sábado, 25 de maio de 2019

29 de maio,
Lembrando que acabo de lançar uma estória na revista Nebula Tales issue 3.
A estória chama-se Bighouse e a revista está a venda pela Amazon na internet.
Comprem bastante pois eu recebo por vendas.
A estória é baseada no casarão em que morei quando era pequeno e sobre como decidi me tornar um escritor.Para publicá-la contei com a ajuda de meu grande amigo Trev Hill,que corrigiu a mesma e a mostrou aos editores da revista.
Devo tudo a ele,obrigado Trev!


 
GRAMPO DO MAL

JAMES MALHEIROS


Uma noite em 1988

É de noite na casa e a família assiste á um filme de terror que passa no televisor.A escuridão assombra á quem á vê,o filho do meio ajusta a antena da TV,todos conversam e bebem refrigerante,o filho mais novo se ajeita no sofá.A mãe come pipoca e parece animada nem dando atenção para o filme.A filha está sentada no sofá com um copo de coca-cola na mão e um cigarro na outra.O filho mais velho conversa com certo torpor enquanto assiste ao filme de terror que passa no televisor.No filme,uma estranha névoa encobre os arredores de uma cidadezinha.Todos assistem televisão e há silêncio nas casas vizinhas.
Pela meia-noite todos foram dormir.O televisor foi desligado.Alguma coisa no forro faz barulho tentando chamar a atenção de quem estiver acordado.O filho mais novo dorme,só de calção no sofá da sala.Borras de café escorrem velhas na vala,oriundas daquela manhã,mas agora é noite e no relógio da parede já é quase amanhã.Mas todos dormem após ter assistido o filme.E no forro alguma coisa parece viver.É a criatura da casa dos Malheiros que parece se mover,em meio á névoa da noite,como no filme,e agora a casa está mergulhada na névoa que veio e encobriu a cidadezinha de Blumenau.Como no filme que passou no televisor,como que envoltos pelos poderes do Mal.
Agora em volta da casa a neblina toma conta,todos dormem,agora não passa mais nada no televisor.Ele está desligado.A criatura faz barulho no forro e parece se movimentar.É de noite que ela vive para camundongos caçar.É de noite na casa e a situação é praticamente um mistério.
É a família,o televisor desligado e a casa envolta pela névoa que veio do cemitério.
O mesmo cemitério onde jaz enterrado o professor Menescal,que se matou á muito tempo atrás levado pelos poderes do Mal.Agora em sua tumba ergue-se as teias de aranha que foram se formando com o sereno.As flores agora podres se desfazem com o tempo.Tragédia para os Malheiros perderam um de seus filhos mais fortes.Professor de respeito,cidadão vencedor.Agora jaz morto,em sua sepultura o clima de horror.
Assim a noite passa,uma noite de sono profundo para os Malheiros,adormecidos pelo poder da mente morta do professor Menescal,que os nina noite adentro.A família dorme sob o poder de sua mente,e nada mais passa na tela do televisor,que agora parece diferente.Um televisor de uma outra época,um outro tempo.E a névoa se vai levando o sono da família embora,fazendo-os acordar pela manhã e quando vão ver a névoa se foi,causada pelos poderes do professor Menescal,que os ninou macabramente aquela noite,como um presente do diabo.Uma noite de festa com pipoca foi dada a cabo.
E assim todos acordam e vão tomar café,e ir trabalhar e estudar,como sempre.Mas todos vão lembrar quando o professor Menescal os visitou em suas mentes,trazendo a névoa do cemitério para cercar a casa da família,e agora a casa dos Malheiros parece não mais uma ilha,como na noite que o professor Menescal ninou a família de sua tumba no cemitério.
Uma noite de medo,uma noite de mistério.



1992

UMA OUTRA DIMENSÃO

Haw.
Vago pela cidade como um cão, perscrutando os sebos e lojas nas quais vou passando apenas por curiosidade, nesta cidade de terceiro mundo.
Pego o ônibus num ponto qualquer da cidade apenas esperando para chegar em casa e ir dormir. De meus dias de andarilho me lembro pouco, pois troquei andar a pé pela cidade, por ir ate o ponto mais perto e pegar o ônibus.Sigo no coletivo apenas observando a cidade que vai passando como num passeio turistico, ainda tenho tempo, mas quero chegar logo a cidade para assistir a sessão de cinema gratuita na biblioteca, No centro, diferentes rostos, diferentes culturas esse mundo fervilha em palavras e papo-furado.
Pessoas andam de um lado para o outro, em férias ou a trabalho.Outros por sua vez, vindos de outra cidade, se pôem a esperar o ônibus no terminal, onde logo, o ônibus, que peguei
chegará daqui a poucos minutos, me levando para casa.E eis que ele chega.
Salto do ônibus matreiro, sorrindo.nesse mundo que, para mim é agora uma caixa de surpresas.Uma névoa aterradora ,onde cães e pequenas criaturas levitam, pairando no ar. É um tempo de mera ilusão, e nada de espetacular jaz em minha mente, Apenas o distante ressoar dos carros, ônibus e caminhôes trafegando pelas ruas do mundo, um mundo devastado pela poluição industrial e pela crise econômica, após a grande quebra da bolsa de Nova Iorque, á algumas noites atrás. Nas firmas, os trabalhadores trabalham em silêncio, enquanto esperam por sua oportunidade de subir na vida. Somos milhares de seres humanos,
cada um com uma diferente bagagem cultural e diferentes tipos de experiências mas todos com uma coisa em comum - a necessidade de viver, num mundo tao frio e cheio de névoa. Agora mesmo, no Hawai, por
exemplo, pessoas vão e vem, pescadores motoristas de caçambas ou guias turísticos prontos
para começar mais um dia de trabalho, mais uma oportunidade de alcançar uma coisa que todos nos desejamos. Vou até a banquinha do terminal e compro um maço de cigarro.com o isqueiro público que jaz em cima do balcão, amarrado com uma corrente, acendo um deles e me dirijo ate um dos bancos do terminal, andando.Vejo moças, pivetes, cachorros, velhos com suas roupas esquisitas e gente que não para de conversar. A lista e imensa. O que será que não esconde cada um deles, cada sermão rezado cada casa para onde vão ou de onde vieram pelos quatro cantos do mundo em que vivemos. Observo a moça de cabelo preto e liso, comprido, de tez meio morena, que adentra o banheiro publico do terminal.
A velha que se veste com vestido espalhafatoso e fala coisas de velha, senil.A mulher de seus vinte e poucos anos que beija o rosto de um homem velho, de chapéu que aparenta ser um cidadão integro, homem de grandes virtudes se despedindo, para depois entrar no coletivo, o cachorro que vem até mim e começa a abanar a cauda, me saudando com alegria. Ele me lembra de um outro cachorro a algum tempo atrás, um cão bonito tipo cofap que certa feita em uma esquina, do suburbio, veio e começou a correr em meu redor como se querendo ser meu amigo.onde estará ele senão em algum ponto afastado da cidade dormindo, enquanto esse outro, me cumprimenta carinhosamente, para depois se deitar a meus pés e sorrir com a língua pra fora, arfando ofegante.
Ele é só o inicio de tudo que podemos encontrar nesse mundo um mundo de dor e caos aonde criaturas e coisas dos mais diferentes tipos
se aglomeram pelos quatro cantos, alguns furiosos outros felizes ou acomodados .sofredores, trabalhadores, ou nerds que infestam o mundo pergntando a você se já leu algum livro de um tal sei lá o que de Jon Updike, e que afirmam ter visto seu fantasma pela rua á noite, em algum bairro do mundo, após sua derradeira morte.
Estranho.
Lembro os dias de minha vida como um sonho muito brando e distante, em cenas de coisas que infestam o céu e a terra , e que se esvaem na tarde e que vão passando, como um filme mudo e em preto e branco de Charles Chaplin, rodando em minha mente.
É noite.
A história de horror tem três vertentes, A primeira, a ficção, a segunda, a realidade e a terceira, uma mistura dos dois.Sabe-se que o terror na história da humanidade jaz perene.desde o começo dos tempos, Ele vem a desencadear uma espécie de cultura própria a cultura da fraqueza humana e o desabafo de coisas que nos incomodam ou então aquilo que sendo curioso nos fascina.
Existem histórias de terror de vários tipos como os de ficção e os de
uma realidade floreada. Certo dia, quando fui ate a biblioteca do bairro, ler, topei com uma pequena série de livros de ficção cientifica. Os livros Perry Rhodan.. Já havia visto alguns deles em Blumenau quando Jarbas os compravam todo santo mês.Sem qualquer curiosidade eu os folheei pela primeira vez vendo o fascínio de uma série de textos de horror e ficção científica, que haviam não só dado certo e tido sucesso nacional, quanto também internacional. Como outros boatos, e segundo disse Hilton, os textos eram escritos não por Perry Rhodan mas, por diversos escritores.
A princípio os deixei de lado mas, anos depois ontem mesmo, vim a constatar que Perry Rhodan era a maior série de textos de ficção científica e horror que jamais foram escritos.

(...)Como podemos descrever um sonho? Um sonho é uma série de imagens e sons que ocorrem durante o sono, que nos despertam não só nossas imaginações como também nossos medos, daí vem os sonhos, ou os pesadelos. A humanidade nessecita de algo que suscite em nós, aquela agradável sensação de entretenimento que nos deixam tão acesos após um bom programa ou texto impresso.Para isso existe a televisão, as revistas em quadrinhos ou então, a música.Esse é o maior mercado de cultura que jamais se viu na história de todos os tempos. Já na caverna, o homem procurava registrar coisas e informações, textos mensagens ou então exercitar sua imaginação e se divertir com coisas como filmes seriados jornais ou então histórias em quadrinhos.
(...)As tiras de aventura por exemplo.Iniciada em 1929, estas nossas pequenas peças de arte e texto, nos arremetem para a verificação de que entre milhões de habitantes do planeta Terra, quase todos já leram, um álbum de tiras de aventura do Tarzan, Mandrake ou Fantasma. Publicadas em jornais, elas cruzaram as décadas sempre firmes com artistas do quilate de Lee Falk, o mentor intelectual dessas últimas anteriormente citadas, séries de tiras de aventura. São elas que através dos tempos foram publicadas aos montes em jornais e revistas e são elas que alimentaram, os sonhos de milhares de jovens e adultos, durante quase um século.O ser humano precisa disso.; uma coisa que os faça sonhar e se identificar com os mesmos assim como através das décadas o mundo o fez, seja em textos de terror ou aventura, que foram escritos e ilustrados por crânios do mundo inteiro, os escritores e ilustradores da King Features Syndicate.que trabalharam por décadas, para ajudar o ser humano, á sonhar, e também, aplacar,seus mais profundos medos.(...)
Eu acabava de chegar ao colégio, naquele frio dia de inverno na cidade de Curitiba. Eram então tudo trevas e escuridão, que eu compartilhava com criaturas da noite, como minha velha cadela, Diana.As coisas aconteciam de forma macabra.Havia repetido três anos na quinta série e tudo que eu mais queria agora era me recolher a meu sofrimento.Minha carreira de estudante havia chegado ao fim, Estava tudo acabado.com minha pasta de baixo do braço de uniforme do colégio e meu cabelo liso e pentedo de inglês, adentrei a escola naquele frio dia de sombras.. ' Ainda esta vindo?', inquiriu uma estudante que estudava em minha sala, a ruiva, para ser mais exato.'Exato' retruquei eu calmamente, mas sentindo uma desagradável embolação no estômago. 'Eu estou morando agora na casa de fundos de um abastado cavalheiro rico,logo começo a trabalhar em alguma firma.' Ruiva olhou séria para sua companheira e deu de ombros.Me despedi e entrei na escola para acertar minha desistência de estudar no colégio. Era noite.
De noite, escutava com um bloco de anotações na mão anotando tudo que conseguia da transmissão da Espn international, que irradiava não imagens mas informações que iam sendo transmitidas pelo canal que logo em breve iria entrar no ar, mas que agora não passava de uma tela cheia de chuviscos que pareciam ate mesmo ter vida.Na estante e nas paredes do quarto, desenhos que iam, desde simples personagens de revistas em quadrinhos ate carros complicados de serem desenhados.Logo, larguei o bloco de anotações e me fui, até a janela para ver a tenebrosa imagem de um tucano gigante olhando pela janela do quarto.

Era então um desertor. Havia largado a escola e agora tudo o que eu mais queria era descansar de uma longa derrota - a quinta série da qual eu nunca sai. Sentado no meu aposento onde dormia, escrevia coisas que eu achava interessante numa máquina de escrever usada que havia obtido a algum tempo atrás. ' É, .é bom estudar em casa.' exclamou a mãe que adentrara o recinto, com uma vassoura pronta para varrer o chão e o teto do quarto.' Era o que o teu pai mais fazia.' logo sorri imerso em meus pensamentos para depois ir dormir.

Eram dias de névoa então.Uma densa névoa parecia envolver a casa então. Hilton e Jarbas trabalhavam, a mãe trabalhava numa cozinha industrial ali perto, e me recordo de.nos dias de solidão gostosa, passar pela frente da cozinha industrial imerso em pensamentos, refletindo sobre como e dura a vida.com pena de minha mãe.
Era o tempo do Cine Trash, que passava toda noite na Band, apresentado
pelo Zé do Caixão, programa que assistia toda noite, e que me provocou pesadelos durante um longo período de minha honorável
vida. Aquela noite, me encontrava assistindo ao mesmo programa na companhia de Hilton, que, deitado na poltrona, ria, de um filme que passava sobre o colecionador de cabeças. Eu, sentado na outra poltrona, ria junto, de um filme de terror que mais parecia uma comédia.uma palhaçada.Na manhã seguinte, sentado a mesa na cozinha, folheava uma revista da Cripta do Terror, regado a uma boa garrafa de refrigerante.Jarbas lavava a louça e fazia a comida, para logo depois, almoçar.As estórias que li naquela revista me marcaram muito, especialmente a história 'Irmãos de Sangue' que fora publicada na reedição da revista que assombrara a censura norte americana em plenos anos 40.
Passava os dias, martelando as teclas da máquina de escrever, redigindo pequenos textos que a medida que iam sendo escritos, iam se multiplicando.As estórias pairavam no ar, assim como os fantasmas daqueles que já se foram e que agora, assombravam a
casa.Textos que redigia e que eram baseadas num livro de luxo que contava estórias verídicas de fantasmas e outras experiências aterrorizantes, como a incrível estória de Alester Crowley, que praticava sessões de magia negra e que ficara marcado como um importante personagem de terror de nossos tempos.Lia página por página da edição de luxo que trazia estórias de lendas sobre fadas e gnomos que assolavam a Inglaterra medieval .experiências paranormais, fantasmas e as noites macabras da época das carruagens, que cruzavam as ruas de Londres no século passado.Certo dia, reuni todos os textos e para depois de pô-los num envelope, fui, na companhia de meu primo, que viera para passar a noite em casa, pegar o primeiro ônibus para o São Brás, rumo a casa do mesmo, para discutir as redações de horror e
matar gatos, em rituais de magia negra.Naquela noite não consegui dormir, imerso num pesadelo.


Um dia depois, veio-me as mãos uma cópia bastante interessante de um livro intitulado Parque dos Dinossauros de Michael Chrichton. logo após almoçar, naquele dia de calor, com o exemplar na mão, fui até a lavação e, sentado em cima da casinha da cadela Diana, li-o de uma só vez ,e enquanto o lia,começou a chover.

Passava noites em claro, imaginando estórias de demônios e fadas, monstros e assombrações, mergulhado no clima soturno da casa enquanto, deitado na cama em meu quarto, meneava meu cabelo, com a mão.

A casa era uma espécie de tumba, um antro de livros e revistas de terror que entupiam uma estante, onde guardava uma batelada de cópias de peças de literatura, entre eles, um livro de capa amarela, denominado 'Tripulação de Esqueletos' de Stephen King.

Eu parecia viver, imerso numa espécie de transe hipnótico então.não me lembro de muita coisa sobre nada, exceto o que acontecia dentro da casa.O mundo então não significava nada para mim, não sendo nem o mesmo, algo que eu gostasse de lembrar. Bom entretenimento, era tudo o que mais me importava. Eu vivia então mergulhado em filmes de terror, como ' It - a obra prima do medo' e ' Creepshow - arrepio do medo.'
Naquela noite, uma das grandes noites de vigilia, lia um gibi de estórias de assombração, enquanto aguardava o véu da noite cair sobre a cidade.

Não obstante, minha mente se encontrava numa catarse.Catarse em que eu me encontrava que me fazia escrever todo dia.Todo dia de névoa, pegava um pacote de papel Chamequinho e o botava na pequena máquina de escrever, pondo no papel, todo o mundo de alucinações nas quais eu vivia, como se a vida fosse uma grande noite, imersa em monstros e pesadelos, dos quais eu me alimentava.Escrevia sobre a vida, sobre o mundo e sobre a névoa que tomava conta de minha vida.

Apenas saía para trabalhar, no mercadinho perto da casa, onde receberia 60 reais para vigiar a caixa. que era amiga de minha mãe. Trabalhei lá por algumas noites, mas.devido a uma tremenda burrada, fui demitido, por faltar no trabalho. ' Como é que fica então, senhora?'perguntei a caixa, que prontamente me despachou. ' Não não' disse ela, ' Se precisarmos de seus serviços nos te chamaremos. ' Em silêncio, sem saber o que dizer virei-me e fui pra casa, pra não mais voltar.

Os fantasmas da noite pareciam pairar na névoa naqueles dias, o fantasma de algo que me acompanharia pelo resto da vida - a esquizofrenia.mas isso era algo que eu ainda não sabia.
Escrevia maços e maços de textos.Certa vez, após assistir a um filme chamado 'Kids', prontamente escrevi um texto, que contava a história de um grupo de jovens que passariam pela maior experiência de terror de toda a história de suas vidas. Nele, Charles,após ir até a casa de seus avós no Jardim Botânico,encontrava uma cabeça dentro de um saco de
papel pardo.O texto, de cerca de 48 páginas, se perdeu com o tempo.Após eu rasgar o grosso calhamaço de folhas de papel sulfite datilografado que anos depois, Consideraria inútil e sem futuro,
A estória era uma estória maluca que terminava com a morte do mesmo.nele havia menções sobre remédios e não drogas, que eu tomaria para me sentir saudável e sequências como a ida de ôuibus ate o Jardim Botânico e a explosão da casa dos avós de Charles que, depois de um resgate acontecer, após a vó do personagem abrir a válvula do botijão de gás da cozinha e explodir a casa de forma fatal,
Como Charles conseguiu escapar e morrer, depois de se suicidar com um tiro na cabeça após descobrir que estava começando a ficar louco.
Após acabar de escrever o texto, o larguei, deixando o esquecido na estante, onde deixava os textos que iam sendo escritos, e que se perderam com o tempo, quando eu me livrei dele, anos depois, para meu total arrependimento.

Os textos, baseados na vida real, pareciam criar vida.sempre que chegava em casa após ir até o apartamento de minha irmã, sentava no sofá á noite no escuro, na sala da casa de fundos.e sintonizava na Band, onde assistiria a algum filme de horror que alimentariam boas noites de sombras e alucinações.

Era a época dos filmes malucos infestados de duendes gnomos e outros tipos de miragens noturnas e fábulas que forravam as prateleiras das videolocadoras e que passavam na televisão, pérolas do entretenimento
na época em que a ficção e o terror faziam parte de uma vertente agra
dável, que fazia parte de nossas vidas. Padres que voavam e lutavam karate, pequenas criaturas que soltavam uma gosma verde ao serem pisoteados, palhaços espaciais e camas em hotéis em, trechos afstados da cidade, que devoravam, a noite, quem nelas deitassem.

Na pizzaria, a algumas quadras da casa, Hilton e Jarbas iam, para trazer para casa, grandes pizzas de anxova e presunto que eram compradas no 'Engenheiros da pizza' que havia sido inaugurada a não muito tempo, perto da casa.Havia livros, havia viagens e festas, que noite após noite me visitavam, fantasmas que lentamente me embalavam no suave sono do medo.Uma manhã, acordei e fui tomar cafe, para constatar que
Jarbas havia comprado num sebo um exemplar de 'A profecia' que me entregou em mãos, perguntando se eu queria ler.Após arrumar a mesa para o café da manhã, me pus a decifrar a trama e o texto de terror que me parecia fantástica.Logo após ler o primeiro capítulo, pouco depois, me levantei e fui até o quarto, onde peguei uma folha de papel duplo, voltei a cozinha e com uma caneta preta, copiei a
ilustração da capa do livro, escrito pelo talentoso David Seltzer.
O desenho, que deixei de lado, me assombrou, por anos.enquanto desenhava, um par de olhos, me observavam, brotados da noite, pela janela da cozinha.

Naquela noite, a casa estava em silencio.Lá pela hora de Hilton chegar do trabalho, ele adentrou a casa, com uma surpresa.dentro de uma sacola de rafia, lá apareceu pela primeira vez na história da família, um animal de estimação.'Olha só o que o Hilton trouxe ' exclamei ao ver o conteúdo da sacola, uma cadelinha, parecida com o Banzé,e de cola longa, sorria de lingua pra fora, abobada, onde depois de vê-la, termos-na posto numa caixa.onde a partir de
então passaria a viver, até que achássemos uma casinha de cachorro para ela.Aquela noite fui dormir, surpreso, ao som de uma triste sinfonia - a cadelinha que batizáramos de Diana, choramingando, com medo do escuro.

Logo na manhã seguinte acordei, alegre e com vontade de ver Diana.e lá estava ela, saudável, após sua primeira noite conosco.Ela parecia sorrir arfando, e balançando a cauda, como se pronta para mais um dia de brincadeiras.Logo peguei intimidade e a peguei em meus braços acariciando-a, contente, por ter um amigo.

Logo após arranjar uma corrente, saí para passear pelo quintal com o filhote de pastor alemão que acabáramos de obter.Ela arfava e gania, sorria e abanava a colinha como uma criança que acaba de nascer. Após brincar um pouco no quintal, debaixo de um sol quente num dia de verão, voltei para casa, para logo em seguida a dar um banho.

Os dias se passavam e eu, como sempre lendo bons livros e assistindo a qualquer coisa que me pudesse causar satisfação na TV. preto e branco Philco que nos acompanhava desde Blumenau, e que queimou, um dia, quando a luz acabou na casa, para, semanas depois a substituirmo-na por um telão cinza que possuimos ate hoje.Estava por coincidência, assistindo ao começo da TV por assinatura.a TV a cabo.
Mas algo estava acontecendo.algo que viria no futuro a me causar pavor.

Dias depois, após ter vindo de uma viagem a Blumenau, cheguei em casa bem na hora de Jarbas me avisar que estava começando a passar um bom filme de terror. ' Está passando um filme bom, James , ' avisou Jarbas. 'Que filme?' inquiri eu, após ir ate o quarto, por a mala de viagem em cima da cama, apagando a luz e voltando ate a sala para depois sentar para assistir ao filme na OM.'A hora do espanto' respondeu Jarbas. ' já está começando? 'perguntei. 'já' disse ele, com uma travessa de plástico com pipoca salgada.após ir até a cozinha e pegar um pote cheio para mim, voltei a sala, para depois sentar parta assistir aquele clássico filme de terror.
O barulho das xícaras copos e pratos que usáramos para comer a mais uma pizza como pregava a tradição da família naqueles sombrios dias
de passado e futuro.

A última coisa que lembrava dos tempos de escola, dos últimos dias no
colégio dos cavalos, era da vez em que um aluno viera ate a sala onde eu cursava novamente a quinta serie, e dito que a senhora Denise estava me chamando. ' A professora Denise disse que é para você ir até o
gabinete dela, com o caderno com as redações que você escreveu, James
exclamou ele.Eu prontamente tirei o caderno com os textos que eu escrevera e me fui, escola afora, até o gabinete da professora Denise.


'Com licença, dona Denise' disse entrando no gabinete.' Entre James.' ela exclamou, me convidando em seguida para sentar. ' deixe-me ver o caderno com as redações que você escreveu.'disse ela.Eu, em resposta, entreguei o caderno que eu tinha em mãos á professora Denise, uma professora com o cabelo ondulado doidão que ria todo dia.
Daí comecei a explicar e apresentar os textos.Enquanto ela lia e dava risada, daqueles que seriam os primeiros textos que eu escrevera, fora o fato de que não eram de horror, mas sim, textos humoristicos. Comédia para ser mais exato.
'Seus textos são excelentes, James.'exclamou ela enquanto lia os textos.'eu tenho uma proposta para você.por que você não vai até uma editora e submete essas redações?'Eu nem mesmo sonhava em fazer uma coisa dessas, Mal sabendo o que ela pretendia, eu balançei a cabeça afirmativamente, sem entender que o que a dona Denise estava me convidando era não uma simples conversa mas um convite e uma proposta a escrever os textos e vê-los publicados num livro ou em revistas.Houve uma troca de idéias, entre uma professora e um adolescente que mal sabia o que fazer com aquelas pérolas da ficção que jamais foram publicadas.fazendo corpo mole, cheguei em casa aquele dia e nunca mais vi a dona Denise.Joguei os textos na estante, junto com os outros escritos perdendo-os para sempre.Certo dia, numa devassa, a mãe arrumando o quarto, pegando todos os textos que haviam no caderno e considerando que não fossem nada importante, os pegou e os jogou fora.
Estava tudo acabado.

Mas havia algo de fantastico naqueles dias em que eu passava, sozinho,
imerso em um agradável e demoníaco clima de horror e geada, lendo
revistas e livros de horror e escutando música da boa.Eu parecia não perceber, envolto a um clima de solidão, mas aqueles foram os melhores anos da minha vida, onde passava os dias, em transe.

As noites eram agradáveis., enquanto esperávamos pela janta, Hilton tocava cds, dos bons, que davam a casa, todo um clima de encanto e mistério, onde apreciávamos a escuridão de dentro da casa, ao som de discoteca, num tempo tao bom que não esquecerei jamais.


Pesadelos á noite, ruas por onde andei em minha vida e a vida cigana que levávamos naquela época. Músicas vindas de um outro tempo. filmes rodados em uma outra galáxia e o frio véu da noite.as noites de horror em que tudo não parecia uma grande zona de desolação num clima de eterno medo.
Mas quis Deus que não fosse mais assim.

Os dias se passaram e semanas depois, semanas de duro trabalho de Hilton e Jarbas, quis os expectros da noite que Hilton caisse doente.aquela noite deitado no sofá, com a cara palida e manchas amarelas no rosto, ele repousou, enrolado em um cobertor, a espera de um milagre. 'Vai comprar um remédio pro teu irmão.'exclamou a mãe, preocupada.Logo sai e fui ate a farmácia onde comprei um tablete de superhist .de volta a casa , sobre uma fina nevoa, sem que o remédio ajudasse, Hilton foi levado a um hospital onde passou a noite.
Na manhã seguinte, a mãe chegou do hospital, com más noticias - ele tinha tido um derrame.
Tudo que pude ver naquele dia, foi Hilton, de olhos semicerrados se recuperando de uma tragedia. 'James.' disse ele naquele entardecer. ' Me vê uma caneta e um papel. Trouxe o papel e a caneta, onde ele redigiu ,um assustador texto macabro sobre sua doença.Li o manuscrito mas decidi, alarmado jogá-lo fora por achá-lo muito sinistro.
Logo a noite veio dando lugar a mais um dia.Felizmente naquele mesmo entardecer. Hilton estava curado.
Logo voltou a trabalhar, e as coisas de novo voltaram ao normal.

Enquanto isso continuava a escrever.com uma pequena máquina, redigia textos sobre a vida o céu e a terra.textos de horror.
Mas, pouco depois, quis Deus que coisas sinistras voltassem a ocorrer na casa do bando.naquela noite, Hilton chegou em casa, apos saber que
eu tinha batido em Diana...'Olha aqui ,você não pode fazer isso! Porquê você bateu na Diana, seu droga?' exclamou ele em voz alta.
Desesperado,eu me senti pequeno então. Estava alarmado.'Não pode vírgula .ela aprontou.' exclamei eu com raiva.Logo começamos a discutir e Hilton começou a chorar.tudo o que pude ver foi ele, pegando a cadela no colo e se indo na noite. ' Espera.O que vai fazer?' exclamei eu atônito indo atrás dele. Hilton chorava. ' Vai embora!Droga.' gritava ele soltando a cadela que coreu inocente para bem longe. ' Não!' gritei eu, para logo em seguida sair correndo pela rua atrás dela.Jarbas que vinha vindo pela rua teve presença de espírito e a agarrou enquanto ela tentava fugir para bem longe.Chorando, Hilton disse que ia dormir no apartamento de nossa irmã,e se foi na noite.

Na manhã seguinte, ele chegou de tarde e pediu desculpas, num aperto de mãos.Novamente as coisas haviam voltado ao normal.Logo Hilton estava trabalhando de novo e parecia que a vida do bando após isso, ia de vento em popa.

Passava as noites em claro, sem que ninguém reclamasse disso.Tinha liberdade para ficar acordado a qualquer momento e tinha uma vida livre para fazer o que eu bem planejasse.de minha tumba, assistia toda madrugada, a biblioteca de desenhos e logo pela manhã no Sbt, o programa Sessão Desenho com a Vovó Mafalda.E assim os dias se passavam, tranquilamente como num rio de águas muito frescas e escuras, cheio de livros revistas e mistério.

Mas, ainda não estava tudo explicado, e eu me vi aquele dia, perdido num mundo ilusório.(...)Foi quando tudo aconteceu.E eis que la estávamos eu, minha mãe e Hilton, na sala da casa.macabramente, não sabia o que estava acontecendo não me lembrava nem mesmo o que eu estava fazendo naquela trágica semana, sentado na poltrona, Hilton chorava alto.
Nao sei como ou o porque, ele chorava, enquanto eu reclamava com minha mãe, por algo de que não me lembro. Mas foi então que a coisa se deu. Por algo que fiz não sei se inocentemente brigando de certa forma com a mãe, Hilton levantou-se com raiva entre lágrimas, para depois de em pé, exclamar que não era para eu brigar com a mãe. Eu retruquei imediatamente e em seguida levei um soco de Hilton. ' Para quê fazer isso?' eu gritei. ' Não!Não precisa fazer isso!' bradou a mãe, segurando Hilton, que ainda chorando me pediu desculpa num abraço apertado.Logo depois a briga acabou e logo estávamos bem de novo. O que havia acontecido para Hilton se zangar daquela maneira?
Ninguém sabe.Isso e um mistério que vai ficar para sempre na tumba do bando que lá morou por algum tempo.

Estávamos chegando no fim da semana seguinte e estava novamente tudo bem.Naquele
domingo de manhã enquanto assistiamos a Creepshow - arrepio do medo, semtados na poltrona da sala, Hilton já ria e brincava na companhia de Jarbas que também conversava, enquanto assistíamos ao filme de terror que passara de madrugada na Globo e que haviam deixado gravando na noite. Era um dia de frio e a névoa ainda cobria a cidade fazendo a capital parecer um agradável filme de suspense como aquele em que um cavalheiro negocia um esboço para uma revista de horror em meio a uma névoa em plena Nova Iorque.

Mas - minha nossa senhora.quis nossos senhor, que, desta vez, tudo fosse por água abaixo.Sombras cercavam as redondezas naquela madrugada de domingo para segunda onde tudo estaria para acontecer Por alguma razão, que não me recordo aqui, algo que porventura pudesse ter acontecido no dia anterior e que me fez acordar furioso.

Num acesso de raiva, me levantei e fui até a cozinha onde Jarbas e Hilton, jogavam cartas. após me convidar para jogar, jogamos. Hilton bateu. eu havia perdido.Eu estava furioso. Resmunguei algum impropério contra Hilton, que, ironizou minha atitude.e aconteceu. Me levantei, jogando todas as cartas de baralho que tinha em mão bem na cara de Hilton que exclamou impropérios contra mim, em voz alta. Ele saiu, exclamando que estava tudo acabado. Jarbas dizia algo a ver com ' Poxa cara, você era tão legalzinho, porquê começou com isso agora?' Eu peço perdão por, em resposta, ter escarrado contra Jarbas pela janela como se quizesse sua morte. Ele chorando se foi, dizendo que a comida estava pronta e que estava indo trabalhar. Logo Hilton e Jarbas se foram na tarde.
Ao invés de fazer alguma coisa, apenas voltei para o quarto e o arrumei, como se arrumando o berço de um bebê.

O dia se passou rápido e logo Jarbas estava de volta sem Hilton. ' Olha James eu tenho que te dizer uma coisa, o Hilton não vai mais voltar. ' exclamou ele sério. ' Mas porquê? ' perguntei assustado. ' Voce bateu nele James.e isso não se faz..Vem, vamos assistir as fitas que eu aluguei.'Logo, tremendo de medo, fui ate a sala onde regado a um bom refrigerante e um pedaço de pizza que lembrava muito os bons tempos do bando, numa débil tentativa de voltar a viver felizes como antes, assistimos a fitas de Jornada nas Estrelas e outros. Eu estava louco e após em silêncio exclamar que as fitas eram inúteis, Jarbas, aos prantos, meio de forma contida exclamou. ' Puxa cara. por quê você faz isso?Você era tão legal.' .' As fitas não vão resolver nada agora, droga!'
'Desculpa. Eu só pensei que ia ser legal alugar um filme pra gente ver...' Em seguida, arrependido pedi-lhe desculpas e continuamos a assistir a Babylon Five que agora era tocado pelo nosso antigo videocassete. Logo mais um dia se foi dando lugar a grande mãe noite.

Passaram-se alguns dias ate que o bando voltasse a viver junto de novo.Enquanto isso tudo que eu me lembro era viver com Jarbas, assistindo filmes lendo e escrevendo textos e revistas em quadrinhos, e de uma estranha névoa um ar de mistério no qual eu me via numa mesa improvisada, no quarto, assistindo tv, e escrevendo histórias de horror.

E eis que no dia seguinte, eu me levantei aos prantos, para por alguma razão, desesperado, fosse ate a sala e empurrasse o guarda-roupas numa débil tentativa de se
mudar, sozinho, para uma casa nova. ' Desculpa, mãe, desculpa.' murmurava chorando, naquele macabro dia de minha vida, ' Eu não queria ter feito isso'.. .A tarde passou Jarbas chegou em casa para me tranquilizar e em seguida ir dormir.

No dia seguinte, após a súplica de Jarbas, Hilton e a mãe, chegaram em casa, com pena e me convidando para me mudar com eles, para uma casa nova. Algo que não era bem uma casa mas um luxuoso apartamento, onde iriamos morar então.De presente e num pedido de desculpas, a mãe me deu um caderno, sabendo que eu gostava mesmo de escrever histórias de horror.

Na tarde do dia seguinte, o caminhão da Senk mudanças veio, para levar a mudança até o apartamento no Jardim Botânico., onde iriamos morar dali pra frente. Com os textos de horror em mãos, no dia da mudança, dei a máquina de escrever de presente para um polaco, parecido com um dos atores do seriado 'Murder One', que, me agradeceu pelo presente, num aperto de mãos.
Era o fim de tudo.

FIM

2000

Foi por volta do ano 2000 que nos mudamos para uma casa antiga,de madeira,no bairro Agua Verde.
Lá foi um marco decisivo na minha historia,pois marca o inicio de uma doença que os medicos ate hoje não sabem o diagnostico,mas que foi registrada por minha ordem pessoal como esquizofrenia.Entretanto essa doença só existe nos registros medicos pois hoje em dia,considero-na um fantasma que deve ser trancado a sete chaves em minha vida.Logo que viemos morar naquela casa,nos instalamos e por coincidencia eu havia acabado de completar o ensino fundamental,coisa que jamais ficou comprovada,uma vez que faltou eu passar em matemática coisa que deixei passar.Mas tudo bem,para fins de registro possuo o fundamental.Mas o que interessa foi que quando chegamos lá,poucos dias depois, fui acometido de uma terrível dor de cabeça.
Eu não sabia o que fazer e na névoa que se passava por minha cabeça tive o terrivel equivoco de pedir a minha mae que fosse tratar a dor de cabeça no medico.Esse me indicou um psicologo vejam só o desplante,e mesmo assim,cegamente,fui.Fiz a consulta e dias depois ocorreu o que eu poderia dizer de o maior desastre de minha vida.Ter sido hospitalizado pela primeira vez,coisa que me trouxe consequencias negativas.
Dias depois,numa noite escura,tive um desentendimento com meu irmão Sandro,que acarretou numa briga.A policia foi chamada e eles me levaram a um hospital temendo que pudesse estar drogado ou algo assim.
Mas não era nada disso.
Aquilo tudo não passou de um engano e peço desculpas a meu irmão por ter cegamente o agredido.Pensava então como uma criança e devo admitir que cometi um erro atroz.
Fiquei internado num hospital por três longos meses.A volta para casa foi seca,mas chorei muito enquanto isso me desculpando com meu irmão.As lágrimas escorriam por minha face tamanho era o desespero que toda aquela situação me causou.Passado o susto,voltei para casa,e prontamente me pus a estudar uma maneira de ser util para minha família e ao mesmo tempo me livrar daquele estado mental que me encontrava,do qual vim a sair só anos depois em 2017,quando a imagem de um escritor apareceria em um sonho para me dizer que devia ajeitar a minha vida.
Mas ai estava o problema,ate então não passava de um analfabeto funcional,problema que só viria a reconhecer anos depois quando comecei a escrever sobre minha vida.
Algum tempo depois o segundo susto,apenas um dos que se sucederiam nos anos seguintes.A briga com minha mãe.Peço desculpas se a afrontei,aquela não era minha intenção.De novo,fui hospitalizado.
Uma serie de internamentos em hospitais viriam a acontecer,e eu continuaria desempregado,ate que em dezembro do ano de 2005,consegui uma chance como ajudante de depósito na distribuidora farmaceutica Panarello,uma firma de remedios,localizada a algumas milhas de onde estavamos morando na época.
Era minha chance de começar a investir em mim mesmo.Mas quis o destino que nos mudassemos tres meses depois e assim,tive que desistir do emprego.Nunca mais trabalhei registrado desde então,tendo apenas trabalhado alguns dias em firmas de pequeno porte e como pedreiro em obras existentes pelo decorrer do bairro Costeira para onde fomos morar.Moramos em diversas casas até hoje,até a família se separar e ir cada um para um lado.Sandro se casou e ficou morando por lá mesmo,Mama e George Hilton foram morar comigo numa serie de outras casas até hoje,e só Deus sabe em quantas mais ainda vamos morar no decorrer da existencxia da família,já desde sua chegada a Curitiba,assumidamente,nomade.
Desde então tenho vivido,numa sucessão de casas uma atrás da outra,sem trabalho,e frequentando bibliotecas onde tiro inspiração para meus contos e desenhos.Outra fonte de inspiração é meu tablete,aparelho que uso para sintonizar desenhos e coisas engraçadas,assim como para escutar musica.
Atraves dos anos escrevi diversos contos e desenhei muito.Fiz tiras,desenhos e escrevi estórias,material que jamais foi publicado exceto agora aqui nessa,que pódemos chamar de uma auto-biografia.
Há muita coisa que ficou perdido na névoa,desde então.Lugares,datas,e acontecimentos que simplesmente ficaram perdidos na neblina do dia-a-dia de um desempregado e sua família,marginalizada pela pobreza e pela doença.Mas sei que fomos sonhadores.
E como fomos.Sempre se reunindo para escutar uma boa musica e conversar sobre o futuro de uma família que viu seus sonhos afundarem na nevoa de um país pobre e corrupto,os Malheiros,nos,sempre sonhamos com uma vida farta em esperança e dinheiro apesar de sermos pobres e envoltos numa mortalha de dor,seguimos em frente vendo nossos maiores desejos se desvanescerem numa noite fria,numa casa velha,como sempre,ao som de boa musica e uma xicara de café.
A partir de então,moramos na praia,em Joinvile e até em Ponta Grossa,para depois voltarmos para onde vieramos.a velha Curitiba.
Em 2011,resolvi voltar a ser cartunista e produzi algumas tiras.Muitas delas se perderam mas a maioria está comigo e guardo-as num acervo que mantenho até hoje.Acho que jamais vou deixar de desenhar,uma de minhas paixões nessa vida.


2018

CAPÍTULO UM
Era um estabelecimento velho e empoeirado,mas vendiam bons produtos,modernos..Entrei nele e comprei dois DVDs um dia desses.Como eram apenas 2 $ e o velho dono do lugar não tinha troco para uma nota de dez que apresentei,me deixou levar para pagar outro dia.Hoje fui lá e paguei os
2 $ que fiquei devendo.Ele me olhou arregalado e sorrindo.A quanto tempo não me via,e eu vim pagar o que devia ele gostou tanto que apertou minha mão e me tratou como um velho cidadão da velha Curitiba.Eu agradeci,sorri tambem e me fui,sem tempo de conversar.Mas tive vontade.A quanto tempo não encontrava um velhinho tão simpático e hospitaleiro como aquele homem.
Algo naquela loja velha,que tinha placa de papelaria,me fez lembrar da velha Blumenau mas não sei porque não confio muito nem mesmo nos velhos de lá.Sabe-se lá o que devem viver aprontando.
Mas foi bom,me senti como alguém que realmente pertence a um lugar.Voltei para casa e retornei a meus afazeres.
Estava ocupado,agora queria ser escritor,ajudar minha família,não trabalhar numa firma mas escrever e fazer compras e lavar louça,coisas assim,cuidar da minha vida.Fiz compras com minha mãe hoje,fui na biblioteca do bairro para mexer no computador como sempre faço.Sempre gosto de ficar acessando o Doutor Google e ficar vendo blogues e sites sobre literatura e outras coisas como eletrotécnica Medicina e tudo o que me interesse.Enviei duas cartas á editoras ainda ontem,foi uma semana que começou cheia,fui fazer compras para minha família e George até cogitou em me dar dinheiro para cuidar das compras do mês.Estou mais ocupado do que nunca e trabalhando em meu sonho de ver publicado um livro de minha autoria.Sempre fica o sonho.
Esse computador parece estar vivo.É claro que é impossível mas é como se ele possuisse vida própria,não sei porque algo me diz que preciso aprender algo a mais a respeito de informática ou não vou conseguir entender nunca que quando um computador come uma estória é porque foi mal formatado e não porque forças cosmicas fizeram-no criar vida e me pregar uma peça.
Agora está frio e ainda estou vendo o que vou fazer hoje.Creio que o melhor á fazer é me enrolar no meio de um cobertor e ficar,até chegar a noite e eu me levantar para cuidar da casa de novo como sempre faço.Mamãe está melhor,até fez compras comigo hoje.George é visível,melhorou por enquanto de sua doença coisa que já é o bastante para quem vivia no andador e treinando para viver uma vida um pouco mais ativa,como é saudável de se fazer.Eu martelo neste computador e estou cansado,acho que vou descansar,conversar um pouco com minha família pois isso é o melhor que posso fazer.Depois dormir e acordar para o café as três horas.
Mamãe resolve fazer bolinhos.Está inspirada.
-A vida não sei porque todos reclamam,se ela é maravilhosa! - ela diz,preparando a massa dos mesmos bolinhos como uma possessa,uma boneca assassina mas que não é assassina não,apenas uma mulher bondosa que pode ser terrível.Lá fora,no rancho dos Malheiros,mais uma noite vem caindo,como o prenuncio de alguma praga infernal,chegando a causar medo em Rudolf,na verdade Banzé,o cachorro da minha irmã Andréa,da qual somos vizinhos,agora uma Malheiros de novo,apos
ter se separado de seu marido Valdir,com quem fora casada por anos.Ainda me lembro de como tudo começou.Foi ótimo,eu estava estudando então,mas com o tempo foi se transformando num erro.Ela em sua casa já não aguentando o marido,e em minha vida também,com os Malheiros eu da minha parte ficando cada vez mais relapso e perdido no tempo e espaço.Mas tudo passou,passou-se um tempo de aprendizado e finalmente me tornei um escritor como tanto gostava de brincar quando era pequeno.Fazia alguns desenhos,me divertia.Mas foi com Stephen King que minha febre se deu mesmo,foi lendo seus livros e pesquisando sobre ele que tudo se deu.Agora escrevo,em tempo integral e agora aqui me encontro em meu ofício,escrevendo,pensando em coisas para colocar em minhas novelas de terror,coisa que já não mais temo como temia antes.Creio que agora virei um homem me tornei um homem-escritor coisa que faltava para mim,pessoa antes relapsa e preguiçosa que perdeu muito de seu valioso tempo dormindo ou então vagando a esmo,sem rumo.
-Agora as coisas estão como antigamente – disse George hoje durante o café num apice de entusiasmo enquanto falava para ele como a mulher do farol,a biblioteca do bairro me tratava,sempre com intimidade e respeito.Ele pareceu gostar e disse a frase com um gosto que jamais vira em George.Estava realmente entusiasmado.Agora a música sertaneja ecoava do rádio na cozinha e já não mais pareciamos tomados por um profundo frio ou relapsos deitados no sofá ou na cama,confusos,dormindo,não,agora estavamos vivendo a vida e cuidei hoje para que fosse tudo perfeito,enxuguei a louça,ajudando mamãe na cozinha,tomei conta de tudo,como todos gostam de ver eu fazendo.
-A tia Lilie mandou um abração para todos vocês – disse mamãe,contente após ter telefonado para a tia Noeli,sua irmã e nossa tia,sempre presente nos principais momentos da família.Ela deveria estar contente se visse eu tomando conta da casa como um homem,imagino,a tia Lilie,a velha tia Lilie!
Afinal agora os Malheiros estavam vivendo e não tinhamos medo de morrer.Morrer afinal,trabalhando como já falei antes,porque é normal morrer e todo mundo morre um dia afinal de contas.Agora mandei uma carta para uma editora,e logo verei se estarei publicando GRAMPO DO MAL em edição especial,edição oficial como eu sempre quis,e se não conseguisse da primeira vez,continuaria tentando,agora lutaria para ser realmente um escritor de novelas de terror,de contos,e quem sabe até de como escrever livros de meu relacionamento com a literatura,enfim,sobre o que viesse a calhar.Para publicar um livro precisaria fechar um contrato e conhecia o doutor Google que possuia uma vasta gama de possibilidades para que o livro fosse publicado e estaria lutando para que fosse publicado.Agora uma estranha névoa parecia pairar ao redor do rancho como se envoltos pelo espírito Malheiros e eu quase sendo eleito como verdadeiro homem na família,mas não trabalhando com algo como um serviço,mas escrevendo como sempre sonhei.Tive alguns contatos no passado e agora as coisas estavam caminhando para enfim eu me tornar o que sempre sonhei,um verdadeiro escritor.
A tarde chegou e se foi,como se jamais tivesse chegado.
Mas foi uma tarde fantasmagórica,a música tocava no rádio na cozinha e o silêncio subitamente tomou conta do rancho,como se algo de medidas descabidas estivesse para se abater por sobre a região.Mas era algo bom e não algo desagradável,que causasse dor ou desconforto,era um clima que vinha e se mesclava ao frio,como algo no ar,uma energia,uma coisa que ia além de toda a imaginação de um ser humano e se espraiava por toda a cidade,em seus fundões perdidos,nas ruas perdidas de subúrbio por onde andávamos quando Mama podia caminhar com facilidade,com tranquilidade até,enquanto conversavamos sobre o que gostariamos de fazer e o que queriamos conquistar.Um tempo em que um Malheiros podia sonhar não com fortunas mas com felicidade,uma felicidade que vinha e tomava conta como a onda do mar tomando conta da areia da praia quando viamos na praia,a agua bater contra a costa,de uma forma gostosa,como uma toada de um sertanejo que canta sobre suas aventuras num Brasil rústico e viril,ermo e perdido no tempo.

De volta á 1988

A arvore da danação se encontrava atrás da casa dos Malheiros,no terreno superior.Era lá que ela crescia,que caiam as folhas e galhos pelo chão,que brotavam as tangerinas e que subia o filho mais novo da família,quase todo dia.Sempre que podia ele subia na árvore e ficava,á ler seu gibi preferido,ou a comer tangerinas.Descascava a tangerina e chupava cada gomo,como se degustando algum pequeno manjar.Era assim que passava os dias,quando se encontrava no terreno superior.
Hoje não tinha nenhum gibi,apenas saiu de sua casa taciturno,e subiu o barranco até o terreno superior para comer tangerinas.Trepou na árvore e subiu até lá em cima,onde ficou sem se preocupar,á comer tangerinas.E assim passou a manhã.
Lá pelo meio-dia desceu e foi almoçar,para depois ir para a escola.Era seu primeiro ano no colégio.
Mas algo havia de estranho no terreno superior.E era a árvore que de repente criou vida e estendeu uma de suas raízes até o camundongo que passava,pegando-o,agarrando-o.O rato guinchou e desfaleceu,sendo puxado até o buraco que havia em seu tronco,que na verdade não passava de sua boca,horrenda medonha.que comeu o camundongo como se comesse uma coxinha uma espécie de bolinho.O sangue esguichou longe e a árvore deixou desfalecer a raiz que o pegara,como se nada tivesse acontecido.
Ninguem sabia mas era a árvore se alimentando,em um festim diabólico,onde comia camundongos,galinhas e outros pequenos animais da região.

De volta á 2018

Agora podia ouvir o som de Andrea terminando de arrumar sua casa,logo ali,na casa vizinha.
Agora era um novo tempo,como se algo estivesse acontecendo e de vez em quando pudéssemos alcançar aquela vida perfeita que tinhamos quando eramos mais jovens e cheios de si para encarar o mundo e tomar conta da casa e ir além.Agora era escritor,e apenas aguardando por aquela pequena surpresa que todo escritor tem antes de se sentir realizado,ver seu livro nas bancas,sendo vendido,como todo bom escritor tem-o orgulho de ver seu livro nas bancas e sendo vendido junto com os outros,competindo concorrendo como se esta vida não passasse de um jogo,como disse Fitzgerald quando ainda estava vivo,e publicando suas novelas e contos maravilhosos,escritor de renome.Agora era eu – James S. Malheiros,grande escritor que pretendia
ser mundialmente famoso.Agora eu nem podia,esperando pela fama e dinheiro que meu livro pudesse me proporcionar,mas esse momento nunca vinha!Por mais que eu sonhasse noites a fio,nada parecia acontecer e havia recebido apenas alguns nãos de editores que diziam que meus contos e livros eram bons mas que não atendiam aquele quesito especial que os bons livros tem que atender,que não se enquadravam na linha editorial da empresa,ora que empresa,eu queria era ser escritor!
Andrea me lembrava muito uma boneca que era personagem principal de um velho filme de terror chamado Annabelle.Annabelle era uma boneca que tomava vida e assombrava a todos mas Andrea não era uma boneca era uma mulher e jamais assombrara ninguém,professora de português aplicado,ela agora procurava emprego e estava na batalha conosco,frequentando a faculdade todo dia para se tornar uma professora como fora nosso pai e torciamos para que isso acontecesse.Andrea nada tinha de assombroso alem de ser uma grande mulher para mim.Nunca me meti muito com ela e as vezes em que me meti foram desastrosas,brigamos,xingamos,mas foi só isso,nada demais,havia apenas sido um acidente.Eu jamais quis o mal para minha irmã e sabia que eu devia me manter fora de sua vida se quisesse a ver bem.Andrea tinha sua casa para cuidar E filhos.Isso bastava.
George chamava seu cachorro Banzé de Rudolf e eu achava isso engraçado.
George então nem se falava,meu irmão do meio,ele personificava a figura de homem que sempre me acostumei a ter em mente e sempre procurei segui-lo,sempre o ajudando e dando conselhos no que fazia,mas deixava George em paz também.Faz o que quizeres,como disse Alester Crowley,e assim eu agia com George,que agora parecia contente e as vezes tomado de uma grande força de vontade,chegando a proferir grandes coisas sempre que Mama fazia um bolinho especial ou um café para nós tomarmos,como me convidar a fazer as compras do mês no Armazem da família,quando fosse possível.
-James,se eu te der um dinheiro,você é capaz de trazer a comida do mês no mercado?
-Claro – respondia,e ele ficava exaltado e orgulhoso,como sempre ficava quando eu alcançava algum grande êxito em minha vida.Me lembro que George era uma grande pessoa e para sempre vai ficar em minha memória como um grande homem a quem todos tinham um grande orgulho e respeito.E eu sabia que ele tinha de mim tambem.Eu adorava George.
Enquanto via tudo isso acontecer tinha sonhos secretos de ter minha própria casa,com portão parecido com aqueles que tem nos cemitérios,e o terreno ia ser como um campo de cemitério também,como escritor de novelas de ficção que era,obviamente que teria algo a ver com cemitérios minha derradeira casa própria,que compraria com o dinheiro de meus livros e os filmes que fariam baseados nos meus livros.Sonhos que tinha medo de jamais realizar mas mesmo assim só imaginar e ficar sonhando com isso tudo já era algo que alimentava minha mente por um bom tempo,talvez para sempre,como era meu sonho.Minha própria historia,aliás seria minha própria novela de ficção.
Assim,enquanto mais uma tarde ia caindo nas areias da ampulheta do tempo,eu seguia escrevendo,batucando em meu computador velho nesse rack de madeira que continha o mesmo,uma televisão um decodificador de televisão a cabo e um exemplar de um tomo bastante conhecido do escritor norte-americano de novelas de terror,Stephen King,meu ídolo.
Um vento frio ululava entrando pela janela enquanto eu observava uma foto minha de quando era um bebê.Escrevera um conto sobre esta época,e ela se encontrava bastante presente em minhas memórias mais queridas.Bem diferente dos dias em que passei parado relapso e perdido,claro.Aqueles dias espero nunca mais passar em momento algum de minha vida novamente.
Eram dias estranhos,de não fazer nada em que eu não me recordo muito talvez algo que faça parte de meus pesadelos mais medonhos,algo que posso vir a estudar no futuro,quando for um escritor consagrado e me sobrar tempo para isso.Ando tão ocupado com essa vida!
Tenho saudades de Sandro Jarbas meu irmão mais velho.Ainda me lembro de quando ele deixou a família para ir se casar.Esse foi fazer a vida,foi trabalhar,não o culpo por isso.Só fico pensando na raiva que ele possa estar sentindo agora por não ter realizado o seu sonho de se tornar rico.Ainda me lembro quando nos juntavamos e ele ficava falando sobre pessoas que fizeram fortuna escrevendo,e de como ele me incentivou a começar a escrever e tentar publicar o que escrevia.Em como ele se deliciava e a nós contando estórias de terror que ouvia por aí,em livros em filmes ou na própria vida real,em como ele me ensinou que Stephen King era um vencedor,e de como havia ganho dinheiro com seus livros,livros que são vendidos até hoje e que são tidos como clássicos da literatura.
Escrever grandes novelas,ser rico,foi tudo o que ele me ensinou enquanto saia comigo para ir para o centro ou comprar alguma coisa no supermercado,enquanto eu me perdia,ou então quando costumavamos frequentar a biblioteca publica do paraná,onde ele me mostrava os sucessos do cinema pela revista Set,que ele adorava ler comigo na mesma biblioteca.Hoje eu sei o que é sonhar com a fama,e tudo graças a Sandro
que me ensinou não só a escrever com minha mãe e minha família como também a sonhar em não só escrever,mas escrever grandes novelas e ser um vencedor.É a Sandro que devo tudo a minha carreira de escritor se é que os ventos da sorte e da fortuna querem ou permitam que eu venha a me tornar um,um escritor bem-sucedido,um escritor consagrado.Agora cresci e trabalho o dia inteiro para isso para crescer em minha carreira como escritor e poder escrever minhas novelas de sucesso em paz como se nada pudesse ficar em meu caminho,um caminho que me levaria as nuvens.
Em meio ao sonho do dia,uma musiquinha ecoa pelos meus ouvidos,muito parecida com a musiquinha do caminhão do gás,mas não é.Tenho ouvido essa musiquinha muitas vezes até aqui,o que será?Alguma premonição ou sinal de algo que está para acontecer?Só Deus sabe.
Como mágica ela chega e ecoa pela casa,mexendo com meus ouvidos que a ouvem como quem ouve a musiquinha de algum estranho e macabro filme de terror.
O cachorro late lá fora,cão danado.Agora pela janela adentra a escuridão,de trevas que começam a chegar.É mais uma noite chegando.
É tempo de ir conversar com minha família.Ver como estão.
A noite chegou lá em casa.É tempo de jantar o bom feijão com arroz com farofa da Mama,de ir dar uma espiada no que George está fazendo em seu computador no outro quarto.De escutar uma boa música antiga no rádio,de se esquentar sob os cobertores até pegar no sono na sala como sempre faço quando estou a fim de sonhar um grande sonho de escritor mundialmente famoso.Ah,essa vida regada a um bom suco de fruta é tão boa quanto qualquer filme de Hollywood,mesmo que ainda sejamos pobres.Sinto muito por isso Georgie,sinto muito por um livro meu não ter feito sucesso ainda,ou por ainda não ter feito muito dinheiro como era nosso plano no passado.
Mas agora isso já nem importa mais,para mim é apenas mais uma noite com Mama e os Malheiros no velho rancho em Curitiba,como sempre não é mesmo Mama?Como está se sentindo agora que seus filhos cresceram todos?Você falou que essa vida pode ser maravilhosa Mama,agora não me venha com besteiras e com essa estória de que está ficando doente de novo Mama,porque esta eu não engulo.Foi tudo sempre tão bom,porque haveria de ficar ruim agora?Logo agora Mama,agora que vem a melhor parte?Agora que vou realizar meus sonhos de ser um escritor mundialmente famoso?Não me faça uma desfeita dessas comigo Mama,pois não vou aceitar com apreço.
Vamos,agora a casa começa a ficar toda cheia de cobertores e o cheiro de comida flutua no ar.
No televisor passa um filme de terror antigo como antigamente.Agora tudo são trevas na terra.
Pelo menos nessa região em que pega a cidade de Curitiba e se dirige para a cidadezinha de Blumenau onde á muito tempo atrás nós moramos.Se lembra Georgie?Das enchentes e de Ponta Grossa?Do tempo dos militares e da censura na televisão?Do tempo em que papai era vivo e lia Tom Sawyer para nós,e vestia seu terno antes de se preparar para ir trabalhar com suas coisas de tradutor e professor de inglês no colégio?Do tempo em que ele se matou atrás da casa,numa noite como essa em 1983?Mas agora isso não faz mais sentido lembrar uma vez que tudo acabou,não é mesmo?Agora que você começou a trabalhar na fábrica e assim trabalhou durante vinte anos?Para se aposentar após aquele dia de medo,não Georgie,quando sua vida acabou?Quando foi levado as pressas para São Pedro de Alcântara pois havia passado seriamente mal após vir do serviço?Depois de trabalhar tanto que passou mal e foi levado pela ambulância para aquele hospítal bem longe daqui?Agora tudo aquilo são recordações e você luta por sua vida não é mesmo Georgie?
E você Sandro,como se sente agora que sua mão treme toda vez que vem do serviço em sua casa?Agora que encontra sua mulher e filhos em casa toda vez que vem do serviço?Tudo de bom para vocês,caras,pois saibam que eu os amo.Assim como amo Andrea,aquela mulher que um dia foi minha irmã depois de ela ter acabado sua vida de mulher casada e se separado para ir morar em sua casa,bem do lado de nosso rancho?Saibam que eu amo todos vocês,desde que não passava de um moleque,brincando por aquela casa grande em Blumenau,aquele casarão que já não existe mais,mas que eu aprendi a amar desde que pegamos nossas trouxas e partimos para a cidade grande para fazer história,para encarar essa vida de frente e dar tudo de si para lutar contra a miséria.Se lembram quando passei mal?Quando bati no Sandro e briguei com o George?Quando enfrentei a Andrea bobamente,nem querer apenas para pedir desculpas logo em seguida?Pois é eu sofri sérias injúrias e cometi erros lamentáveis mas aqui estou para pedir desculpas e seguir em frente,dizer que os amo e que sinto falta de vocês.Agora que Georgie luta por sua vida,agora que Sandro luta para sobreviver,agora que Andrea luta para se manter viva,e Mama,você,minha querida Mama,saiba que não estou nem aí se você me estranhar como já estranhou eu vou continuar a amar você do mesmo jeito de sempre,sua boba,como sempre a amei.Pois vocês são da minha ninhada,da mesma ninhada,e nada no mundo vai poder mudar isso,nem toda razão nem todo sentido,nada.Saibam que estou aqui e podem contar comigo.Mas não há

mais nada á ser dito,agora que estou aqui e pronto para me tornar um escritor de fama,um escritor de renome mundial.
Me lembro de cada dia,e das milhares de coisas que planejamos,coisas que vinham aos montes e que planejavamos apenas por planejar,e isso é bom,me lembro de quando nos divertiamos planejando sobre riquezas e novelas de ficção,de velhas canções que ainda estão tocando no rádio,na rádio Ouro Verde FM,aqui de Curitiba mesmo.Agora apenas uma estação de rádio estúpida para mim.Eram coisas que podiam parecer bobas mas tem um grande valor para mim.Agora que nada mais importa,agora que estou lutando por minha carreira mas nada nem mais importa,apenas luto sem sentir nada,exceto quando Mama sonha.Dai eu sinto,dai eu sou capaz de passar horas sonhando com ela e com vocês,Georgie,Sandro,Andrea,toda vez que falo com um de vocês.É algo mágico que apenas a Vida pode dizer.
São coisas que gosto de compartilhar com vocês aqui nesse rancho como se fosse a ultima coisa que eu fosse fazer na história de minha vida e cada momento é mágico.
É tempo de se reunir e sonhar agora.
Uma lufada de vento agita tudo.A casa toda,todos olham ao redor alertas.
Mas não é nada.Só o vento lá fora,pregando peças em quem o dá ouvidos.
Imagine que em cada casa do mundo existe uma criatura no forro,controlando as mentes daqueles que moram na casa.Pois bem,aconteceu comigo.Eu me encontrava certo dia descansando em meu quarto quando aconteceu.Quem disse que estava conseguindo descansar?Estava sozinho no quarto sofrendo uma tensão incrivelmente forte e aquilo me fez sair e explodir com minha família.Pois bem aconteceu de novo.Nova situação burlesca,onde um homem já não pode responder por si e é tomado de assalto pelas próprias emoções,o que jamais deve acontecer.Graças a Deus que foi só uma bronca pois o que senti naquele forro foi algo extremamente desagradável,e pode ser ainda pior se o que nos é levado é alucinações.De vez em quando a coisa vinha e se alojava bem em cima de onde eu estava,parecia que ela me perseguia,parecia que ela sabia onde eu dormia.Então foram algumas fagulhas de desespero e algum vômito na latrina,nada mais do que isso.Mas de que adianta vomitar quando o que nos afeta está em nossa mente?Pois bem,afirmo aqui que em cada casa do mundo existe uma criatura no forro controlando as mentes dos que na casa moram,como nunca controlaram antes e que elas costumam escolher suas vítimas.Cursos de inglês mal-feitos podem ser os causadores destas crises,e estas criaturas existem mesmo,mas eu para dizer a verdade nem mesmo me dignei jamais a observar uma criatura dessas em seu habitat natural pois jamais cheguei a acreditar que estas coisas realmente existiam em nossas casas por isso sempre que a crise passava eu ia sossegando e esquecia a estória para sempre.Mas sempre volta,quem sabe um dia desses ela volte para controlar minha mente,mas então sabe de uma coisa?Eu já estou preparado para esse tipo de coisa e já nem ligo mais para coisas desse tipo.Procuro tomar um remédio e esperar passar a crise de mal-estar em meu quarto mesmo,ou então,conversando com minha família.E quem disse que consigo pronunciar uma palavra direito durante esses acontecimentos?Travo a língua e fico pior que alguém tentando falar chinês simplificado para um cachorro. Não consigo falar nada mesmo.
Essa estória de criatura eu criei á alguns anos baseado num filme de terror que eu assisti mas acabou acontecendo mesmo.A lenda realmente existia.Que Deus me ajude a esquecer tal coisa que é realmente digno de um filme de terror.Mama se aconchegou em sua cadeira,como que se conformando com alguma coisa.O calor do forno agora esquentava-nos aos três e já não sentíamos vontade de ir dormir.O frio lá fora era de congelar mas não davamos atenção á isso,só ao que falávamos.
Stephen King é o último escritor vivo com imaginação.É claro que ele possui um bom dinheiro,mas não é de seu dinheiro que falo aqui,mas de sua obra.Tem gosto.Não são como aquelas novelas redundantes onde o leitor passa uma hora inteira lendo a mesma coisa,várias vezes.Ele não,ele tem enredo,tem imaginação.E bastante fértil para meu gosto.Escreve sobre carros vivos,garotas telepatas,palhaços assassinos e cães demoníacos,o cara possui cabeça para escrever.E imaginação.Como eu já disse bastante imaginação.Mas não é sobre sua imaginação que vou falar aqui,mas sim,sobre o terror em si e minha vida como escritor e antes disso.Sei que parece um pouco dramático mas é tudo o que quero passar em minha obra,a vida e o terror que há nela.
É tarde e por alguma razão sentimos que é melhor ir dormir.
É a criatura no forro.Por isso me deixe ir para o quarto,deitar na cama,estou me sentindo um pouco mal e não quero acordar a vizinhança com minhas estórias.Já houve estórias demais no passado e uma a mais não vai ser agradavel esta noite.Por isso vamos dormir e acabou,crianças.Por hoje chega.São essas malditas criaturas no forro,são elas que vivem á causar esse tipo de coisa no mundo.
Mama se conforma e se levanta,indo dormir em seu quarto.
George se senta em sua poltrona do papai e assiste áo noticiário.
Eu me vou,para a sala,pois estou me sentindo mal e quero dormir.
É a maldita criatura no forro de novo.
Mas não estou me sentindo tão mal e consigo dormir logo.
É mais uma noite no rancho dos Malheiros.
Na manhã seguinte…

Acordo meio ressabiado,mas vou em frente.Me levanto arrumo minhas coisas e vou tomar café um café ralo de pão feito ás pressas ainda ontem como quando estamos experimentando algo ainda,e uma xícara de café.Engulo tudo ás pressas e logo me arrumo para ir até o farol mexer no computador.Mais uma consulta com o doutor Google vai me fazer bem.Me despeço de George e Mama e me vou,Chegando lá,sento e ligo o computador,acessando então o doutor Google.Stephen King,lendas curitibanas de terror,nada de muito interessante.Vou vendo tudo por cima sem dar muita importância ao que leio,apenas para passar o tempo.Dá o tempo máximo de acessar o computador e eu me vou de volta para casa.As ruas parecem sem graça então.Uma moto quase avança em cima de mim,e finalmente chego em casa.Como me sinto mal.Encontro George e Andrea conversando animadamente sobre uma ferramenta dos tabletes de ambos,em que você pode se ver pela tela do mesmo enquanto conversa como que por telefone.Mistérios da informática moderna,fico a observar tudo até que mamãe resolve ir fazer o almoço.Tomo um banho e ponho uma blusa a mais no meu vestuário,me preparando para mais um dia de frio na cidade.Todos parecem animados.Mamãe me manda ir comprar um pacote de arroz tipo agulhinha que se encontra mais barato que o branco e me vou,rua afora como um possesso.Chego no supermercado e entro,as pressas nem dando atenção para ninguém,apenas vou até onde há o arroz e o compro.Pago e me vou para casa.Em casa mamãe prepara a comida e comemos.Andrea almoça conosco hoje.Entrementes vejo George solitário tomar seus remédios na sala e fico com pena.Pobre coitado até me deixou varrer o rancho no seu lugar agora a pouco.
Eu vejo que George sofre com sua doença mas procuro deixá-lo em paz.Ele já tem problemas demais quando acorda passando mal de manhã cedo sentado em sua poltrona do papai.Pobre coitado,deve ter medo de passar mal como passou quando estavamos na praia e ele estava comendo.Então soltou a xícara de café e foi até o sofá com a mão na cabeça gritando ,passando mal e eu corri para salvá-lo.Fico pensando em como se sentiu até que o socorro veio,uma ambulância do Samu que o socorreu e o medicou,dizendo para que ficasse em repouso e que nada podiam fazer.Do fato deles nunca terem achado o diagnóstico correto de sua doença apesar de chamá-la de sindrome de Stiff Person,sindrome do homem rigido,mas sem certeza.Coitado,como sentia pena daquele homem forte e inteligente que era nada mais do que meu irmão,uma figura importante para mim e para a família.Mas não era culpa de ninguém,nem mesmo de Deus nosso pai,pois as doenças são problemas químicos e nada tem a ver com essa besteira de espírito que eu já
estava de saco cheio de acreditar,de ter que acreditar uma vez que rezar era a única coisa que podiamos fazer para ajudá-lo.Ouvindo uma canção muito bonita eu senti pena de George aquele homem com uma sindrome ou seja o que fosse que o acometia.Esse era mais um que sofria as mazelas da vida.
Mas não havia tempo pára ficar se lamentando,agora precisavamos agir e ele sabia disso,só Deus sabe o quanto eu quero ver as coisas dando certo,George,tudo melhorar e quem sabe até você se curar pelo menos até o fim de sua vida que esperava ainda demorasse para acontecer.
Não adiantava nada ficar chorando pelos cantos o que importava agora era tocar para frente.Ou estaria tudo acabado.Desculpe George se algum dia fiz algo que o chateasse,não era minha intenção.
Mas agora estava tudo feito e ele sabia que eu só queria ajudar.Aliás sabia até bem demais,se até chegava a ironizar minha piedade quando eu chorava quando eu perguntava sobre sua doença ele apenas dizia,todo mundo morre um dia,não vamos pensar nisso,apenas deixe fluir,deixe as coisas acontecerem.E assim será.E era assim que era para ser.
Agora era o começo de mais uma tarde no rancho dos Malheiros.
E precisavamos de mais material para viver,seria preciso viver mais um pouco,aliás,ainda tinhamos o que viver e era apenas o começo ainda eu pensava,o começo de algo que vai durar para o resto de nossas vidas.Ser escritor,não se lembra James?Ser um escritor mundialmente famoso,ou pelo menos ser publicado aqui no Brasil,só isso já seria o suficiente para mim,essa pessoa tão humilde mas tão sonhadora ao mesmo tempo.Já nem pensava em mais nada,queria apenas alcançar meu sonho,que era o de publicar um livro.Faltava pouco para chegar ao resultado inicial,o começo,publicar o GRAMPO DO MAL,daqui a alguns dias viria a resposta da carta que mandara para a editora,alias as duas cartas que mandara para as duas editoras e agora trabalhava o maximo possível para alcançar meus objetivos mas não queria nem saber,raspar

um pouco desse pote era tudo o que eu queria fazer e sentir o terror e sentir outra noite chegando e começar tudo outra vez,era assim que eu estava vivendo.E é assim que estou vivendo.Agora preciso ir descansar.
E eis que mais uma noite chega no rancho dos Malheiros.
Jantamos bem,após passarmos a tarde inteira cogitando sobre coisas que andam acontecendo no rancho,durmo o restante da tarde inteira,para depois comer bem,e ir dormir.
E é uma noite difusa.Que quase não vejo.


Na manhã seguinte…
Apenas acordo na manhã seguinte escutando a conversa animada de George com Mama,que toma o
café-da-manhã,me arrumo e saio para ir consultar o doutor Google,no farol.
Volto para casa após ver algumas coisas com o doutor Google.O site de ficção de Joe Hill,blogues sobre Stephen King,que tem aos montes,e vejo que nosso amigo faz setenta e um anos esse ano ,parabens pelo seu aniversário sr. King.Isso significa que ele nasceu em 1947.
Em casa começo a pensar,mas o que realmente aconteceu aqui cem cento e poucos anos atrás?Aqui mesmo nesta casa,se é que ela já existia nesse tempo,ou pelo menos aqui nesta rua nesse terreno que já existia naquele tempo.Quando os primeiros moradores se juntavam para fazer farra enquanto não estavam começando a construir as casas dessa rua ou então no matagal que isso aqui era,os animais que aqui pastavam,que aqui viviam,os cachorros que aqui se alimentavam e dormiam a noite,na noite fria de Curitiba nesse Sul cada vez mais misterioso,mas que já perdeu muito de seu encanto,devido ao povo que perdeu sua memória ou que agora são muito jovens para querer se lembrar do passado ou pensar em alguma coisa que preste.Os moradores que andam nas ruas,de quando são,de onde vem,será que já moravam por estas ruas antes de ela ser desse jeito como é hoje?As estórias dos primeiros colonos que vieram para cá e enfrentaram os primeiros fantasmas,isso somente nossos cidadãos mais velhos podem nos contar.
Agora Mama prepara um bom arroz agulhinha com carne moída,como era para ser.Como estava escrito no grande livro dos Malheiros se é que ele já existiu com suas datas de nascimentos e mortes,aniversários e partidas,vindas e voltas tudo o que aconteceu com a família no passado um passado longinquo que agora vai longe em nossas memórias,fortalecidas pelo trabalho do dia-a-dia.
Pela luta diária de permanecer vivos num Sul cada vez mais misterioso,numa Curitiba que graças a Deus não perde suas lendas e sua memória,seus trejeitos e sua solidão,e é quando os moradores seja os de uma mesma família ou não se juntam para conversar é que o espírito da família e o da cidade se aglomeram juntos fazendo aflorar um sentimento de mistério que vai longe que faz-nos pensar em lendas e estórias que fazem parte do folclore familiar e o da cidade como que perdidos nos jornais e no rádio que antigamente era o único meio de diversão desses moradores e dessas famílias que o ouviam parados numa varanda ou reunidos numa cozinha enquanto o pão assava e ficava pronto para ser comido pelos membros da família que saudosos contavam suas estórias do que viram e do que foi visto aqui a muito tempo atrás,como que distribuindo seu calor humano e bebendo um bom café extra forte feito ainda ao modo antigo,no bule,como antigamente.

Agora estamos á muito tempo atrás,na nossa casa de Blumenau.Ainda sou uma criança e me vejo ainda no começo de minha vida,e então,um pouco depois com seis anos,correndo pelo casarão,e então com dez indo para Curitiba,no velho ônibus de viagem com minha família.E então com dezesseis estudando no fluxo na rua da cidadania do Fazendinha em Curitiba,e então com vinte e poucos trabalhando na distribuidora,e então com vinte e oito escrevendo GRAMPO DO MAL,e então agora com trinta e seis tentando viver essa vida com minha família,algo que me parece fácil como roubar o doce de uma criança para mim,é claro,já sou um homem e pronto para muita coisa,inclusive ser um escritor famoso.Vejo toda minha vida passando pela minha frente e percebo,o quanto perdi,o quanto passei parado perdido e relapso,frequentando bibliotecas e não fazendo nada,isso fez mal para mim,eu me perdi á partir de um ponto e não consegui alcançar meus objetivos como desejava.Mas isso passa,logo estou pronto para outra,e tecendo minha teia de mistérios assim como uma aranha tece sua teia no vão de uma casa velha.Eu não queria desistir,eu não queria ver tudo acabar assim,como se não tivesse sido nada,mas parece que é assim mesmo,nossos sonhos tem fim assim como começam e tudo é perigoso de se manter pois pode assim como começou,acabar de uma hora para outra.Eu entendo isso agora e espero poder pelo menos realizar meu sonho que é o de publicar um livro sem precisar depositar dinheiro no banco como queriam aqueles sem-vergonhas.Quero poder publicar o livro e ve-lo nas bancas mesmo depois de minha morte mas isso parece difícil creio que vou ter que aproveitar minha chance

ou não vou conseguir nada.Vai ser melhor ser rápido e fazer tudo de uma vez só,pois as coisas acabam assim como começaram nessa vida.
Assim que almoço,descanso um pouco e logo em seguida saio para ir dar uma volta lá pelo posto.
O passeio é emocionante,me recordo de uma vez,á muito tempo atrás quando fui no posto não aqui,mas no Boqueirão,de manhã cedo com meu irmão George,e fomos falando besteira o trajeto inteiro.Não me recordo que rua pegavamos para ir no posto naquela época,quando moravamos lá na rua Padre Dehon,É como se a rua não existisse em minha memória,só me recordo que chegavamos no posto e entravamos para sermos atendidos de madrugada quando meu dente estava doendo.
Aquele é um tempo morto em minha memória onde tudo é perfeito e vago,difuso e atemorizante.
Tudo parecia acontecer na hora certa,no momento exato e nada ficava perdido ou se deixava algo para depois.Bem diferente de hoje em dia quando o tempo parece se arrastar numa expectativa ardente de que algo vai acontecer e que algo vai acabar se dando de uma forma ou de outra.
Chego em casa,descanso mais um pouco e saio de novo,desta vez para ir pegar um livro no farol,para logo em seguida voltar e retomar minhas atividades.
Na beira de uma valeta que cortava a região parecia haver morcegos numa área que se espraiava pela mesma e por toda as cercanias da rua Padre Dehon,onde havia um trevo e um bar,assim como uma rua que dava para a praça Menonitas.Eu morava no lado de cá,numa casa de madeira onde aconteceu muita coisa inclusive o ano em que comecei minha fracassada carreira escolar depois do primário,que tive que remendar com o fluxo na rua da cidadania do Fazendinha anos depois.Nada de bom ficou dessa época exceto muita diversão e festa que fizemos quando nos mudamos para a casa de fundos do seu Nito,que ficava na rua Oliveira Viana,tempo que jamais vou esquecer.
Voltamos a morar lá anos depois,mas foi lá que passei mal como nunca com minhas crises de alucinações e outras coisas que me aconteciam no ano de 2017,um péssimo ano para mim e para minha família.Mas esqueçamos esse tempo e lembremos os bons tempos,que não voltam nunca.
Agora os cães ladram na vizinhança.O que vai acontecer daqui por diante?Só Deus sabe,talvez bons momentos,talvez algo assim.Não sei,só sei que somos capazes de muito mais,é só querermos,os velhos Malheiros são capazes de muita coisa é só algo bem lá no fundo entrar em ação que a coisa engrena,isso você pode ter certeza.
E assim mais uma tarde se vai,apenas lembrando de tempos passados quando nos divertíamos pela rua,andando por ruas onde o tempo se foi.
E mais uma noite vem.
É uma noite voraz,de frio cortante,onde cada estrela no céu parece denunciar um dia a mais na vida dos seres humanos aqui embaixo enquanto nosso pai nos guarda lá de cima.Mas onde fica lá em cima?Fácil,fica em lugar nenhum onde nossos corações não podem atingir onde tudo tem fim num espaço sideral tão distante que emudeceria a alma mais sagaz e falastrona,calando para sempre a boca daqueles que falam que o céu é o limite,e que já não nos conversamos ou nos conhecemos como costumavamos fazer antigamente,quando isso aqui ainda era jovem e quando não nos matavamos por dinheiro sem enxergar nada diante de nossos rostos senão a ganância por valores materiais que cega aos olhares mais irrequietos e cala a voz mais ativa,como que voltando num tempo onde tudo podia acontecer sem que nos dessemos conta,apenas por acontecer,coisas boas que se davam e nós nem nos davamos conta de perguntar quem é que fez aquilo,quem é que causou aquele bem enorme que uma surpresa agradável não é capaz de nos causar.
Agora já não quero ver essa gente,quero apenas dormir pois nela não confio.Não conto a ninguém mas durmo sob efeito de remédios agora.Agora já não sinto mais aquela alegria em viver e tudo que penso é no momento seguinte para que esse passe logo,por nada!Pois poderiamos gastar esse momento com coisas tão melhores que agradariam aos melhores paladares e adocicaria as piores bocas,as bocas da maledicencia,da covardia e do pouco caso que fazem hoje em dia da vida humana.Agora durmo sob o efeito de remédios pois já não consigo dormir por mim mesmo,como fazia antigamente.Agora tudo é difícil.
Os remédios a que me refiro são um branco e dois azuizinhos,de manhã e de noite para amenizar a falta de vergonha e curar a ganância.
Aquele sofá era minha mania,de segunda a sexta.Deitava nele,de tarde e dormia até de noite,para então jantar uma lauta refeição,que comia regada a suco e muita fome.Ele havia sido comprado á muito tempo assim como vários sofás que já tivéramos.Primeiro foi um creme,jogo de sofá que embelezava a sala do casarão de Blumenau,depois foi um preto que tivemos por um bom tempo,depois nos sentávamos na bicama e depois no fim da história aquele sofá marrom,que era minha perdição.Tivera muitas crises de alucinações nele e o resto do jogo,na verdade uma poltrona, jogamos fora por estar incomodando.Um homem bêbado a levou e a

deixou na frente de sua casa onde pegava chuva mas agora nem a queriamos mais,queriamos só o que havia restado,o sofá.
Aquele sofá era já de um bom tempo e eu o usava agora,agora que queria ser escritor.
Agora o usava de novo,para dormir de tarde.
Aquela musiquinha ecoou novamente pelo rancho.Era aquela mesma musiquinha que parecia ser do gás,mas que não era,era uma musiquinha que vinha de algum lugar,mas que eu não sabia de onde.
A musica ecoou por alguns segundos e se foi,deixando no ar apenas o barulho da televisão ligada na sala,e um clima de mistério no ar.Daonde vinha aquela música?Seria algo demoníaco,obra de algum engraçadinho nas redondezas?Não sabia dizer,apenas a escutei e ela se foi,misteriosamente.
Agora tudo estava mais ou menos em seu lugar no quarto,tudo se encontrava mais ou menos como a bagunça que deixei e que se transformou durante vários dias no rack onde escrevia.O computador,a televisão,o decodificador,e o livro do Stephen King que deixava guardado exatamente lá para dar sorte.E me inspirar toda vez que algo me dissesse que deveria ligar o computador e escrever alguma coisa.Estava de barriga cheia e pronto para ir dormir,mas algo me levava para a frente do computador só para martelar mais algumas palavras antes de ir dormir.Me lembro que batucava cerca de um capítulo inteiro por vez que me sentava para escrever,se é que um capítulo valesse alguma coisa,agora já estava escrevendo uma pequena novela e os bons ventos do infortúnio me diziam que devia continuar.Logo teria uma novela de trezentas páginas prontas para serem publicadas,por alguma editora que se dispuzesse a publicar minha obra,que crescia a cada dia.
O copo com as canetas pretas que usava para escrever manuscritos estava lá,e junto uma escova de dentes azul que quase não usava pois usava prótese e achava complicado demais ter que tirar a prótese para escovar os dentes toda vez que tivesse que fazer isso.Por isso apenas escrevia,apenas sentava e escrevia.Agora GRAMPO DO MAL havia ficado para trás,e eu podia escrever o que eu quisesse,da maneira como quisesse quando quisesse,sem que ninguém pudesse me interromper.Pois bem,lá eu estava com a faca e o queijo na mão,mas eu pensava o que escrever?Fácil,escrever uma pequena novela de terror seria algo bom,com diversas partes inclusas que era na verdade o que eu estava fazendo,agora parecia obcecado em escrever seja lá o que isso me significasse nem que para isso eu tivesse que remontar ou reformatar o computador diversas vezes.Mas o computador agora já parecia ter criado vida e eu já nem sabia se estava lidando com algo real ou com algo imaginário.Já nem sabia se o que estava pensando era real ou imaginário,apenas escrevia sem parar como um possesso e aquilo não queria simplesmente mais parar.Chegava ao ápice de deitar num lugar já dizendo para mim mesmo que deitaria lá apenas por algum tempo,pois depois iria para a frente do computador para escrever,coisa com que parei por já estar começando a parecer paranóia.As vezes consigo acabar com complexos ou manias,as vezes consigo e sou capaz de acabar com paranóias.É só parar e esquecer,e assim eu seguia,parando e esquecendo sem parar apenas para esquecer o péssimo redator que era sempre cometendo erros e escrevendo de maneira medíocre para um escritor que queria e desejava ficar famoso.Como estava prestes a ficar.Já havia recebido até mesmo outra carta de uma outra editora dizendo que o livro seria publicado,e desta vez eles afirmavam que iriam bancar a edição do mesmo,o que já era uma ótima coisa.Agora era só escrever.
Ariel Palácios matraqueava algo em seu sotaque espanhol na televisão tendo ao fundo uma grande biblioteca particular coisa que eu gostava de ver.Gostava de ver o jornal pois assistir o jornal e ver o Ariel Palácios me fazia bem.Eu sabia que o sonho ao qual Sandro havia me dito existia e Palácios fazia parte desse sonho,o sonho de ser grande em alguma coisa e Palácios era grande no que fazia.Era um grande e eximio apresentador de televisão e parecia aqueles apresentadores de televisão do tempo de meu pai,quando tudo era clássico e atemorizante,caricatural até.Mas era algo que agradava e não como hoje em dia que tudo perdeu a graça,menos Palácios que manda sua mensagem muito bem no que faz,falando ao mundo como num filme de Stephen King,aqueles bem caricaturais onde tudo é como numa determinada época e comediantes falam em antigos televisores algo que vi certa vez em algum lugar e que aqui pode soar loucura mas era o que era.Era assim que a América e o Brasil também via o mundo pela tela da televisão.Como num comentário em sotaque espanhol do Ariel Palácios.Paulo Francis havia sido assim em seu Manhattan Connection,onde papagueava coisas em seu sotaque caricatural que somente ele sabia fazer.Eu cheguei a acompanhar Francis em sua coluna dominical na Gazeta do Povo,onde costumava recortar os obituários de jornal,Francis acabou redigindo sua última coluna dominical lá,na Gazeta,onde escreveu suas últimas palavras que foram publicadas num domingo,um dos últimos em que compramos jornal na história da família que o comprava todo domingo para passar o dia comendo pastelão tomando refrigerante e lendo o jornal na sala da casa do seu Nito,fria e cortante mania que tinhamos antes de abolir para sempre os maços de folha de papel jornal e passarmos a não fazer mais nada curiosamente nos domingos,senão assistir televisão,uma televisão por assinatura que se tornou chata e reprisante,diferente e sem graça.Ler o jornal era melhor.Com certeza.Acho
que se botassem o Ariel Palacios num programa dominical teriamos de volta aquele prazer em ver alguma coisa no domingo,pois Palácios poderia ter uma coluna até mesmo no jornal aos domingos,se é que já não tem!Ariel Palácios é sem dúvida nenhuma em pontos de audiência e em ganhos de popularidade o novo Paulo Francis e merecia ter seu próprio programa na televisão e coluna dominical no jornal assim como Francis teve no Manhatan Connection e na Gazeta do Povo,respectivamente.
Ouço o caminhão do lixeiro passando na rua.São os lixeiros de novo levando o senhor lixo embora.Um deles assobia para o motorista do caminhão que toca embora.Vai senhor lixo,e não volta nunca mais!
Acho que o tempo perdeu seu rumo no mundo atualmente.É como se tudo não tivesse mais seu tempo e nada tivesse mais sua época.Agora é tudo misturado e não temos mais identidade.É como se tudo tivesse perdido a graça já faz tempo e tivessemos entrado num vácuo de informação e tecnologia que transcende as barreiras do enjoativo.Parece que depois do ano 2000 não houve mais nada e tudo tivesse se perdido.Agora pessoas sonham com o passado com saudade das velhas coisas,com saudade da velha vida.É assim que Mama fala quando se refere aos dias de hoje.É assim que ela sempre diz,que tudo acabou que não se tem mais graça em nada.Pois bem,veremos.
Os dias tem se passado e eu permaneço aqui escrevendo.Acho que poderia escrever por décadas.
Agora com a greve dos caminhoneiros o país já começa a sentir uma leve diferença na vida de seus habitantes.Começa a faltar combustível nos postos de gasolina e comida nos supermercados.Com os caminhões que transportam esses produtos parados,não há abastecimento nas cidades.Se os caminhoneiros não pararem com a greve o presidente vai mandar os militares para tomar conta das ruas.Os caminhoneiros dizem que não tem medo e podemos entrar em confronto a qualquer momento. Uma crise iminente se deflagra pelo país como uma surpresa uma vez que não se esperava uma coisa dessas.Esperamos aqui do rancho,uma resposta como se esperassemos pelo fim de uma guerra uma guerra que não pode nem começar ou estará tudo acabado.Mas aguardamos uma decisão dos camninhoneiros e tudo estará resolvido.
Por aqui Mama resolve tudo como pode.Cozinhando as pressas por não haver comida a ser comprada mas a coisa não é tão grave assim,os caminhoneiros não podem estar tão enlouquecidos a ponto de pararem não só de trabalhar como de enfrentar o governo e os militares,a polícia,todo mundo.Realmente a comida começou a faltar aqui em casa,no rancho,temos o dinheiro que vem só daqui á um tempo.Vamos ver como se resolve essa questão ou o país estará parado por um bom tempo e não teremos mais nada para comer por um bom tempo.O que vai ser de nós?A intervenção é necessária uma vez que dependemos do abastecimento de alimentos dos caminhoneiros e não só disso como do resto.Vamos ver o que vai acontecer,mas acredito que tudo vai dar certo e tudo vai voltar ao normal logo.Publicado decreto de situação de emergência em São Paulo.Até amanhã as forças federais,os militares estarão nas ruas para acabar com a greve e retomar o abastecimento de comida e o resto.Cargas de combustível são escoltadas,a situação é crítica.

Só me recordo desses escritos por tê-los escrito num espaço de tempo muito grande e que me causou grande sensação.Agora estou melhor,tecendo esses escritos,e principalmente,estou de volta,negociando agora a publicação de GRAMPO DO MAL,com duas editoras,a editora Viseu e a Chiado Books,com as quais conversei mas não cheguei a nenhum acordo,no conto digo que vou ser um grande escritor mas minha vida está apenas passando e minha carreira depende do GRAMPO DO MAL,se é que chegarei a terminar um outro livro estarei fazendo nos próximos dias e nas próximas semanas já terei mais material pronto.Mas agora já me decidi pelas pequenas redações e agora já cheguei á um estilo que me interessa,uma espécie de fraseado,uma série de textos que serão curtos como contos mas apenas contados.Nada mais de querer fazer composições muito extensas,pois não quero nada de extenso e tudo longo demais me causa dejavu.
A chuva da tarde vem caindo enquanto me degladio com estes floreios de minha mente tudo o que tenho para escrever e para me tornar ou vir um dia a ser o mestre da escrita,algo que poderei chamar de escritor famoso,ou algo do gênero.Aliás se quiser me tornar um escritor famoso terei que fazer mais do que isso terei que apostar tudo em minha carreira e por tudo em cheque,apostando numa literatura curta e capaz de manter a mente do leitor ocupada enquanto ele a lê,como um livro de poemas que nunca acaba e que é lido em dias frios como esse no escuro da sala,com os parentes,frases curtas contos curtos tecidos a partir de um intelecto correto e capaz,e isso é difícil,a maioria é tudo maluquice,mas mesmo essa novela maluca ao estilo de Hilda Hilst vale alguma coisa para os críticos que a tem como uma grande escritora tendo sido traduzida até para o alemão.E leia um livro dela,meu Deus,romance barato e louco,cheio de pornografia e trechos alucinógenos.Mas não me baseei em Hilst para escrever meus contos e frases,mas sim em Stephen King e William Steward Burroughs,que escrevem muito melhor que ela.Junto ponham Francis Scott Fitzgerald,e muito Jorge Amado com seus contos de fada brasileiros,estórias que poderiam ser comparadas a um Jack London,se me permitem a colocação,uma vez que London tem aquela fama que flutua entre o explorador de

cabanas atemporal,que escrevia como possesso e publicava seus contos em revistas da época,que são numerosos,e o que aqui gosto de chamar de escritor famoso,coisa que quero me tornar.E assim sigo tecendo esses pequenos contos estas pequenas frases esses pequenos floreios que um dia serão lidos por pessoas que os gostarão de ler numa tarde fria como esta,enquanto se esquentam em suas casas em invernos de deixar qualquer aventureiro e bom caçador de vampiros de cabelo em pé…Entrementes sim,sigo tentando me tornar um escritor famoso aqui nesse território rural situado no Sul frio e sem futuro,apenas um passado que nos bate a porta todo dia em que temos de fazer a comida e viver,como viviam os antigos moradores dessa cidade e desta terra,onde contavam-se estórias de terror,ria-se e se curtia uma boa tarde no rancho,tecendo-se uma vida que simplesmente não volta mais.
Jaguejemaguejemaguejaguejemaguejaguejemaguejague ...faz o teclado do computador enquanto vou martelando-o.É assim que passo as tardes,escrevendo.Quizera eu escrever algo bom,mas aquele cometa que caiu no campo á alguns dias simplesmente não me deixa escrever bem.Talvez tenha sido ele que me fez ir até a casa dezessete.A velha casa dezessete na outra rua.Jamais quero ir lá de novo.Dizem que aquela casa é a culpada pela minha dor de cabeça.E aquelas crises que me dão de vez em quando.Oxente,quizera eu saber o que faço aqui plantado,escrevendo.
Escritor que sou não posso parar.Agora teço uma colcha de retalhos em minha volta,com os contos que vou contando.Conto contos jamais contados.Mas quem me contará conto tão cantado,como os que canto pelo jardim,onde caminho em uma outra casa,uma casa em minha imaginação.Talvez a casa que tenho como a casa que sempre quis ter.É uma casa linda de portão de ferro,onde tudo é como eu quero.
Caminho dentro de cabanas em minha mente.E dentro destas tardes turvas,tiro inspiração para meus floreios.
Com minha mala,vou seguindo,caminhando pela triste alameda da vida,onde não há volta,onde não há partida.É nela que sigo sempre a lembrar,das tardes de riso,contente á florear.
A criatura jaz morta no forro da casa e é depositada fora da casa quando da sua demolição.
Agora já não mais a assombra a casa dos Malheiros,sua morada o casarão.
Os empaladores seguem rumo á Blumenau.Passam por valas e campos antes de chegarem ao seu destino final.Seguem rumo a cidadezinha onde vão atacar.Os moradores nem desconfiam,o que está para os acontecer.São os mestres do Mal,prontos para ceifar,a vida daqueles que na sua frente entrar.
Agora os moradores entram para suas casas,os que restam morrerão os que ficarem fora de suas moradas.Morrerão empalados,pelos espíritos das trevas,e assim que a noite chega,toma conta a névoa,que sempre toma conta,quando algo de estranho está para acontecer.A névoa vinda do cemitério,aviso aqueles que vão morrer.
Entrementes,o esqueleto escritor lavra os escritos malditos que o deixarão famoso,por seu livro do Mal,sua obra máxima,a bíblia do Demônio.
Chove chuva fria,imersa no Mal.Chove para bem longe,os frutos do milharal.
E agora,o homem velho descansa no casebre de madeira como se envolto na névoa da Noite.”

Há muito tempo,na cidade de Blumenau se ouvira falar no professor Menescal.Ninguém acreditava que ele fosse mesmo prosperar em sua prolífica e muito deveras próspera carreira de professor até ele se suicidar atrás da casa na Penha.
Muito se sabe a respeito de tal figura,que era exímio tradutor e que possuia poderes telepáticos,mas na verdade ninguém podia desvendar o mistério que envolveu sua morte no ano de 1983.
Diz a lenda que anões zumbis o obrigaram a se matar atras da casa com uma corda.Que fizeram ele pendurar a corda no saibro e se jogar para a morte certa.Mas pouco se sabe os reais motivos que o levaram a se matar naquela fatídica noite de 1983.
Mas para proteger sua identidade vamos esquecer sua morte e nos ater ao que ele deixou para a posteridade.
Quatro filhos que herdaram em muito sua mente.Sandro Jarbas,fâ de Stephen King,trabalhador,Andrea Jackeline,professora de português aplicado,George Hilton cortador de tecidos e eu James Stewart,escritor.
Na verdade sua formula se misturou deixando para cada filho um pouco de sua inteligência e ideais,
mas vamos observar aqui na verdade o que realmente aconteceu.Ele havia se suicidado por motivos misteriosos que já não mais interessavam,mas eis que algo estava para acontecer uma certa noite no cemitério em que ele fora enterrado no distrito do Garcia em Blumenau,apos seu corpo ter sido trazido morto da Penha na noite do suicídio,num caminhão.Muitos anos haviam se passado até que algo veio por se suceder.Era o professor Menescal que agora voltaria a vida naquela noite.
Era uma noite como essa,daquelas que até os vampiros de Blumenau ousariam se desentocar de seus caixões e ir dar uma voltinha pelo centro da cidade quando os empaladores sairiam de suas casas para procurar por almas para empalar,por corpos que poderiam ser trazidos a vida se mortos e empalados por aqueles que um
dia foram morar naquela cidadezinha que um dia se chamou Blumenau.A vegetação ao redor sussurrava uma canção de horror enquanto a tumba via sua laje lentamente começar a se mover para o lado,pouco a pouco,foi se dando algo que estaria para acontecer a muitos anos mas que demorara demais para acontecer.De dentro de sua tumba num cemitério situado em algum lugar da cidadezinha agora falava o corpo já pútrido do professor Menescal, mas ele não podia falar mas sim se comunicar atraves de uma estranha telepatia que tomaria por terra a mente daqueles que agora se encontravam em suas casas ou se dirigindo para elas.Entrementes em Curitiba,no rancho dos Malheiros a briga havia se dado.Uma breve discussão que logo acabou mas que fez melhorar em muito a angustia em meu peito.Eu estava de saco cheio,eles não respeitavam mais os escritores e aquela agora da pequena lista de editoras que eu havia me comunicado para publicar o livro se rebelar contra mim?Era demais.Brigamos.Mas logo passou e resolvi que era mais um recomeço,mais um tempo para recomeçar a escrever e para me tornar um escritor famoso.A greve dos caminhoneiros já se arrastava por um bom tempo e achava que as coisas não poderiam ser piores,mas sentia que isso tudo tinha um reflexo muito positivo para minha carreira.Uma vez escrita,a carta que me levaria a vender o GRAMPO DO MAL,para alguma editora iria me levar as estrelas.Mas desta vez atacaria por correio para a editora dos livros do Stephen King,para uma editora que enfim aceitasse meus originais,para qualquer editora.Precisava fazer alguma coisa e ficar parado aqui não seria a melhor coisa a se fazer.Mas teria que ter os pés no chão,mandar pelo correio seria justo,descansar seria mais justo ainda.Agora era um escritor mas ainda passava mal de vez em quando e o frio que caira sobre a cidade me deixava ainda mais sonhador do que nunca.Uma leve preguiça quase me fizera deixar de escrever e ir dormir,mas fiz um esforço.Mas agora estava para se dar.Talvez devido a algo que acontecera na família,quem sabe até devido á briga,á discussão que se dera no rancho dos Malheiros,fizera voltar a vida o professor Menescal,que agora se levantava de sua tumba,vestido com seu terno e roupas sociais e se foi cemitério afora,rumo a rua Gustavo Mayer,onde subiria a mesma andando e voltaria para assombrar
aquele local,exatamente,o casarão dos Malheiros,onde sua mulher e seus quatro filhos haviam ido morar após sua morte a muito tempo atrás.Pelas ruas carros buzinavam e pessoas iam e vinham na pacata cidadezinha,enquanto o professor Menescal tomou o rumo da rua Rui Barbosa e se foi,rua acima rumo ao casarão onde passaria a noite.Pensamentos difusos se mesclavam em sua mente enquanto ele se preparava para descansar o corpo pútrido,no sofá da sala do casarão,infestado de camundongos,os anos que haviam se passado,o tempo em que ele havia ficado permanecido enterrado naquela tumba fétida e fria,cheia de teias de aranha e carne morta,e aquela uma única nota de cruzeiro em seu bolso herança que havia sido deixada na noite de sua morte,quando sua mulher pegou os filhos e embarcou naquele caminhão com seus filhos e o seu corpo,o corpo do marido,o corpo morto do professor Menescal na parte de trás do veículo pronta para recomeçar na pacata cidadezinha de Blumenau,no casarão de madeira situado na rua Gustavo Mayer,onde morariam por alguns anos até se recuperarem do choque de ter perdido um de seus membros mais importantes,o derradeiro professor Menescal.
Naquela noite retomei GRAMPO DO MAL como um possesso,tentando dar continuação á minha obra que lançaria um dia,nem que tivesse que enviá-lo por telegrama para uma editora.
E mais ou menos pelo fim daquela noite,o professor Menescal finalmente chegou ao casarão,após uma grande caminhada fantasmagórica e parecia que ele não avançava normalmente pela rua mas sim,como num sonho,onde pula-se medidas de tempo,e ele parecia avançar mais rápido que o costumeiro de uma pessoa viva,pois ele estava morto e era apenas um ser espiritualizado agora.
E eis que ele chegou á casa,e entrou.Subiu a escadinha que havia lá,entrou na varanda e abriu a porta da frente da casa,que agora se encontrava aberta.E caminhou sala adentro,observando não
uma residência recente mas exatamente a residência dos Malheiros nos anos oitenta,e ele observou a sala,exatamente como ela era e emocionou-se.E uma luz muito grande subiu aos céus de Blumenau quando o professor Menescal se encontrava finalmente na sala do casarão dos Malheiros,casa que ele poderia ter morado se não tivesse morrido enforcado naquela noite fatídica á muito tempo atrás.Casa que fora ocupada por sua família apenas.
Mas não havia mais casa nenhuma e sim uma outra casa,que fora construida sobre aquela,depois quando tudo se dera,e a família partira para a cidade grande,para recomeçar.Mas ao mesmo tempo havia,no coração do professor Menescal ela existia ainda e se em seu coração ela existia então ela estaria la na noite em que ele ressuscitou e lá estava ele no casarão,parado,na sala de estar da casa,como ela foi nos anos oitenta,em 1984 quando lá se instalaram os Malheiros,sua família.
Mas algo estava se passando comigo e tudo parecia de cabeça para baixo,agora eu tinha recomeçado e não podia parar os E-mails chegavam em série e eu tinha que respondê-los,não muitos,pouquissimos mas o


suficiente para me deixar louco.As coisas aconteciam muito rápido e já tinha estragado um dia passando mal e me atrapalhado todo com um livro de Stephen King,onde
algo me dizia que não poderia confiar muito nele,aliás em nada e que teria que seguir a estória da família e do meu pai,de minha mãe e de meus irmãos,Sandro agora pulsava em minha mente e suas idéias agora pululavam em minha mente.Problemas,um atrás do outro,eu apenas não queria saber deles,mas parecia que eles vinham aos montes assim como minha carreira,parecia que vinha tudo junto e acho que é assim a vida.Vem tudo junto.Ao mesmo tempo em que enfrentava ataques de uma febre estranha que me deixava mole e sem animo ou ação para nada,tinha que levar minha vida para frente.Comprar comida,arrumar a casa e sabia que não podia apenas deitar dormir e deixar tudo para meus familiares,eu tinha que fazer alguma coisa,por isso eu tinha que tocar tudo em frente ou tudo teria fim.E eu não queria isso.Por isso continuava.
Os dias passavam rápido demais para saber de alguma coisa.Nada parecia fazer muito sentido.
Mas eu sabia que devia ser escritor,agora já estava de volta me comunicando com editoras para saber quem aceitava meus contos,conversando,através do correio eletrônico de George,sempre procurando recomeçar,aliás,sempre recomeçando.Já era tarde e o professor Menescal já havia ressuscitado!Eu tinha que fazer alguma coisa,por mais louco que pudesse parecer.E assim eu seguia nessa vida incerta,apenas vivendo sabendo que seria escritor mas teria de lutar por isso.E eu ia lutar!E era isso que eu estava pronto para fazer!
Cozinhei,lavei,sequei,e fiz de tudo para sentir o que realmente era ser um escritor.Fazer as coisas da vida,participar dos afazeres domésticos já era um começo,quem sabe para partir para algo maior depois,mas descobri que apenas os afazeres domésticos já consomem boa parte de nosso tempo.
Agora estava vivendo a vida,cozinhando,lavando e secando,a manhã passou como num passe de mágica e logo estavamos nos preparando para almoçar.E almoçamos,enquanto a escuridão tomava conta dos aposentos da casa,na verdade o que eu chamava de rancho dos Malheiros,a residência na qual estavamos morando por aquela época,um tempo bastante consciente para mim e nem um pouco difuso.Gosto de me guiar por palavras e sou capaz de levar uma conversa por horas a fio,dias inteiros conversas inteiras,com todas as palavras em cada lugar,em sua ordem perfeita e isso eu gostava de fazer,gostava tanto,que já estava fazendo,mediando a conversação da casa,meditando e discutindo sobre filosofias e palavras compĺicadas com George que concordava comigo e me ajudava nas conversações e como mediá-las bem e corretamente.George me ajudava a descobrir os segredos da vida e nas conversações como um verdadeiro escritor que escreve contos e redige textos e estórias sempre procurando salpicar as mesmas com muitas palavras e expressões que possam ter algum valor e algum significado nas próprias conversações.Eu seguia pensando em coisas sobre mim mesmo enquanto George ia mais longe e chegava a falar em coisas a respeito até mesmo daqueles que nos cercam,mas descobri que ir muito longe não é bom,é sempre melhor ter algo fechado só para si mesmo e obedecer a própria lei de dicção de palavras e criação de um único vocabulário algo que os outros entendam e ao mesmo tempo tenham a ver com você.Foi então que fui aprendendo a falar e a escrever,e colocar nas estórias um vocabulário que não ficasse muito estranho ou absurdo,e que ajudasse na conversação dos personagens.Enfim,estava aceso e pronto para levar meu plano adiante,o plano de me tornar um grande escritor.Jamais gostei de bilingues e creio que a medida que você cresce na criação de um vocabulário você se torna dono de um conjunto de palavras mas nem tudo o que você sabe é suficiente.Ainda tinha crises e passava mal por exemplo sobre como responder aos outros.Aquilo me derrubou.Aquilo me fez passar mal e pos uma pedra em meu caminho me estragando um dia inteiro.Durante um dia inteiro fiquei confuso e doente em casa,e nada fiz.Graças a Deus que eu tinha a presença de meus dois familiares e eles lavaram a casa e prepararam a comida para mim.Quando acordei no dia seguinte,estava recuperado mas o dia anterior havia sido péssimo,e eu o perdi por completo.Foi como um lapso no tempo e me acordei hoje sem saber como continuar a fazer algumas coisas,mas logo recomecei.Descobri que recomeçar todo dia é certo.Mas sempre mantendo aqueles horários de sempre.Para um escritor trancado em casa,pode parecer difícil mas para quem sempre vai trabalhar e fazer algo importante é moleza.Mas não confio muito nas ruas e me voltei um pouco mais para meu lar,minha residência.Ela se tornou algo especial para mim e agora descanso.Agora á pouco estava contente e parecia que um sol ia despontar no horizonte mas foi só um engano.Agora vamos ver o que acontece.
Agora a noite tinha se passado,uma noite profunda,com uma surpresa antes disso.Peguei Mama e George chorando alto no quarto.A principio levei um susto mas logo resolvi não me importar muito com o ocorrido uma vez que ambos se encontravam estressados com os acontecimentos diários e agora só queriam descansar,logo depois pega-los chorando,comemos pão e fomos dormir.Não sei quanto tempo se passou até que veio esta quinta-feira,e me acordei,pronto para recomeçar.

Me encontro aqui nesta manhã fria escutando a chuva cair lá fora.Como o tempo passa!

Fico aqui pensando o que será de nós se tudo tiver fim,mas será que tudo terá fim?É como se fosse uma estória infinita mas um dia tudo isso há de acabar.Pois que trabalhemos para passar o tempo e ter algum retorno nesta vida.Eu aqui escrevendo para me tornar um escritor famoso mamãe lavando louça e limpando a casa para manter tudo certo e no lugar,mas as vezes temos tempo para nos divertirmos.As vezes faz sentido.E ela sabe que isso é necessário,como posso ver quando ela para e pensa na vida as vezes tentando achar sentido nessa vida.Agora nos encontramos pensando em cair fora daqui.Em sair desse lugar e ir para um outro.Não faz muito sentido,mas é o mais certo á ser feito.Agora posso sentir a influência dos poderes mentais do professor Menescal,do casarão em Blumenau,mesmo que esse tenha sido destruido a muitos anos mas seu fantasma ainda vive,o fantasma da casa,daquela construção que foi a nossa casa a tanto tempo atras.Agora posso sentir os pensamentos do professor Menescal,irradiando sua magia de um outro tempo,como que tentando mediar uma vida que já não tem mais razão,a nossa.Que vida mais divertida e ao mesmo tempo morta,para nós os Malheiros,ao menos alguns deles,mas nós,a família do professor Menescal,agora morto e descansando no casarão para onde fora depois de ressucitar e rumar para a rua Gustavo Mayer,para descansar seus ossos naquela construção singular,desaparecida a tanto tempo atrás,mas que sobrevive na mente e no coração daqueles que um dia lá viveram.Posso sentir a presença de seus pensamentos ainda vivos em meu coração.E sei que aprender as palavras é importante,é mais importante do que tudo isso mas isso é importante também,é nossa vida.Misturar as duas coisas tem sido o ponto primordial de minha vida nos ultimos dias,aprender e viver,ambas as coisas.
Aprender as palavras e viver o sonho da família,e sempre recomeçar,isso é o mais importante.
Agora fazia sentido para mim.Já havia mandado um conto para uma revista e iria tentar publicá-lo.Mas aí é que estava o mistério,eu era um escritor de contos e não um novelista.Vender um conto por vez era o que eu necessitava e era o que eu estava pronto para fazer com a revista para a qual eu mandara o conto.Agora esperava mais uma vez uma resposta.Como sempre.E a resposta seria mais uma vez algo decisivo em minha vida.Será que eles gostariam do conto?Será que eles decidiriam publicá-lo na revista?Era o que eu esperava saber.Agora,o professor Menescal estava influenciando a família,eu esperava por meu início de carreira como escritor e mamãe e George esperavam por se arrumarem nessa vida,se é que isso era possível.Eu torcia por eles,e esperava que eles se ajeitassem,mas eu tinha medo de perder mamãe ou George de uma hora para outra e isso seria péssimo para a família,e para mim como parte dela.Agora esperávamos por um milagre.
Faltava algo para eu me ajeitar como escritor,já havia conseguido atingir tudo o que queria,estava satisfeito,mas algo ainda estava por vir.E era a carta da revista.Ela ainda não havia chegado e era só o que faltava para encerrar esta crônica.Se eu tivesse a resposta da revista eu teria o fim desta narrativa e a resolução de minha carreira como escritor.Agora era capaz de levar estórias até o fim,de mediar diálogos com eficácia e continuava estudando.Era o que eu precisava como escritor e como pessoa.Agora já estavamos na manhã de sexta e eu ainda não havia recebido a resposta.
Na televisão passava o filme para o cinema do Scooby doo,sem a música e os efeitos necessários para se fazer um bom filme,mas ainda assim era um bom filme para se assistir,no rancho,eu havia saído de qualquer jeito para ir buscar o remédio meu e o do George,pois era o dia marcado e estávamos precisando.Tomei um bom banho hoje.As coisas iam tudo bem.Mamãe e George já não pareciam tão mal como nos dias anteriores e eu parecia me especializar na arte de desvendar mistérios e mediar conversas com palavras e tudo.Agora era só levar em frente,agora as coisas pareciam ter sentido,tudo estava indo bem em minha vida mas só iam dar mais certo ainda se viesse a resposta da revista,e era isso que eu esperava.Ficava o mistério,será que a influência do professor Menescal seria de se consolidar positiva ou não?Por enquanto ia tudo bem,e só faltava a minha parte,a resposta da revista,o resto estava caminhando para um bom resultado,George estava se cuidando tarde após tarde como sempre fez,e mamãe parecia estar convencida de que iria vencer aquele estranho mal que a acometera a algum tempo.Quanto a minha carreira de escritor,não havia dúvida,estórias por vir,sequencias agradaveis a serem escritas,desvendar teoremas complicados e transformá-los em redação simples,aprender as palavras,uma vez que as palavras descrevem tudo,escrever para mim parecia ter se tornado uma diversão que eu simplesmente tinha que tocar em frente.Quanto á me tornar famoso,bem,isso dependia do respaldo da revista e se ela aceitasse publicar meu conto.Se desse certo,se tudo corresse bem,então viriam outros contos,e talvez eles aceitassem me pagar em dinheiro e simplesmente não em fama,com a publicação dos mesmos.
Agora a influência psiquica do professor Menescal parecia estar se mostrando completa e veriamos o que viria pela frente.Talvez algo tão fantástico quanto qualquer outra coisa nesse mundo,talvez uma onda de voltas no tempo,bons momentos,inspiração,enfim,tudo o que eu esperava dessa vida ao invés desse tempo apressado que vinha se mostrando cada vez mais rápido e que eu deixava escapar por entre os dedos toda vez que parava para escrever sobre ele.

E o professor Menescal,pensa que ele não foi afetado pelos vampiros da noite?Claro que foi.E as crianças do colégio,todas elas conhecem os loucos!Aqueles loucos que andam pelas ruas sem porquê e gostam de ficar sem fazer nada o dia inteiro.Não fazem pois são doentes.E as crianças do colégio,acham que elas são inocentes?Elas não são não.Elas sabem muito bem onde moram esses mesmos loucos e controlam eles para que ataquem os outros.São as crianças que conhecem os loucos,as mais perigosas de todas.Acham que elas tem inocência no olhar?Eu posso dizer muito bem o que elas tem no olhar,pois o que elas tem naqueles olhos não passa de sangue!E elas gostam de jogar os loucos contra os outros,e os loucos atacam as pessoas e vão parar naqueles manicômios por causa disso.Eu briguei com meu irmão,eles acharam que eu estava louco.E me mandaram para esses manicômios apenas para eu descobrir o que são os loucos e aqueles retardados pois também há pessoas retardadas com os loucos e eles vivem juntos e muitos tem raiva de viverem presos pois não trabalham ou estudam como as pessoas normais.Eu escrevo,por isso sou mal-visto.Eles me acham uma espécie de vagabundo quem sabe até um louco mas não se trata disso.Sou um escritor,e entre minhas muitas capacidades sou capaz de mediar uma conversa inteira e recitar as palavras que são necessárias para que a reza seja feita.Para que a mágica aconteça,e ainda estou treinando para isso,por isso deveria ser chamado de aprendiz de escritor.Eu escrevo na casa abandonada,no rancho dos Malheiros onde só vivem eu meu irmão George e minha mãe Bernadete Malheiros,uma Schiphorst.Viemos todos de Blumenau e somos perseguidos por sermos nômades,quacres e escritores,como meu pai foi quando vivo.Agora trilho esse caminho,o caminho de escritor,sempre em busca das palavras corretas para uma melhor compreensão da vida humana e em busca do sonho,que jaz na casa abandonada,na casa de madeira,uma casa imaginária que não existe mais como a casa de Blumenau que fora demolida e que já não existe também.De noite,quando a névoa toma conta das ruas é possível ver a casa abandonada de madeira,e é possível ver uma luz acesa num dos quartos,como que alguém escrevendo,algo que lateja em minha mente como uma fantasia,a fantasia dos escritores de ficção,a minha fantasia,que vivo toda vez que a escuridão toma conta do rancho e mamãe parece ver fantasmas pela casa e ao redor dela.Muitos morreram vendo fantasmas,mamãe não.Eu também não.Eu permaneço vivo e sonhando.Se fosse ver tudo o que já passei com minhas fantasias de ficção,acho que pouca gente acreditaria.Já passei mal em quartos escuros,suando no chão,sob apenas um colchão,sonhando com os fantasmas da noite,os espíritos da madrugada,uma madrugada quente e molhada de suor frio e arrepiante. É uma vida atemorizante essa de escritor,mas ainda procuro pelo arrepio perfeito o lado bom da estória,onde se sonham com casas abandonadas de madeira e dentro dela há tomos do Mal,contendo crônicas de arrepiar.Onde se dança a dança da morte,dança macabra que funciona como pano de fundo para preciosos momentos onde tudo pode ser material para se tecer uma estória,um conto,uma crônica.
Mas não gosto de levar isso muito á sério e só exercito minha capacidade de sonhar para viver esta fantasia,a fantasia de qualquer escritor,viver em casas de madeira onde a imaginação se mescla com as palavras e culmina numa vida de sonhos e mistérios.
Aqui não é a casa de madeira,aqui é o rancho.A casa de madeira só existe em meus sonhos mais profundos e surgiu depois que aconteceu a ressurreição do professor.É noite lá fora e agora permaneço aqui imaginando se o professor irá continuar a influenciar nossa vida com seus poderes psíquicos,e se daqui para frente conseguirei tocar em frente minha carreira de escritor.A resposta da revista,se vier irá definir minha carreira como escritor de sucesso para sempre.Faz frio lá fora.
Bem,é hora de descansar a cabeça no travesseiro e esperar que esse tempo passe o mais devagar possível,ao contrário da pressa que tenho visto e descubramos o que vai acontecer daqui para a frente aqui no rancho.Entrementes continuamos aqui,vivendo essa mesma vida de sempre,apenas aguardando por alguma coisa que nos faça mudar e repensar o rumo de nossas existências a fim de nos virarmos para uma melhor direção e passarmos a viver uma vida melhor.
Entrementes estávamos aqui,com a ressurreição do professor…
O frio da noite e o fato de eu me encontrar escrevendo no quarto da bagunça,onde ninguém dorme,começava á despertar a vaga impressão de que eu estava começando á desconfiar que estava passando a começar á ser observado.
Você já teve essa impressão?Para mim isso começou á acontecer uma noite,enquanto eu escrevia no quarto da bagunça em minha casa.Os termômetros marcavam graus negativos e tudo levava a crer que seria um inverno daqueles.Uma estranha névoa começava a se formar ao redor da casa e parecia que Curitiba seria pega de surpresa pelo inverno mais avassalador de todos os tempos.Foi aí que tudo teve início.
Eu era um escritor agora.Havia escrito alguns contos e enviado um deles para uma revista de literatura.Só não imaginava o que iria acontecer dali por diante.


Sei que gosto de sair pela cidade.Posso dizer que sou um sortudo.Tenho a sorte de ter uma mãe e irmãos que me dão uma vez por mês,dinheiro para ir até o centro me divertir pela cidade.Caminhar pelas ruelas antigas de Curitiba,e chegar onde mais gosto de ir,meu destino principal,a biblioteca pública.Lá,encontro toda a obra de Stephen King,agora eles estão com um bom acervo,e posso espiar um pouco da literatura mundial num só lugar,e de graça.Principalmente a obra de King,que para mim é o símbolo da literatura mundial,ao menos.Compro um pacote de café no mercado e volto para casa,com o troco,vou passear.
Entro no ônibus desconfiado mas é bobeira,sou meio solitário mas gosto de fazer amigos,de uma conversa,converso com uma mulher no ponto de ônibus e me vou.Calculo agora tudo.O que ouço,o que falo,penso á respeito das coisas.Não sou mais aquele pequeno desvairado que eu era.Agora sou um pensador,sempre imaginando que poderia haver um rio passando debaixo da rua onde andamos, ou que algo está acontecendo em um prédio qualquer,a dimensão das coisas da rua,dos carros,as marcas dos automóveis,o sentido das ruas tudo agora tem um valor intelectual para mim.Posso dizer que minha viagem até o centro é bem densa em pensamentos.Imagino de que material é feito o coletivo e fico calculando o que as pessoas falam ao meu redor,encontro gente inteligente que gosta de falar em significados,e palavras,e falam coisas que entendo.Compreendo a cidade e seus habitantes como ela é.Bem diferente da enxurrada de pensamentos neuróticos e malucos que vem quando entra em ação meu subconsciente.Meu subconsciente é terrível.
Mas fica a tenebrosa impressão de que estou sendo observado e isso me acompanha até o centro.Vejo a rua,o banco,a polícia e coisas assim não fazem o menor sentido para mim,uma vez que não lido com dinheiro ou valores,apenas consumo-os.Quem ganha é minha família,eu só gasto.Gostaria de mudar isso ganhando algum dinheiro com os contos.Publicando em revistas e depois quem sabe em livros.Mas por enquanto não,por enquanto só lido com valores financeiros que não são meus,e são ao mesmo tempo,uma vez que sou parte dessa mesma família.Ah,quem sabe tudo mudasse.Mas vamos lá.Desembarco e sigo rumo a biblioteca,pela cidade.E finalmente chego lá.Entro no prédio da mesma e me dirijo para o setor de literatura,onde pergunto sobre livros de Stephen King.O moço me diz que já vai me atender,e mexe com alguns livros,fala alguma coisa com outra pessoa e volta a falar comigo.Depois me leva até um trecho do acervo de livros e me mostra algo valioso- toda a obra de Stephen King,á minha inteira disposição.O acervo é enorme,são prateleiras e prateleiras com livros finos e grossos,tomos do gênio do terror.Ele me deixa á vontade e se vai,eu fico,deliciado com o tesouro que tenho em mãos.Vejo alguns mas o que me interessa é Dança macabra,seu livro técnico,digamos assim.O pego e vou até a sala de leitura me deliciar com o tomo.Vejo uma japonesa de tamanho ideal,jaqueta jeans,calça e sapato entrar no acervo da biblioteca,fico á vontade,leio algumas linhas do livro.Entendo o livro,principalmente o trecho em que Stephen King abre uma cerveja e se delicia com ela,e com outras num engradado em casa enquanto decide escrever o livro que estou lendo,ele conta como decidiu escrever o livro.Bebendo.Sinto vontade de beber,mas só suco,em casa.Sinto vontade de fazer coisas,de chamar a japonesa para conversar e dizer que sou escritor,perguntar seu e-mail,seu nome,dar meu e-mail,para ela se comunicar comigo,mas isso não é possível.Todos sabem que não sou escritor.Para ser um escritor deveria estar publicando e não estou,só estou escrevendo e negociando por enquanto.Fico frustrado,continuo á ler.Leio pelo menos a primeira parte do livro e o deixo de lado.Me levanto e me vou,indo embora daquele lugar sufocante.Tudo é sufocante para mim agora que ainda não sou escritor.Mas não quero pensar nisso e me vou rua afora,rumo ao ponto do Vila Rex,ônibus que pegarei para voltar para casa.A volta foi curta mas serviu.Foi exata para mim.Serviu para me cansar,me dar sono e foi o suficiente por hoje.Agora me encontro aqui escrevendo isso,como se estivesse lutando uma luta patética sem rumo,mas eu sei que não é.Tenho experiência,já trabalhei e agora quero escrever para ganhar a vida.Mas está difícil.Publicar um livro não é possível por isso vou ter que começar por baixo mesmo,se quero ter uma carreira.
Chego no ponto e encontro uma garota,com quem converso.”Quando vim para esta cidade aos dez anos não imaginava que tudo ficaria assim.As coisas eram diferentes naquela época.”Eu exclamo,e me bato um pouco para falar mas ela não nota.”É mesmo.”Diz ela,meio amuada.”Você mora no Xaxim?”pergunto á ela,que é onde moro.”Não,eu só estou aqui esperando minha mãe.”Ela responde,já indo embora.”Tchau.”Eu me despeço dela e ela se vai.Fico sozinho no ponto imaginando que diabos fiz para merecer aquilo.O ônibus chega e embarco.Um cobrador irônico me recebe,e eu passo sem falar nada,depois de ouvir algo que não entendo muito bem,filho da puta.
Esqueço o mesmo e sigo para casa.O ônibus segue as pressas,um motorista relapso dirige o mesmo motorista esse que fala de um modo que não entendo.Desembarco na rua do Videira e desço para casa.Chegando lá,George come um pão de padeiro e me pergunta se quero almoçar.Respondo meio desanimado que sim e ele me prepara um prato de comida.Bebo suco num copo grande como se estivesse num festim de

cerveja,num pub.Como e vou deitar um pouco.Descanso,penso um pouco sobre o que aconteceu naquele dia,e me levanto para ir até o farol na intenção de consultar o doutor Google.Estou exausto e não é uma boa idéia ir,mas vou.A rua perto do campo me parece terrúvel,e chego ao farol,onde entro.Resta ainda um pouquinho de tempo,me diz a responsável,que vê minha ficha e me sento,para acessar o computador.
Fico sabendo de um escritor,Hedjan C.S.,que escreveu um livreto de bolso de apenas 28 páginas.Quando a qualidade é boa não se importa a quantidade.Decerto pagou para publicar o mesmo,coisa que me vi obrigado pelos editores quando tentei publicar GRAMPO DO MAL.reunião de meus primeiros contos.Vejo algo por cima de Twin Peaks,e logo desligo o computador.Logo me vou.Nada de fabuloso hoje,mas ficou a idéia da bebedeira.Talvez pedir para o George comprar sorvete ou fazer suco ou então,fazer mesmo,bastante de alguma coisa e comer,como os paezinhos que tittia trouxe,mais de trinta,numa sacola de panificadora.Deveria ter trazido numa sacola de ráfia que á tão famosa,como aquelas que nós arranjavamos para trazer bastante de uma coisa só em Blumenau.Volto para casa,e tomo um banho gostoso e revigorante.
Agora aqui estou,escrevendo isso,como um animal lúdico,apenas pensando.
É mesmo como se tivesse alguém me observando,alguem que sabe tudo o que faço.Mas para que esse alguém faria isso?Dúvidas sobre esse alguém não vir a ser alguém mas algo.
Mas esqueço,tenho uma família para participar e ficar pensando em bobagens não vai me levar á lugar nenhum.O tempo passou,as coisas mudaram e tudo já não é mais o mesmo.Ainda bem.
Só assim entendo esse fluxo de idéias que corrompe minha mente me fazendo pensar cada vez mais e mais sobre as coisas do universo e suas cercanias.Sobre a vida,a minha vida a nossa vida.Mesmo que para cada um seja diferente.Como a vida de Stephen King.
Simplesmente estar sendo observado.
Já teve essa impressão?Agora enquanto escrevo aqui,tenho a impressão que a criatura no forro também faz parte disso.Talvez um complô.Talvez alguém tentando me enlouquecer mas como?Como fariam isso se nem tenho contato com ninguém estranho por aqui.Ter a impressão de que há
alguém controlando sua vida é algo que já me aconteceu,mas eu jamais contei á ninguém.Não é algo que devo contar quando vou ao médico ou então eles vão achar que eu não estou bem da cuca.
Uuuh.Que estranho,não é mesmo?Mas eu acho que a resposta para esta pergunta seja exatamente esta,medo dos outros,exagero dos outros,fixação dos outros.Achar que as pessoas na televisão reagem ao que você faz,como se eles pudessem vê-lo na frente da televisão enquanto você assiste,é algo que seu psicólogo não ia querer ouvir ou acharia que você está ficando biruta,mas ora,quantos hoje em dia já não estão birutas?Encontrar outros birutas deveria ser algo comum para quem assiste televisão.A própria televisão já é birutice.O que eles sabem?O que pode haver num estúdio?Algum monstro enorme com presas e gordura animal?Atores vampiros insanos prontos para fazerem o que lhes é imposto pelo diretor?Isso se eles não sabem mesmo o que se passa em sua casa.Já pensou?Ah,mas isso,isso você jamais vai ver eu fazendo pode ter certeza disso.Eu nem gosto de assistir televisão…
Eu sou aquele que observa.
E sou observado.Pode ter certeza disso.Quem sabe já era antes disso tudo.
Eu me encontrava passando pelo maior dilema da história da minha vida.Estava atravessando uma temporada de estadia na casa nova e ao mesmo tempo havia ficado doente.A dor de cabeça era constante e eu enfrentava minhas crises de tremedeira sempre deitado no colchão no chão do quarto do lado de uma imensa caixa onde guardavamos roupas.Fazia frio.Era o apice do frio na casa da dona Clarice naquele ano de 2017.A maldita casa da dona Clarice,onde eu ainda estava meio sonolento e relapso em relação á minha carreira de escritor.Quer dizer eram tempos difíceis mas me recordo bem daqueles primeiros dias na casa,quando as coisas ainda não tinham caminhado para algo ainda pior.George estava contente,mas mal sabia o que ia começar a ocorrer naquela casa,talvez uma das piores residências nas quais já moramos na história da família,senão a pior.
O corvo da noite grasnava quando faziamos café de noite,ainda num dos primeiros dias.Eu gostava de lavar e enxugar louça mas coisa que deixei de fazer ante as terríveis experiências que fariam minha vida se transformar.Acordei então,passei a me virar sozinho,dessa vez para sempre.Passei a prestar mais atenção nas coisas e á usar de lógica em minha vida.Mas tudo aconteceu da pior maneira possível,como se o diabo estivesse passado pela terra em vida.
Os primeiros dias,a única coisa que me recordo daquela casa de aluguel,situada numa ruela mal-povoada da vila Hauer,no Boqueirão,perto de onde moramos no passado.
Me lembro que gostava de ficar em casa,mas logo pegaria a mania de sair para dar uma caminhada,e passei por aquela época pela pior crise da história da minha vida,com falta de ar,tontura,alucinações,confusão


mental e uma estranha sensação,que costumava chegar de dia,um dia que se arrastava sem graça e metálico.Tudo aconteceu de repente.
Havia um balcão,o nosso balcão,onde punhamos comida e onde comiamos nos primeiros dias na casa,me recordo de George contente,como se aproveitando férias numa casa de campo,ou vivendo numa daquelas casas em que vivemos quando somos jovens.Creio que tudo se devia ao fato de eu não me meter,coisa que passaria a fazer a partir de um tempo dali para frente.Mas era preciso,uma vez que precisava viver,mas ainda hoje tenho minhas dúvidas se não deveria continuar fechado em minha concha,num agradável convescote com a família,com minha carreira de escritor e bem longe daqueles ataques do subconsciente que passariam a me deixar bem mal.Em um pensamento maluco sinto saudade daquela época antes de eu ter a estranha sensação de que chegara para estragar tudo.
Mas aquilo,aquilo era necessário,aprender as palavras.Aquilo não deixava dúvida de que eu precisava ter passado por algum aprendizado,mas não assim,daquela maneira.
Mas George se sentia bem e era isso o que importava,até tudo começar a acontecer,mas fica aqui o registro de antes,quando chegamos naquela casa,os primeiros dias.
A cozinha se encontrava cheia de coisas então.Mamãe arrumava tudo com George que sorria e cantarolava sua antiga musiquinha que ele mesmo tinha inventado.”Porco-aranha,porco-aranha,mais porco que aranha.”E assim seguimos aquele dia de frio,arrumando a cozinha,colocando a louça no lugar,enquanto nos viamos num ambiente completamente diferente do que seria depois.Tomávamos café as três horas,e as coisas nem mesmo pareciam acontecer fora da casa,num sonho maravilhoso que logo ia acabar.Eu nem tinha noção das coisas ainda,minha noção de realidade ainda não era medida com palavras mas sim com um instinto que parecia totalmente errado mas me guiara até ali com uma eficácia extraordinária,e me sinto triste e com vontade de chorar de pensar que aquela vida eu não vou ter nunca mais,apesar de ser totalmente completamente errada.Assim como eu vivia sem noção tudo parecia um sonho infantil e minha família cuidava de mim.Sempre gostei de George,mas parece que aquele trecho de minha vida e um pouco antes,quando vieramos da casa do seu Eloy, foi como um sonho.Eu jamais gostara tanto de George quanto gostara aquela época.Creio que foi algo lúdico para mim,e acho que sei como fazer a mágica mas tenho medo de tentar de ver tudo perder sua razão de novo,mas dá vontade de tentar no futuro.
Era como se ainda lá tivessemos no ar a mágica da família,um clima gostoso que envolvia-nos e fazia com que tudo parecesse gostoso e febril,com sabor.
E eis que aconteceu.
De noite,quando fui pegar a colher para mexer o açúcar na xícara do café que tomava,enquanto todos estavam na sala,iluminada pela luz natalina de algum tempo perdido em nossas memórias,eis que me deparei com minhas mãos,duas patas de macaco escuras com garras como num efeito especial bizarro de algum show de horror,um show de circo.A príncipio levei um susto mas nada falei,apenas mexi a colher na xícara de café e me dirigi calmamente até a sala,mas não estava nada calmo,estava em pânico com o que vira.
A imagem ficou em minha memória até hoje e confesso que permaneceu registrado em minha memória por um bom tempo,chegando até a me deixar com raiva,como é que enxergava duas mãos de macaco escuras no lugar de minhas mãos,aquilo não podia ser.Mas passou,e ainda hoje tenho medo em pensar como é que pude observar tal coisa em mim mesmo.
Bem,tomamos o café,assistimos um filme de terror que ia passar naquele dia e fomos dormir.Voltamos á rotina de sempre,mas eu apenas não podia esconder,estava aturdido.
Tudo aconteceu muito depressa lá,quando chegamos a passar por dias agradáveis,até nos depararmos com um inquilino da casa de trás da dona Clarice,que nos causou pesadelos.Mas vamos esquecer esta parte da história pois já é passado,e vamos nos ater ao caso das mãos.
Eu simplesmente não imaginava passar á ver minhas próprias mãos de uma forma diferente e aquilo marcou minha vida de forma negativa.Passei á me sentir mal com aquilo e confesso que fiquei até um pouco confuso em saber que o Mal pode nos atingir em nosso próprio corpo.Que imagem era aquela?O que ela significava?Por que eu havia sido atingido por tal pesadelo.Até hoje não tenho explicação correta,apenas uma vaga explicação que formulei mas que não tem significado nenhum e que descartei logo na épóca,mas confesso que fiquei até chateado. George parecia nada sentir,ou se sentia não falava para ninguém,mas a presença do sobrenatural em minha vida me obrigou a repensar meus valores e á usar de palavras para expĺicar aquilo que não sei explicar instintivamente.
Hoje procuro por palavras,mas confesso que a mudança de pensamento foi até mesmo traumática,mas necessária.Minha doença havia chegado á um ponto crítico em minha vida e simplesmente sabia que devia fazer alguma coisa,mesmo que o que tenha feito possa parecer uma decisão desesperada de minha parte,mas foi tudo o que pude fazer,passar a me esforçãr mais para aprender as coisas da vida.Mas isso passou á me

deixar deprimido e sem vontade de viver,sem aquele gosto pela vida que tinha em meus tempos de infância e juventude.Acho que exagerei,mas tenho uma idéia para tirar umas férias de meu policiamento.As vezes deixar passar,um pouco de sonho não faz mal á ninguém afinal a imaginação é necessária para a criação de idéias em nossa mente e criar um pouco pode ser proveitoso.Vou tentar.Quem sabe passar uns dias afastado da crença de que devemos cuidar com tudo e deixar essa vida me levar um pouco para ver até onde eu chego.Quem sabe esquecer episódios como os das mãos,em que minha mente chegou ao disparate de criar uma imagem fictícia apenas devido ao valor das palavras,e isso é errado.Não podemos criar monstruosidades devido á língua ou ao vocabulário.Coisa que já desgraçou a vida e a mente de George durante algum tempo,na casa da dona Clarice,quando ele enlouqueceu certo dia e chegou a chorar após falar coisas estranhas no quintal da velha,que assistia á tudo pasmada.Mas dona Clarice também errou,por buscar mais o dinheiro que as pessoas,e fazer isso é uma coisa que não se faz com ninguém.Erro que ela cometeu em vida e pagará caro por ter cometido.E se as forças do Mal não vem buscar a velha?Imagine?
Entrementes ficamos aqui com as mãos…
Em meus pesadelos mais profundos,estou dentro de um navio.Faço parte da famigerada tripulação que trouxe os Malheiros numa viagem de Portugal para o Brasil.Nem sei se isso realmente aconteceu,mas toda vez que passo mal,me deito no sofá da sala e posso escutar a máquina de lavar roupa enxaguando e chacoalhando a roupa molhada com água de um lado para outro,e é como se estivessemos em plena viagem colonizadora,quando os primeiros de minha família aqui aportaram,para colonizar o Brasil,os primeiros Malheiros.Um arrepio percorre minha espinha,imaginando como eram ou como venham á ser meus parentes que não conheço,e nem faço questão de conhecer.Conta a lenda que eram bravos os Malheiros,irônicos e cruéis,pois nem quero saber deles.Mas enquanto a máquina parece chacoalhar de um lado para outro a roupa dentro dela,sinto uma coisa tão agradável que seria capaz de pegar no sono e adormecer.
Mas não é esse o sentimento principal aqui.
Sabe quando algo está acontecendo e tudo ao redor se enche de mágica e sentimento?É sempre que algo está acontecendo que nos enchemos de alegria e nos sentimos envoltos por uma mágica que nos faz sonhar e deslizar pela alameda da vida como se essa existência não fosse nada mais do que uma grande festa.Quisera eu que fosse sempre assim,quisera eu que a venda dos contos desse certo e pudéssemos comemorar minha carreira literária,e então seria tudo festa e estariamos envoltos de novo por aquela mágica coisa que me faria me sentir deveras bem por um bom tempo.
É sempre assim quando algo está acontecendo.
Estive pensando nessa sensação hoje quando me acordei e vim escrever.Viver tudo aquilo de novo,será que era possível?Quem saberia dizer não é mesmo?Só mesmo prevendo o futuro e duvido que alguém aqui em casa era capaz de fazer tal coisa.Éramos apenas sonhadores.
A ressurreição do professor havia se dado na casa fictícia de Blumenau,casa que já não existia,senão numa outra dimensão,a dos sonhos,mas agora sentiamos sua influência.Por muitas vezes sentia uma distante tristeza e pensava nele,fazendo brincadeiras comigo,só para passar o tempo,algo leve e soube então que ele era uma boa pessoa.Estava morto,mas seu espírito estava lá e influenciando na vida da família.A casa se enchia de um clima de nostalgia quando isso acontecia,quando ele aparecia e nos contava aquelas estórias de antigamente,de quando ele estava vivo,ao mesmo tempo que pensava em minha carreira de escritor,e então pensei,será que ele não poderia ajudar?Mas não,não seria possível algo tão incerto quanto sua presença,não poderia ajudar em nada com minha carreira de escritor.Minha carreira de escritor somente eu seria responsável por tocar para frente por fazer acontecer.Me recordei da mágica na biblioteca,enquanto lia o livro de Stephen King,da japonesa,e de como senti vontade de fazer amigos de curtir a vida mesmo,mas não,isso não seria possível.Agora a casa de Blumenau não passava de um barracão abandonado e coberto por mato ao redor em minha mente,e ela existia somente aí,em minha mente.E era lá que estava alojado o professor Menescal,deitado no sofá,preparando comida na cozinha,tudo num mundo de sonhos tudo num mundo fictício,e ele sairia para fazer compras e moraria sozinho na casa,e sacaria dinheiro no banco,o dinheiro de sua aposentadoria,mas será?Ou será que ele não passava de um fantasma sem precisar comer ou dormir,apenas o seu fantasma,mas não era o corpo vivo do professor que estava lá,mas seu cadaver,putrido.
Mas algo logo estaria por acontecer.
Entrementes na casa de Blumenau,na casa fictícia de Blumenau que só existe em meus sonhos,o professor Menescal começava a voltar a seu estado original,iniciava um processo de volta a vida,e seu cadaver agora começava a se reestabelecer.Ele pouco a pouco,processo que durou alguns dias,voltou a ser do jeito que era em vida,quando vivo e retornou com sua figura original,pronto para talvez assombrar quem quer que fosse se ele quisesse.Como eu dissera,como o tempo passava!E agora já estavamos prontos para encarar nosso destino,o destino de uma família que não fugia á luta,que estava aí para o que desse e viesse.Algo que faria o

rumo dos acontecimentos mudar.Mas será que o suficiente?Eu não conseguia acreditar que algo aconteceria para melhorar nossa vida tanto assim,á não ser que algo acontecesse mesmo,algo consistente.E esse algo estava precisando,ou então todo o trabalho que despenderamos teria sido em vão.Eu não sabia o que era mas deveria acontecer logo e para o bem,ou estariamos perdidos.
Amanhã vou tomar um banho bem gostoso,arrumar meus e-mails,e me preparar para receber a tia Ilze.Ela vem almoçar conosco quinta-feira. Hoje preciso sair para ir comprar bananas no mercado,para fazer banana frita de tarde.Já vou vendo o que vou fazer no futuro para ficar preparado e ter tudo pronto .É tempo de receber visitas e quero que esteja tudo pronto para que tudo saia bem.Passar a participar mais para que todos tenham uma boa impressão de mim na família,coisa que prezo muito e tenho o maior respeito.Agora de manhã fui fazer uma consulta com o doutor Google no farol mas não vi muita coisa boa.Apenas uma matéria com Stephen King,mas que não continha nada de novo,apenas o básico,aquilo de sempre.Frustrado para compensar peguei dois livros emprestados,apenas para dizer que saí hoje.
Voltei para casa,chateado.Andrea chegou para uma visita rápida,já se foi,as bananas fritas vão ser a atração principal dessa tarde mesmo.Pretendo comprar o quanto der,bastante,para alegrar a tarde,com um belo café ás três horas.Agora vou ter que sair e ir até o supermercado para comprar as bananas,nada de mais.Seja o que Deus quiser.
Me encontro na escuridão,é um dia escuro hoje.Só espero que corra tudo bem até a tia Ilze vir aqui em casa.Enquanto isso,banana frita!
Mas algo de medidas descabidas logo aconteceu,algo que iria fazer adiar a banana frita na família aquele dia.Logo começou a chover forte.Uma chuva que chegou a causar algum estrago aqui perto em algum município aqui perto de Curitiba com certeza,e não seria possível chegar as três horas e comprar a banana para fritar ao mesmo tempo.Deixamos.Logo seria três horas,hora do café e teriamos que comer pão com margarina mesmo.Mas creio que mamãe daria um jeito,fritaria bolinhos ou algo do gênero,ou talvez não,talvez comessemos somente o pão com margarina e beberiamos somente o café mesmo.Algo que viesse a calhar.Mas sei que não dei muita importância o fato apenas lamentando a banana frita frustrada daquele dia.Não sei,ainda não era três horas e tudo o que sabia era que tomariamos aquele café,uma vez que já era uma tradição beber café as três da tarde todo dia,aqui em casa.Me lembro de tardes passadas quando passavamos contando estórias um pro outro,e falando sobre coisas diversas como o que gostavamos,filmes de terror e casos de fantasmas que pareciam infestar a casa e que deixaram seu rastro no passado dos dias da família nas diversas casas em que haviamos morado,nômades que eramos.
A chuva parou e fui comprar as bananas,voltei e as entreguei á mamãe que logo se pos a fritá-las.
Logo veio o café e comemos o pão com as bananas fritas,mas mamãe se encontrava sob um animo terrível e eu não quis falar muito com ela.Agora ela se encontra dormindo no sofá da sala,e eu resolvi que iria me deitar e ficar matutando um pouco na cama.
Chove lá fora.É uma tarde chuvosa onde os carros passam na rua levantando um aguaceiro fenomenal.No casarão,o professor jaz,pensando sobre o que vai fazer em seguida para influenciar a família.Ressucitado,fantasmagórico e tétrico.Talvez ficará lá para sempre,tentando armar uma de suas falcatruas para emocionar mamãe que viveu com ele,mas duvido muito.Talvez volte a ser esquecido por uma turma de mente relapsa e sem noção de nada á não ser de viver uma vida nula e sem sentido.Eu aqui da minha parte lutando para ser um escritor de sucesso.Se algo der certo desta maneira,espero que possa aproveitar mas duvido muito,o que creio que vá acontecer é cada um se entocar e se fechar,sem sinal nenhum para que suas mentes voltem a funcionar direito.
Enquanto isso a vida segue,estragada,para nunca mais voltar…
Mas quem diria que um dia existiria o casarão.Lar da família do professor Menescal Malheiros filho,que para lá foi morar depois de sua morte,em 1983.
Casa de madeira,á mercẽ da chuva e do vento,da névoa que o envolvia a noite,e das madrugadas gélidas de inverno.Das tardes quentes de verão quem não se lembra?Quando o menino da família lá corria em brincadeiras mil,de quando a família nele morou,andando por seu assoalho,abrindo e fechando suas portas,da criatura que vivia em seu forro controlando a vida da família,dos moveis que nele foram postos,o casarão foi parte da história blumenauense por um bom tempo até ser abandonado em 1992,e ficar alguns anos a mercẽ dos ratos,encoberto por mato,até ser demolido algum tempo depois.Em seguida,fez falta,para seus moradores agora lá em Curitiba,cativados pela vida na cidade grande e hoje perdidos com suas mentes a deriva,sem saber o que fazer,não podendo voltar a viver uma vida que não volta mais.Perdido num trecho da rua Gustavo Mayer,ele hoje mora na lembrança dos que nele viveram principalmente este que o descreve com palavras tão apaixonadas,lembrando um tempo que não volta mais,uma época gostosa que jamais vai ser vivida de novo.Uma sensação de vazio e sem palavras que descrevam a saudade do que passou dos dias em

que lá vivi,de cada dia cada brincadeira que lá brinquei,só sua lembrança já causa uma sensação tão gostosa que não tenho palavras para descrevê-la.Só mesmo conversando sobre ele,o casarão,aquela velha casa onde morei,com seu sofá creme e sua televisão antiga,a mesinha,as camas dos rapazes,Sandro e George e o pequeno James,eu,a tanto tempo atrás,minha mãe,o pão com doce e café com leite que tomava de manhã cedo,a cozinha onde ficava o poço no assoalho,o banheiro fora de casa,o rancho e o galinheiro,a sala grande com seus livros misteriosos,as viagens que faziamos,tudo hoje parece uma lembrança triste de algo que não volta mais,de algo que se perdeu para sempre na vida da família,o sonho de conseguir dinheiro,de escrever um livro,que meus irmãos alimentavam quando nele,enfim o casarão.
Hoje apenas fictício e existente apenas na mente dos filhos do professor,abriga o fantasma do mesmo numa outra dimensão,a dimensão dos sonhos onde as pessoas entram para sonhar e tentar ao menos se sentirem menos desagradáveis do que são nesse mundo,um mundo de dor e sofrimento de uma luta que a família já não está mais aguentando.
Hoje acordamos do sonho e vivemos uma vida sem graça e desgostosa,esperando que algo mude e que tudo tome seu rumo outra vez,como se algo estivesse para acontecer,mas esse algo nunca acontece.Se eu pudesse publicar algo e iniciar minha carreira de escritor talvez tudo mudasse,talvez esse clima de marasmo acabasse e o sonho voltasse a reinar nas mentes dos filhos do professor Menescal e de sua esposa.Enfim,eu esperava ansiosamente pelo início de minha carreira.
Mas esse dia chegaria eu tinha certeza,entrementes tinha que seguir sonhando ,lutando para que algum dia alguém reconhecesse meu estilo,e me desse uma chance no mundo da ficção.
Minha vida é tão complicada quanto a curva de Hawking,quanto um cálculo de Albert Einstein,e começo á pensar sériamente se isso já não está começando á passar dos limites.E ainda querem que eu trabalhe!Nossa,vejam só.Tudo isso é algo tão confuso que creio que deva mudar de vida rapidamente,pois tenho medo de continuar á viver essa vida.Talvez mudar,sempre se renovar.Talvez seja exatamente o que eu deva fazer,me encontrar sempre recomeçando.
Ainda assim pretendo escrever,por para fora toda essa teia de pensamentos confusos que enchem minha mente,me abrir com Deus e esperar uma resposta.Mas tudo isso é tão estranho que creio que deva estudar o que deva fazer e colocar em prática meu plano de uma vez por todas,sair de uma vez por todas dessa estranha dimensão de sonhos,essa outra dimensão.Talvez falte conversar com minha família,e pensar num jeito de sair dessa rotina assustadora e resolver de uma vez por todas meus problemas. Eu só sei que tudo isso me assusta.E a única coisa que posso fazer para resolver isso tudo é botando para fora,tudo o que me assusta e meus maiores medos.Talvez eu deva fazer isso todo dia,pois sei que tudo o que temos aqui é uma belissima estória de horror.Mas sei de uma coisa que devo começar a fazer logo ou tudo estará perdido e essa coisa é ajudar minha família,mas sei que para ajudar minha família precisarei primeiramente ajudar á mim mesmo.Talvez faça sentido.
Agora é noite.
Mais uma noite na vida de James S. Malheiros…

Me viro no sofá,estou me sentindo bem.
É noite,hora dos vampiros do sangue de monstros ,momento em que sentamos para escrever estas estórias como se o vento fosse nosso amigo mas guardasse um certo rancor por também termos nossa vida.Simplesmente viver é o que busco.Se quer fazer o mesmo,venha comigo e sinta na pele essa emoção.Não tenha medo,deixe-se levar por seus poderes e adentre esse universo carnal como que imbuido por algum amuleto da sorte que o faça se sentir leve e pesado ao mesmo tempo,num clima que só ela pode nos mostrar.
Evelin é que era mulher de verdade,gordinha de vestido,cabelos negros encaracolados,olhinhos puxados,satisfazia minhas vontades.Com sua bucetinha peluda,era um espetáculo,quando chegava na biblioteca e ia até a seção de livros do Stephen King,caminhando com aquele jeito de gata,observando.
O clima era sufocante.O ambiente,pesado,contrastava com o excelente repertório de livros que tinhamos a nossa disposição,com precisão,lia um deles,estático,estourando de puro extase como se a tarde fosse uma criança.Eu vou atrás,de calça jeans e camisa social,o cabelo esvoaçante,a barba feita o rosto liso,o sapato com o calcanhar de couro,e sumo na fileira de livros que ela entrou.Mas paro,estupefato,ao ver que Evelin sumiu,no meio das prateleiras.
Situação descabida,acontecimento recente mas antigo ao mesmo tempo,uma estória que um dia alguém escreveu,um clássico da literatura underground,vejo que essa vida esbarra na metade podre da maçã quando descubro que meu sonho desapareceu e que nada mais resta.É como se algo estivesse acontecendo.Mas ela está lá,e a vejo,me chamando.

Não,o sonho não acabou,vou e a sigo até chegar nela,que me chama com o dedo.
E eis que acontece,eu passo através dela sem a tocar,esbarrando num canto da parede da biblioteca.
Mas aí é que está,vou ou não vou,entro ou não entro,saio ou não saio,mas parece que é reciproco,ela também não me toca,se sentindo frustrada e diz que não gostou.Queria me sentir,me tocar,ter prazer comigo.E eis que descubro,Evelin somos apenas fantasmas.
É sempre bom recomeçar.Ter sempre aquele sinal para reacordarmos e seguirmos em frente ou a coisa pode ficar preta.Me sentia confuso então,e sem noção,e isso fez-me desaparecer da face da terra de vergonha de ter sido um adolescente relapso e perdido.
Mas agora era tarde demais,e só queria curtir.Ela para olha para mim com aquele olhar,pega um livro na mão e o abre fazendo de conta que o lê.Está de saco cheio inclusive.
Vivi como um zumbi até os 33 anos quando começaram as crises de tremedeira,e isso me deixava de cabelo em pé.Só queria me reanimar,sair daquele estresse que tinha em minha vida,e ir para o centro tinha me feito bem.O festim na biblioteca estava apenas começando.
Continuei lendo o livro,mas desta vez após ir para a sala de leitura e me sentar num banco.
Evelin sumiu em pleno ar,após virar fumaça,peguei um livro do Stephen King e fui ler na sala de leitura.Mas sabia que ela estava lá,que seu fantasma estava lá,e que só eu podia vê-lo.
Ela foi tudo o que tive durante um tempo.O musgo do matinho do canto da estrada dizia que nós haviamos nascido um para o outro e que eu iria me casar com ela,ia ter um filho com ela,namoramos agora sim,na escola e ela costumava conversar muito comigo.Fazia planos,descabidos,falava sobre sua mãe e de como ela queria me conhecer.Quase a conheci de perto uma vez no terminal do Costeira,quando morava lá com minha família.
Eu a queria e sabia que ela também me queria.Eu queria beijar seu narizinho,mas tudo teve fim um dia quando ela apareceu do lado de um negão e falando que não gostava mais de mim.
Para você ver como as coisas ficaram loucas.
Cuidado para não se perder,isso pode trazer maus espíritos mas desabafar depois é necessário.Quando tudo mais já não importa,tudo o que importa é ficar escrevendo estas bobagens e sentimentalidades sem que o tempo passe ou que você o veja passando.Na verdade é melhor desabafar e por para fora seus sentimentos mais profundos e intimos do que ficar segurando e alimentando esse monstro que existe em sua mente e que está prestes a pegá-lo.Porque ele está apenas lá em sua mente e não no ar como muitos dizem.Não acredito em espíritos mas em mentes e se existe transmissão de pensamento ou se alguém é capaz de comandar o outro através de pensamento daí sim eu ficaria assustado pois sua mente é um computador a ser programado apenas isso,não existe essa coisa de espírito e me nego a acreditar nessas bobagens.
O que existe é o bom underground e isso ninguém pode negar.
Mas o que me acomete que me faz sentir esse estranho mal-estar?Talvez o sentido oculto das coisas ou o medo puro de aprender coisas que o façam mal,ou de que há uma ordem para tudo e que essa ordem esteja contra você.Já cheguei á passar por isso tudo e posso dizer é desagradável.
Mas mais desagradável é o ataque do nosso subconsciente que quando surge surge para ferrar.
Eu não quero sentir isso,eu quero namorar uma japonesa de jaqueta jeans ,eu queria namorar a Evelin,antes dela dizer que não gostava mais de mim.Agora que não gosta,quero namorar a japonesa de jaqueta jeans.Mas ela também se foi e agora não quero namorar mais ninguém,depois de tantas namoradas que já tive.Cansou e nem tudo é namorar.Coisas importantes também.
Mas muitas vezes as coisas podem ficar assustadoras e tudo o que você quer fazer é brincar.
Aonde eu estava com a cabeça meu Deus que eu queria vir aqui?Eu preferia e deveria estar em minha cama agora,enrolado num cobertor bem quente,tentando dormir enquanto a noite vem chegando e nos envolve com seu manto sagrado e nos acolhe para que digamos sim ao underground e desabafemos com quem quer que seja seus medos mais profundos e seus segredos mais intimos,que devem estar guardados lá já á algum tempo para você parar e me olhar com esta cara.Esta cara deslavada e me dizer,ok eu sei o que você está passando eu entendo você.
George é assim.Ele sempre é quem me escuta quando estou mal e muitas vezes chorei em sua presença,falando de coisas que me assustavam.Sei que homem não chora,mas esses sonhos são de amargar eu posso afirmar com toda a certeza de minha alma.Os sonhos dos quais me refiro aqui são talvez a pior coisa que um ser humano pode passar em matéria de sofrimento em sua vida ou na vida de qualquer um que possa parar e dizer o que é sofrer nessa vida.É péssimo,é um martírio no qual você se afunda e não consegue sair dele,nem com a ajuda de um bom psicologo pois aquilo fica incrustado em você,e nem toda a sacanagem do mundo pode ou é capaz de faze-lo parar dar risada e se divertir um pouco pois é péssimo,é extremamente extenuante.

Por isso digo,cuide-se pois o sofrimento está aí e prestes a encarcerá-lo,carcome-lo vivo enquanto você puder dizer que é alguém nessa vida,pois á partir de um tempo tudo fica tão ruim que você se vẽ encurralado e acaba desistindo de muita coisa em sua vida.Eu desisti por ter medo mesmo.Parei de trabalhar por achar que era mais facil ficar com minha família do que arrumar um emprego.Mas então vieram as tremedeiras e tudo piorou.Agora acumulo um problema que vai além do imaginado e só anseio por desabafar e curtir um pouco do que pode vir a ser esse tal de underground.
Escrever tornou-se minha valvula de escape.Agora escrevo para desabafar.
Agora chove lá fora.Agora é melhor ir dormir.
Acordo para sair para fazer compras com George.Estamos precisando de algumas coisas e temos algum dinheiro.A rua parece fria como a Sibéria,o chão desagradável,o cachorro deixa-nos um presentinho,um montinho de fezes que observo enojado.
Mas agora era tempo de pensar,de matutar sobre o que ocorrera até aqui para o bem de minha carreira como escritor.Para começar,para que sai tanto?Por que não permaneci em casa dormindo ao invés de ficar saindo e saindo e apenas piorando minha situação mental,com tantos acontecimentos?
Tudo isso são coisas que fizeram parte de minha vida nos ultimos tempos e que mexeram com minha mente.Parecia que minha vida havia entrado num turbilhão e que eu não ia mais conseguir sair dele tão cedo.Afinal para que isso tudo?Será que eu tinha tanta culpa assim que deveria me ocupar apenas com pesadelos?Ou será que minha vida havia se transformado num filme de terror?Acho que isso seria mais plausível,mais fácil de se explicar.Mas afinal,eu merecia aquilo?
Não,ninguém merece.Mas se fossemos ver tudo de ruim que já aconteceu até aqui,teceriamos uma teia enorme.É um mundo cão,é uma vida cruel e vocês sabem disso.Por isso é melhor se acostumar e por para fora seus piores pesadelos.Eu punha,escrevendo.E resolvia,como pudera ver na noite anterior quando conversara com George sobre minha carreira de escritor.Mas faltava desnovelar os acontecimentos melhor e chegar ao amago dos fatos.
Em minha mente,faziam aquilo para me prejudicar,mas quem?Ficava a pergunta.Não havia ninguém na casa além de mim e minha família,ou seria alguma obra de macumba?Talvez.
Mas tudo o que importava era que aquilo tinha passado e eu tinha simplesmente que tirar aquilo da cabeça.chega,vou passar a descansar mais,ficar matutando mais nas coisas e ensinar minha família a arte da conversação,se bem que até eu estou aprendendo isso ainda.As vezes acho que sou um estupido que não consigo falar nas coisas que me interessam mas isso não é bom.Isso é algo que só vem a piorar minha situação e isso é algo que não queremos.
Mas o que importava era que agora estava conseguindo parar e observar minha vida de novo.E isso era bom.Como antes como nos velhos tempos,mas era perigoso pois eu sentia uma sensação desagradável em pensar no assunto e não queria nem saber.Ia continuar matutando até chegar á uma solução.Minha doença não tinha cura,isso eu teria que me acostumar e lutar para continuar vivendo,
mesmo com sua presença,isso não tinha dúvidas,conseguir dinheiro ia ser difícil,uma vez que seria arduo vender contos para alguma revista.Eles não estavam respondendo nem o primeiro.Talvez se eu mandasse mais e-mails,mas isso era algo que eu tinha que resolver não podia deixar minha carreira de escritor passar em branco.Isso eu já estava resolvendo,primeiramente essas eram as questões que me afetavam no momento.O resto era o resto.O resto era algo que eu teria de resolver com o tempo.Mas havia mais perguntas que me assolavam,como viver a vida?Como resolver os problemas?E essas eram perguntas um pouco mais difíceis de responder do que estas.Só o que sabia era que nascera em 1982,e que agora estava na idade de resolver seus problemas,mesmo que em família.Não,os contos seriam vendidos eu sabia que algum dia seriam vendidos!E seriam logo!
Quanto á minha vida havia pouco a se fazer,senão ficar deitado aqui sonhando em ser um escritor.
Não tinha dinheiro para sair todo dia,ir na biblioteca ler Stephen King,quem sabe namorar em algum canto,ir em alguma lanchonete fazer um lanche bem gostoso.Não havia possibilidade de se fazer isso todo dia,por isso devia aproveitar as raras oportunidades em que podia sair mas dormir num canto ou ficar matutando também era agradável.Mas não era tudo.
No farol não havia nada de importante,senão livros chatos e pessoas acessando os computadores,por isso eu podia esquecer.Jamais ia entrar uma Evelin no farol e consultar o doutor Google.Jamais.
Ainda por cima meu medo de errar era contundente e me assolava á todo momento,Eu devia acabar com aquilo e era escrevendo.Agora eu seria um escritor.Eu devia agir como tal,me sentir como tal,e não ficar com medo e assustado como um frangote maricas,eu devia me mexer!
Mas ficar dormindo e matutando era a opção mais agradável á se escolher naquele momento.E foi a que eu escolhi.

Não acredito no demônio assim como em qualquer espécie de espírito.São mentiras que são postas em nossas mente para explicar coisas fúteis como o mal e outras inutilidades.O mal está na cabeça do ser humano assim como o demônio e outros espíritos.Assistimos um filme de terror e em certo trecho de nossas vidas ele vem a aparecer.Pois eu não acredito nestas coisas e digo mais,são fruto de nossa imaginação,delirios e subconsciente.Só acredito na mente e em suas delirantes possibilidades.É muito fácil ser pego por nosso subconsciente,ele está de vez em quando senão sempre presente apenas esperando para nos atacar com seus delirios e coisas sem utilidade senão para nos causar mal e sofrimento.O corpo é neutro e não segura nenhum espírito,apenas se move e vive,existindo em nosso todo.Não acredito que um espírito possa vir e dominá-lo causando alguma coisa ou algum mal.Repito,o mal vem de nossas mentes e está nelas.Não existem espíritos.Apenas o ar puro onde eles dizem estarem,mas eles não existem e nenhuma nuvem pode trazer espíritos ou pensamentos,eu repito,eles estão em nossas mentes e são criados por um desvio,um erro em alguma parte de nosso pensamento.As vezes por doenças,onde nossa mente fantasia coisas para explicar o mal que sofremos ou que estamos passando.
Por exemplo,sempre que tenho alucinações,elas se transformam em estórias que divagam e vão longe explicando coisas que simplesmente não existem.Talvez minha imaginação tomando conta da situação,coisa que só vem a trazer mais delírio.Sempre que a crise da doença passa,as estórias acabam,mas aí é tarde,já fomos longe demais.Acredito no subconsciente,e no fato de nossa mente fantasiar sobre nossas doenças para contar estórias para ilustrar de forma que não deveria ser penosa mas é,de uma forma assustadora uma crise que está se dando com nosso organismo.Mas é apenas nosso organismo e as estórias vem de nossa imaginação,que as vezes pode ser fertil demais e gerar coisas desagradáveis.
As minhas crises da doença quando se dão,se dão de forma que ilustram com estórias uma dor que está se dando em meu cérebro mas minha mente não pode compreender.Por isso cria estórias.E uma das estórias são as nuvens ruins,uma lenda de que maus pensamentos vem com nuvens espirituais que vem de um lado para outro na Terra e isso é errôneo.Não existem tais nuvens e eu já sei disso,mas durante minhas estórias já foi tão real que pensei que iria enlouquecer.Simplesmente porque é a palavra e a palavra descreve tudo,assim sendo a própria palavra é inexoravel para minha mente e tudo o que faz sentido naquele instante é a estória que está sendo contada.Pois são apenas estórias criadas por nossa imaginação,como os contos que escrevo,alguns baseados em fatos reais,alguns não,mas ainda assim apenas estórias,criadas para divertir-nos.Pois essas estórias não divertem mas fazem sofrer enquanto estão sendo contadas são as chamadas estórias de terror.Que são de terror,que causam terror e assustam.

A noite é meu principal passatempo,mas não acredito em fantasmas.
E fico assim,pensando na noite,absorvendo-a,tendo essas fantasias que vão alem de minha compreensão,Evelin,meu antigo amor,guria que gostei durante certo tempo,eu a imagino em meus braços,dormindo enquanto pensamos no que vamos fazer amanhã,no que vamos fazer para comer hoje á noite,esta noite mortal de vampiros que não me afetam,mas que gosto de escrever a respeito.
E assim vou levando a vida,degustando a noite como se ela fosse uma garrafa de vinho,curtindo fantasias como se essa vida fosse nada mais do que uma brincadeira.
Penso na noite e em como ela me anima,me inspira a escrever estas palavras que vão surgindo em minha mente e eu vou simplesmente registrando nestes anais do inferno,nesses escritos inocentes,que vão sendo escritos de maneira direta e precisa,como se a noite não fosse nada mais do que algo a ser aproveitado,um sanduiche,uma torta de frango,um copo de suco,de café expresso quente com leite.

Eles plantaram o milharal ali na esquina,eles estão querendo transformar isso aqui numa Blumenau,mesmo que de a impressão de que eles saibam do que estou pensando mas ao mesmo tempo não,mas não,é demais devem estar tentando fazer algo com a região,criar um clima,como se querendo transformar a rua numa rua Gustavo Mayer,numa loucura onde a casa do Dai,onde havia o milharal é a base para um trecho dessa mesma rua,como se querendo fazer uma espécie de maquete para que nós os bonecos vivamos melhor ou de acordo com o que se vivia em Blumenau.Nossa,estou delirando,mas é tudo o que posso dizer do que penso a respeito dessa rua,uma rua suja,vazia e podre,pútrida,a rua Dois vizinhos,onde ninguém conversa,só vive uma vida que só faz sentido para cada um mas que nada significa no seu conjunto,talvez a vida que eu queira mas não é nada disso que eu quero,eu queria viver como em Blumenau onde era tudo perto uma coisa da outra e tudo fazia mais sentido se é que eu sabia o que fazia sentido então,apenas uma criança.
É como se numa fantasia de minha mente eu soubesse o que pensam esses homens que plantaram o milharal e posso ver eles indo embora,em minha mente,espero que vão mesmo,já estão se tornando desagradáveis.Agora me sinto desagradável,mal como se algo estivesse me deixando cansado e sufocado

com os acontecimentos,sempre algo para comprar ou dinheiro para gastar ou receber.Cartão débito,dinheiro vivo,que não sei daonde surge,estou farto disso.Talvez seja demais mas gostaria de saber daonde o dinheiro surge,eu sei claro do dinheiro da aposentadoria de George e da mãe,mas isso já está começandop a ficar desagradável.É melhor esquecer e viver em família,sem saber de onde vem o dinheiro pois eu poderia nem querer saber.É isso o que estou passando aqui nessa casa,em minha vida e isso tudo não passa de uma história de ficção mas de verdade e romanceada ao mesmo tempo.Uma estória maluca que um dia alguém contou como que sufocado,se sentindo mal.As vezes acho que essa vida de escritor não vai dar pé e esqueço tudo,me abandono em pensamentos de underground sonho em publicar uma revista de literatura e vender por conta própria coisas do genero,mas não é bom,mas posso dizer que minha carreira não tem futuro.Talvez não seja apenas mais um fracassado perdido na cidade,escrevendo esta ficção barata,como um possesso,martelando essa máquina de escrever que é essa parafernalha ,como que aguardando por alguma fama,hah,não vou ter nenhuma.Deveria desistir e ir ajudar minha mãe,fazer algo útil e é isso o que faço,isso o que sempre fiz,até aqui.Já estou farto de ser um escritor que se saiu por doente num jornaleco de bosta,droga tambem.Que matéria estranha aquela.Esperava nunca ter saido em matéria nenhuma,só fui humilhado,George falou em ganhar verdinhas quando a matéria saiu,mas até agora não vi a cor do dinheiro.Ser escritor é difícil quando não se tem editora e isso eu posso garantir,droga,também.Talvez se eu parasse de me cansar á toa e fosse descansar,dormir um pouco,está frio e eu não quero fazer mais nada.
Enfim,Evelin ficou em minha mente,e a lembro num devaneio sobre meu passeio na biblioteca e escrevo sobre o que passei depois de vir da mesma.Talvez tudo tenha se dado depois que a conheci,minha única namorada,que encontrei num colégio maldito.Agora chega,pois estou farto de escrever sobre namoradas e estas coisas que não estou nem um pouco á fim de escrever.
Eu gosto de mim mesmo.Gosto de minha sobrancelha,de como meu rosto é comprido,de minhas diferentes imagens no espelho,gosto inclusive do modo como minha maxila é levemente torta para a frente,tudo isso junto me faz uma criatura da qual gosto e não faço distinção nenhuma.Mas parece que estou virando uma máquina.Minha vida já não tem graça,não saio mais como saia antigamente,e meus amigos se foram.Juliano,ao menos,meu único grande amigo do passado.Ele se foi assim como tudo que é bom em minha vida,agora batuco essa máquina de escrever que faz um barulho samongo e idiota quando a digito,e costumo passar os dias dormindo no quarto onde costumava passar mal no passado.Esse passado passou,um passado de fantasmas que me leva a crer que já estive no inferno e voltei.São essas crises existenciais que me levam a escrever,aguardando o momento em que minha vida possa vir a tomar um rumo melhor.
Mas é essa frustração que me acomete,e que não me deixa dormir,fazendo me sofrer o dia inteiro e fazendo com que o único momento agradável de minha vida sejam as noites que passo dormindo,ou as vezes acordado,na cama,pensando em coisas agradáveis ou sonhando com a melhor parte de minha vida,que deve existir,é impossível,ela não pode estar tão escondida assim dentro de mim que seja impossível de encontrá-la.Tem que haver um modo de atingir essa parte escondida e oculta dentro de minha mente dentro de meu ser que me faça me sentir bem pelo menos um pouco,pelo menos por um momento de minha vida extasiante e desagradável.
Hoje me senti bem comendo pão com maionese,mas a maionese não era da marca Hellmans e o pão não era aquele pão de fatia macia e larga que mamãe costumava fazer no passado.As vezes me pergunto por que as pessoas sofrem tanto tentando procurar insistentemente por aquele sentido em suas vidas que simplesmente não há a necessidade de existir,digo,o sentido há,mas não há é a necessidade de tantas palavras e já estou tão aflito e mal que estou começando a sentir a existencia de um ridículo complô contra mim,complô esse que acho eu e tenho quase certeza nunca existiu.
Não é complô nenhum sou eu mesmo que estou mal e colocando a culpa nos outros.
Os outros?Eu não estou nem aí para os outros senão para minha família.Quero dizer tenho um total respeito pelo ser humano mas não acredito que haja ninguém por ai com personalidade tão pura ou marcante que possa ter como amigo e considerar como pessoa.São todos dejavu.Para mim são tudo o que são e o que me causam.Mas fico por aqui mesmo nesta noite de terror,esperando que o clima mude enquanto vejo mais um dia se esvair na ampulheta do tempo.
Quem sabe chova á noite e amanhã ninguém se acorde com vontade de encontrar ninguém que não seja conhecido,quem sabe tudo recomece melhor um dia para nós,e saiamos desse pantano de indiferença e mediocridade em que nos encontramos submersos,como palhaços assassinos que fazem grandes filmes de terror e meninos que ganhem máquinas de escrever e comecem na arte de decifrar e criar palavras como eu comecei.Quem sabe carros ganhem vida,cães sejam possuídos e criaturas sobrevivam dentro de forros controlando as mentes daqueles que moram nas casas.Quem sabe tudo se misture e dê um grande espetáculo onde a farra é o que conta,e o terror faça sucesso ao inves de toda essa frustração…

Agora nada é como eu quero,agora a casa não é de madeira,agora pensamentos vagam por minha mente e me traem como se soltos por minha imaginação,se é que ainda tenho uma.Agora me sinto mal e penando num mundo de indiferença que chega as raias do inimaginável.
Talvez se eu fizesse alguma loucura ,para o bem.Se desse uma viajada,enchesse a cara de alguma coisa que me fizesse me sentir realmente de bem com a vida,se mudasse de alguma forma.Mas parece que estão todos desconfiados e a desconfiança é tão grande que resolvi largar todo mundo e viajar num mundo só meu.O mundo da família,o mundo do meu povo.
Talvez se…
Não sei o que fazer.Parece que agora abri uma cova que apenas o Mal em pessoa pode fechar,e eles estão me chamando,para desistir,para voltar a ser aquele James de antes,perdido em divagações mas será que é só isso?Será que é para isso que nasci?Para viver perdido e relapso?Para desistir de tudo?
Mas desistir de que,James?Essa é a grande pergunta.
Talvez seja só impressão,talvez seja apenas um pesadelo no qual me afundei,apenas por querer saber da verdade,talvez seja apenas…
Frustração.

VISITA A CASA DA VÓ MARIA
Blumenau 1989

Mama George e eu iamos subindo a rua da casa da vó Maria.Era a casa em que morava a tia Ilze junto.A cada passo ia ficando para tras a lembrança de uma época distante que se foi,o tempo da discoteca,quando as coisas não tinham chegado ao que chegaram atualmente neste mundo desagradável e hostil.A cada passo ficavam para trás os anos oitenta,e a promessa de um mundo melhor para todos,de festa e carnaval,do cruzeiro e dos filmes de terror que eu tanto gostava de assistir lá em casa a noite,com a família,na sala do casarão,onde moramos na rua Gustavo Mayer.A cada passo,ficava para trás a história da família que ia sendo esquecida com o passar dos anos assim como tudo chegou a um fim derradeiro quando George ficou doente de vez e se aposentou,Sandro foi embora morar sozinho,e a família acabou,mas não podia,a família simplesmente não podia chegar a um fim dessa maneira,e não chegaria,a cada passo não não,não quero nem lembrar o que aconteceu depois,quando eu me alienei e cai numa existencia relapsa mas eu não tinha culpa,eu nem mesmo sabia o que viria pela frente,eu nem desconfiava que um dia iria me perder no tempo e espaço e cometer tais estupidezas,quando briguei com meus irmãos.A cada passo que davamos meu coração se partia como que sabendo do fim derradeiro mas esse não podia ser o fim,apenas não podia ser o fim.A cada passo que davamos subiamos mais em direção a casa da vó Maria,onde comeriamos e beberiamos e conversariamos com ela mesma,Maria Schiphorst,a mãe de minha mãe.
E lá estava ela esperando na porta.
-Oi,Neca,oi George,vamos tragam o James,eu acabei de fazer pão!
Logo,Mama adentrou a entrada de concreto da casa da vó Maria nos anos oitenta,uma construção humilde mas acolhedora,que ela mantinha sozinha,com o dinheiro do falecido marido o vô Leonardo.Dali a pouco comeriam pão com café e logo tudo estaria bem.A vó contaria as últimas novidades que vira na televisão e no mercado Muller onde havia ido fazer compra.Aquele era um mercado que ela gostava de ir fazer compras pois achava acolhedor e bom e o preço dos produtos era razoavel,ao inves do Nelson Krueger,mais para cima na rua Rui Barbosa.
Como era muito novo,não queria conversar com ninguém e estava mais interessado em explorar os barrancos da vizinhança por isso fiquei do lado de fora jogando pedras do morro abaixo,ao invés de entrar na casa da vó Maria e conversar,as vezes me arrependo de não ter entrado e conversado mas era assim que era.As vezes sinto falta de participar da família mais,uma vez que sempre quis ir alem e fazer minhas coisas mas hoje sinto falta dos outros e isso é evidente no jeito copmo ajo,sempre a procura de alguém para conversar,quando posso.
-O George ainda está trabalhando na Jota? - perguntou vovó,pegando o bule de café ainda quente.
-Sim,ele vai receber agora final do mês. - respondeu mamãe.
-É,mas eu estava pensando em sair da Jota,vó.Ganha muito pouco.E eu estava pensando em ir morar com a mãe em Curitiba.
-É,essa é uma idéia que também já me passou pela cabeça. - disse vovó. - Que vocês podiam muito bem se mudar lá da Gustavo Mayer.
-É nos estamos com essa idéia na cabeça,é só o Jamie terminar de estudar na quarta s[érie,que a gente se arranca para Curitiba.

Agora vovó pegava o pão e colocava sobre a mesa,embrulhado num pano colorido que ela guardava e que havia comprado há muito tempo,ainda lá no morro dso Hadlich.Vovó guardava muitas coisas do passado inclusive roupas do tempo em que o vô Leonardo se suicidou na casa da rua Rui Barbosa.Fora um tempo difícil,com a morte do vô Leonardo tudo mudara para a vó Maria.Ela arrumara tudo e deixara de ser aquela velhinha calma para ser mais bondosa e triste.Mas mesmo assim continuava simpática e acolhedora com o coração grande e bondoso como sempre.
Agora pegava a grande faca de cortar e pão e fatiava o pão para servir para as visitas sua filha Bernadete e seu neto George Hilton Malheiros.Os anos oitenta estavam no seu fim,era o ano de 1989,e tudo ia indo como sempre para os Malheiros,os filhos trabalhavam,a mãe trabalhava o filho mais novo estudava,e é com lágrimas nos olhos hoje que me recordo daquele tempo,mão sei bem se a data procede mas foram tempos gloriosos para a família,quando a geração de filhos começava a ser criada.Quando começavam a trabalhar e a terem suas vidas como pessoas como gente.
Foi quando George e Sandro começaram a trabalhar quando eu comecei a estudar,aqueles foram realmente tempos gloriosos para a família,não só como pessoas mas tambem como indivíduos.
Na televisão,enquanto escrevo estas linhas começa a tocar a canção “Fernando” do grupo norte-americano ABBA.E eu me emociono lembrando a conversa com a vó Maria e suas maravilhas culinárias e da casa.E a música vai tocando e se arrastando quebrando meu coração,e o fazendo em pedaços,e me lembro daqueles dias de sol como uma coisa brilhante na história de minha vida.
Talvez o melhor do que aconteceu em toda a minha vida.Aquele tempo,aqueles anos,para todos.
-E tu vê que é o apice da vida da Tata,em Curitiba.Assim como lá é bom de conseguir emprego pros teus filhos.Lá tem mais chance de subir na vida.
-É eu já tinha visto isso.Quem sabe se tudo der certo um dia a gente se muda pra lá. - respondeu minha mãe,sorrindo enquanto pegava a colher do açúcar para adoçar o café.
--E como vai o Serafim? - inquire a vó Maria.
Lá fora,os pássaros passam em revoada.Um ônibus passa na rua deserta lá embaixo na rua Rui Barbosa,rumo ao centro.
-Vai bem,está trabalhando,como sempre. - diz mamãe,cortando o pão,uma fatia para ela e uma para George...ela serve.George só olhava,com a xícara de café a sua frente,sem falar nada.
-A vó não se incomoda,está bem vó? - exclama George,sério,mas descontraído ao mesmo tempo.
O clima seco do dia agora ia dando lugar á tarde que também ia se indo,como numa parte perdida do dia,onde nada tem muita importância.
A conversa se vai tarde afora.
-E a Naide,ainda está lá em Indaial? - mamãe pergunta sorvendo um gole de café.
Depois morde um pedaço do pão e o mastiga,comendo-o.
-Essa vai morar para sempre naquele fim de mundo.Não tem jeito. - diz vovó Maria,comendo olhando para mamãe.George pega na xícara e sorve um gole de café preto doce.Depois se levanta e vai até a janela,ver onde estou,se fui longe.Não come pão,só bebe café.
-Não vai se sentar,George? - pergunta mamãe.George responde que não e observa a rua lá fora pela janela,a mão na cortina.
Eu brinco no barranco tentando escalá-lo,a única coisa que tive em mente de fazer,naquela tarde de calor na cidade de Blumenau.Na verdade era tudo o que eu queria fazer,não queria conversar e sinto muito por ter feito isso naquela época de ter sido tão relapso mas estava vivendo um sonho então e nem reparei no que estava fazendo.Hoje em dia uma embolação no estômago me acomete,só de pensar em tudo o que estou perdendo aqui,sem conversar com minha família,mas preciso escrever esse conto,e terminá-lo,ou minha carreira de escritor vai pelo buraco.
Pesadelos na noite,coisas que nem quero contar aqui,mas sei que havia algo de errado depois daquela conversa e durante ela,eu sabia que havia um fim para aquilo tudo e não seria um final feliz.Vovó Maria parecia passar algo que me deixava preocupado mesmo tendo só sete anos,e sendo apenas um garoto mas começava a pairar no ar o boato de que a vó Maria estava começando a desenvolver cancer,infelizmente.Estava posto no ar o rumor de algo triste que fazia menção ao fim de um sonho para a família,não só para os Schiphorst que perderam seu Leonardo para o suicídio,depois de também ter passado por um doloroso cancer,mas agora tambem a vó Maria começava a espraiar ao redor que possuia a mesma doença do marido,que agora descansava a sete palmos de profundidade.Ninguém falou nada aquele dia,conversamos e fomos para casa,mas sabia que havia algo no ar.
E a noticia veio anos depois seguida de um doloroso tratamento que despedaçou a vida de vó Maria.
Mas ninguém tem culpa,mesmo assim sinto muito por isso.
E os anos se passaram.
E eu corri pela casa de madeira da família como nunca correra.A estante esteve cheia de gibis e livros que lia todo dia,num ritmo frenético e louco onde tudo o que eu queria fazer era me divertir.
Eu vivi um sonho.Meus irmãos ocupavam a casa,trabalhando e consumindo coisas como cartuchos de videogame e gibis,livros e revistas Seleções do readers digest que liamso aos montes.
O tio Gilberto nos visitou um dia me ensinando a marchar na companhia da vó Dula e do vô Menescal,e o Constantino nos fez uma visita interessante,caçador de diamantes ele era nosso amigo e nos visitou muitas vezes as vezes comendo conosco.A tia Zenaide chegou a morar na rua Gustavo Mayer e mesmo conosco por algum tempo,como foi estranho.Eram bem porquinhos seus filhos.
O cruzeiro foi a moeda corrente e os preços iam lá em cima,era uma economia maluca e de preços fora do controle,que beirava os milhões de cruzeiros por mês.
Jamais vou esquecer aquele dia em que mamãe conversou longamente com vó Maria no dia em que fomos visitá-la em sua casa na rua Rui Barbosa,na casa da tia Ilze,que morava na parte de cima de sua residência.As estórias que foram compartilhadas naquele dia,o fato de George estar apreensivo com vó Maria,talvez num presságio sobre o que viria a acontecer dali para frente talvez pressentindo mesmo sua doença que agora começava a tomar corpo naquela casa em que ela morou praticamente de favor mesmo que tivesse o direito de viver com dignidade uma vez que era a mãe de tia Ilze que pelo que parece não a respeitou em seus ultimos dias de vida,negando inclusive que ela morasse lá,fato que acarretou em sua morte por desgosto na casa da rua Colatina,onde viveu por algum tempo.Essa é a estória de uma das últimas vezes que a vimos tendo ela vindo nos visitar uma vez em Curitiba na casa da rua Padre Dehon,onde fez queijo e cozinhou gostosos pratos num festim de sentimentos que não vou esquecer jamais.
Mas fica o mistério,o que levou Vó Maria a adoecer e contrair aquela doença e ter que passar por toda aquela dolorosa experiencia com seu tratamento tortuoso e seu sofrimento psíquico por causa da doença.Quem sabe algum monstro,que vivesse em uma das casas em que ela estivesse,quem sabe algum espírito que a fez contrair cancer,não se sabe mas só o que se sabe é o que consta,a Vó Maria.A velha Vó Maria,que para sempre foi e para sempre vai ser uma figura importante na vida de uma família que teve a Deus de seu lado e a ajuda de anjos em sua jornada,por uma decada de oitenta turbulenta e tortuosa.com muito trabalho e sofrimento,dor e penumbra em cada uma das casas em que viveram os integrantes de sua família,uma família que vai para sempre ser lembrada por seus integrantes até hoje,boas pessoas e cheias de si,orgulhosas de serem cavalheiros dignos e gentis,uma família feliz.
Adeus Vo Maria,que Deus a tenha.

Não obstante maçantes recordações de aulas passadas em colégios que estudei,minha vida profissional,nada disso tem servido para deslanchar minha mente na criação de alguma grande redação ou algo que o valha.Minha vida tem sido chata e aborrecedora desde que vim morar aqui e antes.Já me recordo das terríveis crises de chateação que passava em casa na companhia de meu irmão e minha mãe,na casa anterior em que estivemos,a vida aqui nesse Sul tem sido pior do que um espaguete italiano,uma novela mexicana ou coisa parecida.Acordar lavar louça,ir fazer alguma compra,almoçar dormir e tomar o café da tarde,então dormir mais um pouco,jantar e ir dormir.Creio que falta-nos livros,falta-nos experiências.Sair de ônibus é uma,mas mamãe não pode por o pé num deles e George é doente demais para passear por aí,então só saio para passear quando resta dinheiro e vou até a biblioteca no centro ler a obra de Stephen King,coisa que já teve salvo a patria por algum tempo,mas não muito.Só resta dinheiro de vez em quando e quando resta é contado,não dá para fazer nem um lanche.Eu queria encher a cara de algum líquido bebível e gostoso.Eu queria comer bem,poder sair quando quiser,ir aonde quiser.Dentro de um horário claro.Pelo menos de dia,e uma vez por dia, apenas isso.Apenas para poder curtir um pouco essa vida,poder aproveitar um pouco.Mas meus braços doem e algo dentro de mim diz que vai dar tudo errado e que há coisas erradas no ar.Alguma coisa está errada,algo está fora do certo,do normal e eu sinto isso.Mas não sei o que é.Eu queria poder ver alguma coisa e está difícil,beber alguma coisa e está difícil,passear pela cidade e está difícil.Está tudo difícil,e eu não gosto disso.Algo me chateia e me deixa mal, estupefato.Agora me vejo mendigando a publicação de um conto numa revista de propaganda de escritores de graça,e que só sai na Internet.Sem edição impressa.Bem,espero que corra tudo bem,mas não é bem o que eu esperava para minha carreira de escritor.Eu esperava mais,alguma grande edição,alguma grande jogada,mas não aqui estamos,estagnados.Creio que vou voltar para a copiadora Nicarágua que pega escritores independentes,pelo menos lá eu publico alguma coisa,se é que aquilo ainda existe.Droga,mas retornar a estaca zero?Não,James,tente outra coisa,por favor,senão sua carreira vai para o brejo...Fazer os roteiros,não deu,não funcionou,eles devolveram com uma negativa,você tem material,tente de novo.Produza mais material siga produzindo,nem que seja sobre sua vida,como numa
grande crônica,com ficção,vai dar certo.Tudo o que não posso fazer é deixar o sonho morrer,deixar a peteca cair.Faça uma nova tentativa.
Mas tudo parece perdido,desde que a Internet acabou por causa dos vírus que a abocanhavam,desde que nossa vida teve fim.Mas George estava tão animado a alguns dias,mamãe também,tudo parecia estar correndo bem,até acabar nisso,hoje dormimos mais do que vivemos e nada é o mesmo de antigamente,eu precisava mudar,mudei,agora aqui estou mas parece que eles não acreditam mais em mim,disseram que estava tudo bem,que estavam animados agora não mais estão.Droga!Será que tudo tem que terminar assim?Bom acho que é o fim mesmo e vou continuar a dormir como sempre o dia todo,para acordar de noite e dormir ainda mais.
É acho que é o fim.
Vejamos o que vai acontecer nos próximos dias mas creio que nada vai acontecer de extraordinário para mudar minha vida como esperava que acontecesse.Nada mais nos resta senão apodrecer aqui,nesta casa agourenta que só tem nos trazido rumores de males e outras coisas.Vamos ver,se algo acontecer eu estarei aqui para escrever nestas linhas,senão,nem quero mais saber talvez pare de tentar ser escritor e desista para sempre,mas isso é algo difícil de acontecer,creio que nasci para isso e vou levar tudo até o fim,vejamos o que nos reserva estes outros dias…
Mas creio que minha carreira de escritor esteja tão perdida quanto um cego num tiroteio,como dizia meu amigo no passado,mas agora isso é passado,e ele não está mais aqui para me ajudar,agora sou apenas eu e esta máquina de escrever,esta parafernalha velha este computador que creio vai ter seus dias contados se as coisas não mudarem daqui á algum tempo.Mas não,creio que não,creio que continuarei o possuindo e o usando,mas minha carreira,minha carreira está por um fio e creio que vou dar um jeito nela,mas é impossível,não posso fazer nada,estou encurralado,trancado á sete chaves nessa casa e nessa cidade,e creio que nada vai poder acontecer para me ajudar nessa Curitiba de maravilhas que um dia se disse a capital ecológica,mas que hoje mais parece um beco sem saida e controlada por traficantes e outros tipos de mal-feitores,que assolaram-na e a tornaram um lixo.
Mas vamos ver se minha vida muda,se algo acontece.
Ninguém nos ajuda,ninguém…
Mas não desisto,vejo as trinta páginas de um novo romance que estou escrevendo e me animo o bastante para remeter os originais de GRAMPO DO MAL para uma outra editora,através do computador.Eu sei que não há muita coisa boa no material que escrevo aqui,mas já serve para continuar a escrever.Mas falta mais e isso é o que penso nessa nova empreitada para começar a escrever novamente,com novas idéias,não só para o texto como para a vida real também,e assim recomeço a escrever de forma voraz como que recomeçando mais uma vez,ainda no início de um texto que pretendo escrever,uma coletânea de sequências autobiográficas de terror que vou chamar de UMA OUTRA DIMENSÃO,cujo título é baseado num conto que consta em GRAMPO DO MAL ,como um entre os contos que escrevi naquela época,velhos tempos,tempos de terror..Mas agora é que devia estar bom,agora é que tenho noção das coisas,apesar de passar mal uma vez ou outra,mas quem não passa mal de vez em quando?
Um vento gélido sopra lá fora fazendo chacoalhar a cortina da janela do quarto.
George me pergunta se vou querer comer macarrão.
É tempo de recomeçar.
É mais uma sexta-feira lá em casa e eu volto á escrever.Mas eu venho aqui a declarar.Essa casa não é bem o que eu imaginava como casa para se morar.Esse vem aqui a ser o rancho dos Malheiros e tudo mas só na ficção.Porque na verdade é só mais uma casa em que estamos morando por enquanto,enquanto minha carreira não deslancha e eu consigo arranjar dinheiro para comprar uma casa só nossa.Mas sei que isso é difícil.O mercado editorial brasileiro é complicado,e cruel,e não vejo possibilidade de arranjar uma editora que me banque para produzirmos uma verdadeira obra-prima,para que minha conta bancária saia do vermelho,nem tão rápido,nem que demore.Para isso creio que deveria escrever mais,e ter mais material para mostrar,por isso declaro a obra em que estamos,como uma continuação de minha carreira,uma crônica gigante,baseado em fatos reais,auto-biográfica e romanceada.
Vou escrevendo os planos para esta obra enquanto sinto o frio enregelar minhas mãos,e um arrepio de medo percorrer minha espinha.Ouço o cachorro uivar para a lua lá fora. É tempo de mistério na cidade de Curitiba.Cidade maldita,levada pelo crime e pela insegurança,pela sujeira e pelas favelas,no passado tida como a cidade ecológica.É tempo de reconstruir tudo de voltar a crescer de voltar a pensar como se pensava nos bons tempos.Mas não creio que o povo vai tomar jeito.O que creio é que estamos caminhando para um fim trágico,onde tudo será sujeira e desolação,restos e destroços daquilo que um dia foi a civilização.Mas agora deixe para lá,o que podemos fazer?Tudo o que podemos fazer é assistir á chegada de uma nova era um
tempo de desgraça e destruição,onde teremos que nos segurar nas ruinas daquilo que um dia foi o lar da raça humana.
Eu assisto tudo daqui,da minha casa,na companhia de minha família,que agora luta para viver seus últimos dias nessa terra onde lutaram por anos e chegaram á pouca coisa,uma aposentadoria parca mas honrada e uma vida tola,desgostosa,sofrida,onde mamãe e George não podem quase andar,e lutam para passar bem seus últimos dias de vida,George com uma doença e mamãe tolhida pelo sofrimento,que a busca todo dia como que caçando-a,numa vida sem graça e sem cor.Eu,tentando escrever e publicar o que escrevo num mundo bárbaro e em crise.Mas ainda tenho fé em conseguir vender meus escritos e me tornar um grande escritor.Estou novo ainda,trinta e seis anos e sei que posso passar por cima de meus problemas e escrever,coisa que adoro fazer,e publicar meus escritos e vencer na vida.Sonho em ter uma casa e uma conta no banco,e receber dinheiro todo mês pela venda de meus livros,mas para isso terei que lutar para encontrar a editora que me aceite e que aceite meus escritos,e então vencerei.
Mas deixemos de lado estas embromações e partamos para o principal,minha carreira de escritor.
Será que conseguirei publicar o livro com essa editora?Aguardo agora sua resposta,talvez o ponto crucial para minha carreira,talvez não.Será que devo confiar nela?Que nome estranho,o seu.Mas deixemos de lado isso,talvez seja apenas uma marca de fantasia e seja ela a editora de meu livro finalmente.
Também se não conseguir sem ressentimentos,procuro outra mas no momento é a única que estou pondo fé para publicar GRAMPO DO MAL,meu primeiro livro.
Entrementes em sua tumba,o vampiro deixa seus afazeres e se deita em seu caixão,se ajeitando e se cobrindo com a capa e então fechando o caixão para acordar apenas na manhã seguinte.’
Mas isso em outra casa,porque aqui tudo vai bem,e me sinto bem novamente.Pronto para me cobrir com os cobertores que me tampo á noite e dormir no sofá mesmo,como um mero mortal.
Agora é de noite,uma outra noite em que escrevo aqui estas palavras,uma noite fria,de inverno,onde mordisco uma fatia de pão com doce de banana após degustar meu lauto jantar um prato de macarrão com queijo ralado e batata palha,tradição da família nesses dias de frio.George parece satisfeito agora de noite e come,mamãe eu não sei,está na sala e parece pronta para ir dormir.
Mas estou com medo e vou dormir.É melhor,não quero começar a delirar com os fantasmas da noite.
Na manhã seguinte...
Acordo saio para ir dar minha caminhada matinal e volto,para ficar ora escutando música,ora delirando com um pensamento indistinto que varia por coisas diversas que não consigo me lembrar aqui.Um vendedor bate a nossa porta para vender salames e queijos e ficamos com um salame enorme,que comeremos daqui a algum tempo.George e mamãe parecem animados e conversam fervorosamente na cozinha.Penso em lugares aqui perto nas redondezas e nada mais.

A criatura jaz no forro da casa fictícia em minha mente,a casa em que moramos em Blumenau,
as ripas do forro parecem empoeiradas por ela se encontrar abandonada,e parecemos viajar no tempo a alguns anos atrás quando isso era verdade,quando ela realmente se encontrava abandonada.Agora a demoliram e em cima construiram uma outra casa.Mas agora a vejo como se fosse hoje,sua expressão de terror,sua imponência,sua aparência antiga,como se estivesse abandonada a mais tempo do que realmente se encontrava,parecia uma casa de trinta quarenta anos atrás,quando os que nela moraram ainda nem tinham nascido,
A criatura se move em seu ninho como que se preparando para se movimentar para sair e caçar camundongos como sempre costumava fazer.
Mas não permanece ali parada,como que num pensar insano, animalesco, onde ela vive como um animal selvagem apenas controlando a mente dos que nela viveram,onde quer que estejam agora.
O sol da tarde agora brilha,como que brilhando uma vez só na história daquela cidade,como se o tempo fosse parar a qualquer minuto,como se tudo fosse chegar ao seu fim derradeiro.
Mas não chega,o tempo é infinito mas temos que vivê-lo,dormir,acordar e fazer alguma coisa.
Mas,se presos no passado parece algo gostoso que nunca acaba,mas é melhor tomar cuidado com isso pois já fiquei mal com isso,já passei dos limites e isso não é bom.
É preciso acordar as vezes e fazer alguma coisa,aliás acordar sempre e agir,se mexer,dar sinal de vida,afinal estamos vivos e isso é o que importa.
Essa é a mensagem que passa a criatura,se acordar sempre recomeçar,para que tudo se renove,comece novamente,para voltar a acontecer,como vamos dormir e acordamos todo dia,mas temos que fazer isso sempre,sempre dormir e acordar,para que se dê o ciclo,o sistema da vida,

Dentro dela não há ninguém,ela está vazia,como sempre,as cortinas compridas cobrindo um vazio que jaz á muito tempo em minha mente,num ciclo de imaginação que deve se repetir para que o pensamento aconteça e esse ciclo me faz acordar e pensar novamente nas coisas ao redor,na casa em que me encontro agora,no rack,nessa parafernalha na qual escrevo essa crônica,na foto de quando eu era bebê,no livro de Stephen King numa das prateleiras do mesmo rack,nas minhas coisas,os meus documentos, cartas que recebi, textos que imprimi,a revista do Conan já sem capa,o fone de ouvidos conectado ao computador que uso para quando quero ouvir música no mesmo.
Vejo a janela e a cortina,esse quarto que é meu,mas que nem faz diferença,as coisas que existem dentro desta casa,uma casa que nem parece existir para mim,pois não faz sentido,não significa nada para mim,pouca coisa,apenas que é a casa em que estou morando no momento,quem sabe nos mudemos,mas essa não é a vida que quero levar,mas devo dar valor á ela,pois é a única que tenho.
Quem sabe se esquecesse tudo,se pudesse voar para bem longe daqui numa outra dimensão e fazer só as coisas que eu quero,mas eu não posso,pois estou aqui e aqui é minha casa,esta é minha vida.
Mas não é tão ruim assim,estou tentando.E no fundo,bem lá no fundo eu gosto daqui,eu aprecio meu passado e as coisas que tenho a casa em que vivo.Mas não é bem nesta casa que eu queria estar morando agora.
Talvez eu quisesse estar morando na casa fictícia,a casa que imagino em minha mente.Exatamente com os livros que eu queria,com o passado que eu queria,com o aparelho de som que eu queria,e não esse rádio simplório que ganhei de presente do George a algum tempo atrás,afinal não podemos ficar sem escutar música.Talvez eu quisesse voltar no tempo e morar na casa fictícia,a casa em que já moramos,talvez eu nem mesmo quisesse ter saído de lá,talvez eu não tenha gostado de me mudar,mas precisavamos pois faltava emprego em Blumenau e Curitiba era a única opção de moradia para nós.Talvez fosse aqui que quizessemos viver,mas não assim,pelo menos numa casa melhor,mas não temos dinheiro para isso,então moramos aqui mesmo,como estariamos morando na casa de Blumenau,talvez lá estivesse da mesma forma como está aqui hoje em dia,talvez estivessemos levando a mesma vida de sempre,esta vida,uma vida que é pouco para mim.
Mas me acostumo com ficar escutando música…
Talvez seja tudo o que possa passar o dia fazendo nessa minha pobre vida de escritor...

E eu me pego perdido numa quinta-feira,quase ao cair da noite,apenas esperando pelo meu prato de comida que virá a ser minha janta.O frio da noite me deixa perplexo,visto pouca roupa,preciso me levantar ir até o armário e pegar roupa mais quente.George e eu compramos alguns edredons para nós e hoje passaremos uma noite aquecida do distante frio de Curitiba.São noites de névoa que vem e vão mas o importante é que as tarefas ficam,cozinhar,lavar roupas,fazer compras,coisas para lembrar-nos que estamos vivos.mesmo que o monstro do armário nos assombre á noite,como assombrou a garotinha quando esta falou que tinham loucos correndo ao redor da casa.Coisas de sua mente,é engraçado como crianças desta idade já saibam dizer a palavra louco,mas é assim mesmo,talvez o que aprenderam com suas mães que lhes contam estórias de homens fortes que enfrentam as coisas da vida sem medo.Mas é o mesmo que as crianças do colégio que conhecem os loucos,mas vamos esquecer estas passagens de terror e se ater as belezas da vida.As flores do terreno perto do sobrado parecem florescer com mais intensidade nesta época do ano,quando a vida parece fluir por entre nossos dedos como a seiva de uma arvore flui pelo tronco de uma macieira no inverno de Curitiba.Agora as ruas parecem cobertas por um pózinho brilhante que as deixam mais emocionantes.Pegar o ônibus parece mais emocionante do que ficar em casa dormindo e a vida parece mais normal quando se vive a vida.Agora uma brisa fria parece soprar pela janela adentro como que anunciando a chegada de uma outra estação,cheia de sonhos que nos chegam pelo ar e adentram nossas mentes como que atingindo o âmago de nossas almas.Quando o vento frio chega soprando em nossa janela,tudo é névoa,uma névoa que chega vinda do cemitério,e agora os fantasmas parecem ir embora,sem ter aquele charme de causar arrepios nas pessoas em suas casas em noites como essa,quando tudo parece se esvair no limiar de uma nova era,talvez o começo de algo que nos fará felizes,deixando para trás um tempo de terror e mortalidade que tanto nos assombrou nos dias anteriores.É tempo de chacoalhar o pó de nossa cortina,e fechar nossa janela para o frio que vem chegando,enquanto nos aconchegamos no conforto de nossas casas,após mais um dia de movimento e vida.Me encontro desempregado mas creio que vou começar á estudar em julho,no colégio noturno do EJA,ensino para jovens e adultos.Creio que seja uma pessima idéia mas ficar em casa o resto do ano não vai ser uma boa pedida e creio que não vou ter dinheiro sobrando para continuar indo procurar emprego no Sine.Por isso creio que vou estudar um pouco.Talvez faça bem,mesmo que me encontre tão mal-humorado que podia invocar com um estudante e brigar com ele se pudesse as vezes.Talvez estude,talvez trabalhe,talvez faça alguma coisa.O que importa é que preciso sonhar com alguma coisa ter algum divertimento ou vou estourar.Não quero mais ficar em casa,mesmo que passe mal as vezes eu não ligo.Devo
retomar minha vida ou vou parar e me tornar relapso outra vez e isso é algo que não desejo para mim mesmo.Curtir alguma coisa mesmo,algum tipo de música,não sei,algo do gênero,talvez imprimir e vender alguns contos,talvez dormir de tarde no colchão em casa.Fazer algo do tipo.É tempo de inventar história ou as coisas vão voltar á ficar maçantes para mim.É tempo de aprontar.É tempo de pensar sériamente sobre minha carreira de escritor,que aqui só tem valor para minha mãe e meu irmão George.Talvez devesse pensar mais no que escrever,talvez escrever alguma coisa diferente,que agrade as pessoas,e não terror,talvez poesia,coisa que ficaria tão melhor do que qualquer outra coisa aqui no caso.Seria algo para me ocupar e poderia render belos poemas.
Degusto minha janta com uma fome fenomenal e acabo de comer,levando o prato para a cozinha,onde ponho para lavar.Posso sentir a magia no ar,é tempo de mudar,de escrever alguma outra coisa,e minha mente já começa a se sentir bem de novo,mas escrever é sempre um desafio,e há uma coisa que quero dizer aqui sobre minha carreira.Só escrevo para me sentir bem,estava escrevendo pois o clima era de luta e vida,perseverança e tarefas á serem desempenhadas,agora é só continuar,apenas seguir em frente.E é isso mesmo que vou fazer.Só tenho medo que algo aconteça mas acho que sei exatamente como evitar isso.Fazendo tudo certo e evitando aquela sociedade monstruosa talvez.Porque aquilo,é demais para se suportar.
Aquilo é insustentável.
Talvez estudar á noite seja algo agradável de se fazer.Vou tentar.Enquanto isso permaneço aqui tentando lidar com esses fantasmas que meu pai me deixou,problemas para resolver,enigmas.
Não tenho nada mais em minha mente e isso é agradável.Só isso já me deixa mais tranquilo,quanto á minha saúde.Agora é só experimentar e seguir em frente.Vamos ver.

Três horas da manhã,de uma quarta-feira.Me acordo sob o raiar da madrugada,indignado,jogando o cobertor para fora da cama de raiva e me levanto para vir escrever.Me sinto como uma mulher!Maldição!Mesmo depois de ter passado por uma crise da doença ainda ontem,ora veja,se não é pouca a luta de um homem para se manter são e escritor.Porque sou escritor!E sou homem!E me vem com esta?Já não bastasse essa,ainda sou obrigado a ouvir a voz dos loucos na rua a proferir impropérios contra minha pessoa!Quem pensam que sou?Mas me sinto melhor.É isso mesmo,me sinto como uma melhor coisa.Quem sabe meu pai se estivesse vivo,não estaria escrevendo e publicando livros,ao invés de ouvir os impropérios desses loucos.Eu não sou assim,afinal de contas.
Mas me sinto uma melhor coisa,e escrevendo.
Agora,lendo James Joyce,talvez o escritor que vá guiar meus passos por um bom tempo.Talvez devesse escrever sobre a cidade,sobre os anos 2018,2019,2020.Sobre os homens e mulheres de meu tempo,desta cidade,desse bairro,sobre as coisas que realmente existam,como algo histórico e não teatral como meus primeiros contos,narrativas auto-biográficas estilizadas em forma de ficção.Talvez devesse partir para a fofoca mesmo.Talvez.
Mas só sei que ainda posso me lembrar do dia de ontem até as três horas,quando me senti como um homem,bem vestido,trabalhando em meus escritos.Cheguei a fazer compras no mercado para minha mãe!Cheguei a ir no farol consultar o doutor Google,para ver quando meu conto será publicado.Pois bem,será na edição 10 ou 11 da revista Literalivre,na Internet.Ai então terei meu registro como escritor oficial,e poderei quem sabe receber cartas de editores querendo que eu escreva para eles.Quem sabe consiga um contrato para escrever um livro.Mas sei que o principal é isso,se sentir uma melhor coisa,é disso que necessito.
Mas não só isso,preciso me sentir como um homem e como um escritor,já estou falando mais,o que já é um bom sinal.Não daquela forma louca de antes mas melhor.De uma forma melhor e acredito que nunca estive tão maduro como estou hoje,depois de tantas crises da doença.
É tudo psicológico,e se dá só de vez em quando,quando passo mal mesmo.
Espero que tudo passe e eu resolva de vez esse problema comigo mesmo,que já me vem atormentando á um bom tempo.Quanto ao resto do mundo,quero é que se exploda,moro aqui nessa pequena casinha e não quero nem saber o que acontece lá fora.Lá fora só me trouxe problemas e incomodação,por isso devo esquecer e descansar.Quanto ao resto,eu me viro,tenho minha família e á impossível que as coisas desandem logo agora.
Mamãe me disse que meu destino está nesses contos e no livro que pretendo publicar,e que meu futuro será o de publicar contos e um livro,trabalhar só nisso.Talvez esteja certa.Se tudo der certo,publico os contos,publico mais e no futuro publico um livro.Talvez ganhe algum dinheiro com isso,vou estar trabalhando.Entrementes permaneço aqui lutando contra meus fantasmas.

É como se tudo na minha memória tivesse sido apagado.Tudo que não é criativo,tudo o que não é obra minha foi apagado e agora só resta esse medo inodoro de pensar sem sentido de criar frases e estórias sem
sentido.Por isso apelo para a realidade,em crônicas que vou escrevendo sem parar.Tudo o que acontece em minha vida agora estou colocando em redações para a posteridade.É como se toda aquela loucura tivesse sido sanada e agora eu só vivesse a realidade.Isso é bom,uma vez que viver de imaginação é algo perigoso e letal se em exagero.Mas eu também devo usar de minha imaginação pois ela em conjunto com o nexo cria as idéias.
Me sinto estressado.Essa publicação na revista não sai.Mas tenho que esperar.Agora que a primeira colheita de contos está concluida e estou começando uma segunda,parece que minha carreira como escritor finalmente vai para a frente.Agora na casa de madeira da rua Gustavo Mayer,a casa que só existe em minha memória,em minha ficção,tudo permanece em silêncio.As cortinas chacoalham,farfalhando ao sabor do vento,enquanto o calor da tarde se vai esvaindo na ampulheta do tempo.Agora vejo Sandro Jarbas lá,de costas e ele se vira para mim,para sorrir um sorriso saborosamente carinhoso,como se não me visse á muito tempo,como se apenas esperando para me ver depois de um tempo de dor e sofrimento.Então ele se vira sorri e conversa comigo.
-Oi,James. - diz ele,amavelmente. - como é que vai carinha?
E eu me viro e sorrio também,aliviado.
-Oh,é você,Sandro.A quanto tempo.
E tudo parece flutuar ao redor,é como se estivessemos numa tarde de calor á muito tempo atrás,é como se ele tivesse tempo para falar comigo.
-Você está agora sonhando. - me diz uma voz vinda de meu subconsciente,que prefiro não dar muita atenção,é sempre desagradável dar bola para esse nosso pequeno balde de sujeira,essa lixeira humana.
-Como vai a mãe? - eu pergunto.
-Vai bem.Ela perguntou pelo seu conto,James,você realmente está publicando contos agora?
-Estou.Mandei pelo computador para a editora,eles agora vão publicar…
-Que bom,James.Vejo que está fazendo progresso em sua carreira de escritor.
-Sim. Respondo,mas nem dou muita atenção no que falo. - só vamos ficar aqui mais um pouco,está bem?Só quero ficar aqui mais um pouco com você.
-Tudo bem. - ele diz e me abraça para depois contemplarmos a estante com os livros e revistas que tinhamos no passado.Está lá,Tripulação de esqueletos,exemplares de Conan o barbaro,a primeira edição de luxo do morcego vermelho,está tudo lá na estante enquanto a observamos.Como que observando o passado.Mas é tudo tão assustador,pois só há o silêncio na casa e nós dois lá,na sala,as paredes de madeira,o assoalho seco,a mesinha o antigo televisor que tinhamos,o jogo de estofado,e a velha estante que tinhamos quando moramos lá nos anos oitenta para os noventa.Só o sentimento de permanecer lá,vestindo camisa social ,agora um escritor,parado do lado de meu irmão mais velho,já me causa uma sensação de refrescancia e prazer indescritíveis.Me sinto tão aquecido lá,em sua presença,que esqueço se aquilo é apenas um sonho ou pura ficção.
Em meus sonhos mais profundos,estou andando de camisa social e calça jeans e sapatos por uma casa escura,pequena só minha,o ambiente mergulhado numa vasta penumbra,onde não consigo visualizar muita coisa e o momento parece se estender por um longo tempo,como se viajando num tempo que não tem fim.Finalmente a minha casa,mesmo que pequenina,mas só minha onde meus familiares possam morar comigo para sempre sem mais problema nenhum com alugueis ou qualquer outro problema financeiro.É a minha casa.Então o sonho muda para um jardim,cheio de tralhas como inclusive uma roda de bicileta antiga,alguns vasos de plantas,um pé de tangerina e barro muito barro pelo chão.O terreno,cercado de mato parece também muito silencioso,e solitário,não há nada ou ninguém lá,nenhum vizinho do outro lado da cerca,só o terreno,num dia de escuridão,parece até que é noite,e o sonho todo se passa num ambiente muito mergulhado em trevas,e eu pareço estar lá,e ando devagar pelo terreno,observando as plantas,e as tralhas que jazem espalhadas pelo lugar.Um terreno.Então entro para dentro e adentro uma sala de uma casa de madeira,com um animal empalhado,parece ser um urso,uma estante com alguns livros de James Joyce e passamos para uma sala com um sofá,um balcão e um televisor desligado.O televisor quase nunca é ligado no sonho,mais ficamos conversando e mexendo no computador,há um telefone,sob o balcão e vou até a cozinha,onde meu irmão George conversa com minha mãe.Parecem animados em sua conversa e eu chego.Mmãe e George parecem animados em me ver e perguntam sobre meus contos e meus livros de como está indo minha carreira literária e eu respondo que estou indo bem,parece que tudo agora depende de mim mesmo,de minha carreira literária,não é mesmo?Agora esse é meu futuro diz mamãe,publicar contos em revistas e quem sabe algum livro.Talvez ganhe dinheiro talvez tenha fama,mas só sei de uma coisa essa é minha carreira como escritor.

Então acordo do sonho e estou aqui sentado escrevendo essas linhas como se nada nesse mundo importasse mais do que minha carreira como escritor.Se eu conseguir publicar meu conto na revista Literalivre terei propaganda e as editoras vão começar á me chamar,talvez faça entrevistas talvez seja pego como novo escritor,um novo nome na literatura brasileira,quem sabe até mundial.E me pego sonhando outra vez,salpicando minha mente de cores e detalhes que vão se perdendo ao sabor do vento como se algo que se perde nos meandros do subconsciente esse meus subconsciente que já me levou á pesadelos devido á minhas vezes em que passei mal,nem os médicos sabem o que eu tenho,para eles é esquizofrenia,mas acredito que não seja isso,acredito que seja apenas uma falha na quimica de meu cérebro,mas o que importa agora que vou ser um escritor iniciante?E então me lembro de George,amigo velho,bom camarada,e sinto pena dele.Pois saiba que jamais vou me esquecer de você George Hilton,o seu nome estará para sempre lembrado nos anais da família,da nossa família,como um gideão um colosso que ganhou muito dinheiro e trabalhou demais mesmo para sustentar essa trupe de saltimbancos.Posso ouvir sua voz lá na cozinha conversando com mamãe dessa vez aqui na vida real não em sonhos,que sonho as vezes sem nem me dar conta.E sei que ele está ali e eu posso vê-lo,ouvir sua voz,oh é ótimo ainda ter um dos últimos da família comigo!E eu como mastigo a comida,em uma brincadeira que mantenho comigo para relembrar os dias de brincadeira do George.George sempre tão brincalhão,e posso ouvir aquela velha canção do Chris Isaak tocando no rádio,”that wicked game you play,make me feel this way,that wicked thing you do,let me dream about you” e a canção vai tocando e posso imaginar-me viajando para Blumenau,para voltar lá e fazer tudo de novo,mas não dá,não vai dar para refazer aquilo nunca mais,então o que devo fazer é tentar recomeçar daqui mesmo,escrevendo.Para começar comprar um som ambiente,tocar algumas canções nesse som ambiente e deixar a música fluir como que num sonho sem fim.Tenho o sonho de comprar um som ambiente já a algum tempo e George confirmou esse sonho dizendo que também quer comprar um.Então,já que está de bom tamanho para ambas as partes,que compremos o som ambiente.Ter algum dinheiro para comprar algumas coisas,quem sabe bem lá no futuro ter nossa casa própria,esse é meu sonho.
Agora enquanto escrevo essas mal-traçadas ,penso sobre minha carreira e sonho sentado aqui nessa cadeira de madeira.
Quem sabe me levante a vá cortar uma fatia de pão para comer.

Gosto de pensar que faço parte de uma raça especial,mesmo que sejamos todos apenas de uma só raça,a humana,mas prefiro pensar que eu faça parte de uma raça especial de escritores,como foi meu pai,professor e tradutor que um dia sonhou em publicar o Safa-onça,um livro só com gírias em inglês.Uma raça que pode pertencer todo aquele que escreveu grandes coisas e redigiu grandes escritos.
Agora estamos aqui,sozinhos nesse mundo e vejo uma geração perdida entre estórias do passado e uma época que se foi.Agora que durmo num sofá batido e velho toda noite com duas pessoas que um dia foram tudo para mim,minha mãe e meu irmão George Hilton.Agora Sandro Jarbas se foi se casando e deixando para trás uma geração que não está perdida eu quero deixar bem claro isso aqui,estive pensando,recuperando algumas memórias e esta geração não está perdida,está apenas eclipsada por algumas fases ruins que aconteceram mas só por enquanto.Pois escrevendo vou abrir caminho e deixar tudo escrito como tudo aconteceu e alguns sonhos que tenho que quero deixar aqui registrados.Pode crer que não foi tudo em vão,Sandro.Pode crer que tudo valeu a pena.E estou aqui para dizer,eu me lembro de cada momento até do mais recente,ao mais antigo,de tudo.Como tudo aconteceu,e posso dizer,valeu a pena,rapazes.A música tocou mas parece que o sonho está acabando.Mas estou aqui para lutar para fazer o sonho acontecer de novo e vai ser escrevendo.Pode crer que vai.

A FOTO

Começou assim,um dia mamãe pendurou a foto na parede da sala e lá a deixou para que ficasse.
Logo coisas começaram a acontecer.Eu sabia que era apenas uma foto mas o que eu podia fazer?
A foto de quando eu era pequeno,um bebẽ,ainda de fraldas,sentado numa coberta na grama da casa da Penha quando eu ainda tinha alguns meses.A primeira noite,sonhei com mamãe e com uma música muito bonita,então,me acordei e estava fazendo um frio de lascar.Talvez estivesse nevando em muitas cidades catarinenses,mamãe me disse de manhã na hora do café.Mas a foto tinha apenas valor sentimental logicamente.Mas fazia uma grande diferença, claro.
Logo tomei café e sai para ir consultar o doutor Google no farol,como sempre.
Passei algum tempo vendo algumas coisas até que me cansei desliguei o computador e me fui,rua afora,para casa.Eu queria ir para casa.Estava com vontade de ir para casa.Era lá que eu devia estar.
De lá,fui comprar um pacote de batata palha e um de sabão em pó,no mercado.
Fui até o mercado mais longe mas lá os preços estavam muito caros,por isso desisti e fui no mercado mais perto.Lá sim comprei o que precisava e voltei para casa.Mas na rua eu sentia algo estranho.Era como se o inverno tivesse chegado e a foto tivesse algo a ver com aquilo tudo.Besteira,que uma foto pendurada na parede da sala de minha casa iria fazer tanta diferença assim inclusive mudar o clima mas mudou.Talvez eu tenha alguma ligação muito forte com Deus talvez seja isso.Bom,se for,é bom,pois acredito apenas em Deus e em nada mais.Aliás acredito na estória de Jesus Cristo e na Bíblia,única coisa em que creio nesse mundo,além da realidade.Em nosso Senhor e seus anjos,nada mais.Por isso acredito que foi ele que mudou o clima talvez voltando ao clima que fazia quando tirei a foto que agora jazia pendurada na parede da sala.
Ontem cheguei á conclusão de que preciso parar esse fluxo de pensamento que me ataca quando passo mal,preciso parar numa coisa e ficar até que a crise passe,mas também não quero ninguém se metendo.É apenas assim,a história brasileira vendo um de seus filhos passar por parte de sua história em sua casa e não admito que seja diferente.Quero paz e sossego nessas horas,mas até nos momentos em que passo mal,a foto me ajudou.Ver minha imagem bebẽ me fez dormir ontem,me meter embaixo das cobertas e dormir como um anjinho.
Logo tudo vai passar e vou ser um escritor de renome.E vou sempre recomeçar seja onde for,seja aqui seja no lugar em que estiver,tudo vai ter um recomeço.Não sou de sair muito,por isso não tenho carro,nenhum dos meus irmãos tem,por isso não me sinto muito bem quando vou muito longe,Resolvi que prefiro ficar aqui no meu lugar com minha família do que sair e ir longe e me misturar muito.Quero me misturar mas aqui perto,só se tiver alguém aqui para eu me misturar então eu vou desejar me misturar,mas senão não.
Saí para uma volta muito estranha com minha irmã domingo passado.Tiramos fotos e foi bom,mas a um certo ponto da volta eu estava exausto.Eu não gosto de me cansar e nem andar de carro pois eu me sinto como um extraterrestre andando nesses automóveis por aí.Prefiro fazer como meus irmãos e pegar o ônibus como todo mundo.
Será que não foi a foto?Talvez mexendo com a cabeça de minha irmã,a fazendo crer que devia por alguma razão ir dar uma volta comigo?Foi tão estranho que não quero repetir a experiência nunca mais.Credo.
Eles falam em imaginação mas não sei.É preciso parar esse fluxo de pensamento que flui em nossas mentes antes que nos mate a todos.É melhor ter sentimento,família,moral,daí sim.Algo bom que vem da vida e não essas bobagens de imaginação.
O exagero e a perda do controle nesses casos podem nos levar a loucura e isso ninguém quer,por isso clamo aqui que os escritores parem de usar suas imaginações e criem mais algo a ver com família e valores morais que inventem alguma coisa e não partam para aquela loucura que todos estão cansados.Vamos,estamos aí agora com Marina and the diamonds,cantando uma letra que tem a ver com valores morais e com o simbolo de uma geração,que seria no caso ela mesma,assim como tivemos Amy Winehouse no passado que morreu e arrancou lágrimas de seu próprio pai quando perguntado sobre sua história e o que Winehouse significava para a música.Bem agora estamos com Marina Diamandis e suas letras revolucionárias.Vejamos nas letras,o que podemos ter.
Mas sem drogas,e sem loucura.É tudo o que peço.
Será que a foto vai ajudar?Quem sabe.Ela estará pendurada lá na sala,e lembrará para sempre os anos oitenta,com seu frio de congelar e sua construção tecnotrônica de músicas e de toda uma nova geração.Foi então que George Hilton começou a trabalhar,foi então que vimos Sandro Jarbas mostrar toda sua bossa trabalhando,vamos ver o que faço escrevendo e cuidando de minha vida.
Agora a foto está lá e me arrepia o que ela possa estar fazendo com as mentes daqueles que cercam a casa e seus arredores.Além,até quem sabe.
Agora enquanto assisto televisão no quarto penso nessas loucuras e me arrepio,pensando em quanta bobagem está fluindo pela televisão mundial.Meu Deus,é bom parar com isso.Não é agradável e esse fluxo pode ser amaldiçoante.
Enquanto penso no assunto,vejo uma leve brisa entrar pela janela aberta do quarto.
Mas a tarde vem chegando e me ocupo com outros pensamentos.
Há um rio passando talvez aqui sobre nós,ao menos é o que imagino enquanto piso forte no chão tentando ver se me mantenho no chão com certeza,ou se não saio flutuando pelo quarto como uma criatura sádica que só pensa com a imaginação e não com a razão.
Mas acredito que o único rio que aqui passa é o rio da mente,que é perigoso e pode afogar um homem.
É bom que apenas se gotejem pensamentos sempre.Nunca mais do que isso.O fluxo de pensamentos é ruim,repito aqui.

Devemos estar sempre alertas e dormir por grandes espaços de tempo para que a razão não se perca de nossas mentes.Aliás,devemos ter razão e sempre estudar.Estudar as coisas ao redor e estar sempre atento a tudo que nos cerca.Para ter uma vida boa é bom estar vivo e não só dormir,como dormir também é bom,mas estar acordados para gozar da vida assim como cuidar dela.Dormir é relativo,uma vez que dormir faz com que nossas mentes se renovem e entrem nos eixos para que possamos viver a vida de forma melhor.Mas a foto,a foto era algo ótimo.Ela trazia o frio de Blumenau o sabor de um tempo que simplesmente não volta mais.O sabor dos anos oitenta,que é quando tirei a foto e não passava de um bebê então.
O fantasma do professor Menescal também parecia estar presente pela casa.Assim como quando estavamos em Blumenau e ele nos guiou e nos fez trabalhar e viver bons momentos durante anos.
Mas eu me perdi e tive que reformular todo meu pensamento em 2017,quando o cometa caiu no campo na Vila Hauer e ocorreu a renovação de minha mente.
Lee Falk apareceu para mim para me alertar sobre o valor das palavras e o significado delas em nossas vidas.Ele me abriu a cabeça mas eu estava mal e tive que mudar todo meu modo de pensar.Comecei a trabalhar como escritor,e a cuidar de minha vida,mas as coisas pareciam tão preguiçosas que eu achava que era melhor deixar de ser tão ranzinza e dar uma folga aos meus compatriotas que enlouqueceram naquele tempo de renovação.Mas era preciso e já passou.Agora está tudo bem e tudo explicado.O problema era eu que estava um pouco passado e com a mente relapsa perdido em divagações,mas logo me acordei e pus tudo em ordem.
E agora enquanto a noite vem chegando nos vemos sendo engolidos por uma espécie de vagalhão de frio congelante que vem chegando e nos pega de jeito,fazendo nos nos enrolar em nossas cobertas e nos esquentarmos do frio congelante que toma conta desse Sul febril,agora no caminho mais ou menos entre Blumenau e Curitiba,o ônibus de viagem vai seguindo,como que hipnotizante,levando alguns passageiros para a cidadezinha.Dá vontade de viajar mas não dá,mamãe quase não pode andar e George está mal de sua doença por tempo indeterminado.Se aposentou e agora estamos aqui vivendo,lutando para nos mantermos em pé.Mas ainda andamos,andamos e lutamos num Sul cada vez mais hipnotizanbte mas que já foi melhor para uma família que jamais se esquece.Dos anos oitenta e noventa,da vida,de suas vitórias emocionais e de seu amor a vida.
Amanhece e é outro dia.Me levanto e vou consultar o doutor Google no farol.Mas lá encontro uma velha estranha que me pergunta coisas estranhas.Ela parece outra pessoa,não mais aquela senhora com quem conversei a respeito de meu pai.Cuidado,você não pode ficar falando sobre sua família por aí,diz minha mãe.Mas eu quero conversar e só caio em armadilhas.Agora por exemplo encontro uma velha estranha para conversar coisas estranhas.Ela me pergunta se meu cachorro tem problemas mentais,é tudo o que eles sabem conversar hoje em dia.Como as coisas ficaram feias atualmente.Hoje os assuntos mais feios e desagradáveis são tema de conversa.É claro que meu cachorro não tem nenhum problema e eu tenho uma doença e não um problema.Eu odeio esses idiotas que ficam se metendo e não entendem nada do assunto que puxam,e ficam falando porcaria sobre coisas que não entendem.Meu cachorro,meus irmãos,ninguém aqui tem isso!
Mas tudo bem,volto para casa,e estou num lugar agradável.Minha casa,onde,na sala,jaz a foto pendurada na parede.
É bom esquecer tudo e não dar atenção á mais nada.Procurar encobrir as coisas que os outros possam não entender e não ficar anunciando por aí coisas que possam me prejudicar.Esqueça.
Acabo esquecendo a velha estranha do farol e me recordo de minha família em casa.
Como gosto deles,eles são tudo de melhor que eu já vi nesse mundo.Pessoas de boa índole,respeitosos,meu pai professor,tradutor,minha mãe excelente dona de casa meus irmãos trabalhadores,nada comparado á essa corja lá de fora,as pessoas da rua estas eu nem dou atenção.
Poucas delas valem a pena.
Não gosto das pessoas da rua e sei que o sentimento é recíproco,que elas tambem não gostam de mim,por isso nem mesmo faço questão de querer saber o que elas pensam e pensar que elas já quiseram falar vejam só.Coitadas,pensam que são quem?
Bem,mas lição aprendida,nunca baixar a bola por aí sempre ser superior aos outros,esses coitados que nada tem na cabeça além de porcaria.E eu não me importo,sei que não vou ter nada deles e nem quero.Não me interessam e podem ficar em seus lugares quietos que eu não estou interessado em conhece-los.
Mas a foto permanece em seu lugar lá,pendurada na parede.E é a noite assistindo televisão que eu me descubro.Eu sou um personagem no dia curitibano,eu sou aquele bebê na foto pendurada na parede da sala.Eu sou o gato, e com minhas garras arranho o papel dos livros que vou devorando,sempre á procura de inspiração para meus contos,como que viajando pelo mundo das palavras,que é vasto,e assim sigo e á noite

festejo na sala de minha casa,enquanto como minha janta,com meus compatriotas,com a família,e vejo mamãe brincar comigo feliz.
As palavras vão chovendo no pântano de nossa casa e eu me vejo no limiar de minha vida festejando.E agora o que falamos é cortante e faz sentido,me sinto melhor,bem melhor,bem longe daqueles monstros loucos que me assolavam no passado.Agora me vejo encaminhado em minha vida e rumando para o amanhã,onde terei dinheiro e com meus sonhos poderei ter sucesso.E então quem sabe poder ver o que fiz e comemorar com minha família.Eu gosto de sopa,principalmente a de letrinhas pois me divirto com as letras e com elas componho palavras que vão fluindo na noite com precisão.Mas sonho também,não tenho culpa,e é até bom,me faz sentir bem,por isso sigo escrevendo estas palavras para que o mundo veja o que penso,para que o mundo veja quem é o gato,essa figura imensa que assola o mundo dos sonhos mas que gosta da realidade e vagueia por um mundo onde cuida de sua própria vida e vive uma sequência de vidas que são só suas.As minhas vidas,que são diversas mas juntas são só uma,as diferentes facetas de minha vida que são várias mas duiluem-se numa apenas,levando a crer que minha vida apesar de complexa seja apenas uma,um único e longo caminho que sigo todo santo dia,como se jamais fosse ter fim,no frio do Sul do país.
Mas eu preciso de mais,de sonhar de fazer fluir a música da vida até que as sinfonias fluam de forma explendida mas com seu fluxo controlado,gotejando palavras para que tudo saia certo e bem.Dormindo para descansar de uma vida cansativa que nos leva ao nada apenas para nos vermos engolidos por nosso próprio exagero que eu digo não vale a pena.Não gosto de me sentir cansado por isso relaxo e escuto a programas de televisão com música muita música.Quero ver o que está rolando pela música internacional e eis que me vejo engolido pelas rimas.Mas falta mais.Muito mais.Por isso continuo,até ter o que quero,e paro para festejar.Por hoje chega,e vou dormir.
Eu sou o gato e quero curtir a vida como nunca curti antes.Mas quero chegar e descansar também e não apenas curtir.Poder relaxar e ouvir algumas palavras antes que anoiteça.
Só assim estarei satisfeito.
Mas estar satisfeito é viver e dormir com minha família e isso é o que faço aqui no pântano de nossa casa onde esqueço os problemas cotidianos e me escondo de um mundo frio e desagradável.
Mas as palavras vem e são poucas e é nessas palavras que me refiro.São essas palavras esses momentos,essas conclusões a que chegamos juntos é que me fazem bem e me alimentam.É assim que quero viver.E por não ter mais ninguém fico com minha família,festejando com nossas bobagens nossas fantasias até que a morte chegue,um dia e nos leve dessa para uma melhor,mas até esse dia,ainda demora.Esse dia ainda demora para chegar.
Mas é esse significado que me alimenta e eu sigo em frente com eles,essas criaturas que um dia foram minha mãe e meu irmão,George Hilton,essa grande figura de nosso tempo.
Eles são tudo que tenho,tudo que desejo aqui.
É isso,creio que não existe comparação.Sou como uma Brastemp.
Comigo não tem igual e aqui estou para escrever.Os pingos de uma chuva que vem começando caem no jardim.
E a foto continua pendurada na parede da sala.

PRESENTE DOS DEUSES

Estava eu consultando o doutor Google,certo dia,fazia um dia de sol lá fora,fora do farol,quero dizer.Os livros jaziam nas estantes,os papéis na mesa da mulher que cuidava do farol,os computadopres inclusive o no qual eu mexia,as janelas as costinas balançando ao sabor do vento,enfim tudo parecia estar se passando da maneira mais ou menos mais normal possível dentro das possibilidades do que possa vir ser chamado de algo normal,quando aconteceu.
Pela porta do farol,fechada,encostada pronta para que alguém viesse e a abrisse pronto para usar algum computador ou pegar algum livro,entrou uma senhora já de idade e sua filha,aquela coisinha que viria a ser naquele dia,o motivo de toda minha loucura.Pelo menos boa parte do que viria a ser ela.Pela porta do farol adentrou a flor mais linda desse mundo acompanhada de sua mãe uma senhora de cabelos castanhos,vestindo roupa daquelas que as crentes evangélicas usam quando vão fazer alguma visita nas casas dos moradores da cidade.
Ela era uma menina,ainda uma adolescente mas já linda,de longos cabelos castanhos,e uma expressão de prazer indescritível estampada em seu rostinho pueril.Era como se despertasse flores e fosse dormir rosas em sua casa não sei onde ficava.

Vestia um vestido cuja cor não me recordo agora,mas sei que parecia belíssima com seus sapatinhos bem calçados.Ambas me viram mas nada falaram,apenas continuaram sua visita ao farol talvez na busca de algum livro ou CD para pegar emprestado ou então ainda no intuito de fazer a ficha da menina ou da senhora para pegar algum livro ou CD,que estivessem com vontade de pegar emprestados.Ouça o que venho a dizer aqui.Venho a documentar esse acontecimento que foi a entrada da menina flor no farol do saber do Xaxim,quando esse mundo se resplandesceu de cor e graça,de luz e explandescer quando aquela coisinha fofa pôs os pezinhos adolescentes naquele estabelecimento aonde me encontrava,mexendo no computador consultando o doutor Google.
Quando vi a pela primeira vez nada parecia haver de diferente com o ambiente,mas foi como que de repente,tudo se encheu de graça e cor,para mim,o Gato,acostumado a devorar os livros do farol e estudar em casa e mentalmente tudo o que houvesse ao meu redor.Junto com George que devorara livros desde os dez anos de idade,eu me encontrava lançando a finesse e o bom senso,a necessidade de estudo e conhecimento,informação e saber aos píncaros do que se pode chamar de possível no farol e em família,onde todos me conheciam como aquele que desejava publicar estórias de ficção em alguma revista do pais.Minha tia já me perguntara como eu estava indo com meus contos e avisei que estava pondo em pratica meu conhecimento como escritor e era isso que iria fazer.
E eu sabia que aquela menina estava querendo também,eu podia sentir em cada movimento dela que ela,que segundo disse sua mãe estudava no colégio militar,estava lá no intuito de amadurecer como pessoa e aprender alguma coisa sobre livros e o conhecimento do mundo.Eu que sabia algumas coisas sobre interação magnética,valor senoidal,algo sobre geografia,eu tinha os livros lá em casa comigo,fiquei abismado com a beleza de tal figurinha bonita,de tal flor bela,que apenas queria aprender sobre as coisas da vida,e com uma incrível vontade de conversar com ela e ensiná-la sobre coisas como a rua em que moramos e o mundo que nos cerca.
E lá estava ela,com toda sua bossa,e notei que algo acontecia comigo,logo todo meu conhecimento foi dando lugar a uma admiração incalculável,mas não sensual,mas algo vindo do coração,como se a paixão de um mundo cruel e cheio de seus instigáveis mistérios de repente se abatesse contra mim,como num sobressalto e senti-me abatido por uma força sem igual,incomum que me deixou fora de mim e absorto de meus estudos que executava no computador.Parei de mexer no computador que não ligava,e observei tal figurinha bela,o vestido de não me lembro que cor,os sapatinhos bonitos e ela começou a olhar ao redor e voltou suas vistas para mim como que analisando-me como que desejando que tudo de bom acontecesse para mim de tão boazinha que parecia ser aquela menina.E parecia que havia algo a mais nela,eu a reconhecia,talvez parecida comigo mesmo ou algo parecida com minha mãe,mas não sei algo familiar que me deixopu extasiado e fora de mim por alguns minutos,por algum tempo fiquei fora do ar,observando-a.
Senti seus movimentos enquanto ela se aproximava analisando o farol em seus detalhes mais distintos.E olhava para mim,eu juro que achei que ia sair correndo daquela cadeira em que estava sentado mexendo no computador e me jogaria em seus braços a abraçando também,se isso fosse necessariamente possível e se isso fosse nada mais do que uma boa idéia também,mas ora,quem estava se importando com coisas loucas agora?Eu queria estudar tudo ao meu redor inclusive ela.
Agora enquanto escrevo essa pequena narrativa,até mesmo me lembro de que preciso tomar meus remédios da manhã,de tanto que ela me faz pensar e faz minha mente entrar em ação.
Que aliás esqueci,agora vou até a cozinha e tomo meus remédios que necessito aliás.
E então voltamos ao nosso tarquínio,ela,de como ela me fez sentir bem,quando a vi no farol e me encontrava mexendo no computador,consultando o doutor Google.
Mas o computador não ligava,como disse antes,e aquilo me deixou irritado por um momento,mas fiquei lá absorto,olhando para a menina de vestido,a menina que estudava no colégio militar,que chamou minha atenção quando me virei e a vi depois dela entrar no mesmo farol.
Olhei para suas pernas e a imaginei nua,comigo e aquilo me fez ficar louco de satisfação.
Mas nada disse para ela,nem mesmo cheguei a conversar com ela,apenas a encarei de frente enquanto ela analisava o interior do farol,como que curiosa para saber as novidades ou o que estava perdendo de tal local,de tal estabelecimento de cultura,que agora ela adentrava para fazer algo como uma ficha segundo ia dizendo sua mãe,para a mulher velha do farol,a mulher estranha que conversara coisas sobre meu cachorro ter problemas mentais,algo bem perturbador assim,falou inclusive se meu irmão era doente mental se não me engano algo assim,que irmão doente mental?Se é que não tive nenhum mentecapto na família é na nossa apenas chacoalhada por alguns acontecimentos como a morte de meu pai e minha doença mas nada parecidso como alguma crise de demência ou algo assim,tenho a doença,mas escrevo e estudo todos os dias e não vou parar de escrever ou de estudar nunca nem daqui até o dia de minha morte,vou morrer analisando as
coisas ao redor e estudando-as assim como fez meu pai e assim como fez meus irmãos sempre prendados doentes tambem,mas trabalhadores e espertos como nunca se houve membro de alguma família melhor.George por exemplo,um crânio apenas precisando se aprofundar mais nas coisas mas um gênio,que admiro aqui abertamente.
Mas como ia dizendo,a menina,também inteligente também queria aprender e estava a procura talvez de alguém que se juntasse a ela para estudar as coisas ao redor e talvez viver como uma família,quem sabe a procura de um namorado,e sabia que se não fosse esperto como uma raposa e não aproveitasse cada chance que tinha,um homem qualquer chegaria e a levaria para longe de mim,eu sabia muito bem disso,e esses tipos de homens eram o que mais haviam por aí.Sei por experiencia própria como quando me apaixonei por Evelin e a levaram embora de mim,um negro,da região ainda por cima.Eles são ladrões esses homens e temos que estar preparados nós os escritores,para qualquer cilada que essa vida pode proporcionar-nos.Eu estava ciente mas nada fiz sem poder fazer nada,se sentindo calado hipnotizado sem saber o que falar,quem sabe apresentar os livros mais importantes para ela,mas não fiz,apenas a deixando,com medo de que algo pior viesse a acontecer.E lá estava ela,apenas com sua mãe,na companhia de sua progenitora,esperando para pegar a ficha completa,quatro livros e sair dali para nunca mais voltar.
Eu simplesmente a adorei,em cada detalhe,em cada centímetro de sua pele,seu corpo bonito seus pés,tudo,eu a amei,como jamais havia amado nenhuma garota antes na história de minha vida.
E ela ficou ali a olhar para mim e para os livros,como que ansiando para que eu conversasse com ela a respeito de alguma coisa,talvez não fosse vê-la nunca mais mas sabia também que nada podia fazer uma vez que se encontrava hipnotizado com sua presença,e também por um outro motivo,o computador não estava ligando.
A faxineira que vinha chegando por detrás de uma das prateleiras me serviu de ajuda.A chamei e falei que o computador não estava ligando.A senhora que cuidava do farol avisou que já ia me ajudar que era apenas terminar de fazer a ficha da menina,que ela iria me ajudar.Fiquei ali esperando,mas a faxineira veio e apertou o botão da CPU do computador o ligando,dizendo depois que era apenas um dos usuários anteriores que haviam desligado a CPU do computador e que eu já podia usar o mesmo.
Foi então que a menina se pôs a escolher um livro,entre os milhares que haviam nas prateleiras do farol,e eu me pús obviamente a consultar o doutor Google,a mexer no computador.
Não me recordo o que vi com o doutor Google,aquele dia,mas me recordo de observar a menina dos meus sonhos achar um livro ou dois que gostaria de ler se virar e ir até a mesa da senhora estranha com sua mãe para registrar o emprestimo.Assim que tudo estava feito pegou e se foi,com a mãe embora do farol dizendo algumas coisas de que queria muito saber de mais coisas que poderia fazer para aperfeiçoar seus conhecimentos.
E eu fiquei ali,chupando o dedo,consultando o doutor Google,sem saber se me levantava e ia para casa e esquecia aquilo tudo.Bem,foi o que fiz,depois passei mal,me senti extremamente mal devido a minha doença e só sei que estou aqui agora escrevendo esse conto e que acordei esta manhã bem,mas tão chateado e aborrecido por tudo que mal sei o que dizer á respeito.
E a menina se foi,rua afora com a mãe.Sabe-se lá onde mora,só sei que estuda no colégio militar.
Aquele era realmente o meu presente dos deuses e saí de lá,me sentindo um campeão apenas por ter visto tal menina.Hoje,quando fui dar uma volta,estava me sentindo mal com aqueles que querem me destruir mas não dei bola e me senti bem,por saber que agora sou um escritor e quase publicando um conto atrás do outro,e não apenas isso,trabalhando e estudando as coisas ao meu redor como nunca,e me senti mal por sentir aquele frio estranho que eu não gosto de sentir dentro de mim,talvez culpa de alguma homeostase que ocorra em meu corpo ou então pelo mero frio de Curitiba.Mas senti o arrepio da vitória ao me imaginar atrás de uma mesa mexendo com um computador e computando os meus trabalhos,como estou agora.Andei mais um pouco e mais a frente encontrei duas mulheres.E elas se abraçavam e se confraternizavam,contentes com alguma coisa.Com o que elas estavam contentes eu não sei,só sei que me cumprimentaram felizes me chamando de filho e muito mais.Voltei para casa,curioso com o cumprimento das mulheres.Será que tinha algo á ver exclusivamente comigo ou era apenas um momento de comunhão entre duas mulheres contentes com a vida e felizes com alguma coisa?Não se sabe,mas sei que voltei para casa contente com o cumpriumento das duas mulheres que chegaram a me chamar de filho,coisa rara ao meu ver nessa região tão cheia de maconheiros.Agora enquanto escrevo,me lembro de um jovem amigo,um drogado mas tudo bem,nem tudo é perfeito,ele me disse que é para nós sempre estarmos estudando alguma coisa ou fazendo alguma coisa,até trabalhando,quem sabe.E ele estava certo,é isso que eu devia fazer e agora eu era escritor.
Agora sentia que estava fazendo alguma coisa e isso era bom.

Mal podia esperar para anunciar em família o lançamento de meu conto na revista eletrônica,iria colocar no meu site do facebook e se os encontrasse pessoalmente seria uma festa,iriamos conversar durante um bom tempo sobre uma carreira que está apenas começando.
Mamãe não consegue sair,eu sei,isso é ruim,mas meu sonho era ir dar uma volta de ônibus com a velha na casa de algum parente ou até viajar com a velha se fosse possível,de tão contente que eu estava.Agora eu estava vivo e tinha o que comemorar.O mero fato de estarmos vivos e minha carreira como escritor. Aquela garota era meu presente dos deuses mas mais do que isso,o presente maior era estar bem e trabalhando em algum plano que no futuro pudesse me trazer o fechamento de algum contrato ou até,dinheiro!O tão sonhado dinheiro!
As coisas estavam só começando a acontecer e era bom demais,eu ia ficar famoso com o conto na revista e logo as editoras iam começar a chamar.E se uma editora me chamasse?E se me contratasse?Seria o céu para mim e minha família,que sempre tiveram como sonho ter um escritor na mesma.
Bem,mas a menina se foi,e para nunca mais voltar.Quem sabe a veja de novo numa dessas idas minhas ao farol para estudar no computador,fico pensando o que faria se a visse de novo,se conversaria com ela ou se a seduziria de alguma forma,mas é difícil.
Entrementes continuo aqui escrevendo e enviando essas crônicas, esses contos para a revista e para muitas outras onde já tenho planos de publicar,começando com a revista Trasgo,uma revista de ficção que publica contos de autores desconhecidos.Quem sabe tenha uma chance.
Por enquanto continuo vivendo nessa casa e escrevendo para revistas e esperando que meu reconhecimento como escritor venha ao mesmo tempo que vá produzindo.Essas obras,eu garanto,vão ficar na história da literatura como classicos que o mundo já conheceu,e minha carreira quem sabe cresça,e atinja níveis jamais vistos para um escritor como eu,quem sabe não.Mas o que importa é estar trabalhando e estudando como estou,e festejando com minha família mesmo que minha mãe me corte sempre que eu esteja sonhando alto.Mas ela me ajuda também,como por exemplo quando falou se eu não queria vender uma das estórias para a televisão,para ganhara algum dinheiro com a adaptação.Quem sabe com alguma coisa,quem sabe ganhe algum dinheiro mas só uma coisa é certa,minha carreira de escritor e estudar as coisas e me manter são são como um verdadeiro presente dos deuses para mim.Me sinto nas nuvens.

COMEÇANDO A SEMANA

Atenção Curitiba,começando mais uma semana com força total,começando o dia com uma decepção,não foi publicado meu conto na revista.Ora,e eu aqui esperando que desse tudo certo,confiando naqueles caras da revista que obviamente não estão nem aí para minha carreira de escritor que vejo aqui como praticamente paralisada.Não há possibilidades senão pagar a publicação do livro por alguma editora de aluguel mas isso só depois de eu começar a estudar e a trabalhar caso eu encontre algum emprego.Ser escritor é praticamente impossível num país em constante recessão como o Brasil,onde não temos investimento.e não tenho nem emprego como escritor para publicar algum conto ou mesmo um livro.Portanto,permaneço aqui,parado,mas em ação,fazendo compras, tomando café da tarde como sempre, vivendo minha vida como se nada tivesse acontecido.Vou seguir em frente agora com muito mais família,muito mais memória,e muito mais vontade de vencer nessa vida.
Mas sinto uma sensação tão estranha sentado aqui nessa máquina empoeirada,com as mãos meladas de café,o rack empoeirado,e tudo exatamente do mesmo jeito que deixei á algum tempo atrás,como gosto de deixar as coisas que uso.Parece que tudo continua como sempre exceto o nojo pelas coisas que vejo na televisão como a entrevistadora com a saia arregaçada até a coxa,completamente contra o respeito e a moral do povo brasileiro,segundo comenta minha mãe,sentada a meu lado também cansada de sair correndo limpando tudo e fazendo tudo para manter tudo limpo e arrumado.
Acredito que ela desejasse uma folga dessa vida estressante,mas não podemos deixar as coisas sairem do controle,mas sabe de uma coisa?Um pouco é exagero,e sei que podemos muito bem curtir um pouco desta vida sem nos preocuparmos com problemas do cotidiano.Eu,meu Deus passei por cada uma mas agora estou melhor,a doença me fez acordar e ver o que realmente significa esta vida para mim.Agora cada coisa que escrevo faz todo um sentido para mim e significa muito mais do que qualquer terapia ou ida a psicólogos que no meu ver não me ajudou em nada.Escrever é um modo de me expressar e ao mesmo tempo de desabafar meus medos mais profundos.Mas também de registrar vitórias e bons momentos.
O estudo e o desenvolvimento do intelecto são coisas extremamente importantes para a pessoa e para mim mais especificamente,mas rir das desgraças da vida tem sido um prazer para mim ultimamente.Por que eu sei
que há muita gente querendo meu mal por aí,e eu não ligo nem um pouco.Agora parece que a foto está finalmente fazendo alguma coisa comigo que vale a pena.
Agora me sinto mais feliz e realizado e mais descansado,bem diferente da pessoa sufocada que me sentia á algum tempo atrás,mas acho que isso foi apenas uma fase,mas também não quero embarcar em loucuras.Sem loucuras.Só a boa literatura que aprendi a gostar,mas os melhores escritos os que mais gosto de ler são os meus próprios.Gostava de Stephen King mas resolvi dar uma descansada de tantas criaturas do Mal e no demônio e outras coisas que não existem,pois o demônio não existe e o único mal está na cabeça das pessoas.Só resta agora as vezes aquela figura da negra que não quer me deixar em paz.As vezes fica demais e eu tenho que ir dar uma volta.Espairecer,ler um livro alguma coisa assim,mas isso é o mínimo que poderia me incomodar comparado aos tremendos choques que tive com o passar dos tempos,coisa de enlouquecer gente sã.Mas isso passou e agora só me resta lutar contra uma química corporal falha e que me faz passar por pesadelos as vezes.Mas estou bem melhor,estou limpo,não bebo,não uso drogas nem nunca fiz estas duas coisas,e tudo parece estar melhorando.Ao menos eles não podem me chamar de drogado ou bêbado que sai por aí feito um safado aprontando,e sei muito bem que não sou mais nenhuma criança,porcaria,sei muito bem disso.Rio daqueles pensamentos negativos.Eles não vão estar em pé por muito tempo.Eu vou derrubá-los e rir na cara deles,eu vou depois me virar e simplesmente ir embora,pois não nasci para perder,porcaria enquanto estou aqui sei que estão rindo da minha cara em algum lugar,droga.
Eu preciso lutar e ser forte,e sair dessas ondas de desconforto que me afligem até estar livre livre de toda essa porcaria.Pois só assim me sentirei bem.E,além do mais,é tudo tão bom que nem me importo se passo mal as vezes,o que quero é curtir e trabalhar pela família,ninguém aqui nunca prometeu um jardim de rosas para ninguém,e sabemos que a vida é dura,então vamos esquecer as mazelas da vida cotidiana e vamos nos divertir e escutar boa música pois essa vida é curta demais para paramos e ficarmos brigando,mais do que já ficamos de mal um com o outro,vamos aprender a ter aquele toque especial,de saber rir das desgraças da vida.Mais do que palavras,a vida está aí para ser vivida.As palavras descrevem tudo mas só servem para nos dar aquele clima de segurança de que todos precisamos.O resto vem com a vida.A foto me fez sentir isso e vai me fazer sentir mais pois é a foto que simboliza os anos oitenta,e quando eramos felizes.
Agora enquanto escrevo,posso sentir a presença do professor Menescal,meu pai, que ressucitou e agora vive na casa de um mundo de ficção que adoro,e que sempre estará presente em meus escritos.
Eu só me recordo uma cena,bem assustadora,o anoitecer na dona Clarice,quando uma história de doença chegou ao seu apice para estourar e tomar rumo,um rumo que está só começando,mas que assustou bastante quem o viu,uma família confusa se reestabelecendo para voltar com tudo com cena e tudo o mais desta vez reestabelecida,e cheia de significado.Hoje parece engraçada mas assustou e foi bastante desagradável então.Só peço desculpas á mamãe e George que presenciaram minha metamorfose de uma espécie de vampiro mental perdido e louco num escritor,tentando voltar a si em sua própria existência.
A foto me ensinou que temos a chance de errar parar e recomeçar,de uma maneira melhor que possa exaurir toda a doença de nossas vidas,de nossas mentes,doença social que corrói e aprisiona a vida de muita gente.Mas sei que sofri enquanto acontecia.Nunca chorava mas derramei lágrimas quando vi que estava doente,desta vez para aprender a última lição que poderia aprender como pessoa doente,a de que não posso continuar sem pensar em nada como estava.Estava demais,precisava de uma preparação intelectual,pensar,aprender sobre as coisas ao redor.E me curei,hoje sou uma pessoa bem melhor,mais confiante e ciente de tudo que me cerca.Mas enquanto acontecia,minha nossa,foi fenomenal.Mas passou.E hoje luto para melhorar a cada dia.
Agora a vida está aí e pronta para ser desnovelada.Agora é só viver.
Nos encontramos no final da década de 2010,que foi assustadora para mim,e prontos para adentrar uma nova era uma era de ordem e progresso,vida e saúde.Paz e esperança.
Mas nada é tão assustador quanto meu passado,vampiresco e louco,totalmente sem significado ou sentido uma massa disforme que tenho vergonha e medo em mostrar por ter sido exatamente como eu não queria.Agora é recomeçar do zero,como se esta vida não passasse de um conto de terror psicológico,um suspense cheio de mágoas e desalinhos,algo funesto.
Mas chega de coisas funestas e vamos ao que interessa.
A minha vida.

A MATILHA.

Me encontro aqui sentado,escarrapachado nesta cadeira,escrevendo.

Nosso paradeiro por enquanto é Bairro Xaxim na Cidade de Curitiba,numa casa grande fria e mal-acabada.Estamos com tudo aqui,nossas coisas temos telefone e tudo o mais.Passo as tardes escrevendo e desenhando,quando não estou escutando música.Mas logo não estaremos mais aqui.George e Mama disseram que vamos nos mudar ainda esse ano.Venho passando mal de vez em quando,mas estou melhorando,pelo menos agora sei que somos nós,e não a casa ou qualquer outra dessas besteiras.Querer uma casa própria vem cada vez mais me parecendo uma tolice.Ter dinheiro e fama como escritor me parece melhor.Vou começar á vender livros agora em agosto.Vou começar á estudar ainda final desse mês,só para passar o tempo.Ter o que fazer,mas nada me tira da cabeça de que deva começar é vender meus livros.Os exemplares dos livros que escrevo são meu sonho e ser escritor tem me dado mais prazer que qualquer outra coisa nesse mundo.Dane-se as grandes editoras,vou passar a publicar por copiadoras mesmo,e vender os exemplares de meus livros.Estou agora com o GRAMPO DO MAL,e espero poder tirar as cópias o mais rápido possível.Agora o sabor dessa vida não passa de uma tarde tentando vender os livros por aí,muitos exemplares por comprador,e um gole de suco barato desses comprados em super-mercados de subúrbio de quinta categoria.Saí com mamãe hoje e ela nos disse na janta que está melhorando de novo,e com planos de voltar a caminhar de novo com mais vivacidade do que estava caminhando antes,quando estava doente.
Agora arrumo meu quarto,para mais uma foto para a posteridade amanhã quem sabe,enquanto penso a respeito da vida de meu irmão Sandro,que parece que está desempregado de novo enquanto a esposa se encontra internada com depressão num lugar aqui pelas cercanias de Curitiba.Pobre mulher.Penso em como está indo meu irmão diante disso tudo,enquanto o espero amanhã para talvez uma visita,já que as coisas chegaram nesse ponto.Mas acho que ele não vem.Até mesmo seu filho está doente se não me engano com epilepsia,descobriram a doença no rapaz á algum tempo.
A doença tomou conta da família quase inteira quando não foram desavenças matrimoniais que interromperam casamentos e hoje todos estão sozinhos exceto Sandro que está quase prestes a perder a chance de ter uma vida normal com a esposa deprimida.Só não sei até quando dura George Hilton,com aquela doença que o impossibilitou de trabalhar para sempre.As vezes parece que uma lágrima vai rolar por minha face e sinto vontade de subir aos céus para pegar uma estrela e trazer para George,se estrelas fossem tão pequenas assim.Ou um pedaço de nuvem,e presenteá-lo,mesmo sabendo que de um dia para outro ele pode não estar entre nós.Já o vi passando mal uma vez na praia,e posso dizer que não é nem um pouco agradável.É,a doença pode ser desagradável,mas devemos cuidar,agora levar a melhor vida possível com ele,coitado,agora que não resta mais esperança de ele melhorar.Que esses últimos dias sejam o melhor possível.
Eu do meu lado lutando contra uma doença que me faz passar mal de vez em quando,mas tentando lutar com todo afinco por uma vida que é minha.Ainda tenho sonhos de fazer muita coisa nessa vida ,apesar de tudo.apesar da doença,um fantasma que procuro encobrir a todo custo.
Quanto á desilusões eu sei que elas acontecem,mas não sejamos tão emotivos assim para largar mão da vida e desistir de tudo,temos muita coisa á ser feita ainda.E não é nenhuma putinha das ruas de Curitiba que vai me derrubar não.Ainda pretendo fazer muita coisa.
Agora é noite,uma noite estranha,difusa,que beira as raias da loucura e sabe que eu não gosto de loucura.Gosto de manter tudo organizado e apenas descansar,mesmo que os outros em sociedade pareçam amar os loucos que andam por estas bandas,não sei por quê.Talvez tenha algo á ver,mas não uso drogas,não bebo,e não vou começar á fazer isso nunca.Estou limpo e se morrer vai ser de algo muito forte e vai ser obra de Deus e de uma química muito da vagabunda que me acompanha,por isso respeito á Deus,e seus anjos e não quero criar confusão com eles,unica espécie de criatura ou coisa invísivel na qual acredito.
Mas vamos esquecer de doença e nos ater á vida.
Vida que é boa,mas que necessita ser cuidada,ser estudada,ser trabalhada.Vida que escorre por seus dedos quando dormimos um bom sono á noite,nos agarrando no travesseiro,vida que se encontra num quarto de casa á tarde,quando deitamos e assistimos ao televisor,vendo o canal de música,que nos presenteia com a nova mulher da música Marina Diamandis,e suas letras leves e sua levada agradável,vida que se reflete quando escrevo sobre ela mesma,a minha vida,vida que é só minha,vida que se reflete quando bebo um bom café com George Hilton e Mama,que me contam seus planos para o futuro,que para eles são muitos,vida que vem do passado quando lembramos os bons momentos que passamos juntos,vida que passa nos momentos de amor entre nós e o mundo,um mundo que pode ser belo e encantador como quando passeio por jardins perfumados com minha mãe e nos divertimos na tarde sossegada,vida que eu jamais quero ver acabar enquanto eu puder viver,uma vida bela e cheia de esperança que quero ver florescer á cada dia á cada noite,vida que se reflete na manhã fria de inverno quando essa vida cigana parece estar apenas começando,vida que se vê nos olhos de meus irmãos quando eles brincam dizendo coisas em conversas de
família,vida nos momentos especiais da família quando a dança da vida se faz presente em rituais que foram criados por nós mesmos,enfim vida.
Agora em agosto quero ver se começo a vender os exemplares de GRAMPO DO MAL que ainda vou fazer na copiadora.Quero fazer um bom dinheiro.Cobrar um bom preço por exemplar.Pretendo fazer um maço gordo de dinheiro,nas tardes em que vou sair vendendo a primeira fornada de livros.
Enfim,quero aproveitar.Viemos cruzando o Sul do Brasil e pretendemos continuar até nossa morte, quando a história dos filhos de Mama e do professor Menescal,Sandro Jarbas,Andrea Jackeline,George Hilton e James Stewart Malheiros,chegar ao fim e morrermos,chegando ao fim derradeiro.Mas até lá teremos muita história para contar!
Essa é a história da matilha,desde que recomecei para por em ordem minha cabeça perdidona que se encontrava relapsa e parada.Agora tudo faz sentido.E essa vida é tão ou mais perigosa que as armas usadas por Bonnie e Clyde enquanto eles cruzavam os Estados Unidos roubando a América,é tão ou mais perigosa do que a mente perversa e genial de Jesse James,enquanto esse cruzava o Velho Oeste assaltando bancos até ser pego em sua casa num lugarejo americano.As pessoas são malvadas e matam e roubam,plantam a desordem e incriminam uma as outras para ver o horror na cara de pessoas inocentes,essa vida é tão perigosa quanto Ma Baker,e posso dizer,passar por essas aventuras não é nada agradável para quem as passa,mas é um prato cheio para a imprensa,sempre ávida por sensacionalismo barato.Mas esqueçamos a imprensa agora e curtamos a família.É tão gostoso se lembrar dos momentos bons com George Hilton e Sandro Jarbas,com Mama,e Andrea Jackeline,e posso ver ainda ali no chão,é Minie,nossa velha cadelinha.Me lembro de Minie sempre correndo de um lado para outro,contente,esperando por um carinho ou um aconchego em sua caminha.Vou lembrar de Minie até o fim de meus dias.Antes fôra Diana,sempre brincando.Mas isso tudo passou e agora é tempo de pensar,de construir alguma coisa,alguma coisa com sentido,com significado,que tenha uma mistura de palavras e sentimento,escrever como jamais se escreveu antes,ultrapassar os limites da mente humana e ir além,e isso é algo óbvio,uma vez que a palavra descreve á tudo.
Pode parecer assustador,mas é em noites como essa que penso em meu nome.
É o nome de um ator morto,mas isso já chegou á me enlouquecer muito durante um tempo.Possuir o nome de alguém que já morreu.É estranho,até sutilmente macabro.Mas nunca deixei isso me afetar,sempre luto para escrever melhor á cada dia.Escrever para mim é um treinamento,para meu próprio ser.É um modo de colocar significado em minha vida e encher de sentido uma vida serena e chacoalhada pela dor de possuir uma doença que os médicos chamam de esquizofrenia mas que nem eles chegaram á descobrir o que era.É uma doença misteriosa que me faz passar mal de vez em quando,e me faz escrever essas coisas tão cheias de sentido e sentimento,nexo e significado.
Mas a matilha,o bando,é esse,aqui estamos para o que der e vier mas sejam carinhosos com essas velhas almas e façam algo para amaciar o coração dessas criaturas que um dia se chamaram os Malheiros e foram um dia filhos do Professor Menescal,morto á muito tempo atrás atrás da casa na Penha,de forma macabra.Não,esse ainda não é o fim,como pensei que fosse quando fiquei doente e ainda posso vir a ver a família prosperar e ocorrer uma reviravolta nessa história,menos para George Hilton e Mama,que se encontram convalescendo já nos dias de hoje e só querem viver seus últimos dias em paz.Mas ainda não morremos,vamos George,vamos Mama,vamos que vocês conseguem!
Mas somos nós e tudo o que podemos fazer é comemorar uma vida que já passou e foi linda as vezes e teve seu lado ruim,mas ora,tudo tem seu lado ruiim,não é mesmo,sempre há a metade podre da maçã!Somos nós e aqui estamos para viver essa vida e tirarmos muitas fotos para ficarmos para a posteridade.Como o fizeram muitos dos grandes nomes da Antiguidade,seja no faroeste seja em qualquer parte da história da humanidade.

Tiro uma foto.Guardo,mas isso não faz passar minha dor.Há algo de errado.
Deus,só não deixe eu enlouquecer como aconteceu no passado quando eu apenas desisti de tudo e me deixei levar por nada em si,por minha completa ignorância.Mas não isso não tem mais nem mesmo chances de acontecer.Mas continuo ouvindo meu subconsciente sujo,porco,mexendo comigo como que me provocando.Apenas faça algo para que isso passe,James,apenas faça algo.
Não compreendo George,não sei como já não enlouqueceu,nessa casa grande e suja,fria e mal-acabada.Ele continua como um fantasma ainda insistindo em dizer que nada pode fazer,por estar doente.Meu Deus,aonde vamos chegar?Depois não quer ficar desesperado por estar perdendo a credibilidade no facebook como sempre faz,coitado.Já sei,vamos propor uma brincadeira em família,esta noite vamos desligar só um pouco a televisão e vamos conversar.Quem sabe faça passar esse clima de artificialidade e reavive o espírito familiar.Por que é necessário,não é mesmo?Nossa,onde está a família agora?Parece que sumiu.
Só faça algo para passar a dor,James,antes que fique demais.Ficar parado,não é bom.
Só espero que essa noite seja a ultima vez que isso venha a me acontecer,porque não aguento mais ter medo da loucura,é algo que já assolou nossa casa e não quero mais ela aqui dentro.
Agora lá fora é tudo escuridão,droga.E eu não gosto do que está acontecendo.Eu já vi muitos sucumbirem desta forma e não quero ser mais um mas minha família não me ajuda.O que eles pensam?Que viver como velhos senis é algo correto?Credo.
Só espero que tudo dê certo.

Temos uma discussão mas tudo passa.Tomo dois comprimidos de Seakalm e vou dormir.
A outra semana começa com uma grande foto no facebook,de mim fazendo careta.
Não estou nem aí.
Passo mal de novo,desta vez a noite.Nada me tira da cabeça que isso é algo neurológico,uma vez que quando isso acontece,é sempre um tempo depois da última ocorrência,mas os médicos simplesmente disseram que não há nada de errado com meu cérebro,de que ele é 100% saudável e são.O problema é algo que eles desconhecem,por isso resolveram colocar como esquizofrenia mesmo,mesmo que o diagnóstico seja algo errôneo,eu sei disso.
Mas resolvo esquecer por um tempo o caso e vou dormir,dormir tem sido minha salvação nesses últimos tempos.Quando se dorme,o cérebro renova os pensamentos e torna-os saudáveis.

Justo agora,depois de já ter passado algum tempo,quando me preparo para acessar o site da Distribuidora,na tentativa de recomeçar a trabalhar,após ter esquecido o que tinha feito naqueles dias,Rodrigo ,da editora Viseu me envia um e-mail,como previsto,me convidando á voltar á considerar o livro.É o sinal para recomeçar á trabalhar nas redações.O trabalho de sempre.Quem sabe agora seja o tempo de ganhar algum dinheiro,de me divertir um pouco.Para sair dessa,só mesmo uma bela janta na escola,algumas palavras novas e Bum!Tudo volta a acontecer.Regina me convida á lidar com literatura de novo e tenho a escola para curtir um clima de festa,me mostrar,e pensar no que vou estar escrevendo nesse mẽs que vem.Mẽs que vem encarrera costumava falar mamãe,mas não se incomode não,mãe,que dinheiro aqui não põe mesa.Estamos aqui mais para se divertir.Dinheiro é muito relativo nesse meio,se eles cobram para publicar um livro,depois convidam á discutir a negociação do mesmo,o negócio é partir para a festa e a curtição.Na recessão em que se encontra o país,o negócio é se divertir mesmo,então vale tudo,sonho e festa estão valendo.Mamãe se esmera para fazer tortas e pizzas para comemorar nossas existências e George faz de tudo para criar um clima de festa.É isso aí,desde Almir Correa no Shopping Estação,até pizza em casa e farra na escola,o negócio ah o negócio é curtir a vida como nunca,agora nesse 2018 que vem chegando e se vai para terminar e começar mais um ano,sempre com consciência e festa,mesmo que as vezes a coisa esquente,tudo vai bem e é só seguir em frente.
Agora vejamos o que nos reserva Rodrigo nesse começo de semana.

A semana chega,passa,e eu imerso em meus afazeres domésticos,em minha vida.Rodrigo Regina chega ao fim e me aconselha a virar empresário.Me torno o mais novo empresário da área de livros brasileira.Vou lançar o GRAMPO DO MAL,numa página de crowdfunding.Estudo á noite,me aprimoro cada vez mais em meus estudos,e inicio os ganhos para meu livro.Mas vou ter que batalhar.Trabalhar pesado para isso e seguir em frente.
Na rua vejo as criancinhas coitadinhas vivendo de sonhos.Na minha rua uma moça de seus dezesseis anos se alarma com meu estado.A mulher do lado dela explica que talvez eu esteja trabalhando e realmente estou,em casa.O que ela queria,uma pia cheia de louça para lavar,acabou a agua e devo me sentir como se fosse um modelo de roupas.Mamãe faz um bolo,que daqui á pouco estará pronto.Enquanto isso as mulheres da igreja quando chegam já me recebem e vão conversando comigo.Estou pronto para tudo.Tenho muito o que dizer,muito o que fazer,mas me vou,pois estou ocupado.E as criancinhas,o que penso delas não é mesmo?Diabinhos que estão aqui e ali,perambulando por esse mundo.
Me tornei grande amigo de Irene,a professora de Ciências.Ela conversa comigo sobre variados temas e tem me ajudado em muito em minha vida.Irene é psicóloga além de professora e sabe como funciona a mente humana como ninguém.Ela tem me explicado coisas como a busca pela felicidade e as brigas no cotidiano.Diz que brigar é inútil e que a felicidade não existe,ela é uma espécie de filme que roda em nossas mentes.E ela está certa.E eu possuo uma espécie de filme e sentimento semelhante á esse em minha mente,que nem sempre está presente.As vezes fico triste e desesperançoso quanto a esta vida,mas nada me impede de pensar.E penso e escapo desta teia que tenta me capturar.Mas depois que vi o que aconteceu nos últimos dias descobri que o segredo da vida está na própria vida,em ter que fazer as coisas acontecerem.Eu
não suporto ficar parado,apenas durmo para descansar e renovar a mente,mas não suporto ficar parado.Por isso estudo e estudar tem me feito tão bem que já nem penso em parar mais.Quero continuar e ainda mais quero trabalhar,nem que como empresário com o livro.É isso que vai manter minha vida realizada e é essa a minha cura para meu mal.Quero morrer trabalhando e estudando.
Mas a página de crowdfunding não é confiável,e eu me canso de tanto estudar.
Entro em um tempo de tristeza em minha vida.
Fico com saudades de quando comecei tudo isso,com mamãe e George Hilton.Era tão bom.
Me recordo de minha namorada e choro,triste.Me lembro de minha vida com a família e me sinto mais triste ainda,minha vida é com a família,são eles que eu quero são eles que eu desejo do fundo do meu coração.Sinto tantas saudades.Creio que só mamãe e George podem resolver essa questão em minha vida.São eles que eu quero,são eles que eu procuro toda manhã e acho que se tivesse ido morar sozinho agora estaria tão deprimido quanto estou triste agora.Parece que tudo acabou e só os tenho.Parece que não há mais ninguém nesse mundo senão minha família.Talvez querer ter ficado com a família tenha me feito mal mas só Deus sabe como eu os amo.O drama de George,a vida de mamãe,tudo isso me corta o coração,e quero ajudá-los sempre.É acho que é isso aí,vou querer ser escritor para sempre.Escrever sobre as pequenas e as grandes coisas da vida tem me feito bem e quero continuar.Hoje acordei meio-dia,tive um sonho estranho mas tudo bem.Mas agora enquanto escrevo estas linhas sei que minha vida é livre de horários para estudar e feita apenas para trabalhar em casa,cuidar da minha vida.Mas ainda estou triste.Creio que é a escola,que está me deixando estressado,e um pouco frustrado também,ter que estudar da quinta á oitava série de novo,algo que nunca me incomodou no trabalho,quando trabalhei,creio que isso é um tanto demais para mim.Acho que vou parar,e voltar ao que estava antes porque estava melhor.Apenas viver como escritor,mesmo que não-remunerado por enquanto,ou para sempre.Não sei,dar um jeito.Mas acho que se continuasse na escola seria melhor para recomendar meus textos,o livro.Talvez vender na escola mesmo.Mas eu acho difícil,aquela corja de drogados não iria entender minha literatura,isso eu tenho quase certeza.Bem,já faltei ontem,creio que não vou mais estudar mesmo.
Agora é retornar a passar aquelas longas tardes com mamãe e George Hilton,tardes que vão ser lembradas para sempre por mim.Esquecer aquele tempo sombrio quando eu saia sem rumo pelas ruas e não tinha ordem em minha vida.Aquilo passou e agora sei o que devo fazer para ser um cidadão correto,falar direito,escrever melhor,organizar as minhas coisas como nunca,agora sei que sou alguém e que faço diferença nesse mundo.Nesse país.
Agora sou James Malheiros,escritor.
Mas resolvo continuar a estudar.Me arrumo,e vou até a escola ter mais uma aula.
E hoje é sábado.Um sábado de sol,mas a casa é fria como uma câmara frigorífica e nem parece que faz sol lá fora.



Me sinto cansado,perplexo.E com medo.E se mamãe ou George Hilton morrem?O que será de mim?Ter que ir morar com Andrea ou com Sandro não me parece uma idéia agradável.Agora sou estudante,mas e depois?Eu posso conseguir um emprego e reconstruir a minha vida,com alguma ajuda.Estou de olho numa garota na escola,uma polaca,que já veio até mim mas eu nem notei,na hora do lanche.Creio que ela gosta de mim,óbvio,eu,um homem de 36 anos no meio de um bando de adolescentes pimpolhos que só querem ficar arranjando brigas e andando de carro drogados em festas perturbadoras por aí.Não sei seu nome mas isso eu vou consertar na próxima aula.Creio que é isso que eu necessite,uma garota para me juntar,ela já tem uma certa idade,quem sabe ir morar juntos,nos casarmos talvez.Mas é muito cedo para contar vantagem,por enquanto tudo o que posso fazer é planejar um modo de capturá-la para mim e construir um ninho de amor.Mas ainda não.
Por enquanto prefiro ficar aqui sonhando com coisas do passado e com minha família.
Mas sinto que é tempo de seguir em frente e a vontade de sucumbir e me entregar é forte.Viviane parece que jamais vai sair daquela de só nos cumprimentarmos,por isso já a esqueci.Eu a vi hoje,na rua,ela passou sorrindo como sempre e me cumprimentou,mas tambem é apenas isso,jamais a toquei.jamais a beijei nem apertei suas mãos.Creio que Viviane vai ser algo que vai ficar para trás em minha vida,e jamais vou a abraçar.Mas tudo bem,não faz mal,eu aceito.Mas na escola,não,na escola quero namorar a polaca,nem que me custe o olho da cara.Da próxima vez que a vê-la vou ter uma conversa muito séria com ela.Mas fica como um plano.Por enquanto tudo o que tenho a fazer é ficar em casa,passear um pouco,estudar,e cuidar da minha carreira de escritor,escrevendo alguns pequenos textos e sonhando em quem sabe ganhar algum
dinheiro algum dia,com os mesmos.Mas é difícil,tudo o que tenho em minha carreira agora é a promessa de publicar CAMINHÃO FANTASMA na revista Trasgo até o fim do ano,e me encontro participando de um concurso na revista Deadmans Tome,no qual posso ganhar quase nada,talvez nada,mas minha história UMA NOITE EM 1988 pode vir a ser publicada.É a história que abre esse livro,mas posso publicá-la em revistas se quiser.Na verdade nem sei se vou chegar a publicar esse texto,mas vamos ver.É tudo tão incerto,tão volátil que parece que nem existo como escritor.Mas continuo com minhas coisas pelo menos dando um sentido á minha vida.Como fazia Serafim,em Blumenau,com seus livros e seu gravador onde ele gravava sua voz toda noite quando estava em casa e nos fins-de-semana.
Serafim morreu mas vai deixar saudade,aquele velho simpático que um dia foi meu padrasto.Aquela história, o meu passado,tudo acabou de forma drástica.Sandro foi embora para casar-se,sumiu,desapareceu de nossas vidas,quase nem liga,quase nem nos visita,agora eu acho que sou só eu mesmo,cada um na sua,mas eu sei que ainda podemos fazer.Choro de saudade daquelas tardes de infância,onde tudo o que tinha a fazer era seguir minha família e brincar com meu amigo Juliano.
Mas aquilo passou e agora sou um homem,mas vou demorar até me acostumar com a idéia de não ter mais aquilo para mim.As pessoas que realmente valiam a pena,minha família,meu amigo,num mundo tão ou mais frio do que algum daqueles países da Europa onde foram escritos aqueles velhos contos,mas eu sei que minha vida não é nenhum conto burlesco,minha vida é séria,e devo cultivá-la.Cuidar dela,melhorá-la a cada dia,descansar e acordar para começar tudo de novo.Nunca se esquecer de que devo me manter vivo,pois a morte é algo muito doloroso para se conversar á respeito.É melhor esquecê-la e cuidar de sua vida,como nunca se cuidou antes.Ou então a chama morrerá,e tudo vai ter sido em vão. Agora tudo o que quero é cuidar de minha vida,amá-la como nunca amei nada nesse mundo.Dar um bom-dia caloroso para minha família,e conversar com ela sobre os bons tempos,as boas coisas,antes que se vá tudo pelos ares.Antes que tudo acabe,e então não restará tempo para se lamentar,mas para recomeçar e se preparar para viver uma outra vida,repleta de sonhos e boas expectativas.

Essa imensa crônica conta como recomecei a viver e iniciei meus trabalhos como escritor.Você sabe,ser escritor é conhecer pessoas fazer amigos,ir a festas,estudar muito todos os mais variados tipos de assuntos e é muito interessante porque conta um pouco da história da família.
Mas nem sempre foi assim,passei muitos anos entregue a uma rotina de sair sem rumo pelas ruas,me perder em horários esquecer de tudo.Quase nem comia direito devido á uma depressão que jamais foi tratada,pois não queria.Mas tambem estava aprendendo.Comecei a trabalhar,vi que precisava fazer alguma coisa,fui demitido e agora estou aqui estudando no periodo noturno numa escola aqui perto,atrás do parque,exatamente onde fica o Farol do Saber aqui da vila São Pedro,bairro Xaxim,cidade de Curitiba,estado do Paraná.Sabe,não gosto de morar nessa casa fria,gostaria de ter dinheiro poder trabalhar,mas por enquanto preciso arrumar algumas coisas em minha vida como por exemplo meus estudos,achei melhor começar a estudar para organizar melhor minha mente e ter o que fazer durante um certo tempo do dia.De noite aqui no caso.George está resignado com seu estado de saude,e eu não o culpo por isso,espero que ainda viva para ver grandes coisas conosco,eu o amo e espero apenas o melhor para ele.Minha mãe sofre por não conseguir sair de casa,uma vez que suas pernas foram afetadas por alguma doença,que tambem assim como a minha nem os médicos sabem expĺicar a causa.Além do que esteve mal tambem dos olhos ultimamente o que generaliza um estado de saude perigoso para mamãe.Por isso ela não pode sair e ir muito longe,assim como tambem George que as vezes usa a cadeira de rodas,e anda de muletas quando precisa sair para fazer compras.Eu,graças á Deus ando,e não tenho nada além daquela doença que nem os médicos sabem a causa ou o nome e que diagnosticaram como esquizofrenia por admitirem não saber do que se trata.Estranho isso não?Mas só sei de uma coisa,não tenho esquizofrenia e passo mal as vezes no quartinho mas os médicos não sabem dizer o que tenho.Mas continuo lutando e descobri que quando faço alguma coisa a doença passa.Creio que é preguicite aguda,como diria meu irmão George,mas não é e não estou nem um pouco a fim de saber do que se trata.Só sei que continuo lutando e não tive mais daquelas vezes em que passo mal.Creio que é só continuar estudando que passa.Fazer alguma coisa afinal não sou um borra-botas que só fica dormindo o dia inteiro e me perdendo em divagações quando escrevo alguma coisa,não!Escrevo sobre a vida,sobre minha família.É nisso que pretendo me focar,o modo de vida do Sul,esse Sul de tantas maravilhas e estórias,Sul de Ponta Grossa e Blumenau,da Oktoberfest,da Igreja Matriz,das papelarias alemãs,do bairro Progresso,da Center Book e seus livros e revistas maravilhosos,do colégio Henrique Alfarth onde estudei quando garoto,das ruazinhas de terra do distrito do Garcia,do morro do Adlich,da rua Belo Horizonte onde viviam os Malheiros no passado,tudo isso invoca um espírito que está presente nessa crônica,o único espírito em que acredito,o espírito da terra das famílias,das culturas e do estudo das mesmas,da vida,dos tempos e em como devemos
estar sempre recomeçando.É assim que vivo e é assim que pretendo viver nem que sem dinheiro até o fim de minha vida.

Hoje,devido á uma gripe forte e por razões pessoais larguei a escola.Não é possível que se faça algo naquele buraco de ratos.Não é o lugar para mim.Dia primeiro de setembro saio numa revista,a Deadmans Tome,com uma peça de flash fiction,foto e biografia.Queria trabalhar mas mamãe não tem dinheiro sobrando nem mesmo para eu ir até a agência de empregos no bairro aqui perto,mas apenas a publicação de minha narrativa já vai me dar um fôlego novo em minha carreira.Estou contente mas não é o bastante,quero fazer uma festa.Talvez lasanha ou pizza,algo assim,para comemorar minha estréia no mundo literário,finalmente.
Hoje peguei quatro livros no Farol,detestei os quatro.Todos uma ficção burlesca sem gosto,gosto mais da vida real.Desculpe-me se sou crítico e forte mas prefiro que me amem ou me deixem em paz.Detesto bebida ou drogas e odeio quem as use.Acredito que quem use desses dois subterfugios de vida são doentes mentais perigosos que sabem o que fazem e mesmo assim fazem.Custei a chegar aqui onde estou e não quero estragar onde cheguei.Pretendo me guardar para sempre como nasci,puro e sem uma gota de alcool no corpo,ou narcoticos no sangue.Eu simplesmente não aceito isso.
Sei que preciso lutar,e esta é minha luta.Aproveitar cada momento de minha vida sempre trabalhando para construir uma carreira de sucesso como escritor e seguir em frente.
O silêncio impera na casa.É tempo de ir descansar.

Ontem voltei a estudar.Hoje estou ocupado.Tenho lição de casa,cerca de dez questões de Ciências.Saí,e fui no Farol,onde imprimi as partes correspondentes ao meu nome da revista Deadmans Tome desse mês.Peguei tudo,foto,nome e a estória.Só não capturei os comentários pois achei desnecessário.Vou levar para a professora ver,na escola.Minha carreira de escritor está caminhando,e creio que vou continuar.Recebo e-mails constantes da revista,mas ainda não é o bastante.Gostaria de publicar o livro,e creio que vou enviá-lo á uma editora por correio.Possuo uma cópia impressa do mesmo e vou passá-la para frente,como diz a giria.Tem chovido bastante,aqui em Curitiba,passo a maior parte do dia assistindo á vídeos no youtube,no meu aparelho tablete,que na verdade funciona como um mini-computador.É algo estranho,é como se ele criasse vida,e parece que está tentando dominar minha mente,mas para o bem,para me educar,coisa que procuro fazer sempre.Passo o dia inteiro pensando em trabalhar,e em formas de memorizar as coisas que preciso fazer,mesmo que não receba nenhum dinheiro para isso mas faz bem para minha própria mente e gosto de pensar em tudo e deixar bem guardado lá no fundo de meu intelecto superior.Durmo bastante de dia,sim,sou acostumado á tirar umas sonecas de vez em quando,mas são curtas,apenas servem para descansar a mente para trabalhos posteriores.
A criatura do forro da casa de Blumenau que foi demolida,nunca mais apareceu em meus pensamentos.Essa criatura era uma água divisora em minha vida e em meus sonhos queria dominar nossas mentes,e dominou por um bom tempo,era um ser extremamente inteligente.Tão inteligente que me fez adormecer exatamente quando nos mudamos para Curitiba e me fez acordar apenas aos trinta e cinco anos desta vez para sempre,para dolorosamente acordar para a vida.Agora tenho a chance de me curar disso,disse mamãe para mim um tempo atrás.Agora tenho tempo para organizar minha vida e rearranjar meu lugar na família antes que fosse tarde demais.Mesmo que sua passagem por minha vida tivesse sido boa e ela tivesse me educado não somente em casa como no colégio,ela me fez como já disse adormecer quando nos mudamos,e um pouco depois estava completamente perdido e sem chance de aprender a interpretar as coisas mesmo vivendo uma vida simples e sem pressões não tive a chance de aprender a interpretar as coisas,uma vez que não havia nem mesmo aprendido a fazer isso.Apenas na casa da dona Clarice,aos trinta e cinco anos,acordei para a vida,para essa realidade,uma realidade que me mostrava que eu não podia simplesmente viver a vida e andar sem rumo pelas ruas.Eu devia organizar minha vida e ter o completo poder sobre ela,controlando cada movimento desse complicado jogo de xadrez.Agora sei o que fazer,mas foi doloroso aprender e ainda passo mal as vezes,voltando ao ponto crucial de meu pensamento,e sei que isso é um sinal desagradável de que não posso dormir em serviço.Sinal que me foi passado para que eu acorde e recomece tudo de novo.Agora sei de coisas que não sabia,como o significado das palavras e o sentido das coisas.Sei que o mal está na cabeça das pessoas,entre outras coisas.
Agora tudo o que desejo é comemorar,celebrar ter descoberto um complexo sistema,os segredos da vida,e ter aprendido á interpretar as coisas com palavras coisa que me era desconhecido até então.
Enquanto aprendia,escrevia,esse que seria meu primeiro livro,o GRAMPO DO MAL,e sei que vou publicá-lo,assim como tenho idéias para novos livros e quem sabe o contrato com alguma editora,quem sabe
consagrar minha eterna vontade de me tornar um escritor de sucesso,coisa que me fez acordar para a vida e organizá-la cada vez mais.
Nesse instante,a chuva parou,os relâmpagos também,agora só resta o frio de um dia que ficará marcado para mim,como um dia á mais,um dia como outro qualquer,o dia em que terminei de escrever o GRAMPO DO MAL,um dia qualquer de setembro,onde escrevo estas palavras e aprecio minha própria capacidade de entender as coisas da vida,coisa que não possuia até o ano passado.
Mas não tenho mais vontade de sair pelas ruas,mas sim de ficar em casa aqui mesmo e celebrar com minha família o intenso momento em que sinto a vibrante sensação de estar vivo e de ser um Malheiros,de finalmente olhar no espelho e poder dizer que faço parte de uma família,e que finalmente me tornei um escritor,agora que cheguei e finalmente publiquei minha primeira estória,numa revista chamada Deadmans Tome,num concurso que marca minha estréia no mundo literário.Era tudo o que eu esperava.Agora estou satisfeito.
Agora só resta publicar esse livro,o GRAMPO DO MAL,minha primeira obra-prima.

FIM DE 2018

Minha mãe comprou hoje um par de chinelos,exatamente parecido com a estampa de uma saia que ela tinha em Blumenau.Quem sabe sejam os bons tempos voltando.Bom sinal.
O frio quase me mata,nessa Curitiba gelada.Parece o Polo Norte,mas chuvoso.
Me recordo de um livro,que a diretora do Henrique Alfarth me deu,eu amava aquele livro.
Ia para cima e para baixo com ele,o lendo,dormia bem,me alimentava bem,não haviam os problemas de hoje em dia,mas também não havia a consciência que mantenho hoje em dia.Era só brincar,envolto numa nuvem de sonhos,e não haviam as palavras,coisa que houve a partir de um tempo para mim.A vida pára mim então eram chaves de fenda e fios que meu irmão George usava para consertar a TV.
Hoje não vou naquele buraco de ratos chamado colégio.Não estou a fim.Não quero nem saber.
Prefiro ficar aqui sentado escrevendo,agora que estreei no mundo literário.Agora é só festa.
E o que recebo?Fama de ter publicado uma estória numa revista eletrônica,num concurso.
Esqueça.
Estou tentando publicar o livro.Vou tentar em mais uma editora agora.Talvez amanhã.
Hoje escrevo aqui,perdido,como um naufrago das letras,tentando compreender esse mundo.
Sinto uma sede incontrolável.Bebo água ou suco de frutas.É mais saudável que cachaça,whisky.
Bebida faz mal para a mente.Assim como drogas,coisa que jamais usei.Credo,nem quero.
Ficar doente,mais que fico naturalmente,com essa gripe que não quer passar.Essa tosse que dá vontade de vomitar.Meu Deus,como me sinto miserável,mas tudo bem,temos que aceitar,é o frio,atacando.
E o desemprego no país.Não quero nem ver.Fico aqui,em minha casa,sonhando,comemorando com minha família,escrevendo para revistas.Quem sabe publique o livro,agora que minha carreira deu uma guinada.
Ganhar dinheiro,talvez.Bastante.Receber numa conta bancária,meu sonho.
Agora que esta vida se esvai entre meus dedos,escorre,como mel no barranco em Blumenau,onde mamãe costumava cavar com a enxada,agora um terreno que não existe mais e está completamente diferente.Bem diferente do sonho que nossa família sonhou nos anos oitenta.
A criatura se foi,a casa foi demolida,os irmãos se separaram,alguns casaram,outros não.Mamãe envelheceu,se aposentou,tudo acabou,mas em minha mente as coisas permanecem funcionando,como num carrossel,um parque de diversões onde as memórias me alimentam,ajudam no meu lado lúdico,e enchem o trecho em que não há sentido.Daí eu sonho,com o passado.
Mas não foi bom,andar sem rumo pelas ruas,eu exagerei,deixei passar muita coisa.
Agora estou bem,agora está tudo bem,agora eu sei como interpretar tudo e não me perder se precisar.
Isso aqui não é o paraíso,não é nada como eu queria.Só Blumenau é bom e hoje em dia pode nem estar como quando eu era pequeno,jovem.Será que a Center Book ainda está lá?Será que a Fog ainda existe?E a Igreja Matriz continua a mesma?As ruas,será que ainda são as mesmas?Nem sei mais.Só sei de aqui em casa.E é aqui que quero viver,na minha casa,com as minhas coisas.Comemorando com minha família,que é onde quero estar.O resto é o resto,o resto não me importa.
Agora me sinto bem,com razão.Tenho tudo em mente,publicar o livro,ganhar dinheiro,ser alguém.
Tenho tudo pronto e planejado em minha mente e sonhar com isso é incrívelmente agradável.
Agora sou um escritor e isso me deixa desconcertado,feliz.
O mal não existe,ele está na cabeça das pessoas.
De minha infância não me lembro muito sobre tempo,apenas espaço.Me lembro de brincar pela casa em Blumenau,sem saber de nada,sem saber interpretar as palavras.Apenas me lembro momentos.Eu andando pela sala,em direção á cozinha,onde havia o poço.O quarto dos meus irmãos,onde eu também dormia,a caixa de gibis,no chão,onde eu guardava as revistas,o quarto da minha irmã,que depois se tornou o quarto da minha mãe,o quarto dos fundos,os pés tocando o chão,andando,andando.
Se eu publicasse o livro,talvez tivesse sucesso.Só de pensar em lançar os exemplares nas bancas e livrarias já me deixa animado.Ser um escritor de renome,ter meu lugar na família.
Do casarão só restaram as lembranças.Lembranças de dias esquecidos e que só são revividos na minha memória.Penso que se ele existisse ainda,poderia servir de ótimo lugar para ir passar as férias,mas quem cuidaria do terreno?Quando chegássemos para passar algumas noites,o mato teria tomado conta.Não,foi melhor assim,que mamãe vendesse a casa e o terreno e tudo fosse demolido e limpo.Em cima construiram uma casa nova mas não me importo,fica a lembrança daquele casarão que sobreviveu a chuva e ao frio durante os dias em que passamos lá nos anos oitenta.Anos de glória,quando eu fui um garoto limpo e sagaz e costumava brincar pelos arredores com meus coleguinhas de rua.
Aqui estou eu,sentado escrevendo em minha casa,sabe que não há nenhum outro lugar no mundo que eu queria estar/?A história da família,cada curiosidade,cada caso já enche minha mente de alegria e faz com que eu goste cada vez mais dos Malheiros,de nós porque os outros Malheiros eu não sei como são.Mas nós,mamãe e meus irmãos somos algo que a história não vai se esquecer tão facilmente.Trabalhamos,todo dia para mantermos-nos vivos e bem,e não é agora que isso vai mudar.Somos nós num mundo feio frio e hostil,não importando o que nos tente abater,porque vão apenas tentar,porque nós não nos encolhemos com tanta facilidade.Nós enfrentamos seja o que for e vamos em frente,a cada dia mostrando porque viemos a esse mundo.
Eu sou James Malheiros,escritor.
Que começasse o inverno,eu pensava comigo mesmo.Não estava nem um pouco preocupado com o fato de ter que usar roupas para o frio,e tomar café quente toda tarde,mas o que importava mesmo era minha vontade de lutar e trabalhar em minha nova crônica,ainda sem título.
As coisas iam bem e eu levava uma vida quase monástica,sempre naquela mesma rotina de me levantar tomar café,sair para ir dar uma volta pela manhã e dormir a tarde inteira.Tomar café pela tarde e ir estudar a noite,alguns dias nem isso fazendo,mas o que eu não imaginava era que aquilo no forro da casa iria mudar drásticamente minha vida me levando á uma dimensão de sonhos que eu jamais imaginava que ia ser levado.
A criatura no forro era uma lenda que eu já trazia de Blumenau,do casarão,e eu já estava acostumado á escrever sobre ela,mas não imaginava que um dia ela voltaria.
Pois bem ela voltou.
Seu espírito está presente aqui todo santo dia e eu posso sentir sua presença toda vez que me reuno com minha família para conversar sobre nossa história e tomar café.Posso ouvi-la se movendo no forro,como que se contorcendo de dor por ter que controlar as mentes daqueles que vivem na casa como aconteceu em Blumenau nos anos oitenta.
Sim,está acontecendo de novo.
Pois aconcheguem-se bem onde quer que estejam,pois vou levá-los á uma dimensão de tempo e espaço que irá impressioná-los.É tempo de vir comigo numa viagem ao sobrenatural que irá contar um pouco do que se passa em minha mente e mais.
Esta imensa crônica é uma mistura de tudo o que criei até hoje.
Quando retornei a me sentar diante dessa parafernalha para escrever,sabia que teria que escrever bastante,por isso me aconcheguei bem e comecei.
A janela estava aberta e uma suave brisa soprava,trazendo o ar de Blumenau para cá,para estas bandas e para dentro de meu quarto.A criatura no forro agora estava quieta mas sabia que logo ia retornar a fazer aqueles barulhos como acontecia em Blumenau,quando eu era criança.
O silêncio imperava na casa e tudo o que se podiam escutar eram os passarinhos voando de um lado para outro.Ainda nem tinha chegado a resposta da publicação de meu primeiro livro GRAMPO DO MAL e eu já estava pronto para começar a escrever mais,mas uma coisa eu tinha certeza,por mais que eu escrevesse a respeito a história da família,aquilo,jamais ia morrer.
A história de uma vida de luta,pois bem,é chegada a hora de mostrar ao público um pouco desta história.Venham comigo,vocês vão ser levados agora as profundezas de minha imaginação e de meu intelecto,numa viagem que os levará á uma outra dimensão.
Eu me encontrava tentando sintonizar alguma coisa que prestasse para se assistir no Youtube,em meu tablete Samsung,mas a transmissão estava muito ruim.Ora,quem poderia afirmar que as coisas ainda não são como antigamente,quando tinhamos que sintonizar com antenas os televisores de então e alguns usavam até mesmo aqueles velhos decodificadores de televisão que se compravam nas lojas e que ocupavam um enorme espaço nas estantes onde os mesmos televisores eram postos para se assistir televisão.Hoje em dia eram os aparelhos mini computadores que serviam para assistir televisão e outras funções.Só faltava agora inventarem um telefone televisor computador,daí sim as coisas teriam chegado longe demais.Mas eu sabia,as coisas ainda eram como antigamente,e tinhamos ainda que sintonizar a transmissão daquele programa ou música favoritos se quizessemos nos divertir assim como nos divertiamos a muito tempo atrás.Ventava muito e parecia que ia cair uma tempestade.Os carros passavam na rua debaixo da grossa chuva que começava a cair.
Foi quando sem eu perceber chegou a hora de ir para a escola.Me arrumei,escovei os dentes peguei minha pasta e me fui,rua afora de guarda-chuva.
A noite fora terrível,e assisti mais uma aula no colégio da região.
Voltei para casa tranquilo,com o tempo já sem chuva,e cheguei em casa.Meu irmão George me recebeu com brincadeiras como sempre e eu fui dormir.
O milharal aqui perto de casa se encontrava seco e desbastado sob um sol fraco que despontava no horizonte de casas de Curitiba.Ele era verde e as socas de milho que começavam a crescer pareciam estar estragadas pela chuva que caira na noite anterior.Agora eu escrevia em minha casa,em minha parafernalha.Me lembrei do milharal agora,e não se sabe porque minha mente fez uma ligação com o milharal que havia em Blumenau do lado da casa do Dai,perto do bar do Nilvo.Lá também crescia um milharal,e agora tinhamos um aqui em Curitiba,isso era curioso.Talvez um retorno aos tempos antigos quando tudo era mais gostoso e saboroso de se sentir,mas eramos jovens então,e tudo para nós era mágico.Como estaria tudo por lá agora?Como estaria a rua ao redor,o terreno,o próprio milharal em si?Eu não sabia mas fazia uma vaga idéia.
Aqui,o milharal da rua parecia morto,e suas folhas apenas chacoalhavam porque estava soprando uma leve brisa que poderia até mesmo estar vindo daquelas bandas onde morei nos anos oitenta.
Mas tudo isso era sonho e a vida não era fácil,mamãe era explorada trabalhando por pouco dinheiro e George era um trabalhador que passava um pouco mal de vez em quando.Mas tudo ia bem e eramos felizes.
Agora enquanto pensava em mamãe e George as folhas do milharal pareceram envelhecer mais.
Era como se o milharal soubesse de nós e estivesse vivendo apenas para nos agradar.Quando nós sofriamos ele sofria também.Ou melhor quando eu pensava em alguma coisa era como se ele soubesse e ficasse um pouco mais fraco.Quando eu estava bem,eu passava e podia ve-lo esvoaçante,chacoalhando ao sabor do vento,num dia de verão.Quando eu estava mal,ele ficava mais fraco e suas folhas agora pareciam amareladas.
Era estranho.
Esse computador,que eu costumo chamar de parafernalha,parece estar vivo.Parece comer algumas palavras quando eu as digito na tela do mesmo.Estranho,mas acho que estou precisando me reunir um pouco com mamãe e George ou então assistir um pouco no tablete Samsung se é que vou conseguir sintonizar alguma coisa nele.
Peguei um livro de poemas hoje no Farol.Espero não vomitar toda aquela sopa de letrinhas se por acaso passar mal hoje de novo,mas isso não vai acontecer.Tenho fé que estou me curando.Mamãe disse que agora tenho a chance de me curar.E essa é uma chance valiosa.
Acho que não vou estudar hoje,prefiro ficar em casa esperando alguma notícia de meus amigos literatos e professores do que enfrentar quatro aulas de desenhos e matéria sobre Arte no tempo de Jesus,haja paciência.
Nem sei porquê peguei o livro de poemas,não há nada de interessante nele.Mas o peguei e acho que vou devolve-lo sem ler.Nem me interessa.
Agora tudo o que me interessava era sintonizar aquele pequeno aparelho maravilhoso que um dia chamei de um tablete da Samsung.
A noite vem,uma noite aterrorizante e estamos num sábado,Escuto músicas antigas o dia todo,e começo a me sentir meio esquizito a tarde.Tomo um bom banho.
E eis que vem o domingo.
Acordo de manhã,tomo café escovo os dentes e vou fazer compras com meu irmão.
Sinto saudade de andar no meio do mato como fazia em Blumenau.Num dia ensolarado como o de hoje,seria perfeito como algo para se fazer.
Ontem deitado na poltrona velha que há no quarto,pude escutar as mulheres da casa ao lado conversando.Faziam um barulho estrondoso,infernal em meus ouvidos.Mas o que me chamou mais a atenção foi uma risada louca que houve junto.Parecia ser a risada de um homem,e conversavam como aquelas madames de antigamente,como tia Nadir,como tia Apolônia,tudo o que sei é que meu ouvido desligou a partir de um momento e não pude mais ouvir mais nada.Continuo assim até agora
.Sintonizo no tablete o blogue de James A. Moore,um escritor de horror. Deixo um comentário que fica impresso na tela duas vezes,peço desculpas.Ele deixa uma estória em seu blogue sobre peregrinos,lordes e coisas do gênero.Não é bem minha leitura favorita mas acompanho atentamente ,hoje,depois de descobri-lo na Internet.Ele possui já alguns livros publicados mas eu nunca tinha ouvido falar dele.Tenho medo de ficar íntimo,não se sabe o que escondem esses escritores de horror por detrás de suas carreiras de escritor.Mas acompanho do mesmo jeito.
Um passarinho pia lá fora,hoje é um dia de sol maravilhoso e parece que estamos morando no meio do mato devido ao ruído dos outros passarinhos que piam junto.Parece um dia de Blumenau,pelo menos parecido com um dos dias de minha juventude quando morei lá.
O nome do blogue é genrefied,e tem informações muito interessantes.
Mas o calor do dia me leva a pensar em outras coisas e daqui a algum tempo será hora do café.
Trev Hill tem o mesmo estilo de escrever de Stephen King,leva uma vida parecida só que na Polônia,e possui o mesmo gosto pela bebida,mas é meu amigo por correspondência e eu não dou atenção ao fato.Se ele quer se matar bebendo,ele que se mate,isso ainda vai fazer mal para ele mas eu não dou atenção.Não me meto em sua vida e ele não se mete na minha.Aliás,estou esperando carta dele.
O computador permanece vivo,creio,de tanto funcionar.Eu sinto que ele está vivo,conversando comigo.Mas eu não o dou ouvidos,apenas escrevo nele.Se eu desse ouvidos a um computador então não estaria bem de saúde.Mas levar a vida é duro,tantas tarefas,tanto trabalho,sempre causa alguma dor de cabeça,por isso permaneço aqui com as coisas que gosto,e levando uma vida em que tento me divertir ao máximo,trabalhando ao máximo e relaxando ao máximo.Sempre vivendo a vida de forma gostosa como nos anos oitenta,quando tudo era mais calmo e melhor para nós.Havia o trabalho mas isso nós gostávamos. Trabalhar era como um bálsamo para nós,e não tinhamos problemas.Aliás,tudo era melhor nos anos oitenta.Estávamos começando á trabalhar e á estudar e não haviam tantos problemas como há hoje em dia.Do dinheiro que queríamos para nós não vimos nem a cor,mamãe e George se aposentaram,eu o mais novo continuo sonhando,Sandro se casou.
Agora vivo uma vida de estudo,sem trabalhar,vivendo com minha família.
Queria estar trabalhando,mas a recessão está aí e até mesmo Sandro se encontra desempregado.
Enquanto isso escrevo para uma revista americana,a Deadmans Tome.Não recebo nada,mas vale a pena.
Agora é hora de ir tomar café.

Vi mesmo que o televisor estava ligado.
Fui ate a mesa e peguei um copo para beber suco.Enchi o copo de suco e bebi de uma só vez.
Ia me lembrando de Blumenau,enquanto caminhava ate onde estava o televisor.Comecei a assistir ao canal de musica,apenas para passar o tempo.
Parecia que uma coisa rondava a casa,assim como fazia nos tempos passados,lá em Blumenau,mas estavamos em Curitiba,a alguns quilometros de lá.Havia terminado de por no ar meu livro GRAMPO DO MAL,na Internet,e esperava ansioso pelas respostas dos expectadores que sintonizassem meu site,para ler.Gostaria de ver quantas vizualizações teria se alguém lesse o mesmo livro que eu mostrava de graça só para fazer propaganda de minha arte.Ao som de Floaters,uma musica antiga,ia escrevendo meus textos,nao se importando se o que estava rondando a casa fosse animal ou humano,mas era uma coisa,uma coisa inexplicavel que eu tambem não fazia questao de tentar explicar mas começou a me chamar a atenção.Estava de saco cheio com a presença de mais alguém na casa,mas era mamae que cuidava de tudo do outro lado da casa enquanto eu continuava a escrever no quarto enquanto assistia televisão ao canal de musica e sonhava com os anos oitenta e noventa.Estava de saco cheio com a vizinhança mas não dava atenção,apenas curtia uma boa festinha particular em casa só eu e mamãe e George Hilton do outro lado da casa.
Meu pai morreu muito cedo,quando eu tinha um ano de idade,e eu o ignoro,assim como faria se ele estivesse vivo ainda.Sou muito egoista acho eu,e prefiro permanecer vivendo minha vida do que me meter com os outros. Mas mesmo assim ainda me comunico no Messenger com outras pessoas,com amigos,que deveria honrar e prezar mas que para mim não passam de uma diversão a mais em minha vida.Não estou trabalhando e isso me deixa nervoso as vezes,mas eu ficar nervoso/?Como aqueles que moram na favela e brigam com os policiais nas ruas?Como aqueles que roubam lojas e praticam crimes em geral?Não,eu não nasci apenas para isso não,prefiro ficar em casa escutar musica e escrever,fazer minha festinha particular.
A criatura no forro nunca mais voltou,assim percebo enquanto penso nos momentos que se passaram desde que ela apareceu na minha vida nos anos oitenta.Costumava aparecer em Blumenau no casarão nas tardes em que eu ficava em casa brincando no tempo que era muito jovem para estudar.Eu brincava com minha bolsa de brinquedos e assim o fazia pela tarde inteira.Perto da noite,um dia,fui ate a janela e berrei pela presença de minha mae que se encontrava trabalhando.
Eu gostava muito de minha mãe na época ela era a única pessoa que me dava atenção eu não tinha pai então era ela que me ouvia quando eu queria conversar,quando ainda era jovem, demais para brincar com meus coleguinhas ou estudar,como já disse.Era ela que cuidava de mim e me deixava em casa com Sandro,quando esse estava desempregado e quase sempre me levava para o emprego com ela durante o restante do periodo que vivi quando criança.
Era como se ela pudesse me ouvir,lá do seu emprego,quando eu berrava por sua presença da janela do casarão.Eu não tinha muito tempo para aprender as coisas uma vez que passei a sair com ela para ir para o serviço e uma coisa começou a acontecer com o passar dos anos.Em pouco tempo estava estudando e vivendo minha vida mas não sabia muito.Parece que só fui me acordar mesmo em 2017 quando o espirito de Lee Falk apareceu em um sonho e me disse que eu precisava aprender mais.Logo algo começou a acontecer comigo e entre uma crise de dor de cabeça extrema e outra em que suava frio,uma estranha metamorfose começou a se dar em minha mente.
E aprendi,algo que jamais imaginara que ia aprender.A absorver as palavras e a coloca-las em ordem em minha mente.Logo era natural para mim fazer isso e hoje em dia estou a todo vapor.Aprendi muitas coisas especialmente a dar valor a meu povo e a minha cultura.
Gosto muito de ouvir musica na televisão e isso me inspirou a fazer pequenas festinhas particulares em casa.Coloco a musica pra tocar faço um suco e bebo ao som da musica,enquanto memorias de dias passados me vem a mente.Me recordo de Santa Catarina especialmente de Blumenau e isso me faz muito bem. Aquela metamorfose foi estranha e se passou como num sonho para mim mas na verdade foi um pesadelo.Dias sem dormir,de que nada adiantaram para mim mas compreendi que não pósso fazer milagres e que sou apenas humano nascido para cometer erros.
Agora me encontro em casa e escrevendo,procurando por em ordem tudo e fazer alguma coisa para conseguir algum poder,coisa que venho fazendo já a algum tempo mesmo que tenha começado quando ainda estava confuso.Mas agora e diferente.
A musica toca enquanto a coisa lá fora me espreita,do quintal como se ansiando por adentrar a casa e me possuir me devorar me levar para uma outra dimensão onde essa vida não faz mais diferença.
Ja conheci muitos escrotos assim que querem possuir os outros mas isso não interessa agora.Agora o mundo lá fora parece estar a milhas de distancia e todas as minhas preocupações são com minha casa e tudo o que tenho,minha família e minha vida.
Desligo o televisor e sintonizo o tablet no canal de musicas antigas.Continuo a escutar musica só que agora no tablete,para deixar o televisor desligado.
Agora é noite.
E assim que a musica começa a encher o ambiente uma força começa a tomar conta de tudo ao redor.A luz acesa parece forte demais,a musica me parece antiga,e é.
A criatura no forro parece ter ficado em algum lugar de Blumenau quando a casa foi demolida.
Mas as vezes parece que ela voltou e se encontra bem aqui,no forro desta casa onde estou agora.
A musica da ao ambiente um clima agradavel e pareço voltar no tempo enquanto escrevo estas maltraçadas.Me recordo da casa no seu Nito,a velha casa de fundos e tudo o que passei lá então.
Não passava de uma criança.Mas agora me encontro nesta casa e tudo é diferente.Já passei por todo maleficio possível ate hoje,por todos os percalços desta vida e hoje tudo o que quero e tocar o barco para frente.George Hilton e mamãe sustentam a casa e eu me encontro desempregado.
Escrevo para passar o tempo mas sei que não posso parar.Sei que devo estar sempre recomeçando ,como fiz ate aqui.Não e tempo de nada,mas para mim tem que ser.Preciso sair do vermelho com minha carreira de escritor e trabalhar em algo,mas cansa as vezes e descanso,mesmo que continue depois.Agora nada esta acontecendo e parece que ha um vacuo aqui em minha vida.Tudo o que tenho a fazer e fazer festa nessa casa e viver mesmo que isso signifique lutar apenas por mim mesmo.Vivo com minha família e isso e enfadonho as vezes,mas e melhor.Acho que estaria numa fria se estivesse morando sozinho e sem ninguém para me ajudar.
A coisa lá fora parece pensar melhor se vira e vai embora,desistindo de tentar me pegar.O portão está trancado e ninguém pode entrar nesta propriedade mesmo que tentasse.Somente se fizer um esforço,mas tem gente em casa e estamos cuidando de tudo.
Então o que fazer?
Sei que devo fazer algo e esse algo é escrever,pois pretendo ser escritor.
Portanto vamos escrever,escutar musica e depois tomar o remedio e ir dormir.Devo ter algumas paginas prontas ao menos para me manter como escritor se alguma editora se interessar por meu trabalho,e isso e primordial.Espero ter cabeça o suficiente para poder produzir com efeito.
Enquanto isso estou aqui nesta casa escrevendo,como se fosse um bebe vivendo com minha família e me sinto bem assim.Para que mudar?Mas preciso de algum poder e isso esses dias estarão me dizendo.Mas vamos com calma.De nada adianta se apressar e ter enxaquecas fenomenais.E melhor seguir em frente e ver no que dá,com tempo,seguir produzindo e ver o que esses dias estarão me dizendo.Já comecei a escrever mais e quero ver no que isso vai me levar.
Estamos ai.
Lá fora é noite e faz frio.Me sinto como o nucleo de um atomo com duas particulas sem carga ao meu redor que são mamãe e George,apenas andando de um lado para outro da casa,cuidando de tudo,arrumando as coisas,mantendo a casa em dia.
Mas já é tarde e creio que é tempo de ir dormir.
Desligo tudo e vou ate a cozinha,tomar os comprimidos,para depóis apagar a luz,me virar e ir para o quarto,tirar o sapato e me deitar,apagar a luz e ir dormir.
Amanhã tem mais.

Os dias se passam vagarosamente e parece que as coisas voltaram a ficar cansativas para mim.
Entreguei um maço de estorias para Jucelia Wilians no Farol hoje.Ela pareceu não se importar apenas perguntando se eu não iria usar o maço de papeis.Disse que não e me fui,rua afora para casa.
Agora estou aqui trancado nessa propriedade que gosto de chamar de casa.
Preparo um copo de suco enquanto sintonizo o tablete no canal de musica.A musica flui pelo ambiente como fumaça de cigarro e estou sozinho na casa,com minha mae e meu irmão George Hilton,que na sala assistem ao televisor.Preciso recomeçar,ter em mente que devo lutar por minha carreira,que ao mesmo tempo já é minha luta,minha batalha.
Jair Bolsonaro é o presidente da republica,mesmo que isso não faça nenhuma diferença para mim no momento.O dinheiro que ganhamos e o mesmo de sempre,aquelas mesmas milhas de sempre que mamãe e George ganham desde que se aposentaram a muito tempo atras.A mesmice parece ter tomado conta das coisas,mesmo porque ficar aprontando mil loucuras ao redor não seja a melhor coisa a se fazer com a polícia batendo por ai de vez em quando,eu mesmo já quase fiquei preso em Ponta Grossa,por isso é melhor manter o rabo de cometa apagado por algum tempo ao menos ate as coisas tomarem rumo.
A musica toca me levando a tempos passados quando ainda era uma criança.Na verdade sempre levei uma vida simples com minha família,vivendo em casebres pobres sem luxo.Roupas simples e tudo o mais.E não apŕecio essa simplicidade,sempre sonhando com viagens e roupas caras,ter uma vida de luxo,coisa que esta dificil e parece que nunca vai acontecer..Pode parecer ser bobagem e ate pecado pensar em dinheiro mas eu penso e com frequencia.Poder mudar de vida,ir para algum outro lugar,fazer alguma coisa,mas algo certo ou não será correto.Como nada aparece permaneço aqui sonhando enquanto escrevo estas maltraçadas nesse computador em meu quarto.
Mas o sonho de voar alto e longe,vem me perseguindo a algum tempo e acho que faz tempo que estamos nesse marasmo.Todos estão.George doente,mal para em casa tendo que ser internado de vez em quando.As vezes fico imaginando aonde as coisas foram párar,logo George,sempre acostumado a trabalhar e agir agora feito um doente pelos cantos.Não quero dizer que fique pelos cantos,tambem.Ele continua ativo na casa e costuma sentar em sua cadeira do papai e ficar assistindo televisão o dia todo,mas já passou dos limites.É tempo de fazer alguma coisa.Sempre recomeçar.
A criatura no forro parece aninhada,como um presente ,como se estivessemos em pleno natal,sem fazer barulho,apenas lá,como se não passasse de parte desta casa,parte da família,parte de uma mitologia que jamais vai morrer.Agora mamãe se acordou e esta pela casa,fazendo alguma coisa,posso ouvi-la no banheiro e saindo dele,como um fantasma.
Estou exausto desta vida mas párece que vou ter que vive-la talvez para sempre.Como sera o amanha,talvez melhor que o hoje,como já foi esse ano.Um ano que se arrastou e que marcou minha saida de um tempo de crise que se estendeu por anos.

SEXTA 24 DE MAIO DE 2019

Eu me encontrava prestes a atravessar a rua quando quase fui atropelado pelo ligeirinho,que passou fumegando pelas ruas de Curitiba.Era mais um dia de maio de 2019 quando minha estória acaba de ser publicada nas páginas da revista Nebula tales Issue 3 na Inglaterra.Eu me encontrava animado então,mais animado que um daqueles velhos desenhos do Mickey Mouse de Walt Disney,mas Mickey Mouse é apenas um rato e tem que continuar a roer queijo pelas ruas de Nova York,por isso esqueço um pouco de besteiras e me ocupo com outras besteiras ainda maiores,o pagamento da estória que sairá em julho,e que irá engordar minha conta bancária num futuro não muito distante.Pelas calçadas pavimentadas,os curitibanos caminhando alegres á passear,e logo adiante,a antiga construção do Farol do Saber onde jazem tomos,livros voadores,que costumam sair voando ao menor toque,pela praça vende-se peixe,o frio faz com que todos saiam ás ruas bem agasalhados,no mercado vende-se de tudo inclusive pimenta,e tudo é alegria.As velhas com seus vestidos rodados,os homens com suas roupas de cavalheiros,os cães vagam de um lado para outro,perdidos,na Igreja os mormons rezam,e tudo é vivaz.Cheguei no Farol do Saber,onde entreguei um antigo alfarrábio,que havia pego emprestado.A bibliotecária se limita a dar um sorriso e agradece.Eu me viro,vestindo camisa social,calças jeans,e tẽnis e me vou rua afora de volta para casa.Os postes de iluminação emitem uma luz que ofusca meus olhos,as folhas secas das árvores são coloridas e embelezam o passeio.Tudo é luz e vida,graça e garbo,a água de uma chuva que caira agora á pouco,escorre pela valeta.Os automóveis trafegam ininterruptamente,as lojas vendem sem cessar,enfim,aquela é mais uma manhã no bairro Xaxim.

Retorno para minha morada na rua Dois Vizinhos,número 930,um casebre verde,onde moro provisoriamente.Compramos uma mesa e cadeiras que somos obrigados a montar por nós mesmos,o suco comprado no mercado é absorvido aos montes,como atração principal de um banquete que degustamos a semana toda.Ouvimos música dos anos sessenta setenta e oitenta,discoteca,temas de novelas,tudo,mas o que gostamos mesmo são as marchinhas alemãs,que ecoam pela casa,quase não assistimos televisão,preferindo trabalhar nos computadores que temos e no serviço doméstico de sempre.Até meio-dia faço compras ou escrevo.Meio-dia vou dormir,e acordo ás três horas,quando tomamos café,para voltar á escrever até ás seis e meia,quando vou para a escola,para voltar apenas ás dez e meia,quando tomo um Nescau e vou dormir.Mas amanhã é sábado,parte de um outro fim de semana que passará despercebido com alguma visita familiar ou mais uma estória de fantasmas.
Eu sei que preciso fazer alguma coisa.Largamente,sei que necessito saber de coisas que me serão uteis no futuro.Mas preciso de poder também,poder o suficiente para me manter vivo,e bem.
Vivo como que numa luta incansavel por amealhar poder,poder que me dará capacidade para sair dessa situação num futuro próximo e ser alguém agora.Mas já fui alguém desde o começo deste livro,o que diferencia é que agora sou mais do que fui no começo,por experiencia própria.

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