir muito
longe,assim como tambem George que as vezes usa a cadeira de rodas,e
anda de muletas quando precisa sair para fazer compras.Eu,graças á
Deus ando,e não tenho nada além daquela doença que nem os médicos
sabem a causa ou o nome e que diagnosticaram como esquizofrenia por
admitirem não saber do que se trata.Estranho isso não?Mas só sei
de uma coisa,não tenho esquizofrenia e passo mal as vezes no
quartinho mas os médicos não sabem dizer o que tenho.Mas continuo
lutando e descobri que quando faço alguma coisa a doença
passa.Creio que é preguicite aguda,como diria meu irmão George,mas
não é e não estou nem um pouco a fim de saber do que se trata.Só
sei que continuo lutando e não tive mais daquelas vezes em que passo
mal.Creio que é só continuar estudando que passa.Fazer alguma coisa
afinal não sou um borra-botas que só fica dormindo o dia inteiro e
me perdendo em divagações quando escrevo alguma coisa,não!Escrevo
sobre a vida,sobre minha família.É nisso que pretendo me focar,o
modo de vida do Sul,esse Sul de tantas maravilhas e estórias,Sul de
Ponta Grossa e Blumenau,da Oktoberfest,da Igreja Matriz,das
papelarias alemãs,do bairro Progresso,da Center Book e seus livros e
revistas maravilhosos,do colégio Henrique Alfarth onde estudei
quando garoto,das ruazinhas de terra do distrito do Garcia,do morro
do Adlich,da rua Belo Horizonte onde viviam os Malheiros no
passado,tudo isso invoca um espírito que está presente nessa
crônica,o único espírito em que acredito,o espírito da terra das
famílias,das culturas e do estudo das mesmas,da vida,dos tempos e em
como devemos
estar
sempre recomeçando.É assim que vivo e é assim que pretendo viver
nem que sem dinheiro até o fim de minha vida.
Hoje,devido
á uma gripe forte e por razões pessoais larguei a escola.Não é
possível que se faça algo naquele buraco de ratos.Não é o lugar
para mim.Dia primeiro de setembro saio numa revista,a Deadmans
Tome,com uma peça de flash fiction,foto e biografia.Queria trabalhar
mas mamãe não tem dinheiro sobrando nem mesmo para eu ir até a
agência de empregos no bairro aqui perto,mas apenas a publicação
de minha narrativa já vai me dar um fôlego novo em minha
carreira.Estou contente mas não é o bastante,quero fazer uma
festa.Talvez lasanha ou pizza,algo assim,para comemorar minha estréia
no mundo literário,finalmente.
Hoje
peguei quatro livros no Farol,detestei os quatro.Todos uma ficção
burlesca sem gosto,gosto mais da vida real.Desculpe-me se sou crítico
e forte mas prefiro que me amem ou me deixem em paz.Detesto bebida ou
drogas e odeio quem as use.Acredito que quem use desses dois
subterfugios de vida são doentes mentais perigosos que sabem o que
fazem e mesmo assim fazem.Custei a chegar aqui onde estou e não
quero estragar onde cheguei.Pretendo me guardar para sempre como
nasci,puro e sem uma gota de alcool no corpo,ou narcoticos no
sangue.Eu simplesmente não aceito isso.
Sei
que preciso lutar,e esta é minha luta.Aproveitar cada momento de
minha vida sempre trabalhando para construir uma carreira de sucesso
como escritor e seguir em frente.
O
silêncio impera na casa.É tempo de ir descansar.
Ontem
voltei a estudar.Hoje estou ocupado.Tenho lição de casa,cerca de
dez questões de Ciências.Saí,e fui no Farol,onde imprimi as partes
correspondentes ao meu nome da revista Deadmans Tome desse mês.Peguei
tudo,foto,nome e a estória.Só não capturei os comentários pois
achei desnecessário.Vou levar para a professora ver,na escola.Minha
carreira de escritor está caminhando,e creio que vou
continuar.Recebo e-mails constantes da revista,mas ainda não é o
bastante.Gostaria de publicar o livro,e creio que vou enviá-lo á
uma editora por correio.Possuo uma cópia impressa do mesmo e vou
passá-la para frente,como diz a giria.Tem chovido bastante,aqui em
Curitiba,passo a maior parte do dia assistindo á vídeos no
youtube,no meu aparelho tablete,que na verdade funciona como um
mini-computador.É algo estranho,é como se ele criasse vida,e parece
que está tentando dominar minha mente,mas para o bem,para me
educar,coisa que procuro fazer sempre.Passo o dia inteiro pensando em
trabalhar,e em formas de memorizar as coisas que preciso fazer,mesmo
que não receba nenhum dinheiro para isso mas faz bem para minha
própria mente e gosto de pensar em tudo e deixar bem guardado lá no
fundo de meu intelecto superior.Durmo bastante de dia,sim,sou
acostumado á tirar umas sonecas de vez em quando,mas são
curtas,apenas servem para descansar a mente para trabalhos
posteriores.
A
criatura do forro da casa de Blumenau que foi demolida,nunca mais
apareceu em meus pensamentos.Essa criatura era uma água divisora em
minha vida e em meus sonhos queria dominar nossas mentes,e dominou
por um bom tempo,era um ser extremamente inteligente.Tão inteligente
que me fez adormecer exatamente quando nos mudamos para Curitiba e me
fez acordar apenas aos trinta e cinco anos desta vez para sempre,para
dolorosamente acordar para a vida.Agora tenho a chance de me curar
disso,disse mamãe para mim um tempo atrás.Agora tenho tempo para
organizar minha vida e rearranjar meu lugar na família antes que
fosse tarde demais.Mesmo que sua passagem por minha vida tivesse sido
boa e ela tivesse me educado não somente em casa como no
colégio,ela me fez como já disse adormecer quando nos mudamos,e um
pouco depois estava completamente perdido e sem chance de aprender a
interpretar as coisas mesmo vivendo uma vida simples e sem pressões
não tive a chance de aprender a interpretar as coisas,uma vez que
não havia nem mesmo aprendido a fazer isso.Apenas na casa da dona
Clarice,aos trinta e cinco anos,acordei para a vida,para essa
realidade,uma realidade que me mostrava que eu não podia
simplesmente viver a vida e andar sem rumo pelas ruas.Eu devia
organizar minha vida e ter o completo poder sobre ela,controlando
cada movimento desse complicado jogo de xadrez.Agora sei o que
fazer,mas foi doloroso aprender e ainda passo mal as vezes,voltando
ao ponto crucial de meu pensamento,e sei que isso é um sinal
desagradável de que não posso dormir em serviço.Sinal que me foi
passado para que eu acorde e recomece tudo de novo.Agora sei de
coisas que não sabia,como o significado das palavras e o sentido das
coisas.Sei que o mal está na cabeça das pessoas,entre outras
coisas.
Agora
tudo o que desejo é comemorar,celebrar ter descoberto um complexo
sistema,os segredos da vida,e ter aprendido á interpretar as coisas
com palavras coisa que me era desconhecido até então.
Enquanto
aprendia,escrevia,esse que seria meu primeiro livro,o GRAMPO DO MAL,e
sei que vou publicá-lo,assim como tenho idéias para novos livros e
quem sabe o contrato com alguma editora,quem sabe
consagrar
minha eterna vontade de me tornar um escritor de sucesso,coisa que me
fez acordar para a vida e organizá-la cada vez mais.
Nesse
instante,a chuva parou,os relâmpagos também,agora só resta o frio
de um dia que ficará marcado para mim,como um dia á mais,um dia
como outro qualquer,o dia em que terminei de escrever o GRAMPO DO
MAL,um dia qualquer de setembro,onde escrevo estas palavras e aprecio
minha própria capacidade de entender as coisas da vida,coisa que não
possuia até o ano passado.
Mas
não tenho mais vontade de sair pelas ruas,mas sim de ficar em casa
aqui mesmo e celebrar com minha família o intenso momento em que
sinto a vibrante sensação de estar vivo e de ser um Malheiros,de
finalmente olhar no espelho e poder dizer que faço parte de uma
família,e que finalmente me tornei um escritor,agora que cheguei e
finalmente publiquei minha primeira estória,numa revista chamada
Deadmans Tome,num concurso que marca minha estréia no mundo
literário.Era tudo o que eu esperava.Agora estou satisfeito.
Agora
só resta publicar esse livro,o GRAMPO DO MAL,minha primeira
obra-prima.
FIM
DE 2018
Minha
mãe comprou hoje um par de chinelos,exatamente parecido com a
estampa de uma saia que ela tinha em Blumenau.Quem sabe sejam os bons
tempos voltando.Bom sinal.
O
frio quase me mata,nessa Curitiba gelada.Parece o Polo Norte,mas
chuvoso.
Me
recordo de um livro,que a diretora do Henrique Alfarth me deu,eu
amava aquele livro.
Ia
para cima e para baixo com ele,o lendo,dormia bem,me alimentava
bem,não haviam os problemas de hoje em dia,mas também não havia a
consciência que mantenho hoje em dia.Era só brincar,envolto numa
nuvem de sonhos,e não haviam as palavras,coisa que houve a partir de
um tempo para mim.A vida pára mim então eram chaves de fenda e fios
que meu irmão George usava para consertar a TV.
Hoje
não vou naquele buraco de ratos chamado colégio.Não estou a
fim.Não quero nem saber.
Prefiro
ficar aqui sentado escrevendo,agora que estreei no mundo
literário.Agora é só festa.
E
o que recebo?Fama de ter publicado uma estória numa revista
eletrônica,num concurso.
Esqueça.
Estou
tentando publicar o livro.Vou tentar em mais uma editora agora.Talvez
amanhã.
Hoje
escrevo aqui,perdido,como um naufrago das letras,tentando compreender
esse mundo.
Sinto
uma sede incontrolável.Bebo água ou suco de frutas.É mais saudável
que cachaça,whisky.
Bebida
faz mal para a mente.Assim como drogas,coisa que jamais
usei.Credo,nem quero.
Ficar
doente,mais que fico naturalmente,com essa gripe que não quer
passar.Essa tosse que dá vontade de vomitar.Meu Deus,como me sinto
miserável,mas tudo bem,temos que aceitar,é o frio,atacando.
E
o desemprego no país.Não quero nem ver.Fico aqui,em minha
casa,sonhando,comemorando com minha família,escrevendo para
revistas.Quem sabe publique o livro,agora que minha carreira deu uma
guinada.
Ganhar
dinheiro,talvez.Bastante.Receber numa conta bancária,meu sonho.
Agora
que esta vida se esvai entre meus dedos,escorre,como mel no barranco
em Blumenau,onde mamãe costumava cavar com a enxada,agora um terreno
que não existe mais e está completamente diferente.Bem diferente do
sonho que nossa família sonhou nos anos oitenta.
A
criatura se foi,a casa foi demolida,os irmãos se separaram,alguns
casaram,outros não.Mamãe envelheceu,se aposentou,tudo acabou,mas em
minha mente as coisas permanecem funcionando,como num carrossel,um
parque de diversões onde as memórias me alimentam,ajudam no meu
lado lúdico,e enchem o trecho em que não há sentido.Daí eu
sonho,com o passado.
Mas
não foi bom,andar sem rumo pelas ruas,eu exagerei,deixei passar
muita coisa.
Agora
estou bem,agora está tudo bem,agora eu sei como interpretar tudo e
não me perder se precisar.
Isso
aqui não é o paraíso,não é nada como eu queria.Só Blumenau é
bom e hoje em dia pode nem estar como quando eu era
pequeno,jovem.Será que a Center Book ainda está lá?Será que a Fog
ainda existe?E a Igreja Matriz continua a mesma?As ruas,será que
ainda são as mesmas?Nem sei mais.Só sei de aqui em casa.E é aqui
que quero viver,na minha casa,com as minhas coisas.Comemorando com
minha família,que é onde quero estar.O resto é o resto,o resto não
me importa.
Agora
me sinto bem,com razão.Tenho tudo em mente,publicar o livro,ganhar
dinheiro,ser alguém.
Tenho
tudo pronto e planejado em minha mente e sonhar com isso é
incrívelmente agradável.
Agora
sou um escritor e isso me deixa desconcertado,feliz.
O
mal não existe,ele está na cabeça das pessoas.
De
minha infância não me lembro muito sobre tempo,apenas espaço.Me
lembro de brincar pela casa em Blumenau,sem saber de nada,sem saber
interpretar as palavras.Apenas me lembro momentos.Eu andando pela
sala,em direção á cozinha,onde havia o poço.O quarto dos meus
irmãos,onde eu também dormia,a caixa de gibis,no chão,onde eu
guardava as revistas,o quarto da minha irmã,que depois se tornou o
quarto da minha mãe,o quarto dos fundos,os pés tocando o
chão,andando,andando.
Se
eu publicasse o livro,talvez tivesse sucesso.Só de pensar em lançar
os exemplares nas bancas e livrarias já me deixa animado.Ser um
escritor de renome,ter meu lugar na família.
Do
casarão só restaram as lembranças.Lembranças de dias esquecidos e
que só são revividos na minha memória.Penso que se ele existisse
ainda,poderia servir de ótimo lugar para ir passar as férias,mas
quem cuidaria do terreno?Quando chegássemos para passar algumas
noites,o mato teria tomado conta.Não,foi melhor assim,que mamãe
vendesse a casa e o terreno e tudo fosse demolido e limpo.Em cima
construiram uma casa nova mas não me importo,fica a lembrança
daquele casarão que sobreviveu a chuva e ao frio durante os dias em
que passamos lá nos anos oitenta.Anos de glória,quando eu fui um
garoto limpo e sagaz e costumava brincar pelos arredores com meus
coleguinhas de rua.
Aqui
estou eu,sentado escrevendo em minha casa,sabe que não há nenhum
outro lugar no mundo que eu queria estar/?A história da família,cada
curiosidade,cada caso já enche minha mente de alegria e faz com que
eu goste cada vez mais dos Malheiros,de nós porque os outros
Malheiros eu não sei como são.Mas nós,mamãe e meus irmãos somos
algo que a história não vai se esquecer tão
facilmente.Trabalhamos,todo dia para mantermos-nos vivos e bem,e não
é agora que isso vai mudar.Somos nós num mundo feio frio e
hostil,não importando o que nos tente abater,porque vão apenas
tentar,porque nós não nos encolhemos com tanta facilidade.Nós
enfrentamos seja o que for e vamos em frente,a cada dia mostrando
porque viemos a esse mundo.
Eu
sou James Malheiros,escritor.
Que começasse o
inverno,eu pensava comigo mesmo.Não estava nem um pouco preocupado
com o fato de ter que usar roupas para o frio,e tomar café quente
toda tarde,mas o que importava mesmo era minha vontade de lutar e
trabalhar em minha nova crônica,ainda sem título.
As coisas iam bem e
eu levava uma vida quase monástica,sempre naquela mesma rotina de me
levantar tomar café,sair para ir dar uma volta pela manhã e dormir
a tarde inteira.Tomar café pela tarde e ir estudar a noite,alguns
dias nem isso fazendo,mas o que eu não imaginava era que aquilo no
forro da casa iria mudar drásticamente minha vida me levando á uma
dimensão de sonhos que eu jamais imaginava que ia ser levado.
A criatura no forro
era uma lenda que eu já trazia de Blumenau,do casarão,e eu já
estava acostumado á escrever sobre ela,mas não imaginava que um dia
ela voltaria.
Pois bem ela voltou.
Seu espírito está
presente aqui todo santo dia e eu posso sentir sua presença toda vez
que me reuno com minha família para conversar sobre nossa história
e tomar café.Posso ouvi-la se movendo no forro,como que se
contorcendo de dor por ter que controlar as mentes daqueles que vivem
na casa como aconteceu em Blumenau nos anos oitenta.
Sim,está
acontecendo de novo.
Pois aconcheguem-se
bem onde quer que estejam,pois vou levá-los á uma dimensão de
tempo e espaço que irá impressioná-los.É tempo de vir comigo numa
viagem ao sobrenatural que irá contar um pouco do que se passa em
minha mente e mais.
Esta imensa crônica
é uma mistura de tudo o que criei até hoje.
Quando retornei a me
sentar diante dessa parafernalha para escrever,sabia que teria que
escrever bastante,por isso me aconcheguei bem e comecei.
A janela estava
aberta e uma suave brisa soprava,trazendo o ar de Blumenau para
cá,para estas bandas e para dentro de meu quarto.A criatura no forro
agora estava quieta mas sabia que logo ia retornar a fazer aqueles
barulhos como acontecia em Blumenau,quando eu era criança.
O silêncio imperava
na casa e tudo o que se podiam escutar eram os passarinhos voando de
um lado para outro.Ainda nem tinha chegado a resposta da publicação
de meu primeiro livro GRAMPO DO MAL e eu já estava pronto para
começar a escrever mais,mas uma coisa eu tinha certeza,por mais que
eu escrevesse a respeito a história da família,aquilo,jamais ia
morrer.
A história de uma
vida de luta,pois bem,é chegada a hora de mostrar ao público um
pouco desta história.Venham comigo,vocês vão ser levados agora as
profundezas de minha imaginação e de meu intelecto,numa viagem que
os levará á uma outra dimensão.
Eu me encontrava
tentando sintonizar alguma coisa que prestasse para se assistir no
Youtube,em meu tablete Samsung,mas a transmissão estava muito
ruim.Ora,quem poderia afirmar que as coisas ainda não são como
antigamente,quando tinhamos que sintonizar com antenas os televisores
de então e alguns usavam até mesmo aqueles velhos decodificadores
de televisão que se compravam nas lojas e que ocupavam um enorme
espaço nas estantes onde os mesmos televisores eram postos para se
assistir televisão.Hoje em dia eram os aparelhos mini computadores
que serviam para assistir televisão e outras funções.Só faltava
agora inventarem um telefone televisor computador,daí sim as coisas
teriam chegado longe demais.Mas eu sabia,as coisas ainda eram como
antigamente,e tinhamos ainda que sintonizar a transmissão daquele
programa ou música favoritos se quizessemos nos divertir assim como
nos divertiamos a muito tempo atrás.Ventava muito e parecia que ia
cair uma tempestade.Os carros passavam na rua debaixo da grossa chuva
que começava a cair.
Foi quando sem eu
perceber chegou a hora de ir para a escola.Me arrumei,escovei os
dentes peguei minha pasta e me fui,rua afora de guarda-chuva.
A noite fora
terrível,e assisti mais uma aula no colégio da região.
Voltei para casa
tranquilo,com o tempo já sem chuva,e cheguei em casa.Meu irmão
George me recebeu com brincadeiras como sempre e eu fui dormir.
O milharal aqui
perto de casa se encontrava seco e desbastado sob um sol fraco que
despontava no horizonte de casas de Curitiba.Ele era verde e as socas
de milho que começavam a crescer pareciam estar estragadas pela
chuva que caira na noite anterior.Agora eu escrevia em minha casa,em
minha parafernalha.Me lembrei do milharal agora,e não se sabe porque
minha mente fez uma ligação com o milharal que havia em Blumenau do
lado da casa do Dai,perto do bar do Nilvo.Lá também crescia um
milharal,e agora tinhamos um aqui em Curitiba,isso era curioso.Talvez
um retorno aos tempos antigos quando tudo era mais gostoso e saboroso
de se sentir,mas eramos jovens então,e tudo para nós era
mágico.Como estaria tudo por lá agora?Como estaria a rua ao redor,o
terreno,o próprio milharal em si?Eu não sabia mas fazia uma vaga
idéia.
Aqui,o milharal da
rua parecia morto,e suas folhas apenas chacoalhavam porque estava
soprando uma leve brisa que poderia até mesmo estar vindo daquelas
bandas onde morei nos anos oitenta.
Mas tudo isso era
sonho e a vida não era fácil,mamãe era explorada trabalhando por
pouco dinheiro e George era um trabalhador que passava um pouco mal
de vez em quando.Mas tudo ia bem e eramos felizes.
Agora enquanto
pensava em mamãe e George as folhas do milharal pareceram envelhecer
mais.
Era como se o
milharal soubesse de nós e estivesse vivendo apenas para nos
agradar.Quando nós sofriamos ele sofria também.Ou melhor quando eu
pensava em alguma coisa era como se ele soubesse e ficasse um pouco
mais fraco.Quando eu estava bem,eu passava e podia ve-lo
esvoaçante,chacoalhando ao sabor do vento,num dia de verão.Quando
eu estava mal,ele ficava mais fraco e suas folhas agora pareciam
amareladas.
Era estranho.
Esse computador,que
eu costumo chamar de parafernalha,parece estar vivo.Parece comer
algumas palavras quando eu as digito na tela do mesmo.Estranho,mas
acho que estou precisando me reunir um pouco com mamãe e George ou
então assistir um pouco no tablete Samsung se é que vou conseguir
sintonizar alguma coisa nele.
Peguei um livro de
poemas hoje no Farol.Espero não vomitar toda aquela sopa de
letrinhas se por acaso passar mal hoje de novo,mas isso não vai
acontecer.Tenho fé que estou me curando.Mamãe disse que agora tenho
a chance de me curar.E essa é uma chance valiosa.
Acho que não vou
estudar hoje,prefiro ficar em casa esperando alguma notícia de meus
amigos literatos e professores do que enfrentar quatro aulas de
desenhos e matéria sobre Arte no tempo de Jesus,haja paciência.
Nem sei porquê
peguei o livro de poemas,não há nada de interessante nele.Mas o
peguei e acho que vou devolve-lo sem ler.Nem me interessa.
Agora tudo o que me
interessava era sintonizar aquele pequeno aparelho maravilhoso que um
dia chamei de um tablete da Samsung.
A noite vem,uma
noite aterrorizante e estamos num sábado,Escuto músicas antigas o
dia todo,e começo a me sentir meio esquizito a tarde.Tomo um bom
banho.
E eis que vem o
domingo.
Acordo de manhã,tomo
café escovo os dentes e vou fazer compras com meu irmão.
Sinto saudade de
andar no meio do mato como fazia em Blumenau.Num dia ensolarado como
o de hoje,seria perfeito como algo para se fazer.
Ontem deitado na
poltrona velha que há no quarto,pude escutar as mulheres da casa ao
lado conversando.Faziam um barulho estrondoso,infernal em meus
ouvidos.Mas o que me chamou mais a atenção foi uma risada louca que
houve junto.Parecia ser a risada de um homem,e conversavam como
aquelas madames de antigamente,como tia Nadir,como tia Apolônia,tudo
o que sei é que meu ouvido desligou a partir de um momento e não
pude mais ouvir mais nada.Continuo assim até agora
.Sintonizo no
tablete o blogue de James A. Moore,um escritor de horror. Deixo um
comentário que fica impresso na tela duas vezes,peço desculpas.Ele
deixa uma estória em seu blogue sobre peregrinos,lordes e coisas do
gênero.Não é bem minha leitura favorita mas acompanho atentamente
,hoje,depois de descobri-lo na Internet.Ele possui já alguns livros
publicados mas eu nunca tinha ouvido falar dele.Tenho medo de ficar
íntimo,não se sabe o que escondem esses escritores de horror por
detrás de suas carreiras de escritor.Mas acompanho do mesmo jeito.
Um passarinho pia lá
fora,hoje é um dia de sol maravilhoso e parece que estamos morando
no meio do mato devido ao ruído dos outros passarinhos que piam
junto.Parece um dia de Blumenau,pelo menos parecido com um dos dias
de minha juventude quando morei lá.
O nome do blogue é
genrefied,e tem informações muito interessantes.
Mas o calor do dia
me leva a pensar em outras coisas e daqui a algum tempo será hora do
café.
Trev Hill tem o
mesmo estilo de escrever de Stephen King,leva uma vida parecida só
que na Polônia,e possui o mesmo gosto pela bebida,mas é meu amigo
por correspondência e eu não dou atenção ao fato.Se ele quer se
matar bebendo,ele que se mate,isso ainda vai fazer mal para ele mas
eu não dou atenção.Não me meto em sua vida e ele não se mete na
minha.Aliás,estou esperando carta dele.
O computador
permanece vivo,creio,de tanto funcionar.Eu sinto que ele está
vivo,conversando comigo.Mas eu não o dou ouvidos,apenas escrevo
nele.Se eu desse ouvidos a um computador então não estaria bem de
saúde.Mas levar a vida é duro,tantas tarefas,tanto trabalho,sempre
causa alguma dor de cabeça,por isso permaneço aqui com as coisas
que gosto,e levando uma vida em que tento me divertir ao
máximo,trabalhando ao máximo e relaxando ao máximo.Sempre vivendo
a vida de forma gostosa como nos anos oitenta,quando tudo era mais
calmo e melhor para nós.Havia o trabalho mas isso nós gostávamos.
Trabalhar era como um bálsamo para nós,e não tinhamos
problemas.Aliás,tudo era melhor nos anos oitenta.Estávamos
começando á trabalhar e á estudar e não haviam tantos problemas
como há hoje em dia.Do dinheiro que queríamos para nós não vimos
nem a cor,mamãe e George se aposentaram,eu o mais novo continuo
sonhando,Sandro se casou.
Agora vivo uma vida
de estudo,sem trabalhar,vivendo com minha família.
Queria estar
trabalhando,mas a recessão está aí e até mesmo Sandro se encontra
desempregado.
Enquanto isso
escrevo para uma revista americana,a Deadmans Tome.Não recebo
nada,mas vale a pena.
Agora é hora de ir
tomar café.
Vi mesmo que o
televisor estava ligado.
Fui ate a mesa e
peguei um copo para beber suco.Enchi o copo de suco e bebi de uma só
vez.
Ia me lembrando de
Blumenau,enquanto caminhava ate onde estava o televisor.Comecei a
assistir ao canal de musica,apenas para passar o tempo.
Parecia que uma
coisa rondava a casa,assim como fazia nos tempos passados,lá em
Blumenau,mas estavamos em Curitiba,a alguns quilometros de lá.Havia
terminado de por no ar meu livro GRAMPO DO MAL,na Internet,e esperava
ansioso pelas respostas dos expectadores que sintonizassem meu
site,para ler.Gostaria de ver quantas vizualizações teria se alguém
lesse o mesmo livro que eu mostrava de graça só para fazer
propaganda de minha arte.Ao som de Floaters,uma musica antiga,ia
escrevendo meus textos,nao se importando se o que estava rondando a
casa fosse animal ou humano,mas era uma coisa,uma coisa inexplicavel
que eu tambem não fazia questao de tentar explicar mas começou a me
chamar a atenção.Estava de saco cheio com a presença de mais
alguém na casa,mas era mamae que cuidava de tudo do outro lado da
casa enquanto eu continuava a escrever no quarto enquanto assistia
televisão ao canal de musica e sonhava com os anos oitenta e
noventa.Estava de saco cheio com a vizinhança mas não dava
atenção,apenas curtia uma boa festinha particular em casa só eu e
mamãe e George Hilton do outro lado da casa.
Meu pai morreu muito
cedo,quando eu tinha um ano de idade,e eu o ignoro,assim como faria
se ele estivesse vivo ainda.Sou muito egoista acho eu,e prefiro
permanecer vivendo minha vida do que me meter com os outros. Mas
mesmo assim ainda me comunico no Messenger com outras pessoas,com
amigos,que deveria honrar e prezar mas que para mim não passam de
uma diversão a mais em minha vida.Não estou trabalhando e isso me
deixa nervoso as vezes,mas eu ficar nervoso/?Como aqueles que moram
na favela e brigam com os policiais nas ruas?Como aqueles que roubam
lojas e praticam crimes em geral?Não,eu não nasci apenas para isso
não,prefiro ficar em casa escutar musica e escrever,fazer minha
festinha particular.
A criatura no forro
nunca mais voltou,assim percebo enquanto penso nos momentos que se
passaram desde que ela apareceu na minha vida nos anos
oitenta.Costumava aparecer em Blumenau no casarão nas tardes em que
eu ficava em casa brincando no tempo que era muito jovem para
estudar.Eu brincava com minha bolsa de brinquedos e assim o fazia
pela tarde inteira.Perto da noite,um dia,fui ate a janela e berrei
pela presença de minha mae que se encontrava trabalhando.
Eu gostava muito de
minha mãe na época ela era a única pessoa que me dava atenção eu
não tinha pai então era ela que me ouvia quando eu queria
conversar,quando ainda era jovem, demais para brincar com meus
coleguinhas ou estudar,como já disse.Era ela que cuidava de mim e me
deixava em casa com Sandro,quando esse estava desempregado e quase
sempre me levava para o emprego com ela durante o restante do periodo
que vivi quando criança.
Era como se ela
pudesse me ouvir,lá do seu emprego,quando eu berrava por sua
presença da janela do casarão.Eu não tinha muito tempo para
aprender as coisas uma vez que passei a sair com ela para ir para o
serviço e uma coisa começou a acontecer com o passar dos anos.Em
pouco tempo estava estudando e vivendo minha vida mas não sabia
muito.Parece que só fui me acordar mesmo em 2017 quando o espirito
de Lee Falk apareceu em um sonho e me disse que eu precisava aprender
mais.Logo algo começou a acontecer comigo e entre uma crise de dor
de cabeça extrema e outra em que suava frio,uma estranha metamorfose
começou a se dar em minha mente.
E aprendi,algo que
jamais imaginara que ia aprender.A absorver as palavras e a
coloca-las em ordem em minha mente.Logo era natural para mim fazer
isso e hoje em dia estou a todo vapor.Aprendi muitas coisas
especialmente a dar valor a meu povo e a minha cultura.
Gosto muito de ouvir
musica na televisão e isso me inspirou a fazer pequenas festinhas
particulares em casa.Coloco a musica pra tocar faço um suco e bebo
ao som da musica,enquanto memorias de dias passados me vem a mente.Me
recordo de Santa Catarina especialmente de Blumenau e isso me faz
muito bem. Aquela metamorfose foi estranha e se passou como num sonho
para mim mas na verdade foi um pesadelo.Dias sem dormir,de que nada
adiantaram para mim mas compreendi que não pósso fazer milagres e
que sou apenas humano nascido para cometer erros.
Agora me encontro em
casa e escrevendo,procurando por em ordem tudo e fazer alguma coisa
para conseguir algum poder,coisa que venho fazendo já a algum tempo
mesmo que tenha começado quando ainda estava confuso.Mas agora e
diferente.
A musica toca
enquanto a coisa lá fora me espreita,do quintal como se ansiando por
adentrar a casa e me possuir me devorar me levar para uma outra
dimensão onde essa vida não faz mais diferença.
Ja conheci muitos
escrotos assim que querem possuir os outros mas isso não interessa
agora.Agora o mundo lá fora parece estar a milhas de distancia e
todas as minhas preocupações são com minha casa e tudo o que
tenho,minha família e minha vida.
Desligo o televisor
e sintonizo o tablet no canal de musicas antigas.Continuo a escutar
musica só que agora no tablete,para deixar o televisor desligado.
Agora é noite.
E assim que a musica
começa a encher o ambiente uma força começa a tomar conta de tudo
ao redor.A luz acesa parece forte demais,a musica me parece antiga,e
é.
A criatura no forro
parece ter ficado em algum lugar de Blumenau quando a casa foi
demolida.
Mas as vezes parece
que ela voltou e se encontra bem aqui,no forro desta casa onde estou
agora.
A musica da ao
ambiente um clima agradavel e pareço voltar no tempo enquanto
escrevo estas maltraçadas.Me recordo da casa no seu Nito,a velha
casa de fundos e tudo o que passei lá então.
Não passava de uma
criança.Mas agora me encontro nesta casa e tudo é diferente.Já
passei por todo maleficio possível ate hoje,por todos os percalços
desta vida e hoje tudo o que quero e tocar o barco para frente.George
Hilton e mamãe sustentam a casa e eu me encontro desempregado.
Escrevo para passar
o tempo mas sei que não posso parar.Sei que devo estar sempre
recomeçando ,como fiz ate aqui.Não e tempo de nada,mas para mim tem
que ser.Preciso sair do vermelho com minha carreira de escritor e
trabalhar em algo,mas cansa as vezes e descanso,mesmo que continue
depois.Agora nada esta acontecendo e parece que ha um vacuo aqui em
minha vida.Tudo o que tenho a fazer e fazer festa nessa casa e viver
mesmo que isso signifique lutar apenas por mim mesmo.Vivo com minha
família e isso e enfadonho as vezes,mas e melhor.Acho que estaria
numa fria se estivesse morando sozinho e sem ninguém para me ajudar.
A coisa lá fora
parece pensar melhor se vira e vai embora,desistindo de tentar me
pegar.O portão está trancado e ninguém pode entrar nesta
propriedade mesmo que tentasse.Somente se fizer um esforço,mas tem
gente em casa e estamos cuidando de tudo.
Então o que fazer?
Sei que devo fazer
algo e esse algo é escrever,pois pretendo ser escritor.
Portanto vamos
escrever,escutar musica e depois tomar o remedio e ir dormir.Devo
ter algumas paginas prontas ao menos para me manter como escritor se
alguma editora se interessar por meu trabalho,e isso e
primordial.Espero ter cabeça o suficiente para poder produzir com
efeito.
Enquanto isso estou
aqui nesta casa escrevendo,como se fosse um bebe vivendo com minha
família e me sinto bem assim.Para que mudar?Mas preciso de algum
poder e isso esses dias estarão me dizendo.Mas vamos com calma.De
nada adianta se apressar e ter enxaquecas fenomenais.E melhor seguir
em frente e ver no que dá,com tempo,seguir produzindo e ver o que
esses dias estarão me dizendo.Já comecei a escrever mais e quero
ver no que isso vai me levar.
Estamos ai.
Lá fora é noite e
faz frio.Me sinto como o nucleo de um atomo com duas particulas sem
carga ao meu redor que são mamãe e George,apenas andando de um lado
para outro da casa,cuidando de tudo,arrumando as coisas,mantendo a
casa em dia.
Mas já é tarde e
creio que é tempo de ir dormir.
Desligo tudo e vou
ate a cozinha,tomar os comprimidos,para depóis apagar a luz,me virar
e ir para o quarto,tirar o sapato e me deitar,apagar a luz e ir
dormir.
Amanhã tem mais.
Os dias se passam
vagarosamente e parece que as coisas voltaram a ficar cansativas para
mim.
Entreguei um maço
de estorias para Jucelia Wilians no Farol hoje.Ela pareceu não se
importar apenas perguntando se eu não iria usar o maço de
papeis.Disse que não e me fui,rua afora para casa.
Agora estou aqui
trancado nessa propriedade que gosto de chamar de casa.
Preparo um copo de
suco enquanto sintonizo o tablete no canal de musica.A musica flui
pelo ambiente como fumaça de cigarro e estou sozinho na casa,com
minha mae e meu irmão George Hilton,que na sala assistem ao
televisor.Preciso recomeçar,ter em mente que devo lutar por minha
carreira,que ao mesmo tempo já é minha luta,minha batalha.
Jair Bolsonaro é o
presidente da republica,mesmo que isso não faça nenhuma diferença
para mim no momento.O dinheiro que ganhamos e o mesmo de
sempre,aquelas mesmas milhas de sempre que mamãe e George ganham
desde que se aposentaram a muito tempo atras.A mesmice parece ter
tomado conta das coisas,mesmo porque ficar aprontando mil loucuras ao
redor não seja a melhor coisa a se fazer com a polícia batendo por
ai de vez em quando,eu mesmo já quase fiquei preso em Ponta
Grossa,por isso é melhor manter o rabo de cometa apagado por algum
tempo ao menos ate as coisas tomarem rumo.
A musica toca me
levando a tempos passados quando ainda era uma criança.Na verdade
sempre levei uma vida simples com minha família,vivendo em casebres
pobres sem luxo.Roupas simples e tudo o mais.E não apŕecio essa
simplicidade,sempre sonhando com viagens e roupas caras,ter uma vida
de luxo,coisa que esta dificil e parece que nunca vai acontecer..Pode
parecer ser bobagem e ate pecado pensar em dinheiro mas eu penso e
com frequencia.Poder mudar de vida,ir para algum outro lugar,fazer
alguma coisa,mas algo certo ou não será correto.Como nada aparece
permaneço aqui sonhando enquanto escrevo estas maltraçadas nesse
computador em meu quarto.
Mas o sonho de voar
alto e longe,vem me perseguindo a algum tempo e acho que faz tempo
que estamos nesse marasmo.Todos estão.George doente,mal para em casa
tendo que ser internado de vez em quando.As vezes fico imaginando
aonde as coisas foram párar,logo George,sempre acostumado a
trabalhar e agir agora feito um doente pelos cantos.Não quero dizer
que fique pelos cantos,tambem.Ele continua ativo na casa e costuma
sentar em sua cadeira do papai e ficar assistindo televisão o dia
todo,mas já passou dos limites.É tempo de fazer alguma coisa.Sempre
recomeçar.
A criatura no forro
parece aninhada,como um presente ,como se estivessemos em pleno
natal,sem fazer barulho,apenas lá,como se não passasse de parte
desta casa,parte da família,parte de uma mitologia que jamais vai
morrer.Agora mamãe se acordou e esta pela casa,fazendo alguma
coisa,posso ouvi-la no banheiro e saindo dele,como um fantasma.
Estou exausto desta
vida mas párece que vou ter que vive-la talvez para sempre.Como sera
o amanha,talvez melhor que o hoje,como já foi esse ano.Um ano que se
arrastou e que marcou minha saida de um tempo de crise que se
estendeu por anos.
SEXTA 24 DE MAIO DE
2019
Eu me encontrava
prestes a atravessar a rua quando quase fui atropelado pelo
ligeirinho,que passou fumegando pelas ruas de Curitiba.Era mais um
dia de maio de 2019 quando minha estória acaba de ser publicada nas
páginas da revista Nebula tales Issue 3 na Inglaterra.Eu me
encontrava animado então,mais animado que um daqueles velhos
desenhos do Mickey Mouse de Walt Disney,mas Mickey Mouse é apenas um
rato e tem que continuar a roer queijo pelas ruas de Nova York,por
isso esqueço um pouco de besteiras e me ocupo com outras besteiras
ainda maiores,o pagamento da estória que sairá em julho,e que irá
engordar minha conta bancária num futuro não muito distante.Pelas
calçadas pavimentadas,os curitibanos caminhando alegres á passear,e
logo adiante,a antiga construção do Farol do Saber onde jazem
tomos,livros voadores,que costumam sair voando ao menor toque,pela
praça vende-se peixe,o frio faz com que todos saiam ás ruas bem
agasalhados,no mercado vende-se de tudo inclusive pimenta,e tudo é
alegria.As velhas com seus vestidos rodados,os homens com suas roupas
de cavalheiros,os cães vagam de um lado para outro,perdidos,na
Igreja os mormons rezam,e tudo é vivaz.Cheguei no Farol do
Saber,onde entreguei um antigo alfarrábio,que havia pego
emprestado.A bibliotecária se limita a dar um sorriso e agradece.Eu
me viro,vestindo camisa social,calças jeans,e tẽnis e me vou rua
afora de volta para casa.Os postes de iluminação emitem uma luz que
ofusca meus olhos,as folhas secas das árvores são coloridas e
embelezam o passeio.Tudo é luz e vida,graça e garbo,a água de uma
chuva que caira agora á pouco,escorre pela valeta.Os automóveis
trafegam ininterruptamente,as lojas vendem sem cessar,enfim,aquela é
mais uma manhã no bairro Xaxim.
Retorno para minha
morada na rua Dois Vizinhos,número 930,um casebre verde,onde moro
provisoriamente.Compramos uma mesa e cadeiras que somos obrigados a
montar por nós mesmos,o suco comprado no mercado é absorvido aos
montes,como atração principal de um banquete que degustamos a
semana toda.Ouvimos música dos anos sessenta setenta e
oitenta,discoteca,temas de novelas,tudo,mas o que gostamos mesmo são
as marchinhas alemãs,que ecoam pela casa,quase não assistimos
televisão,preferindo trabalhar nos computadores que temos e no
serviço doméstico de sempre.Até meio-dia faço compras ou
escrevo.Meio-dia vou dormir,e acordo ás três horas,quando tomamos
café,para voltar á escrever até ás seis e meia,quando vou para a
escola,para voltar apenas ás dez e meia,quando tomo um Nescau e vou
dormir.Mas amanhã é sábado,parte de um outro fim de semana que
passará despercebido com alguma visita familiar ou mais uma estória
de fantasmas.
Eu sei que preciso
fazer alguma coisa.Largamente,sei que necessito saber de coisas que
me serão uteis no futuro.Mas preciso de poder também,poder o
suficiente para me manter vivo,e bem.
Vivo como que numa
luta incansavel por amealhar poder,poder que me dará capacidade para
sair dessa situação num futuro próximo e ser alguém agora.Mas já
fui alguém desde o começo deste livro,o que diferencia é que agora
sou mais do que fui no começo,por experiencia própria.
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